
Estive em uma instituição que realiza atividades socioeducativas com crianças que os pais trabalham fora o dia todo. Essa instituição acolhe essas crianças em tempo integral e durante esse período realiza ótimas atividades com elas. Mas o que eu gostei mais de ver foi como respondem bem a tudo, como elas são organizadas e espertas. Elas sabem que têm talento para qualquer coisa, mas sabe o que lhes falta? Quem acredite nisso além delas. Conversando com o pessoal da instituição, descobri que elas passam pelo mesmo dilema que o típico brasileiro sofre muito: falta de crédito e ausência de portas abertas. Apesar delas serem carentes, não é de dinheiro que elas mais precisam, é de atenção e confiança. São crianças carentes de amor e carinho e precisam de cuidado e espaço na sociedade, para crescerem e se desenvolverem com grande potencialidade; elas precisam que confiem nessa capacidade delas fazerem isso. Sem menosprezo nem descaso. É um trabalho complexo, um esforço conjunto entre sociedade, governo e empresas, e uma questão de dar mais crédito e oferecer mais perspectivas. Por que eu estou escrevendo sobre isso?
Porque essas crianças que conheci refletem claramente o povo brasileiro em geral. Há um imenso potencial latente na população e acredito que nós ainda não notamos isso. O que mais falta para o nosso país crescer economicamente e desenvolver todas as camadas sociais é darmos atenção para a nossa própria raça. É preciso recriar coisas e cavar canaletas. Somos um povo incrível e não deveríamos mais duvidar disso. Sem desmerecer outras nações, acredito que o brasileiro tem algo de muito especial na forma peculiar de fazer cultura; tem um talento na gente que é diferente do restante do mundo e o restante do mundo já notou isso faz tempo. (E temem isso!). Só nós que ainda não percebemos direito essas coisas. A grande maioria do povo não é mais criativa não por falta de saber ser, mas por falta de encontrar espaço para ser. Não há cuidado com o ensino, não há políticas públicas privilegiando a cultura e não há caminhos para demonstrar o que em nós sobra: um jeito específico de fazer música, de canta-las, de dança-las; um jeito específico de viver, de criar, num gingado que dribla a dificuldade diária e equilibra em braços fortes contas a pagar e salário mínimo. Muitas vezes é por esse descaso e esse desinteresse que nos entregamos e ganhamos fama de povo acomodado. Mas há grandes exceções...
O nosso problema não é tanto pensar e ser criativos, porque pensar a gente até sabe bem quando quer e criatividade também temos (é preciso para sobreviver). A discussão central está em não haver espaço e não existir o devido cuidado com o planejamento desde as crianças. Por isso devemos mexer no nosso país desde as bases! Somos um povo briguento, mas ainda hoje não sabemos brigar e nos entregamos fácil. Não sei porquê desse jeito de caminhar de cabeça baixa pelo mundo. Ainda há um resquício de “sim, sinhô” no nosso sangue. Uma passividade sanguínea. Por um débito já pago! Precisamos perder esse medo de nos assumirmos como brasileiros definitivamente, que não mais devem nada a ninguém e recriar caminhos para a nossa própria gente inovar e se reinventar. Temos um incrível potencial para isso, que se justifica na nossa própria cultura, nessa forma difícil que fomos criados desde sempre. Sabemos muito bem lidar com as adversidades. Agora é necessário criar outros modelos, seja através de políticas públicas, de oficinas de teatro, dentro de escolas em salas de aulas, através de projetos socioeducativos, seja através de tudo isso e muito mais, o mais importante é que trabalhar no que é nosso. E cavar canaletas para que essas crianças continuem abrindo caminhos no futuro. Precisamos urgentemente de uma nação que seja capaz de criar e sustentar a realidade que o país quer alcançar.
Acredito sinceramente que uma das grandes coisas que o governo anterior fez ao nosso país foi abrir caminhos. Política a parte, ele nos colocou (como país) no mapa! Defendo que essa é a receita. Abrir caminhos. Mas também ensinar esse povo a pensar e privilegiar o capital humano nacional, porque talento há! O país está crescendo, há inúmeros projetos para ampliar a nossa malha ferroviária, aumentar o transporte aquaviário, portos secos etc. Muitos países estão investindo maciçamente em inovação, P&D (Planejamento e Desenvolvimento), e estão conseguindo desenvolver a economia enquanto o Brasil está importando mão de obra!!? Nós estamos importando mão de obra porque não temos planejamento, atenção e coragem de educar o nosso próprio povo para trabalhar no que é nosso, e isso é uma vergonha nacional! O trem está caminhando a todo vapor e lá na frente vamos precisar de pessoas competentes para dirigi-lo e dar continuidade nesse caminhar. Ou o país quer ficar nas mãos de estrangeiros, de novo!? As políticas públicas, nesse momento importante do nosso país, devem contemplar mais do que nunca a cultura, a educação, a inovação, através de modelos de ensino reflexivos e globalizados, para que as nossas crianças (se) enxerguem (n)o mundo. Consigam lidar politica e sabiamente com os problemas trazidos pela modernidade. Problemas que vão muito além dos exercícios escolares. Problemas complexos e integrados.
É hora de apostar no nosso povo desde as bases! Pegar os nossos educadores e trabalha-los com amor e respeito, buscar formas de pagar a eles salários dignos, para que eles coloquem essa moçada para fazer o que nós fazemos de melhor: criar! Como diz minha avó: "essa molecada só faz arte". Realmente, o povo brasileiro faz e das boas ainda! Vamos parar com esse negócio de “sim, sinhô” e erguer a cabeça de uma vez por todas, vamos colocar essa criançada para pensar de verdade nas escolas e apostar nelas, mas acima de tudo vamos assumir a nossa identidade brasileira. Uma grande característica de nação madura é saber se colocar e se posicionar como tal. Nós somos brasileiros!!
2 comentários:
Oi Jonas!!!
Muito forte em energia esse post... e eu como professora e apreciadora de uma boa cultura, e com toda essa nova informação dos cursos, quebrando paradigmas e barreiras limitantes gostaria MUITO de ver o povo tendo a chance de também abrir a cabeça, ter uma educação de qualidade, com profissionais trabalhando com motivação, com salário adequado, em escolas adequadas, com materiais bons acessiveis. O progresso de uma país depende de sua educação. É a base de tudo. Contaram-me umavez que um Japonês visitou o nosso País, e perguntaram-lhe como o Brasil poderia evoluir tanto quanto o Japão... e ele disse que era necessário começar pela educação... o resto viria a partir daí. Dez anos depois ele veio para cá de novo e lhe fizeram a mesma pergunta... e ele respondeu que já havia dito como, e que se algo tivesse sido feito 10 anos atrás, naquele dia, o País já estaria bem diferente...
Nós realmente temos muito potencial, muita criatividade e imaginação, e as vezes as mesmas são bloqueadas porque a "realidade" das pessoas não chega até lá... porque o nível do ensino está tão inferior se comparando a outros paises que precisamos trazer mão de obra qualificada de fora... e eu pergunto, até quando o ensino ficará assim? Porque por enquanto, eu vejo as pessoas apenas "emburrecendo" com a nossa mídia, criando ideias/barreiras, assimilando falsas verdades.
Onde estão os protestos a favor de um país melhor? Ahh já sei... foi o protesto a favor da maconha uns meses atrás... porque isso sim vale a pena.
Como será o mercado de trabalho das crianças hoje? Como será o senso crítico delas? Até onde vão os sonhos delas? Que Brasil elas levarão a diante? Será que os adultos de agora darão espaço para elas crescerem??
Eu realmente peço em minhas meditações, que as pessoas tenham um despertar, não apenas espiritual, mas para todo o resto.
Excellent Post!!
Hugs!!
Your friend and teacher.
Oi Aline!!!
Você mencionou sobre a Educação e comparou a outros países; disse que o Brasil deixa a desejar e isso faz muita diferença. Concordo com você plenamente, porque faz mesmo! Concordo também, quando dizem que "os gargalos" brasileiros não estão apenas na Educação, também é necessário melhorar por completo: a saúde, o desenvolvimento do capital humano, maior investimento em P&D etc etc etc...
Porém, analisando a Educação e comparando com o Japão por exemplo, o nosso país está bem a trás. Uma das grandes prioridades dos japoneses sempre foi o ensino. Sempre! Eles são muito disciplinados e têm prazer pelo estudo, é estimulado isso nas crianças. E olha o resultado... em questão de conhecimento, os japoneses têm bons modelos. Nem precisamos mencionar o conceito de qualidade nos processos produtivos. Eles são muito dedicados.
Bom, mas cada caso é um caso, japoneses não são melhores que brasileiros, nem o inverso, trago a análise apenas para pensarmos. Não precisamos impôr um modelo japonês no nosso país, somos brasileiros, criemos o nosso próprio. Mas que vale como referência, vale. :)
Hugs!!!
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