
Eu já recebi muitos conselhos bons na minha vida. Conselhos de gente bacana. O “bacana” que eu me refiro são pessoas que pensam por si. Que nos provocam. Considero um dos melhores – conselhos –, o de um professor de História, quando eu estava no Ensino Fundamental. Sexta, sétima série talvez. O conselho era: aprender a pensar sozinho, desenvolver um pensamento crítico para as coisas, um olhar amplo para vida e se prevenir da alienação. Assim ele provocava toda a sala de aula e nós alunos ficávamos meio sem entender. Mas aquilo nos despertava de algum modo! Com este conselho – filosofava ele – nós aprenderíamos que nem tudo na vida é simples, às vezes as coisas podem ir muito além do que está sendo mostrado e serem mais amplas, complexas; por isso é importante “traduzir os fatos”. Pela primeira vez, eu assistia um professor nos provocar a pensar por si próprios, onde ele saia do palco – agora como um ator coadjuvante, não mais como o “dono da verdade” –. Suas aulas de História – que eu particularmente não gostava da disciplina – eram impressionantemente reflexivas. Tinha redação com temas políticos, história em quadrinhos sobre guerras, filmes interessantes e debates sobre tudo isso. Ele nos ouvia, sem nos subestimar nem impor nada. A sala gostava dele! Eu, não muito. Não que eu o odiasse, eu apenas não o entendia. Ele nos provocava e eu, um rebelde sem causa, encarava aquilo como afronta. Mas guardei os seus conselhos, ainda meio sem entendê-los muito bem e achando um pouco sensacionalista demais. Não acreditava que deixar de refletir a própria vida ou deixar de pensar por si fosse algo tão importante assim para a minha vida. Achava besteira tudo aquilo às vezes. “Alienação” era uma palavra forte demais para ser usada. Como se fosse fácil assim alhear alguém...
Bem, o tempo passou. Concluí o Ensino Médio. Adentrei a faculdade. Curso de Administração. (Já nessa época eu começava discretamente a enxergar o que antes não queria ver). Primeiros dias de aula, vêem os professores com o mesmo conselho de antes: “ 'abram suas mentes' para as coisas”, “vocês precisam 'aumentar a visão' de mundo”. Aquilo me soava um déjà vu. Me perguntava se os professores achavam que a gente fosse algum tipo de X-Men por acaso. “Abrir a mente”. “Aumentar a visão de mundo”. Como isso!? Que papo mais idiota! Assim era a minha ignorância. Nessa tamanha mentalidade. E vira e mexe, vinham eles com o mesmo conselho...
Viviane Mosé no Provocações - Parte 2/3:
Hoje, se me perguntassem qual o melhor conselho que eu poderia oferecer a alguém, não saberia escolher imediatamente. Ficaria receoso de responder de pronto. Porque o que é importante para uns não necessariamente valerá para outros na mesma medida. Mas após alguns minutos refletindo, eu diria que os meus professores estavam certos o tempo todo. “Abrir a mente” e “aumentar a visão de mundo” é um dos melhores conselhos que eu já recebi na minha vida e qualquer pessoa poderia aplicar na sua. O mundo é muito maior do que o nosso umbigo e nós fazemos parte dele como um todo. As respostas para os fatos vão muito além das aparências. Aliás, a Vida vai muito mais além! Muito mais além de modelos de aprendizagem prontos. Muito mais além de respostas desconectadas. Precisamos abrir a nossa mente e colocá-la para funcionar sozinha, entendendo o todo. Mente fechada não é bom para ninguém, nem aqui nem na China! E por esse exato motivo não podemos acreditar absolutamente em tudo o que ouvimos, lemos ou assistimos, sem passar por um crivo crítico. Se “distanciar” do fato e refletir sobre ele, com ética e sabedoria, é o caminho para crescermos como ser humano. O contrário disso é fanatismo. Alienação. Ligar a TV, ler um jornal, entrar numa conversa e "desligar-se" é alienação, sim senhor! Acreditar num pensamento único também. Não existem super-heróis. Todo mundo erra. Pais erram. Professores erram. Mestres religiosos erram. Jornalistas erram. Apresentadores erram. Até blogueiros erram! Sim, eu também erro. O tempo todo. Aqui no Blog não tem “receitinha de bolo”, não. Sou alguém que, como diz minha avó, “coloca a cachola pra funcionar”, só isso. Não dói, sabia?
Se é óbvio que todos cometem erros, por qual razão considerar religiosamente qualquer coisa sem refletir? Cada um tem seu próprio cérebro e ele não está aí na cabeça a toa.
Outro dia, enquanto eu caminhava antes de uma corrida, observada uma conversa entre dois amigos a minha frente. Uma conversa que parecia simples, banal. Notava que um “provocava” o outro, obrigando o outro a refletir as coisas que o mesmo estava contando. Um deles fazia umas boas perguntas. Em determinado momento o que respondia pareceu se zangar. Zombou do amigo que estava fazendo perguntas demais, dizendo que ele era chato e essa conversa cansativa. E mudaram de assunto...
Pergunto: será que “refletir” era o que ele se referia? Será que é melhor aceitarmos tudo pronto e mastigado? Então não refletimos a nossa vida porque é chato e cansa!? Então, presumo que devemos estar agindo sem pensar? E agir sem pensar é sinônimo de quê, hein!? Políticos corruptos eleitos com “votos inconscientes”? Acidentes no trânsito com motoristas alcoolizados? Gravidez indesejada pelo não uso de preservativos? Ou doenças sexualmente transmissíveis?
Se a gente admitir que pensar por si é chato e cansa, estaremos admitindo tudo isso e muito mais, não acha? Ao deixarmos de refletir a nossa própria vida estaremos colocando em risco a vida de todos os demais então. Porque se eu não penso por mim, nem sequer penso em mim. E se não penso em mim, como eu vou pensar nos outros!?
Mario Sergio Cortella no Programa do Jô - Parte 2/2:
Eu já fui desses que acha filosofia chato. Reflexão coisa de “bicho grilo”. Achava a maior perda de tempo, não via utilidade nenhuma. E sabe como era a minha vida? Eu nunca me entendia, me vitimava por tudo, repetia os mesmos erros, acreditava em tudo que me diziam, só enxergava a ponta do meu nariz e só pensava no meu próprio umbigo. E era um perfeito alienado! Era tudo aquilo que eu não acreditava ser possível... Hoje sei que deixar de pensar por si é se admitir oco. Estar vazio. É redimir-se a marionete. Reduzir-se. É acreditar que existe um deus que te quer ignorante, passivo – e quietinho! –. Que deus criaria um ser humano com esse propósito? Com a finalidade dele ser o mínimo do que ele é capaz de ser? Hoje acredito que nós somos mais, porque podemos ser muito mais. Somos seres pensantes. Nós nos superamos. Somos criativos. Criadores. Podemos criar a realidade, com ética e sabedoria, a partir de pensamentos e ações. A arte da criação. Tudo na vida começa com um pensamento. A menor partícula do Universo é um pensamento! Pense e crie. Aprenda a aprender.
4 comentários:
Hello Jonas!!
Here I am again ;)
Bom, me conhecendo como você conhece, é obvio que eu adorei esse post!! Aliás, esse assunto é um que eu gosto de discutir mesmo!
Eu tive uma professora na escola que também nos fazia pensar muito. Não com as mesmas palavras do seu professor, pedindo aos alunos para abrir a cabeça, mas nos textos, poemas da aula, sempre havia um debate. Ela queria saber a opinião e interpretação de todos e como havíamos chegado àquela conclusão. Eu amava a aula.
Gostaria que hoje em dia mais pessoas tivessem acesso a uma educação que os fizesse pensar, aprender a criticar construtivamente... infelizmente, é de certa forma bom para nosso governo que as pessoas sejam alienadas. É triste, mas é o que vemos.
No curso que eu fiz sobre segredo dos relacionamentos, o professor repetia uma frase o tempo todo, durante os 4 dias de curso: "Eu não sou o dono da verdade, ninguém é, sou dono da minha verdade que não precisa ser a sua, sou um intermediário aqui, o que vocês vão fazer com as informações que eu estou passando depende de vocês, nessa vida ninguém TEM que fazer nada...". Ou seja, quantas pessoas existem nesse nosso planetinha? Quantas ideias? Quantos caminhos? Quantas formas de interpretar a vida, uma situação?
Em certo ponto da vida, precisamos tirar a lente da verdade dos olhos, e parar de absorver tanto as opiniões alheias, principalmente quando essas são crenças limitantes... e ver o Mundo como uma variedade de possibilidades e soluções. Hoje em dia gosto de pensar na realidade como sendo de massa de modelar... posso modelar como quiser, ser quem eu quiser... recomeçar, reconstruir, mudar tudo, depois mudar de novo; de ideia, de opinião... essa é a maior beleza de pensar que o universo é feito de ideias, de visualizações e que quando nos libertamos das amarras da alienação, um novo leque de caminhos se abre para nós.
I LOVED IT!!!
Hugs from your friend and teacher!!
Olá, adorei o texto! E muita coisa me identifiquei, precisa ler algo que me fizesse entender o que se passava com o mundo, comigo e com a vida!!
Muito obrigada pelas palavras, pela desencadear delas!
Beijos
http://papopratudo.blogspot.com
Gostei muito do seu comentário, Aline. Muito mesmo.
É tão verdade as coisas que você disse sobre crenças limitantes. Vejo a contradição que há entre determinadas crenças que limitam – que nos desconectam do todo – e a própria vida. Vida é movimento. É ação. Essa “coisa” constantemente inconstante, indomável, incompreensível, mas justa, que simplesmente segue. Que não se sabe quando começa, nem se termina. Que não se limita! Muitas vezes Aline, eu acredito que temos a falsa sensação de que controlamos a vida – quando nunca tivemos controle algum sobre ela; que podemos parar ou acelerar momentos, experiências, quando eles simplesmente correm alheios a nossa vontade. Creio sinceramente que tudo na vida acontece como reação e fazemos parte deste a causa do processo. Na verdade, somos o processo inteiro. Quando estamos “fisicamente” parados, nós acreditamos que a vida também parou. Isso nunca ocorre na verdade. Porque a vida nunca pára. Tudo está sempre, em maior ou menor grau, visível ou invisível aos nossos sentidos, em movimento constante e transformação. O tempo corre através de nós. A Terra gira. Células de nosso corpo morrem. Nascimentos a cada segundo. Tudo, exatamente tudo, está se movendo sem que percebamos. Portanto, vida é ação! Movimento constante. É conflito. Dúvida. Contrariedade. Sofrimento!
De acordo com Albert Einstein, “a vida é igual andar de bicicleta. Pra manter o equilíbrio é preciso se manter em movimento.”. Então penso: ausência de equilíbrio é pausa de movimento e para mim a pausa de movimento já é morte. Se vida é ação, precisamos nos manter conscientes de que estamos vivendo, nos movendo, com a vida, sendo a própria vida. Curtir o instante. O presente. "Crenças limitantes" emperram. Atravancam. Nos dão a ilusão de controle. Que ser humano tem controle sobre a vida, quando ele próprio é a vida que não pára?
E digo mais: quando entendemos que somos vida, vamos entender que somos natureza, que somos outros, que somos problemas e somos solução! Quando entendermos, vamos pensar duas, três, várias vezes antes de falar ou agir, porque toda ação implicará numa reação que afetará nós mesmos, a curto ou a longo prazo, mínima ou grandiosamente.
Curti muito esse seu comentário. Os seus últimos cursos estão fazendo muito bem a você, porque vejo mudanças até na sua escrita. Obrigado por comentar, seus comentários são esperados e bem vindos!
Hugs!
Martha,
obrigado pela visita. Sinta-se bem vinda.
Somos uma coisa só, nós mesmos, o mundo e a vida. Esse "desencadear" que você mencionou é o que busco e ofereço no blog. Se nos permitíssemos esse "desencadear", a partir de qualquer coisa, moveríamos montanhas!
Beijos
Jonas
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