domingo, 26 de dezembro de 2021

ESTRANHAMENTO

Que texto difícil de sair…

Começo a escrever o texto de hoje com uma sensação diferente. Estranhamento. Seria essa a palavra? Estou assim há alguns dias, e começou, não por menos, após a minha última sessão de análise deste ano, que foi nesta semana. Embora alguns não saibam – e quem já fez análise irá se identificar melhor com isso – depois que termina uma sessão algo começa. Dizem que aí que começa a verdadeira análise. Tudo aquilo que foi conversado e que sentimos durante a sessão volta durante os dias que se seguem após a sessão, com inúmeros conteúdos que nos põem a pensar, a repensar, a refletir o que foi discutido. E isso é positivo. É esperado até. Mas não é perfeitamente reconhecível. E é esse o ponto que espero chegar nesse texto. A questão do reconhecimento.

     Aqui eu abro um ponto, até um parênteses, para nos lembrar daquelas relações que temos, até com amigos, que nos colocam a pensar. Isso vale muito a pena. Sem fazer qualquer comparativo aqui entre um amigo e a figura do analista, porque claramente são pessoas com finalidades e capacidades diferentes. Mas apenas nos lembrar que embora nunca reparamos nisto, nem valorizamos adequadamente, existem algumas pessoas que nos relacionamos, algumas amizades até, que nos fazem pensar as nossas próprias questões. Geralmente são aquelas pessoas que conseguem inteligentemente se manterem neutras, ficar além do estar do nosso lado ou discordar de nós, e sempre nos fazem boas perguntas durante a conversa fazendo com que nós próprios nos escutemos.

     E quase sempre após o encontro com essas pessoas, a conversa que tivemos termina reverberando numa série de reflexões seguintes interessantes. Certamente isso é da ordem do analítico. E como eu disse vale muito a pena. Já tive e tenho bons amigos dessa natureza, e reconheço o poder dessas relações no meu amadurecimento. Assim como sou grato também, gostaria de deixar claro isso nessa postagem. Você tem amizades assim? Valorize-as.

     Mas voltando ao texto. O que estou sentindo agora, neste exato momento não tem um nome específico. Nem um rosto. Nem voz. É do campo do desconhecido. Ou melhor dito, do inconsciente. E esse texto de hoje é uma tentativa de duas coisas. Primeiro, dar algum contorno possível a isso o que estou sentindo. E vamos ver o que vai sair daqui… Segundo, tentar em algum nível ajudar você, leitor desse texto, quando estiver passando por isso. O que estou sentindo tem, em tese, muitos nomes. A quem chame de melancolia. Ansiedade. Angústia. Agonia. Inquietação. Mas eu digo que é próprio do ser humano.

     O que pretendo trazer com esse texto é que não deveríamos nos preocupar tanto com o nome dessa sensação, mas procurar analisar para onde ela aponta. O que nos diz. Já que sentir isso é próprio da nossa condição humana. Só que infelizmente estamos vivendo um momento da humanidade que tem buscado silenciar todos esses incômodos psíquicos. E não à toa a psicanálise vem ganhando cada vez mais força, pois foi Freud, o pai da psicanálise, quem inaugura de maneira inédita a cura pela Palavra. Fale livremente – ele pedia a seus pacientes. E para irmos além, mas não muito longe disso: Expresse-se. Externe o que você está sentindo. Dê algum contorno ao seu sofrimento. Simbolizando-o de alguma forma possível. Até que você seja capaz de perceber minimamente o seu desejo.

     Eu não sou contra a farmacologia, até porque cabe aos médicos o uso devido da prescrição. Mas é inegável que nos dias de hoje existe um uso indiscriminado de psicofármacos, porque temos muita dificuldade em passar por esses momentos de desconforto. Qualquer sensação desconfortável, que seja mais inquietante, já nos leva a procurar algum diagnóstico para isso – e consequentemente algum medicamento. Quando muitas vezes o diagnóstico mais plausível seria Humano. Fulano sofre de humanidade. Ou seja, ele está sujeito então a sentir toda a gama de emoções e sentimentos próprios de um ser humano saudável. Não estou aqui desmerecendo o sofrimento humano, nem invalidando a boa medicina; mas até que ponto podemos solucionar, definitivamente, todas as nossas inquietações psíquicas, com uma pílula?! Acho que não vai dar...

     Desde de ontem precisamente, estou com uma sensação inquietante. Parece que me falta alguma coisa. E na verdade falta mesmo! E sempre vai faltar. Porque somos seres da falta. Faltantes por natureza. Posso comer tudo o que tenho direito sobre a mesa. Posso ir a qualquer lugar na face da Terra. Posso me rodear de quem for nesse momento. O que muda?! O que quero dizer é que nada disso mudará coisa alguma o que estou sentindo agora. Não tem a onde fugir, já que qualquer lugar que eu vá me levarei junto. Essa sensação dentro de mim continuará "agitando" de qualquer forma, porque ela me constitui. Faz parte de mim. E o fato de ser Natal ainda, uma época do ano tipicamente em família, teve tudo para evocar experiências infantis facilitando ainda mais a eclosão dessa sensação de falta. Já que é justamente nos primeiros anos de vida que ela se origina. Será à toa que, justamente nesse período do ano, aumentam os relatos de sofrimento psíquico?

     Apesar desse texto estar transmitindo possivelmente um caráter pessimista ou deprimente, não pense assim! Eu não sinto assim. Muito pelo contrário. Eu penso exatamente como UM CONVITE. Já me experimentei tempo o suficiente na vida para saber que momentos como esses são próprios. São inevitáveis. Mas bem vindos também. Porque a partir da observação desses momentos de estranhamento, dessas sensações desconfortáveis é que somos capazes de conhecer aqueles aspectos desconhecidos de nós mesmos. E assim poder também recriar novas formas de visualizar essas nossas questões, por mais irreconhecíveis que elas sejam.

     Eu acho que falei difícil agora, mas vou tentar simplificar isso. E exemplificar. Eu acredito que nós nunca conseguiremos enxergar as nossas questões cara a cara. Nunca chegaremos ao âmago dos nossos problemas, a ponto de nos dizer: É isso! O problema da minha vida é esse! Isso não existe. Isso nunca vai acontecer de fato, porque isso é impossível. Ah! Então por que fazer análise? Para CONVIVER com essa impossibilidade nata. Por isso que eu particularmente não acredito em cura, do ponto de vista analítico. Porque você nunca chegará ao cerne da sua questão! Ninguém é capaz disso. Como seres faltantes por natureza que somos, inevitavelmente haverá sempre alguma questão irreconhecível. Inominável. Inalcançável. E poderemos, no máximo, ter algum vislumbre do que seria essa questão. Essa é a nossa tarefa. Agora dizer que chegaremos a concluí-la é seguramente uma fantasia.

     Gosto de imaginar um grande quebra-cabeça da nossa vida. Acredito que quando refletimos sobre as nossas questões e buscamos encontrar algum alívio, o que estamos fazendo é tentando montar esse quebra-cabeça. Só que nunca o montaremos por completo. Essa tarefa jamais é finalizada – nem mesmo a cabo de uma análise! Mas não é de todo ruim também. Há um lado bom. A medida que nos dispomos a montar esse quebra-cabeça da nossa vida pelo menos, vamos aos poucos nos familiarizando com as partes da imagem contidas em cada uma das peças do quebra-cabeça.

     Apesar de não enxergarmos o todo, podemos ver a imagem de cada peça. E isso já nos ajuda muito. Por isso todos os insights que temos sobre nós mesmos, no fundo são partes que vão compondo esse grande entendimento de nós mesmos. De tanto nos analisar, e aos poucos ir montando esse quebra-cabeça, vamos elaborando e percebendo do que se trataria a grande figura. Ou seja, do que se trataria o nosso desejo. O que buscamos desde o dia que nascemos até morrermos é saciar esse desejo! E apesar de não conseguirmos sequer concluir esse quebra-cabeça em vida, e descobrir qual a sua real imagem, a partir daquilo que observamos em cada uma das peças (insights) que temos ao longo da vida, podemos inferir o todo. Intuir. Simbolizar. Alcançando o máximo a imagem final.

     Esse é dos objetivos de uma análise por exemplo. Simbolizar! Esse é um dos objetivos de uma pintura. Uma escultura. Um texto, como esse de hoje. O meu texto é só mais uma pecinha de um quebra-cabeça colossal! Uma pecinha que contém um fragmento de imagem. E embora ela não me revele o quebra-cabeça montado, é parte dele! De pecinhas como essa que eu posso aos poucos, ao longo do tempo, vislumbrar a figura final – mesmo que nunca a termine de fato. O objetivo não é terminá-la também. É me aproximar! Mesmo que nunca alcancemos o nosso real desejo de fato, a ponto de afirmar “É isso!”, estaremos a caminho... Quanto mais agimos livremente, mais nos aproximamos do nosso desejo. E quanto mais afinados com ele, melhor tenderá a fluir a nossa vida.

     Então não sufoque seus momentos de estranhamento. Não fuja de olhar às suas questões. Esses momentos fazem parte de uma vida humana perfeitamente saudável. Investigá-los pode levar a um melhor conhecimento de si mesmo. E com o tempo descobrirá que momentos assim vêm, mas vão embora também. E se é natural que eles cheguem, e partam, o que podem nos ensinar enquanto ficam?

Boas Festas! Que venha um ótimo 2022! Nos encontramos lá!😉

domingo, 19 de dezembro de 2021

INSIGHT E ELABORAÇÃO


Édipo e a Esfinge, de Jean Auguste Dominique (1808)
 

      Nunca comentei isto, quando comecei a estudar psicanálise logo nos primeiros meses pensei em desistir da formação. Eu já tinha o blog há mais de dez anos nessa época e me considerava muito resolvido, porque já tinha um bom conhecimento de mim mesmo e imaginava que a mim seria fácil passar pelo processo [Arrogância! – cof, cof, rsrs]. Já disse em outras oportunidades aqui que comecei a investir em práticas de autoconhecimento muito cedo na minha vida. Pensei sinceramente então que fosse simples me tornar psicanalista, pois jeito pra coisa eu já teria. E não é bem assim…

     Logo nos primeiros meses comecei a sentir uma sensação muito desconfortável. A analogia que faço é que parecia que estavam sendo tiradas as minhas roupas. Era uma sensação de nudez mesmo. De total exposição. E a medida que ia me aprofundando sistematicamente na obra freudiana, cada vez mais sentia um gelo no estômago. Sentia medo. Angústia. Quase uma agonia. E não entendia o porquê. Mas a psicanálise é um conhecimento pesado. Realmente mexe com o estudante. A pessoa precisa estar preparada para o que vai encontrar. A si mesma! Eu revivi abalos estruturais psíquicos que me foram muito familiares, como quando li pela primeira vez, ainda quando criança, sobre o Complexo de Édipo. Quem quiser entender melhor sobre isso recomendo esse texto do blog aqui.

     De repente constatei que o medo era porque o buraco era bem mais embaixo. Não que todos esses anos de blog e “autoanálise” (sinto que agora preciso colocar essa palavra entre aspas) não fosse útil. É claro que foi. E continuo recomendando isso às pessoas para que desenvolvam, em algum nível possível, essa prática. Mas a formação em psicanálise me colocou obrigatoriamente em análise pessoal. É exigido isso para se tornar um psicanalista. E aí a coisa muda de figura. Fazer análise com um profissional, no meu caso com uma psicanalista, principalmente quando você próprio já está estudando a teoria psicanalítica, é completamente diferente. Aí sim você se dá conta de que a analogia feita por Freud sobre o iceberg e o nosso aparelho psíquico é real. Eu sabia que estava me acovardando nesse momento, mas não conseguia aceitar o medo de prosseguir também. Então com muita calma e paciência resolvi continuar firme. Só para terem uma noção de como foi isso vou dividir algo que caminhou comigo por quinze anos. Nunca escrevi sobre isso aqui no blog.

     Na noite que meu pai faleceu sonhei com ele. Ele veio, conversou comigo e me deu uma missão. Eu sabia no sonho que ele havia falecido, nós conversamos sobre a sua morte nesse sonho. Ele estava todo de branco e envolto numa luz intensa. Eu o abracei, beijei a sua testa e ainda me espantei que ele estava quente! Até disse isso a ele. Ele só me respondeu que o seu corpo morreu, mas não a sua alma, e que ele estaria sempre comigo. A missão que ele me deu naquele dia foi que cuidasse da nossa família, ele passava agora o bastão a mim. Nos despedimos. E ele se foi. Acordei chorando. Tinha dezoito anos nessa época. A partir desse dia me casei com a minha mãe. Me tornei pai do meu irmão – sendo que ele é o mais velho. Me fiz o homem da casa! E no fim destronei o Laio…

     Interpretei esse sonho na época como um sinal divino. Algo sobrenatural. De ordem mística. Acreditei sinceramente que tinha conversado com o espírito do meu pai naquela noite, logo após o seu sepultamento. Eu não costumava me lembrar dos meus sonhos. Isso era algo raro. Então por que esse em específico me lembraria? Talvez algumas pessoas não saibam, mas para a psicanálise os sonhos não são xamânicos. Segundo Freud os sonhos são manifestações de desejos inconscientes. Foi aí que tive o insight! Foi assim um descortinar... Com a ajuda da minha analista interpretei o sonho.

     Eu sempre gostei de esoterismo e o meu inconsciente precisou se utilizar dessa linguagem (mística) para que eu pudesse acreditar no meu próprio sonho. Quer dizer que eu mesmo me enganei esse tempo todo?! Sim. Foi exatamente isso o que aconteceu. Eu precisei de uma justificativa que me levasse a fazer aquilo que eu queria fazer, sem que eu pudesse ser censurado por isso (censurado até por mim inclusive). Entenda que o nosso inconsciente tem uma lógica própria (diferente da lógica clássica), que nos leva a fazer algo do campo do desejo, mas não do campo do social, e por ele estar o tempo todo tentando se comunicar, como nós o ignoramos, não raro ele pode se comunicar à revelia de nós mesmos. Por essa razão Freud diz que o “eu não é senhor em sua própria morada”. Expondo à humanidade a sua terceira ferida narcísica, como ele mesmo disse.

     E foi assim que por mais de uma década eu assumi o lugar do meu pai – simbolicamente – na casa. E se deixar até hoje. Como falar que a psicanálise não existe? Que ela não tem razão? Me explica isso... A mim ter esse insight não foi nada fácil hein. Me sentia tolo. Fiquei dias me sentindo mal. Ridículo. Mas dizia a mim mesmo também: Jonas, dorme com esse barulho! Vamos elaborar isso!

Eu dei toda essa volta para chegar nesse ponto que queria. Agora que começa a ideia desse texto. O que de fato é uma elaboração? O que é um insight? Como saber se estamos no caminho certo?

     Com essas perguntas em mente pesquisei hoje em alguns livros. Tenho muitos livros de psicanálise. Alguns me perguntam se leio todos esses livros e a resposta é não. Nem daria conta disso. Posto várias fotos de livros no meu Instagram (a propósito: me segue lá), mas não os leio logo de cara. E quando o faço leio por capítulos – aqueles que me interessam ainda. Hoje por exemplo me debrucei sobre alguns temas, como Elaboração e Insight. Porque mesmo fazendo a formação em psicanálise percebo que tenho uma certa dificuldade em compreender o que se entende por elaborar. Elaboração não é algo tão simples. E existem entendimentos diferentes entre autores da psicanálise.

     Vamos pensar um pouco. Um sujeito leva uma vida agindo de uma determinada maneira. Aí um dia ele vai para a análise por um desconforto qualquer. Ele acredita mesmo que em dois ou três passos resolverá a questão que caminha com ele por todos esses anos? Seria bom demais se fosse assim. Uma pena que não é. Como eu disse lá em cima: o buraco é bem mais embaixo. Demanda efetiva elaboração. Como escreve Freud em “Recordar, repetir e elaborar (1914)”. Hoje para escrever esse texto li alguns livros. “Fundamentos da Técnica Psicanalítica”, de R. Horacio Etchegoyen. “Dicionário de Psicanálise”, de Elisabeth Roudinesco e Michel Plon. “Fundamentos Psicanalíticos. Teoria, técnica e clínica” e “Manual de Técnica Psicanalítica”, ambos de David E. Zimerman.

     A conclusão que cheguei é que um insight não é unicamente um processo intelectual. Então não adianta achar que ter conhecimento de uma determinada questão é o suficiente. E esse processo é muito melhor realizado – talvez apenas assim – a quatro mãos. O efetivo insight é aquele que até parte de um conhecimento – de si mesmo –, mas ele deve mobilizar também uma resposta emocional. Insight é quando você torna consciente um desejo até então inconsciente. E a partir desse momento demandará uma elaboração, porque agora você precisará “resolver” um conflito entre o seu desejo infantil e o restante de sua própria personalidade que não o aceitam ou só o aceitam sob certas condições.

     Mas você sendo capaz de traduzir esse insight em práxis, ou seja, em prática, através da RESPONSABILIDADE POR SEUS ATOS, poderá promover em si, ao longo do tempo, mudanças psíquicas estáveis e definitivas. E isso, a meu ver, não se confunde com cura. Mas, como alguns autores da psicanálise dizem, “amadurecimento”. “Crescimento mental”. Desenvolvimento de uma função autoanalítica”. Isso não significa que jamais necessitará de um analista novamente, mas que agora compreende que sempre depende muito mais de você!

domingo, 12 de dezembro de 2021

Falta de diálogo mina as relações

 


      Ao longo da vida perdemos grandes pessoas, valiosas relações por falta de comunicação. Por falta de diálogo. O tempo vai passando e um silêncio se torna permanente entre as pessoas. Fica no ar uma espécie de atmosfera de incompreensão. De subentendido. Em que um finge que entendeu o que o outro não disse. E não precisava ser assim. Poderíamos ser mais claros uns com os outros. Mais transparentes.

     Admiro muitas qualidades nas pessoas. Algumas em especial, como a transparência. A humildade. A capacidade de dar a cara a tapa. Admiro pessoas que sentam e conversam. Aquela conversa franca. Não com o intuito de dar ou de exigir satisfação. Tampouco para confrontar. Falo daqueles diálogos olho no olho, sabe? Que infelizmente nós deixamos muito a desejar nesse sentido. Falta em nós uma abertura ao diálogo nos relacionamentos. Posso contar nos dedos quantas foram as relações em que estive que isso acontecia. Não há nada mais necessário do que o diálogo nos relacionamentos, sejam de quaisquer natureza. Porque tudo, exatamente tudo, partirá de uma boa conversa. Disso não dá pra escapar.

     A pergunta que deixo aqui hoje é a seguinte:

Como você mantém os seus relacionamentos? Há um canal aberto de diálogo nas suas relações? As pessoas sentem que têm abertura para chegar até você e conversar? E você, procura fazer esse caminho inverso: tomar a iniciativa de conversar com as pessoas?

     Não falo aqui de qualquer tipo de conversa. Falo daquelas conversas que importam de verdade. Daquelas conversas que decidem rumos. Que precisam ser tidas. Principalmente quando envolve pais e filhos. Professores e alunos. Gestores e liderados. Amigos. Cônjuges. E poucas vezes vejo isso acontecer no dia a dia. Conheço pais que os filhos são verdadeiros desconhecidos para eles. Pais que conversam sobre tudo com os filhos, menos sobre aquilo que mais precisaria ser dito. Fingem que está tudo bem. E o tempo passa...

     E nas empresas então? Nas empresas parece que é um mundo paralelo. Ainda pior. Sinceramente falando. Não à toa um dos problemas mais sérios, desde sempre, nas organizações é a comunicação. Líderes que são incapazes de chegar até um membro de sua equipe e conversar honestamente sobre o que se passa. Não com o objetivo de expor essa pessoa – até porque esse tipo de conversa ocorre entre quatro paredes. Ali, só os dois. Olho no olho. Cara a cara. “O que se passa com você?”. “Eu sinto isso…”. “Tenho percebido assim, me corrija se estiver errado”. “Como posso te ajudar?”. “Vamos lidar com isso juntos”. Mas raramente isso acontece.

     A gente percebe quando uma conversa é sincera. Quando a pessoa que nos procura está desarmada. E aí, por mais que nós estejamos armados quando essa pessoa nos procura para conversar, quando olhamos nos olhos dessa pessoa, ao vê-la numa postura aberta e em paz, a gente baixa as armas. E ali a conversa flui. Uma conversa que até pode esquentar em alguns momentos, mas o saldo sempre terminará positivo quando o objetivo que se busca é o entendimento. Não provar quem está correto. Pouco importa quem está ou estava certo. Quem está com a razão. “Vamos nos entender?”. “Vamos fazer isso acontecer?”. Sem demagogia. Sem fazer isso para inglês ver. Lidando com a situação como adultos.

     Mas nessas horas não é o que eu vejo. Não é o que fazemos. Nós regredimos e agimos como crianças. E o que me surpreende mais é perceber a incapacidade de tomar a frente da situação aquele que tem a autoridade. Pais que entram na birra dos filhos. Professores medindo força com alunos. Gestores trazendo para o pessoal questões com seus liderados. E aí vira uma guerra de egos... Não que filhos, alunos e liderados têm o direito de agir de forma imatura, mas a questão é: Quem é o cabeça? Quem está à frente dessa situação? A liderança tem que trazer a responsabilidade para si. Esse é o papel da liderança. Chamar a parte envolvida para uma boa conversa. Não para subjugar ou mostrar quem é que manda. Mas para administrar essa situação. Alguém tem que dar o primeiro passo e é sempre o líder. E isto é o que falta nas empresas em geral. Líderes que queiram administrar conflitos.

     Não adianta tapar o sol com a peneira. Fingir que não existe um problema, quando já está evidente os sinais. Passar por cima. Empurrar com a barriga na esperança que isso se solucionará sozinho com o tempo. Não vai! Não sem investir tempo, energia e um diálogo sincero, com humildade. Liderança servidora. O bom líder é aquele que serve a sua equipe. Ele só pode ser líder existindo uma equipe. É como um presidente. Ele não é só o representante de uma nação. Ele serve a esta! É o seu dever moral! Da mesma forma um líder. Todavia, não é nada incomum presenciarmos lideres que falam uma língua e a sua equipe outra. Remam para um lado e a equipe vai para outro. E ninguém se comunica. Embora a responsabilidade da comunicação deve sempre partir de quem está no comando.

     E não é por mensagem. Pais educando filhos por WhatsApp. Gestores que só mandam mensagens, e-mails… Falta o velho cara a cara. O olho no olho. Uma mensagem é fria. Não vem com entonação de voz. Texto, quem lê pode colocar a dramatização que quiser. Olho no olho você sente a pessoa. Você capta a sua intenção. Isso diminui ruído. Evita mal entendido. Mas isso exige maturidade emocional. Isso exige humildade. Rebaixar o orgulho. E vontade de lidar com todas as situações. Porque conflitos acontecem. Faz parte. E não é fingindo que está tudo bem que eles se resolvem. Falta de diálogo mina as relações aos poucos. A conta gotas. E ergue muros ao invés de construir pontes.  

domingo, 5 de dezembro de 2021

QUANDO O PASSADO VOLTA

      Essa semana foi bem nostálgica. Me lembrei de alguns episódios da minha vida depois de uma sessão de análise. Eu não parava para pensar sobre isto. Mas curiosamente a lembrança veio após encerrar aquela noite. Confesso que estou com isso até agora, elaborando tudo aqui dentro de mim.

      Quando eu tinha por volta de dez anos, meu pai me convidou para ir a uma clínica de reabilitação para dependentes químicos. Nós iríamos visitar um amigo dele. Amigo de muito tempo. Eu ainda não o conhecia. Naquele dia fiquei sabendo da existência desse senhor – que tinha a mesma faixa etária do meu pai – e descobri que os meus pais cuidavam dele. Parece que esse senhor havia assinado acredito que uma espécie de procuração a minha mãe para cuidar de suas coisas, receber a sua aposentadoria, responder por ele.

     Meus pais quem cuidavam de tudo. Faziam supermercado. Minha mãe limpava a sua casa. Meu pai fazia consertos e reparos. Compravam roupas. Literalmente cuidavam desse senhor. Esse homem tinha sérios problemas com álcool. Apesar de ser muito jovem, como o meu pai, fisicamente ele aparentava ter uns vinte anos a mais. Ele não conseguia cuidar de si mesmo e a família o havia abandonado – acredito que devido ao alcoolismo. A única pessoa que ele tinha era um amigo da juventude. O meu pai. Que prometeu a ele que jamais se distanciaria dele e que a essa amizade ele seria leal até a morte. E assim foi. Meus pais cuidaram deste homem até o final de sua vida. Quando aí sim a família apareceu para reclamar os bens que os meus pais não fizeram questão alguma de ficar com nada.

      Era um domingo. Nesse dia de visita, eu sem entender muito bem como seria uma clínica de reabilitação, fui de manhã até esse local de carro com o meu pai, enquanto o ouvia contar as suas histórias ao lado do seu amigo quando jovens. Chegamos lá. Era um lugar agradável, havia muitas palmeiras. O dia estava muito bonito. Ensolarado. Eu me lembro de uma varanda espaçosa, onde tive que aguardar, e o meu pai foi conduzido por uma funcionária até o interior do local. Não pude acompanhá-lo. Apesar de ali fora ser claro e tudo muito bonito, havia um corredor e tive a impressão de que a medida que ele levava ao fundo da clínica ia escurecendo o caminho. Como se o interior fosse mais escuro. Mais cinza. Talvez mais solitário. Eu, da varanda, fiquei olhando o entorno, com um pensamento que não me saia da mente: Como a lealdade era importante ao meu pai. Meu pai jamais abandonava um amigo.

      Passados alguns minutos que não saberia precisar quantos, avistei meu pai saindo daquele túnel negro. Nunca vi meu pai tão impactado. Seus olhos estavam negros. Seu semblante sem qualquer brilho. Opaco. Sério. Como se em choque. Calado puxou um cigarro e fitou o horizonte. Nós dois ficamos ali em silêncio, lado a lado. Eu simplesmente não conseguia lhe perguntar o que havia visto lá dentro, embora quisesse muito fazê-lo. Posso estar enganado, mas o que vi naquele dia em meu pai foi medo. Muito medo. Não aguentava mais de curiosidade, então quebrei o silêncio:

      - O que foi? Tá tudo bem?

      Ele apenas acenou negativamente com a cabeça. E acendeu outro cigarro. Em seguida me disse:

      - Meu amigo está péssimo. Nunca imaginei o ver nesse estado... Espero nunca chegar nesse ponto!

      - Simples. Pare de beber. Se você já está vendo o futuro, tome a decisão agora. Rebati isso de bate pronto. Minha relação com o meu pai sempre foi assim: Intensa!

      Então, naquele momento o meu pai disse uma coisa que nem que eu vivesse mil vidas eu seria capaz de esquecer. Ele – sem olhar para mim – me falou o seguinte:

      - Talvez, Jonas, eu consiga mesmo parar. Quem sabe se você me ameaçasse...

      Eu não entendi muito bem, e também não quis perguntar. Mas ele continuou:

      - Talvez se você me ameaçar de não falar mais comigo se eu não parar de beber, eu consiga parar...

      Naquele dia senti o tamanho do amor do meu pai por mim. Pelos filhos. Compreendi perfeitamente o que ali estava em jogo. E naquele dia tomei a minha decisão – que vai me acompanhar por toda vida.

      - Pai, essa decisão é sua. Falei isso e encerrei a conversa sem dizer mais nada.

      Meu pai fechou os olhos, como se já pudesse prever o seu futuro...

      Mês passado fez exatos quinze anos que ele faleceu. Ele era o meu melhor amigo. E foi também o meu inimigo mais ferrenho. Sinto saudades. Você deve estar se perguntando se me arrependo do que disse naquele dia e a resposta é não. Como disse acima, compreendi perfeitamente o que ali estava em jogo, mas tomei a minha decisão. Devia partir dele. É um paradoxo, eu sei. Porque se por um lado tenho uma forte inclinação a salvador da pátria dentro de mim, diametralmente aposto tenho um racional forte. Detesto decidir pelos outros. E não concordo com isso também. As pessoas devem ser livres para decidirem a própria vida, mesmo que isso lhes custe a vida! Ainda mais quando envolve amor. Eu amava o meu pai. O amo até hoje. Como eu poderia impor uma condição daquela para estar ao seu lado? Não me parecia justo.

      Mesmo quando parei de falar com ele anos mais tarde, nos últimos anos de sua vida, foi uma decisão minha. Mas não impus qualquer condição. Simplesmente cortei laços com ele, mesmo contrariado, porque ou eu fazia isso, ou a gente se mataria. Ele estava num nível no alcoolismo que era impossível a nossa convivência pacífica. Nós já nos agredíamos fisicamente. Mas continuo não achando justo forçar uma pessoa a fazer algo, sob uma alegação de que isso é para o seu próprio bem. Não é! Isso é para o bem de quem ameaça. Para o bem de quem impõe a condição. Ou você ama, ou não ama. Ou você aceita, ou não aceita. Liberdade é sempre item de primeira grandeza. E por isso eu te pergunto o seguinte:

O que você ama, você deixa livre? Ou você impõe condições? Como é isso para você?

      Meu pai foi um homem profundamente apegado aos filhos. Ele era devorador. Segundo Lacan, a mãe é como um crocodilo, em cuja bocarra a criança se encontra. E eu brinco que lá em casa o crocodilo era ele. Meu pai não só tinha conhecimento de nossas vidas – a do meu irmão e a minha – como ele participava ativamente de tudo. Estava sempre nos abraçando. Beijando. Mordendo. Nos sufocando! Me lembro que os meus amigos iam lá em casa e achavam ele o máximo, porque ele era brincalhão. Companheiro. Ele fazia amizade com todos os meus amigos. E alguns gostavam mais dele que de mim. Diziam até que sentiam inveja da nossa relação, porque com o pai deles era diferente. Mal sabiam como era difícil para nós viver com um pai atencioso e participativo, mas também bastante controlador e intrusivo.

      Ele fazia amizade com os meus amigos para saber com quem eu andava e o que fazia. Ele convidava professora minha para tomar café lá em casa para saber como eu estava na escola. Ele pegava os meus cadernos, livros, revistas, para saber o que estava lendo. Eu sabia que isso era por preocupação. Ele queria o nosso bem. Mas era excessivo. E eu já sabia, desde muito cedo, que se não batesse de frente com ele, e construísse a minha personalidade e o meu próprio caminho, seria um clone malfeito dele. Por mais amor que os pais tenham pelos filhos não é bem por aí. E não foi fácil não, impor o meu espaço.

      Só que um fruto nunca cai muito longe do pé! Hoje quem é o controlador, o centralizador, aquele que quer saber de tudo e cuidar de todos? Sou eu. O salvador da pátria. E já imagino que você esteja se indagando, “Mas não é você que prega liberdade acima de tudo?!”. Opa! Sim, sou eu. Conscientemente né. Objetivamente é isso. Se eu puder agir racionalmente, logicamente [vide texto anterior], vou dar as rédeas da vida nas mãos de quem for. E tirá-las das minhas. E é exatamente por isso que eu faço análise. Para ser capaz de conhecer e elaborar desejos inconscientes, afim de ter uma vida mais funcional. Só que psicanálise não é bala de prata! Panaceia que cura todos os males. Não é porque eu trouxe para o consciente um conteúdo que está tudo resolvido e é só alegria. Demanda muita elaboração. Como escreveu Freud em 1914, “Recordar, Repetir e Elaborar”.

     Estou dividindo isso com vocês por dois motivos. Primeiro motivo, para compartilhar isso o que ocorreu na minha última análise. Percebo novamente um desejo forte de cuidar das pessoas que eu gosto, mesmo elas não querendo. Mesmo não pedindo. E como, através de uma livre associação de ideias, me recordei desse episódio aos dez anos de idade. Durante essa semana recordei várias vezes essa cena com o meu pai. Hoje penso. Será que não existe em mim um sentimento de culpa [inconsciente] por conta desse episódio lá atrás? Será que não estou – hoje – buscando salvar as pessoas, como forma de compensação daquele a quem um dia eu não quis salvar? Agora vocês entendem por que a psicanálise é tão interessante?! Como duas atitudes diametralmente apostas, contrárias, podem coexistir dentro de uma mesma pessoa?

      O segundo motivo de dividir essa minha história é para justificar que todos temos dilemas. Complexos. Fixações. E volto a repetir, psicanálise não é bala de prata. Psicanalista também tem questões. Psicanalistas adoecem. Sofrem. Divorciam-se. E isso não os diminui como profissionais. A vida de Freud, o pai da psicanálise, está aí para nos mostrar exatamente isso. Ele mesmo relatou os seus dramas em sua obra. Outro dia me questionaram se não me incomodo de falar de temas tão íntimos da minha vida, inclusive relatando dificuldades pessoais, sendo que estou me propondo a ajudar os outros. A resposta é não! Eu nunca me incomodei com isso. Tenho esse blog há quatorze anos e nunca me incomodei. Até porque não pretendo, como nunca pretendi, ser modelo de nada para ninguém. Nem mesmo a psicanálise se pretende a isso. Um paciente que busca um analista como modelo de como viver bem está redondamente equivocado. Não existe receita, nem padrão, nem protocolo dentro da psicanálise. Você só pode ser referencia de si para si mesmo! Você é o seu modelo. Você só pode se comparar consigo, e a partir de si encontrar o seu próprio caminho. E é melhor que o faça com um profissional que ao menos teve coragem o suficiente de se analisar!

Amo a liberdade, por isso as coisas que amo deixo-as livres. Se voltarem é porque as conquistei, se não voltarem é porque nunca as tive”.

(Bob Marley)

domingo, 28 de novembro de 2021

ISSO QUE VOCÊ FAZ TEM LÓGICA?!

Diálogo (1939), de António Dacosta

     Essa semana ouvi algumas vezes uma determinada frase que me fez refletir bastante. Vocês já devem ter percebido que gosto muito de refletir sobre as coisas, e por ser muito observador, tudo o que vejo ou ouço, por mais simples que seja, me faz parar e pensar. Nem sempre é possível, ou me é permitido, no exato momento em que isso acontece, mas quase sempre depois “aquilo” me volta. Aquilo que ouvi... Aquilo que vi... Muitas vezes até anoto num pedaço de papel uma palavra ou frase sobre o ocorrido e guardo na carteira, para mais tarde retomar esse pensamento. E quem sabe virar um texto, como no caso de hoje.

      Tenho um pensamento extremamente analítico. Tudo o que me chega, eu costumo quebrar as informações disponíveis em fragmentos menores, avalio e peso cada um desses fragmentos a fim de construir conclusões lógicas. E essa palavra – lógica – é talvez a principal nesse texto de hoje. E tudo começou nessa semana como disse. A frase que ouvi em alguns episódios foi a seguinte. “Contra fatos não há argumentos.” E todas as vezes em que ouvi essa frase imediatamente me lembrei de algumas vezes que discuti com as pessoas por coisas óbvias. “Está na cara isso!”, “Mas isso é lógico!”, eu dizia. Nessa época, eu, "cheio de razão", não conseguia aceitar como as pessoas não entendiam as coisas. A mim parecia que algumas pessoas se recusavam a entender o óbvio ao repetir os mesmos erros. De lá pra cá tanta coisa mudou... Hoje paro e penso: Nós somos mesmo lógicos? O que de fato é “óbvio”?!

      Essa forma de pensar veio a partir de quando comecei a estudar psicanálise, porque aprendemos que o inconsciente é atemporal, irracional e desconhece lógica. A questão da lógica me chamou mais a atenção desde o começo. Freud vai dizer que “As regras decisivas da lógica não têm validade no inconsciente, pode-se dizer que ele é o reino do ilógico”. Isso me fez repensar sobre a forma como eu interpretava o mundo. Mas precisamente a impaciência e a intolerância que eu tinha com quem não me parecia agir de forma lógica. Hoje me questiono: se o inconsciente responde pela maior parte do nosso conteúdo psíquico e ele não reconhece os princípios da lógica, como posso criticar ou julgar o comportamento de outra pessoa?! Hoje não consigo mais. Não sem parar para pensar sobre tudo isso.

      Segundo a lógica aristotélica, também chamada de lógica clássica, três princípios devem ser respeitados. São eles:

  • princípio de identidade: A = A

  • princípio da não-contradição: A não pode ser A e não A ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto

  • princípio do terceiro excluído: Entre A e não A não há meio-termo

      Embora Freud não esclareça exatamente de quais regras decisivas da lógica ele se referia, e se utilizando da lógica clássica, dos três princípios acima se pode concluir seguramente que o da não-contradição não possui validade no inconsciente, já que ideias e sentimentos contrários a respeito de um mesmo objeto podem coexistir numa mesma pessoa ao mesmo tempo. Isso para não questionar a validade dos outros dois princípios também. Quem quiser se aprofundar nesse assunto, eu recomendo o artigo “O inconsciente e a lógica a partir de Freud e Lacan” de Felipe Shimabukuro. Li aqui. Gostei bastante.

      O que eu quero dizer com esse texto é o seguinte. A partir do momento que compreendi que existe uma grande parte de nós desconhecida de nós mesmos e que essa parte não é movida por lógica, passei a pensar duas, três, quatro vezes antes de proferir qualquer comentário condenatório a uma pessoa. Eu não a conheço. Nem mesmo ela se conhece. Desconheço o que se passou de fato na sua vida. Se somos movidos por impulsos inconscientes que não respeitam princípios lógicos, está desautorizado todo e qualquer comentário no que tange ao outro. “Isso não faz sentido”. “Mas por que você faz isso?”. Isso não tem lógica! Eu não entendo você”.  

     Às vezes nem ela própria se entende. E não somos nós que vamos entender por ela. Ou lhe dizer o que deve ou não fazer. A própria pessoa quem deve trilhar o seu caminho, pois só ela consegue de fato se ajudar. E isso vai acontecer quando ela puder. Conselhos, críticas, julgamentos, ameaças a sua pessoa, nada disso faz muito efeito. A própria pessoa não entende direito o seu comportamento. Isso relativiza tudo então? Não. Conteúdos inconscientes não nos eximem da responsabilidade por nossos atos. Mas ter conhecimento do funcionamento deles impede a nossa capacidade de arbitrar a vida alheia, pois só depende do outro.

Agora você entende, por que não agimos de forma tão lógica?