Todos nós
temos uma parte em nós mesmos que é sagrada. É aquela nossa parte que é madura,
responsável e sábia. Em alguns talvez essa parte seja mais desenvolvida, em
outros talvez menos. Mas todos a temos. A questão é que não usamos. Não, com frequência.
Costumo pensar que essa parte é como uma ponta de uma conexão direta com algo superior,
que para mim é Deus. É como se Deus estivesse num ponto e no outro ponto cada
um de nós, e esse fio é o que nos ligaria. Nos momentos mais decisivos de nossa
vida nos conectamos com essa fonte e obtemos força, coragem, conforto e sabedoria
principalmente. Hoje, mais do que nunca, é de extrema urgência e importância
que você aprenda a acessar essa conexão que vou chamar aqui de Eu Superior e
vou te explicar o porquê.
Todos nós
estamos passando por problemas. Seja branco, preto, amarelo, rico, pobre,
casado, solteiro, todos temos problemas. Muitas vezes tendemos a acreditar que
uma ou outra determinada pessoa não tem problema, porque, de fora, observando a
vida dessa pessoa a julgamos perfeita. Como se existissem pessoas com vidas
melhores do que a nossa. Gostaria que tirasse esse conceito de sua cabeça,
porque isso não é verdade. Todas as pessoas estão enfrentando seus dilemas e
demônios pessoais. Acreditar que exista uma vida perfeita ou um relacionamento desses
de contos de fadas é ilusão. Na vida real todos sofrem, choram e matam um leão
por dia, ainda mais nos dias de hoje. A questão é que a grande maioria das
pessoas usam máscaras sociais bem montadas e pintam a cena muito bem. Mas só
Deus sabe o que habita o interior de algumas casas; de alguns relacionamentos; o
interior de algumas pessoas.
No passado,
as pessoas tinham mais tempo e dedicavam mais energia umas às outras. Era comum
você ter um ou mais amigos íntimos que você pudesse contar. Contar para conversar,
chorar, desabafar, e ali, olho no olho, ombro a ombro, coisas eram ditas e isso
era uma elaboração. Friso aqui exatamente esse aspecto: a elaboração através de
uma fala amiga. Muitos não se dão conta, mas quando você está com alguma
questão pessoal, só o fato de você desabafar isso com um amigo já é positivo. Por
mais que esse amigo não seja um psicólogo, um psiquiatra ou um psicanalista, o falar
sobre a questão para alguém que te olhe nos olhos e esteja com ouvidos atentos em
você, está acontecendo aí um movimento terapêutico. Quando falamos com alguém
que está conscientemente prestando atenção em nós, com doação sincera de tempo,
ganhamos a oportunidade de nos ouvir enquanto falamos. Ouvimos nossa questão e
somos capazes, em algum nível, de nos ver de fora e isso é muito significativo
para a saúde mental. Ou seja, amizades sinceras valem muito!
A realidade
de hoje é diferente. Quantas pessoas, de profunda confiança sua, você poderia ligar
agora e chamar para sair e conversar um pouco? Pessoas que você saberia que
sentariam com você com total entrega de tempo, de energia e com atenção ouviriam
o que você tem a dizer, sem julgar, sem criticar e até ajudariam a encontrar um
caminho se necessário – quantas? Quase não temos mais. Mas isso não é culpa de
ninguém, porque a maioria das pessoas não tem tempo, energia, nem atenção
suficientes para a própria vida. As pessoas estão cansadas, muitas estão na
defensiva e estão vivendo como podem, com o que tem, da forma como estão
conseguindo. Ou seja, nós estamos sobrevivendo da forma como podemos.
Deveríamos buscar ajuda de um profissional da saúde? Deveríamos! Estamos
procurando? Muito pouco! Talvez por isso observamos tantas pessoas exauridas fisicamente,
doentes mentalmente, porque não têm com quem contar e não buscam ajuda.
Aqui entra
o Eu Superior que habita em cada um de nós. Todos nós temos dentro de nós essa
voz de sabedoria que nos guia. Defendo aqui a busca pela espiritualidade. Não
adianta você se queixar que uma determinada pessoa não te ajuda ou não te
compreende, porque talvez essa pessoa não compreenda a si mesma. Já parou para
pensar, o que pode estar enfrentando as pessoas que você busca auxílio,
compreensão ou afeto? Seja quem for que você esteja esperando que te compreenda
ou te auxilie, se essa pessoa não dá a devolutiva ou a atenção que você espera
é porque ela não pode. Ou talvez não queira. Ou não tenha tempo. Em todo caso,
não vai resolver brigar ou se ressentir com essa pessoa. Cada um dá o que tem. Se
essa pessoa não te compreende, não te ouve, não te valoriza o suficiente,
procure você se compreender, se ouvir e se valorizar, porque isso está em seu
controle. Exigir que o outro seja de determinada maneira ou dê algo que ele não
quer ou não pode dar é tolice. É batalha perdida antes mesmo de iniciada. Procure
entrar mais em contato com você mesmo. Conheça seus pontos fortes e seus pontos
vulneráveis. Aprenda a se amar primeiro e ser o seu melhor amigo. Analise-se
sempre que possível. Quanto mais você for capaz de se conectar consigo mesmo,
mais em paz você estará. Assim, ficará menos sensível às turbulências externas
e menos ressentido quando alguém não te der a atenção merecida.
Depois
de muito me magoar com as pessoas que não correspondiam as minhas expectativas
ou não davam a atenção que eu julgava que merecia ter, resolvi mudar o meu
jeito de ser. Passei a não ter grandes expectativas em relação ao comportamento
das pessoas. Aceito e tento compreender o que alguém pode ou quer me oferecer. E
seja quem for. Mãe, chefe, amigos, colegas de trabalho. Percebi que a gente sempre
desenvolve, até sem querer, uma crença de que as pessoas têm que se comportar
como esperamos que elas se comportem. “Porque MINHA mãe não pode fazer isso
COMIGO”. “Porque o MEU melhor amigo não podia fazer aquilo COMIGO”. “Porque
MEU/MINHA chefe não ME compreende”. “Porque o mundo é muito duro para
MIM”. Quando fazemos esses discursos ou temos esses pensamentos, dando
demasiada ênfase em nós mesmos, só falta enfiarmos uma chupeta na boca e batermos
as pernas no chão chorando por atenção. Estamos regredindo a um comportamento
infantil. Quando me pego nessas queixas bancando uma vítima sofredora, procuro rapidamente
sair desse lance. E repetir mentalmente a mim mesmo coisas como: “tal pessoa
é como é”; “deu o que quis ou podia dar”; “não tenho controle
sobre as pessoas, tenho sobre mim e o que posso fazer com isso”; “reclamar,
me ressentir, ir lá brigar ou exigir que me ajudem ou me compreendam não
resolve nada”; “cada um dá o que tem”. Com essa mentalidade inverto
uma ânsia de aprovação ou carência de afeto por sabedoria.
Aqui o Eu Superior está entrando em cena. A parte adulta que vai lidar com a situação. Abre o espaço para me conectar com valores maiores como Compaixão, Sabedoria, Fraternidade
e Amor. De posse desses valores maiores posso ver as situações com amor ao invés
de raiva. Ver as pessoas com compaixão ao invés de ressentimento. Compreender que minha mágoa tem muito mais a ver com uma expectativa egoica minha do que com o outro de fato e que se alguém não me ajudou como esperava, talvez fosse porque essa pessoa precisasse de ajuda também. E aí acontece algo muito bacana: o quadro todo se inverte. Ao me alinhar com Deus, com essa parte superior e sagrada que habita em nós, tudo fica tão pequeno, começando por mim e isso me supre completamente. Sinto que posso então oferecer auxílio até para quem por algum motivo não pôde ou não
quis me ajudar. E isso se chama ALTRUÍSMO, o comportamento mais humano e mais puro que uma pessoa é capaz de alcançar em vida. Esse é o nosso verdadeiro objetivo aqui. Namastê.🙏
4 comentários:
Muito bom o testo Jonas, parabéns e relata exatamente o momento em que vivemos. Não podemos cobrar ou exigir algo que as vezes não damos tbm. Um grande abraço do seu amigo Marquinho.
Obrigado pelo visita, Marquinho! Quanto tempo! Espero que esteja bem. Que saudades da turma... Um grande abraço! Feliz natal. Boas festas e um ótimo ano novo.
Perfeita reflexão sobre nós mesmo , realmente isso acontece em nossas vidas e temos o mal hábito de nos vitimizar ..
Obrigado pela visita, volte sempre!
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