Eu
gosto muito de estudar sobre psicologia e o meu interesse pela
psicanálise veio a partir daí, do meu interesse pela psicologia.
Sempre gostei de estudar sobre a mente, sobre o comportamento humano
e as suas as possíveis motivações e desafios. O conhecimento que
tenho nesse universo da psicologia é como amante mesmo, eu nunca
cursei essa graduação. Embora até tenho planos para isso um dia.
Mas confesso que não sei dizer também – hoje – se atuaria como
psicólogo após a formação, talvez eu fizesse o curso mais pela
paixão, para me aprofundar nas diversas correntes que existem,
porque certamente todas agregam conhecimento. Não tenho nenhum tipo
de preconceito contra a psicologia, muito pelo contrário, vejo essa ciência como bastante
útil à humanidade, principalmente nos dias de hoje com uma farmacologia tão indiscriminada. Sou a favor do uso de medicamentos, quando devidamente prescritos por médicos. Só digo que não tenho certeza se atuaria clinicamente como um psicólogo apenas por não me identificar –
hoje – com psicoterapias que tenham como perspectiva o consciente. Diferentemente da psicanálise.
Muitas pessoas me perguntam, e sempre me perguntaram por que não curso psicologia. Penso que a psicologia seja mesmo um curso fantástico, talvez como disse até faça um dia, pois existem correntes muito interessantes. Cada uma enxergando o ser humano e propondo terapêuticas de formas bem diferentes, e todas válidas. Mas todas sempre tendo como perspectiva o consciente também. E aí que a psicologia se diferencia da psicanálise. Embora muitos confundam uma com a outra, a diferença central é que a psicanálise trabalha com a ideia de inconsciente. Para a psicanálise, como Freud disse, “o eu não é senhor em sua própria morada”. E é nessa perspectiva que me identifico mais, por experiência pessoal inclusive. Já disse em outras oportunidades aqui que estou fazendo a formação em psicanálise e um dos pré-requisitos é a própria análise. Então eu percebo na prática o inconsciente agindo. Através de meus atos falhos. De mecanismos de defesa. Sonhos. Durante esse per(curso) consigo perceber o núcleo da minha própria neurose. É impressionante a atuação do nosso inconsciente e como temos uma compulsão à repetições.
Dentre as abordagens da psicologia que conheci, a que mais me identifiquei é a Gestalt. Se cursasse psicologia hoje e posteriormente atuasse clinicamente, adoraria trabalhar com gestalt terapia. Mas ainda assim acharia importante não perder de perspectiva o inconsciente e as causas para determinadas formas de comportamento, já que tendemos inconscientemente à repetição.
Eu tinha um amigo que vira e mexe reclamava de uma situação específica que não entrarei aqui em detalhes. Mas olha que curioso. Quando nos conhecemos ele me confidenciou uma situação conflituosa que ele tinha na época com o pai. Como um bom amigo eu o ouvia. Na época eu não estudava psicanálise ainda, eu fazia uma especialização em psicologia organizacional. E nessa especialização estudamos teorias psicológicas e da personalidade. E eu me lembro que já de cara odiei a psicanálise. E gostei muito da gestalt. Eu ia na biblioteca e pegava vários livros sobre psicologia da gestalt, gestalt terapia, me aprofundei no estudo dessa abordagem, ela foi a que mais me chamou a atenção positivamente - já que detestei a psicanálise. E a minha especialização tinha objetivo organizacional e ao trabalho, e de forma nenhuma tinha finalidade clínica. Eu não sou psicólogo.
Mas voltando ao meu amigo. Eu me lembro daquelas famosas “figura e fundo” da gestalt. E um dos objetivos da gestalt terapia é fazer a pessoa ser capaz de enxergar outras perspectivas ao seu problema. Porque geralmente quando uma pessoa procura uma terapia, ela tem uma questão que a está impossibilitando de alguma forma. E não raro essa pessoa enxerga a sua situação de uma única maneira, de forma rígida. Então, uma das propostas da gestalt terapia é observar como essa pessoa vê o mundo e a medida do possível convidá-la a ir se abrindo a outras formas de enxergar esse mesmo mundo. Porque nada é uma coisa só. Trocando figura e fundo muda-se totalmente um cenário. Achava fascinante. Na minha opinião a gestalt é a abordagem mais bonita da psicologia.
Na época fiquei muito impactado com isso. E na tentativa de auxiliar esse meu amigo, utilizei com ele esses conhecimentos da gestalt. E vou explicar o porquê. De forma nenhuma tentei clinicá-lo, muito pelo contrário, o que eu mais fiz foi recomendar que ele procurasse ajuda psicológica, porque ele relatava muito sofrimento psíquico. Muitas vezes ele chorava enquanto comentava suas questões comigo. Só que ele era muito cabeça dura, teimoso, ele nunca dava o braço a torcer. Cheguei até a conversar com amigos meus psicólogos se poderiam atendê-lo por um valor mais acessível, porque achava que fosse questão de grana ele não querer procurar um psicólogo. Mas não era, era preconceito mesmo, porque ele chegava a dizer que psicólogo era pra louco. Então, como amigo, eu não via outra forma de ajuda-lo se não procurar fazê-lo enxergar as suas queixas por outros ângulos!
Passei a ouvi-lo mais atentamente toda vez que ele reclamava do pai. Procurei entender a situação e me colocar em seu lugar, como um amigo faz. Tentei enxergar do seu ângulo e à medida do possível, dentro da nossa conversa eu procurava, disfarçadamente, destacar alguns objetos do seu cenário que eu já tinha percebido que ele deixava de fundo em sua queixa. E tomando como base os estudos de figura e fundo da gestalt, para mim estava bem claro que alguns objetos ele dava foco e outros ficavam sempre de fundo. Até que ele foi parando de reclamar do pai. E por incrível que pareça com o tempo começou até a enxergar os pontos positivos do pai! E a relação dos dois mudou da água para o vinho. Foi algo bem notório. Só que com o tempo esse meu amigo começou a fazer as mesmas queixas que fazia do pai, agora a um colega de trabalho. Era o mesmo discurso de antes, só mudou o objeto. Ele passou a se queixar insistentemente de uma situação relacionada a esse colega de trabalho. E novamente procurei ouvir, compreender como ele enxergava essa nova situação e à medida do possível apresentar a ele também novos elementos da cena que estavam de fundo. Com o tempo ele passou a ver esse colega de outras formas também e conseguiu dar um novo significado a essa relação dos dois. E a situação simplesmente deixou de ser um problema em sua vida. Mas a última vez que conversei com esse meu amigo, ele reclamava agora do seu chefe…
Hoje
que sou aspirante em psicanálise, quando lembro dessa história, a
pergunta que me vem à mente é “Qual é o núcleo dessa neurose?”.
Para mim está claro que é preciso ir à causa do problema. Essa
história é verdadeira e esse meu amigo até hoje reclama das mesmas
questões, apenas trocando de objetos. Embora os cenários mudem,
percebo que o seu personagem sempre tem o mesmo papel nesse enredo.
Qual é o gozo que ele tem nisso tudo? Porque
obviamente, para a psicanálise, existe aí uma dinâmica patológica
e um prazer inconsciente nesse mecanismo. Essa é a saga do
neurótico: cumprir o mesmo script. Já que ele está fixado em algo
que ocorreu em sua vida em uma tenra idade. Para a psicanálise,
quando o adulto tem algum comportamento disfuncional, algo que o
impede de ter uma vida melhor ou que cause sofrimento, significa que
algo traumático aconteceu nos primeiros anos de vida. E apesar da
palavra traumático parecer
muito forte e dar a entender algo catastrófico ou de grande
magnitude, significa apenas algo além da capacidade infantil de
processamento. Tudo o que acontece nos primeiros anos de vida de
uma criança e está além da capacidade de sua psique de assimilar
pode gerar um trauma. Por essa razão é comum adultos sofrerem de
neuroses, porque a criança vivencia naturalmente, ou por alguma
fatalidade, experiências que vão além de suas condições
psíquicas de compreensão. E isso gera trauma. Recalque. Fixação. E
a tarefa de uma análise é dar luz a esse conteúdo inconsciente para que o paciente
possa ganhar consciência desse movimento.
Eu não estou dizendo de forma alguma que psicanálise é melhor do que psicologia. Ou vice versa. São entendimentos diferentes. Um psicólogo poderia ler esse meu texto, refuta-lo e estaria coberto de razão. Do seu ponto de vista. Eu mesmo disse que admiro muito a gestalt terapia. E certamente, na minha opinião, é a abordagem mais bonita da psicologia. E é a abordagem que eu trabalharia se fosse psicólogo, porque concordo que a pior coisa ao ser humano é a rigidez de enxergar a sua vida. Podemos voltar, elaborar questões passadas, mas nada resolverá sem a disposição e a abertura para novas possibilidades futuras. A vida é sim o que acontece aqui e agora. Concordo. Mas sem entender a gênese de uma questão só vamos enxugar gelo e deslocar o problema. É o sujeito que troca o vício no cigarro pelo doce. A compulsão pela comida, no exercício. No caso do meu amigo, desloca a sua questão com o pai ao colega, ao chefe etc.
O que quero dizer é que dentro da psicologia, e mesmo dentro da própria psicanálise, existem correntes que no fim se complementam. Não se excluem. Gosto sempre de me lembrar do que o meu professor de Teorias Psicológicas e da Personalidade disse certa vez em aula: “As psicologias e as psicanálises são como janelas de vários pontos de uma casa. Em cada janela você terá uma visão de um ângulo diferente. Mas todas olharão para o mesmo céu!”
Para reflexão
Na sua vida, pense numa determinada questão. O que nela é figura e o que é fundo? Mude o olhar...
Agora pense. Por que será que você enxergou uma determinada configuração por primeiro?
Às vezes o bandido pode ser o mocinho. E vice-versa. Mas a grande questão é por que você costuma sempre perceber primeiro uma coisa, ou primeiro outra? Pense nisso.
2 comentários:
Jonas, comi sempre excelentes reflexões!
Saudades, abraço!
Olá!😃
Agradeço a visita.
Saudade também.
Abraço
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