
Nem todas as crianças aprendem a andar no mesmo tempo, mas certamente todas aprendem!
“Fala: mamãe”. “MA-MÃE!”. “Vai: pa-pai. FALA!”. “Vem comigo... Isso, de pé!”. “Não não não, de pé. VAI!” “Olha pra mim!” “Não não, aqui!!”. “Isso, em frente...” Imagine-se ouvindo esses pedidos o tempo todo na sua cabeça e ter apenas alguns meses de vida. Vai se sentir um pouco confuso e bastante pressionado, não é? Pois é... Isso certamente lhe causará estresse e com isso terá dificuldade para se equilibrar.
Uma criança pequena deve se sentir exatamente dessa forma em meio às cobranças dos pais e coisas ao redor que ela ainda não assimila. Com a maior dificuldade para atender e entender o que estão gritando e querem dela, chamando insistentemente a sua atenção. Enquanto ela está aprendendo a andar com os seus próprios pés, ela apenas tem que se equilibrar e ir numa única direção. Dessa mesma forma é quando nos tornamos adultos e precisamos suprir todas as demandas sem perder o foco no nosso objetivo de caminhar. Demandas como família, trabalho, amigos, sociedade girando em torno de nós. E também as nossas próprias demandas, aquelas internas. Sonhos, expectativas, possibilidades, plenitude. Isso tudo martelando em nossa mente, enquanto tentamos manter bem firmes os pés no chão para caminhar com segurança. O equilíbrio agora significará aprendermos a fazer isso de maneira que julgamos mais correto, digno e que consigamos assim atingir nossas metas. Imagino que a confusão que povoa a cabeça de uma criança nos primeiros meses de sua vida é a mesma que nos deixa estressados nos dias atuais. Quando não somos capazes de atender, entender, administrar as necessidades externas e internas, caminhamos com dificuldade, é como se desaprendêssemos a andar novamente. Você tem suprido todas as suas demandas e caminhado sem perder o foco nos seus objetivos?
Ao meu redor vejo uma porção de gente que não têm conseguido fazer isso, tem cambaleado à beça. Eu admito também que nem sempre consigo. Não é fácil mesmo, reconheço. Não é por falta de tempo, apesar de sempre o tempo ser o primeiro culpado. Tempo na verdade todos nós temos o suficiente quando queremos encontrar tempo. Mas então o que podemos fazer para atingir objetivos, suprir demandas e domar o estresse? Administrar melhor o tempo? Listar prioridades? Canalizar a energia? Ouvir a demanda interna? Ter paciência? Acredito que seja um pouco disso tudo e ainda um pouco mais. Precisamos primeiramente de duas coisas: admitir quando algo não está dando certo e nos permitir mudar. Admitir algo e não querer mudar é tão útil quanto provocar uma mudança sem admitir a melhoria. Nós damos passos desnecessários e com isso dispersamos energia e perdemos tempo. Quantas vezes você já se esforçou, gastou energia e perdeu tempo em coisas que, se fosse ver bem, não tinha nada a ver com o que você realmente queria? Você vai se surpreender com a resposta...
Acredito que duas verdades são mesmo universais: tempo é um recurso limitado e tudo na vida tem seu tempo. Significa que precisamos ter calma e paciência para persistir nos objetivos, mas não perder tempo perseguindo objetivos que não são nossos, porque esse tempo não irá voltar. Com isso devemos administra-lo bem e saber que todas as demandas são sim importantes – na sua ordem –, há necessidades mais imprescindíveis que outras. Aí a razão de listar prioridades, para focarmos no que realmente buscamos e canalizarmos toda a nossa energia e tempo nos alvos certos. Isso não significa esquecer do restante enquanto caminhamos, certamente que todas as demandas têm a sua importância. A própria criança observa que tem adultos ali do seu lado gritando, porém nesse momento da sua vida o seu foco é aprender a andar. A natureza instintivamente a impulsiona a isso.
Muitas vezes – para não dizer sempre – o que é certo para um não é para outro na mesma ordem. As prioridades das pessoas são diferentes e com isso a grande importância de seguirmos à risca as nossas. Não se engane ou se iluda com o que está reluzindo. Tudo ao nosso redor sempre parece mais interessante, mais maravilhoso e repleto de felicidade, quando não estamos centrados no que queremos. Parece que a felicidade nunca está aqui e agora, conosco, está sempre ali na próxima esquina. “O produto perfeito, os usuários felizes e toda a paisagem ótima.” A grama do vizinho parece mais verde. O carro dele parece melhor. O amigo parece mais feliz. Fulano parece que foi no caminho certo. “Isso” parece, “aquilo” parece... Perceba que tudo só “parece”. Sabe por quê? Fora do que você quer, tudo é mesmo interessante, mas não passam de possibilidades. O mundo é cheio dessas miragens. Possibilidade de riqueza; possibilidade de felicidade; possibilidade de sucesso; de amor, de realizações... Fora do que você quer, tudo são apenas possibilidades. O que você verdadeiramente quiser será uma meta real, porque vai caminhar com os seus próprios pés. Você não vai andar com os pés de outra pessoa, serão os seus a tocar o chão! Os sapatos maravilhosos nos pés de outra pessoa, o novo carro do seu vizinho, as coisas imperdíveis reluzindo ali fora da cerca, tudo só será imperdível se for o que você realmente busca. Se não for, não passará de distração! Ouro de tolo. E você quer isso para sua vida: perseguir ouro de tolo? Ou buscar o que realmente faz você sentir o sangue correndo nas veias?
Quando a gente sabe o que quer realmente, a gente foca! Quando a gente foca no que quer realmente, a gente não perde tempo e canaliza energia. E sabe o que acontece quando não perdemos tempo e canalizamos energia no que realmente queremos? A gente acerta!
Discurso que o autor de livros e roteirista de quadrinhos Neil Gaiman deu aos formandos da University of Arts, na Filadélfia, Estados Unidos. O vídeo está em inglês, porém tem o recurso “CC” para ativar a legenda em português:
MAKE GOOD ART!
Um dos vídeos mais brilhantes que eu já assisti por causa da sua simplicidade e ao mesmo tempo grande motivação. Acredito que todos, não só formandos, podem assistir e refletir.
4 comentários:
Nossa, muito bom! Realmente parando agora para pensar vejo que perdi tempo em coisas que não eram tão boas assim. Eu trabalhei em um laboratório muito bom, aqui no RJ, e uma das coisas que eu tirei dali foi a frase do meu orientador:"Não perca tempo bom em coisa ruim" e juntando essa frase com o seu texto tudo ficou mais claro. Ótimo texto, Abraços André Adami. http://migre.me/9VZ9v
Oi jonas ;)
Demorei mas cheguei!!! Rsrsrs
Essa expressão que você usou no seu post: ir atrás de ouro de tolo... me remeteu ao passado, algumas situações que eu já experimentei.
Tudo ao nosso redor realmente sempre parece melhor do que aquilo que temos em nossa vida, mas creio que isso realemnte é ilusão. Não que a pessoa próxima a você não esteja satisfeito com a vida que tem... mas dificilmente as pessoas vão mostrar e admitir que estão menos felizes do que aparentam.
Mas o foco principal é... você (e cada um de nós). E a sua vida? Seu trabalho? Seu pessoal? Creio que o mais dificil nem é focar e correr atrás dos seus objetivos, mas sim saber realmente o que você quer.
Descobrir o que queremos da vida mesmo, aquilo que nos trará felicidade e realização nem sempre é obvio.
Outro dia tive uma sessão de coaching de uma hora e a profissional disse a mim: "Bem, você dá aula há 10 anos e tem 25 anos de idade, ainda é nova, o que quer fazer nos próximos 10? Quer continuar nessa profissão? Quer fazer algo novo? O que mais você gosta? Qual seu planejamento para o ano que vem? - E sabe de uma coisa... eu não sabia responder nenhuma dessas perguntas!! Simplesmente porque eu ainda não experimentei outras coisas que eu gosto o suficiente para saber se eu quero mudar ou continuar... porque até experimentarmos não tem como saber. E ai fico pensando... como descobrir sem experimentar... e como experimentar sem perder o foco??
É um caminho do meio dificil de trilhar e de achar. E ai que vem o equilibrio, mas chegar nele é trabalhoso.
Na minha adolescência eu fiz curso de inglês, administração e telemarketing para iniciantes, informática, gerenciamento de líderes... coisas nada relacionadas uma com a outra... porque eu não fazia ideia do que queria... acabamos dando tiros para todo lado.
Faz 10 anos que eu tenho uma profissão... e a pergunta volta a me assombrar mais uma vez... e os próximos 10? Onde focar??
Nós somos seres mutáveis e cada época de nossa vida mudamos nossas opiniões, adquirimos mais informações e coisas diferentes nos trazem felicidade, estamos em constante mudança... então estamos sempre buscando novos caminhos.
Enfim, muito interessante seu post!! Adorei!!
Hugs from your friend and teacher!
André Adami,
obrigado por refletir sobre isso. Reafirmo as palavras que seu orientador sabiamente lhe disse: "não perca tempo bom em coisa ruim". Não perca!
Abraços e tudo de bom.
Aline,
é muito bom você admitir isso, porque, como a grande maioria não admite, as pessoas têm a falsa sensação de que todo mundo é forte e seguro. Mas não existe esse romantismo todo. Nos ensinam desde criança sobre ideal, sucesso e felicidade. Que na sociedade não existem diferenças. São colocadas como erro. Dúvidas são postas como fraquezas. Vem daí o nosso medo de assumirmos nossas contradições e nossas dúvidas. Medo de não sermos aceitos. E tudo o que não suportamos é isso. Queremos sempre agradar, sermos queridos, como se fôssemos eternas crianças chamando a atenção. Precisamos é crescer e assumirmos as nossas coisas.
Precisa cair por terra essa velha crença que há verdade pra tudo. Nunca houve. Sei disso porque fui parte da grande massa que tenta procurar o jeito certo de ser, viver, falar, amar, pensar, existir. O jeito certo de agradar. Hoje, tenho a seguinte opinião: ninguém vem com manual de existência; um único ideal de vida para uma população diferente não faz sentido; agradar a todos é uma missão impossível.
A vida não é um joguinho de lógica, nem aqueles jogos de vida virtual onde tudo é bonito e as pecinhas se encaixam. Na vida real a gente tem crises, quebra a cara, tropeça, sofre, leva fora e passa apertado. O legal da vida real é buscar as respostas e não necessariamente vamos encontra-las. Dá medo e um certo incômodo pensar dessa maneira porque não nos ensinaram a viver com a dúvida, com o medo, com o sofrimento. Nos ensinaram a sempre responder quem somos, onde estamos, para onde vamos e o porquê. Está mais que na hora da sociedade crescer e acordar. Estarmos todos conectados, mas somos pessoas diferentes e precisamos respeitar essa diferença e essa pluralidade. É importante ter foco e metas na vida, mas não sermos reféns disso também. Vamos ser fortes o suficiente para entender que nem tudo correrá como queremos. Pessoas grandes têm noção disso. Isso nos diferencia das crianças. Saber lidar com os desafios. Está na hora de agirmos como uma sociedade madura.
Obrigado pelo comentário, Aline. Sinceramente acredito que, seja qual for o caminho profissional da sua vida, será realizada, porque tem bons princípios, é madura e tem atitude. Essas são características de pessoas grandes.
Hugs!
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