
“Um braço vigoroso não é mais aguerrido contra a lança do que um braço frágil; são o caráter e a coragem que fazem o guerreiro.” (Eurípedes)
Ultimamente tenho vivido um momento intimamente difícil e envolve duas causas muito comuns: fragilidade e transparência.
Noto como para a sociedade em geral “pega mal” errar, perder, chorar, assumir-se fraco. A fragilidade é mal vista pela grande maioria e por conta disso ostentamos uma imagem forte, cheia de segurança, por medo do que vão pensar. As palavras seriam essas: fraqueza e instabilidade. A grande maioria ostenta um sólido sorriso largo no rosto, mas nunca uma decepção. As casas porta a fora são lindas com a grama sempre bem aparada e porta a dentro há desconhecidos. Quaisquer imperfeições ou desafetos são rapidamente retocados com algum tipo de plasticidade. O que rola no interior de tudo a gente não sabe, porque isso a gente nunca vê.
Esse post é sobre essa fragilidade disfarçada. A “necessidade” de toda essa força. Por que será que transparecer dor, perda, fragilidade é tão difícil?
Pra mim é muito difícil! Às vezes pra admitir uma derrota é algo mortal. E transparecer isso é vergonhoso até. Algo como se o teto desabasse sobre a minha própria cabeça e todos estivessem assistindo. Errar, perder, “dar com a cara no muro” depois de tomada uma decisão muito acertada são coisas que podem acontecer, são os riscos de nossas escolhas, mas quando acontecem comigo jamais admito aos outros. Raramente admito a mim mesmo!
Transpareço minhas opiniões, minhas decisões, minhas atitudes deixo claro na medida do possível, tudo no intuito de acertar. No entanto quando erro nada transpareço, por orgulho, vaidade, por medo, insegurança, por não aceitação...
Já faz um tempo que me pego agindo assim, fazendo força demais pra transparecer estar muito melhor do que realmente estou. E é engraçado que fazemos isso sem nos dar conta. Identifiquei esse comportamento e tenho procurado refletir melhor minhas atitudes.
É humanamente impossível acertar sempre, mas bancamos estar sempre certos por medo de sermos rotulados ou não entendidos. O medo do que os outros podem pensar nos emperra. Mas não dá pra viver bancando a “rocha humana” e escondendo feridas para mostrar-se perfeitamente bem. Além de não ser uma verdade, se comportar dessa maneira não muda nada. Só traz mais dor de cabeça. E o que pior, se não demonstramos sinalização de dor ninguém pode ajudar quem não precisa de ajuda.
Acredito sinceramente que a vida é composta por fases com altos e baixos. Ora sol ora chuva. Verão e inverno. A própria natureza se destrói no intuito de construir algo novo. Tudo vai se modificando, se transformando a partir de um caos. Após o desequilíbrio a tendência é a estabilidade. O que acontece talvez é que como não somos capazes de enxergar o cenário todo de uma vez, não vemos toda essa sistemática maravilhosamente interligada e então encaramos as oscilações como erros definitivos. Falhas onde algo não deu certo. Então vivemos procurando onde erramos, até no fim nos darmos conta de que não havia erros fatais, tudo foi passageiro. Foi necessário mesmo quebrar os ovos para a omelete.
Problemas vem e vão. A vida oscila. Não vejo nada na natureza que seja uma coisa só o tempo todo, é normal mudar. Se tudo a nossa volta se altera, como podemos querer sentir uma coisa só todo o tempo?
A gente não foi feito de pedra, somos de carne e osso. Material perecível. Creio que mesmo os piores momentos da vida vêm com o propósito de nos ensinar. Os japoneses têm um provérbio que gosto muito que diz assim: “Na alegria, seja a alegria; na dor, seja a dor”. Pra mim esse provérbio significa transparecermos o que sentimos independente de qualquer coisa. Por mais que saibamos que tudo é passageiro e que mesmo os problemas fazem parte de um final acertado, é preciso sentir, viver e aprender com cada fase da vida do jeito que ela é e isso não significa nos mostrar fracos ou entregues, é apenas sermos sinceros. Porque deve ser ruim demais estampar um belo sorriso no rosto, quando por dentro se está em pedaços.
“Sou frágil o suficiente para uma palavra me machucar, como sou forte o bastante para uma palavra me ressuscitar.” (Bartolomeu Campos de Queirós)
4 comentários:
Oi Ju
Como é engraçado isso no ser humano: se por um lado queremos ajuda, por outro muitas vezes demonstramos exatamente o contrário. Essa auto-suficiência forçada que não condiz com a verdade me espanta...
Acredito sinceramente que agimos assim, porque não somos criados para errar. São referenciados modelos de sucesso quase inatingíveis e muitas vezes irreais. Status irretocáveis. Não combina com o figurino as “ressalvas humanas”. A coisa toda é muito sólida. Fixa. O padrão é o que não erra (ou melhor, não admite erro), está apurado
Que ser humano é verdadeiramente assim hein?
Não conheço nenhum. Porque o normal são as anormalidades, as instabilidades; o normal é o diferente, o que foge do preparado.
A vida segue livre e o que nela é imutável, já é morto!
Obrigado pelo comentário
Beejo
Fique com Deus.
Oi Jonas :)
Acho que a vida coloca em nosso caminho aquela lição que é mais dificil e importante para cada um.
Mostrar fragilidade e vulnerabilidade é muito dificil. Eu mesma, sendo mulher e sendo de signo de água, tenho dificuldades em mostrar isso. Mas ninguém é assim tão sólido, e quando tentamos ser, nossa mente e nosso corpo reclama. Acho que a sociedade de hoje nos obrigou de certa forma a ter um comportamento alienado e formal, forte perto dos outros com a impressão de que se assim não fosse, esse mega mercado poderia nos engolir.
Somos humanos, imperfeitos e eternos alunos. Erramos muito, sofremos, choramos, rimos e passamos pelo caos. Mas algo que você escreveu é a mais pura verdade... nada se transforma sem antes ter bagunça. A melhoria só vem depois da tempestade.
Eu posso dizer que essa semana, eu vi a lição que devia aprender bem no meu nariz com letras grandes. Não é primeira, nem a segunda, terceira ou quarta vez que essa lição passa por mim... porém, com o tempo, nós aprendemos a pelo menos tentar mudar o rumo, sabendo que toda dificuldade vem para o melhor.
E como disse o Gianichinni numa entrevista, existe um caminho que é só nosso para percorrer, mesmo que a familia e os amigos estejam juntos, é uma estrada solitária que ninguém pode percorrer por nós.
É disso que vem o aprendizado, a aceitação e por fim, a mudança.
Fique firme!!
Hugs!!
Teacher.
Obrigado pelas palavras Aline =]
Quando tudo vai bem e está tudo certinho conforme o que queremos, nós gostamos. Agora, nós só provamos a nós mesmos que somos fortes e temos fé, quando estamos mais fracos e através das adversidades. É através do que vem contra os nossos planos e nos obriga a sairmos da zona de conforto. Nos mobilizarmos. Essas famosas mudanças da vida, tão sorrateiras às vezes que nos conduzirão ao amadurecimento. E o maior desafio às vezes é atravessarmos por elas sendo fieis a nós mesmos e transparentes com a vida.
Aline,
não acredito em nada definitivo. Nem a vida, nem a morte. Nem o sucesso, nem a derrota. Tudo é efêmero e nos ensina algo. Precisamos, como no vídeo a seguir, “aprender a aprender”.
Valeu pela força
Hugs
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