Existe um local, um espaço, um sentimento, algo dentro de mim, que
recorro quando nada mais parece fazer sentido. Quando as respostas foram insatisfatórias;
quando as relações ficaram naturalmente complicadas demais; quando uma angústia
está me apertando; quando todas as portas parecem trancadas e estou num beco
sem saída, então nesse momento me percebo como sou. Um ser pequeno, frágil e
dependente. Me sinto nu e incapaz diante da vida. E perante essa constatação franca,
que cutuca agressivamente meu ego, me encontro com algo sagrado em mim. Algo maior.
Eu encontro a minha espiritualidade, a minha religiosidade e meu corpo se mostra
um templo em mim.
Eu estava com dez, talvez onze anos, quando conscientemente
conversei com Deus pela primeira vez. Digo conscientemente porque antes desse momento
era algo mecânico; orava sem entender direito o que fazia. Mas a partir dessa
idade tudo mudou. Eu estava em meu quarto um dia, sentado no chão e me sentindo
terrivelmente só como sempre. Era uma tristeza tão grande, eu sentia que a vida não
fazia sentido e não entendia qual a razão de sentir aquelas emoções tão difíceis
de suportar. Passei por isso por um longo período sem contar nada a ninguém porque
me incomodava me imaginar pedindo ajuda para algo que nem sabia explicar o que
era. Apesar de ser criança na época, percebia que precisava urgentemente de
ajuda, porém eu não sabia como e nem por onde começar a falar; que me sentia só;
confuso; angustiado. Quando me lembro desse momento, imagino que chamaríamos
isso hoje de depressão, mas creio que foi uma difícil transição da infância
para o início da adolescência e como sempre fui ansioso sofri demais; talvez essa
tivesse sido a minha primeira crise existencial. Como eu não sabia o que fazer,
instintivamente comecei a “conversar sozinho”...
De início me senti tolo. Achava aquilo meio bizarro, temia ser
visto como um louco e sentia vergonha do que estava fazendo. “Eu estou falando
sozinho!”, pensava. No entanto, de repente senti meu corpo todo arrepiar, meus
pensamentos negativos foram se dissipando e senti algo bom tocar meu coração.
Era uma sensação tão confortável de paz que me sentia num local seguro e
estranhamente comecei a melhorar. Daquele momento em diante descobri que Deus
sempre esteve ali comigo, vivia dentro de mim e jamais me abandonaria; naquela
tarde combinei algo com Deus: que o procuraria outras vezes e me tornaria seu
melhor amigo. Assim como Ele sempre foi o meu desde então...
De lá para cá foram muitas as situações que fiquei entre a cruz e
a espada. Entre o carpete e o taco. Foram muitas as crises existenciais, os episódios
depressivos, houve pânico, mas sempre me agarrei na minha espiritualidade. Algo
me dizia que eu só precisaria fazer isso: ter fé. E daria tudo certo. Quando
subia no telhado para acompanhar o nascer do Sol, ao sentir o calor dos primeiros
raios da manhã, eu sabia que não estava só. Nas noites que não conseguia dormir,
ligava um rádio velho e ao som das canções me percebia conversando com Deus.
Ele sempre esteve presente. E é por essa razão que hoje escrevo. Eu escrevo
para reforçar a sua fé. Eu escrevo para reforçar a minha própria. E gostaria
muito que acreditasse quando digo:
Existe uma força maior regendo tudo isso e você é parte dela!
Quando ninguém quiser te ouvir e todas as portas parecerem
trancadas e se sentir só, é chegada a hora de se recolher e orar. Então chore e
desabafe com Deus, porque só Ele sabe todas as coisas...
Tudo nessa vida sim vai passar, desde bons amigos até melhores
irmãos, desde bens e dinheiro, mas algo de puro e sagrado, que habita dentro de
você, será para sempre e estará aí enquanto precisar.
De verdade, nunca caiu uma folha de uma árvore se não foi por
vontade de Deus; estamos sempre no lugar certo no momento certo com as pessoas que
precisamos aprender e ensinar, então se acalme porque as coisas vão se conectar
e no fim farão parte de um todo magistral! Eu nunca tive dúvida.
Você ainda vai rir disso. Você ainda vai chorar disso. Você ainda
vai agradecer por isso! E vai passar... Vai cicatrizar. Você vai esquecer. Vai
sobreviver! Então não perca as esperanças. Não perca a sua fé.
Sempre busquei ter a mente lógica e ser um estudioso da ciência.
Mas sou um filho de Deus!
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