A resposta é: depende.
Embora muito criticado pelo senso comum, o ego para a psicanálise é uma instância psíquica importante ao ser humano. Todos já ouviram frases sobre determinada pessoa ter um “ego grande” ou um “ego inflado”, vindas com recomendações para “diminuir” o nosso ego. No senso comum se enxerga o ego dessa forma, como sendo algo prejudicial à personalidade e que devêssemos combatê-lo para nos tornarmos pessoas mais altruístas e abnegadas. Eu também imaginava que ego era algo negativo antes de entender como a psicologia, especialmente a psicanálise falam de ego.
As razões por trás desse entendimento se deve porque assim é propagado, principalmente em alguns meios esotéricos ou religiosos. No senso comum associam uma pessoa com “ego inflado” com comportamentos de arrogância. De prepotência. De egoísmo. Aprendi que o intuito, quando se recomenda a dissolução do próprio ego, não significa que o indivíduo deva esquecer de si e se anular por completo. Não é isso. É uma orientação ao indivíduo para que busque enxergar a vida numa perspectiva macro, além de si mesmo e de seus próprios interesses. Para compreender que existe um todo do qual ele é parte. Saia do ensimesmamento e tente pensar e sentir com os outros, tendo o coletivo em perspectiva. Indo mais além, é a busca por ligação com aquilo que transcenderia a matéria, que estaria além da compreensão humana, entrando no campo da espiritualidade. No que você crê?
Respeito esse conceito de dissolução do ego. Eu também acredito que o verdadeiro objetivo da alma humana é caminhar partindo do um (do eu) para uma fusão com o todo. A vida inteira passaremos por inúmeras experiências e aprendizados, alguns desafiadores e dolorosos, para que possamos evoluir nesse sentido. E isso não significa também esquecer de nós mesmos ou anular os nossos interesses pessoais, porque somos indivíduos. Carl Gustav Jung trouxe por exemplo a ideia de individuação (que não se confunde aqui com individualismo). A individuação seria a busca de toda alma humana por se desenvolver de forma integral rumo a sua realização pessoal.
Dissolução do ego e Individuação então são dois conceitos de origens distintas, até parecem antagônicos, mas não se excluem na verdade. Essa ideia de dissolução do próprio ego, trazida principalmente em ensinamentos de tradição oriental me ajudou bastante. A observar as minhas atitudes e o excesso do eu em detrimento do outro. Meu primeiro impulso por exemplo é criticar. E às vezes segregar. Me separando das pessoas. Sou naturalmente mais distante e racional. Mas aprendi que posso ser também um Jonas mais próximo. Mais humano. Mais íntimo das pessoas. Evitar de ficar só no plano mental e me permitir sentir com as pessoas. Me unir. Já me abri bastante nesse sentido. Melhorei e espero melhorar ainda mais. E você, pensa no coletivo? Que ideia você tem sobre isso?
Por outro lado acho importante também essa ideia de individuação proposta por Carl Jung. Ela nos ensina a olhar aquilo que temos em nós mesmos. Reconhecendo todos os aspectos da nossa personalidade. Aspectos luminosos, sombrios, potencialidades. E integra-los visando à totalidade. Nos aproximando de ser quem somos. Autenticidade. Realização pessoal. Completude. Essa ideia de individuação me fez reconhecer e me aceitar mais como sou. É o que sou! - sem justificação ou vitimismo. Sei que tenho uma tendência ao perfeccionismo. Sou crítico, obsessivo, rígido. Mas isso não me limitou. A questão é o que fazer com isso. Negar não é o melhor caminho. Reconhecer, integrar e elaborar é mais inteligente. Sou determinado também. Proativo, responsável, autoconfiante, organizado. Aprendi a valorizar o que eu tenho também. Ninguém é uma coisa só! Você já se aceitou como é?
Acredito
sinceramente que o Criador nos deu
ao
nascer uma
caixinha já
com algumas ferramentas e durante a vida encontraremos tantas
outras.
Cada
um fará
a sua
obra. Mas
nela
não terá
só o que
queremos. Vem o kit completo! Só
que ao
invés de reclamar daquilo
que ganhamos,
podemos nos
reinventar.
O que fazer com a nossa vida a partir do
que é dado?
Já
pensou nisso?
A vida está aí. Não
temos o
controle de tudo. Não existirá
vida
certa ou vida errada. Há
a
vontade
de viver. E potência
para se
recriar sempre
que for
preciso. Você já se reinventou?
Quando fui estudar psicanálise descobri uma nova forma de pensar o ego também. Tão interessante e importante quanto! Segundo Freud o ego é o centro da consciência. Ele está em contato com a realidade e interpreta o mundo externo. O ego é a personalidade. E é a instância psíquica que tem a importante responsabilidade da mediação dos impulsos do id e dos valores internalizados pelo superego. Dentro de toda pessoa existem desejos, vontades, impulsos; assim como princípios e valores morais que censuram à obtenção desses impulsos. O ego que vai negociar: Eu quero X Eu devo?
Quem resolve esse impasse sempre é o ego, por isso é uma instância psíquica importantíssima. O id nos diz quero agora. Imediatamente o nosso superego apita não pode! O nosso ego precisa analisar essas duas instâncias opostas e achar a melhor opção. Maximizar o prazer exigido pelo id. Ao mesmo tempo minimizando o desprazer advindo do superego. O ego age então como uma balança em nós. Uma balança que segue o princípio da realidade. Por isso o ego deve estar bem “calibrado”.
Toda decisão que tomaremos sempre passará pelo crivo do ego. Ele precisa ser uma instância psíquica forte e saudável em nossa personalidade. Caso predomine só os nossos desejos e vontades, ou seja, “vou fazer o que quiser, como quiser, quando quiser”, estamos seguindo o princípio do prazer. Quem age seguindo apenas o prazer sem responsabilidades? As crianças. Convenhamos que não é agradável, nem aceitável, pensando em coletivo, um adulto fazer só o que quer. Não somos ermitãos vivendo reclusos em cavernas. Nós vivemos em sociedade e existem leis. O superego representa justamente a instância psíquica que freia os nossos incontáveis impulsos irracionais e desmedidos. Pessoas com um superego fraco ou pouco introjetado são mais transgressoras. Até delinquentes. Quanto maior for a fragilidade desse superego mais difícil ajudar a pessoa, porque ela terá pouco ou nenhum respeito por limite. E como somos animais sociais é imprescindível a internalização do temor e do respeito à Lei. Sem isso é praticamente inviável o curso livre do sujeito em sociedade.
Por outro lado também, se numa pessoa houver um superego muito forte, ela será muito rígida, muito punitiva. Ela se censurará o tempo todo. Castrando demais os próprios desejos. “Não posso, não devo...”. É o extremo oposto. Pessoas muito sérias, controladoras, punitivas têm essa instância pesando forte na personalidade. Elas se anulam e se privam demais, porque há um superego internalizado muito severo. Eu estou aqui nesse grupo por exemplo. Aprendi que tenho uma tendência a priorizar o dever; a buscar antecipar e suprir a demanda do outro (sem ele sequer pedir); e a postergar o meu prazer. Embora esse mecanismo de privação também acabe gerando um prazer secundário! Aprendi que pessoas muito “certinhas” que muito se privam e privam os outros têm, inconscientemente, um prazer secundário nisso, por mais sadomasoquista que pareça. É uma fixação.
Grava isso: o organismo SEMPRE encontrará um meio, mesmo que incomum, inaceitável ou patológico de obter SATISFAÇÃO; até inconscientemente. Não está contente com isso?! Análise.
Para a psicanálise então o ego é muito importante e tem a tarefa de mediar o conflito entre o id e o superego. Como o ego segue o princípio da realidade é importante a pessoa ter uma interpretação razoável. Mas quando alguém está em sofrimento psíquico é bem possível que o ego dessa pessoa esteja em algum nível prejudicado na percepção e na interpretação do mundo externo. Assim como em sua capacidade de mediar conflitos entre desejos e exigências. Ao procurar um psicanalista, por exemplo, uma das primeiras tarefas da análise é fortalecer o ego da pessoa. Com o auxílio do analista ela irá gradativamente “recalibrando” a capacidade de perceber e de interpretar adequadamente a realidade e de conseguir gerenciar os próprios conflitos. O foco do tratamento psicanalítico continua sendo a instância inconsciente do paciente, mas o psicanalista precisa fazer aliança terapêutica com a parte colaborativa do ego da pessoa. E esse ego precisa estar minimamente fortalecido para interpretar a realidade.
E aí, com base em tudo isso, como você tem trabalhado o seu ego?
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