
“- Simples. Eu tenho que falar de uma maneira simples...”.
É esse o conselho que me dou para tentar explicar o que quero. Por quê? Porque o que quero explicar é um pensamento muito complexo e receio que ninguém entenda o que quero passar.
Tenho feito reflexões muito profundas sobre a vida (sobre a mim mesmo). Este blog tem como objetivo fazer o leitor repensar, refletir, questionar sobre a si mesmo, sobre a sua própria vida. Eu mesmo repenso, reflito e questiono o que escrevo aqui sempre. Mas percebi que algumas coisas que posto podem ser difíceis de acompanhar para alguns e isso me fez lembrar de uma época da minha vida – e por essa razão escrevo esse post, que já dou nome: “Pensamento é músculo”. Vou contar uma breve história minha...
Uns anos atrás, acredito que uns quatro ou cinco talvez, era noite e fui assistir a um programa de televisão, onde uma apresentadora (não me lembro quem exatamente) argumentava sobre um tema. Acredito que era sobre Felicidade – não me lembro ao certo –. Porém me lembro muito bem que não consegui entender nada do que ela falou; minha capacidade de entender não acompanhava o raciocínio dela; não consegui assimilar a complexidade da sua linha de raciocínio. Minha visão de mundo era bem fechada e limitada, e até então eu não tinha o hábito de refletir sobre nada. Então achei o programa chato, a apresentadora estranha e em dois minutos (no máximo!) troquei de canal. Juro que até me esforcei para acompanhar o que ela dizia sobre Felicidade, mas a complexidade do seu discurso era tamanha que eu tive dor de cabeça. Foi mais prático julgar aquele programa como chato, desinteressante e sem utilidade para a minha vida.
Só que não me dei por vencido! Como acho que deveríamos fazer com tudo na vida que nos confronta e nos desafia. Não desistir. Você até pode deixar quieto por um tempo, enquanto adquire mais forças, mas numa hora ou outra retorne e tente novamente. Seja o que for.
Naquela época – vai parecer estranho –, eu queria entender aquele programa. Mais que isso, eu queria entender sobre o que ela falava, especificamente. Por que era tão difícil? Nesse momento percebi algo. Quando um entendimento é grandioso ou complexo demais, a gente se afasta e o declara como chato, porque é conflitante. Mas isso só significa que a nossa mente está menor do que o entendimento. Precisamos expandir. Expandir a visão e a nossa existência.
Quando você quer tonificar um músculo, o que você faz? Exercita-o, não é? Seja lá qual for o movimento que você fizer com esse músculo estará trabalhando-o. Você só precisará respeitar os limites do seu corpo. É da mesma forma o pensamento! Pensamento é músculo! Reflexão é músculo! E da mesma forma atrofia e atravanca o movimento (= a vida).
Corpo sedentário é ruim para a saúde? Mente sedentária também! Ao constatar isso passei a praticar reflexão com maior frequência. Mas como se pratica reflexão!? Pensando! Tendo vontade de pensar! Na minha opinião (de leigo), a filosofia dá ferramentas para elaborar melhor as ideias, para estruturar a construção de um pensamento. Como se você fosse um arquiteto. Quanto mais você pensa sobre si mesmo, mais você está refletindo sobre a vida, porque você é a vida! Então refletir sobre si é refletir sobre a vida.
Imagine-se frente a frente com uma parede. Aí, nessa parede você desenha um ponto. Com o seu nariz colado nesse ponto desenhado na parede, você apenas tem a visão do que os seus olhos alcançam. Que é muito pouco. Agora, ao dar um passo para trás, a abrangência da sua visão aumenta. E quanto mais passos para trás você der, mais amplitude a sua visão ganha. Refletir é “dar passos para trás”. Irá chegar um momento (que é o ponto que eu espero que a humanidade chegue) que de tantos passos dados para trás, a sua visão de mundo se tornará você. A parede é você e você é a parede. Não será mais você quem vê, a vida é quem vê através de você.
Mas é lógico que até você chegar nesse ponto e você entender isso tudo, você precisará refletir para “trincar” o seu pensamento. Pensamento sarado! De que forma você faz isso? Pensando, primeiramente, sobre si mesmo nas pequenas coisas do cotidiano. Pensando sobre a sua própria vida no dia a dia. É o que eu faço de uns cinco anos pra cá. Ao deitar a noite (pode ser durante o dia, ao acordar, durante o banho, no quarto ou onde quiser, isso não é “receita de bolo”) pense em algumas atitudes suas. Pense no que você fala. Pense em você mesmo; tente se ver nos seus pensamentos. Esse é o primeiro passo, quando você começar a se ver em terceira pessoa, enxergar a si próprio e se analisar. Essa é a nossa maior capacidade: existir e enxergar a existência.
Então, da mesma maneira quando estamos fazendo abdominais e o nosso condicionamento físico vai melhorando e suportando mais séries gradativamente, é a forma de pensar. Quanto mais você pensar sobre suas próprias ações, mais o seu pensamento se tornará complexo. Caberá mais mundo dentro de você. Mais vida. A partir daí você começará a viver de verdade esse sistema complexo que se chama Vida. Passará a pensar melhor. Falar melhor. Viver melhor. Entendendo o todo.
Eu não sou o “cara” da reflexão, não! Nunca serei. Nunca ninguém foi também. Sou apenas um dos que gostam de pensar e tem curiosidade sobre todas as coisas. Que acredita que o pensamento é um músculo e por isso precisamos malha-lo para criar arte. Refletir para não atrofiar (= alienar). Sabe qual foi o meu maior ganho nisso tudo? Capacidade de aceitar as minhas contradições naturais, capacidade de saber viver com as perguntas sem respostas, capacidade de suportar o sofrimento dos momentos de transição e capacidade de sentir e viver a vida com gozo, vontade, potência e coragem!
Treine o seu pensamento. Questiona. Questione-se. Questionar é viver. A vida é um eterno perguntar sem responder. Não sabemos nem onde nem quando a vida começa; o que ela é ou para onde ela vai. Nós apenas temos a existência. Então, construa a sua de maneira criativa!
Viviane Mosé em Anamnese falando sobre existência, sofrimento, auto-medicação, idealismo, violência, entre outros temas.
Nota: Criei esse post baseado, também, em entrevistas que assisti, na internet, da poeta, psicanalista e filósofa Viviane Mosé. Até fiz uma coisa que não faço a muitos anos, um poema:
Saber (Não) Ser
...Eu
sou.
Sou?
Sei, sou!
Sei? Sei explicar...
Nasci. Respiro. Sinto
calor. Pensamentos. Dor!
Medo... Angústia... Amor... Alegria!
Eu sou... Sabia.
Sou ideal. Sou verdade . Sou certo? Mentira!
Serei morte então, isso sei!
Se serei morte, sou Vida.
Mas há Vida!? Não sei se sou, como sei?
Não sei explicar...
Não há vida! Nem morte!
Há o não
sei se sou,
nunca serei,
sempre fui
eu...
(Jonas Souza)
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