domingo, 12 de dezembro de 2021

Falta de diálogo mina as relações

 


      Ao longo da vida perdemos grandes pessoas, valiosas relações por falta de comunicação. Por falta de diálogo. O tempo vai passando e um silêncio se torna permanente entre as pessoas. Fica no ar uma espécie de atmosfera de incompreensão. De subentendido. Em que um finge que entendeu o que o outro não disse. E não precisava ser assim. Poderíamos ser mais claros uns com os outros. Mais transparentes.

     Admiro muitas qualidades nas pessoas. Algumas em especial, como a transparência. A humildade. A capacidade de dar a cara a tapa. Admiro pessoas que sentam e conversam. Aquela conversa franca. Não com o intuito de dar ou de exigir satisfação. Tampouco para confrontar. Falo daqueles diálogos olho no olho, sabe? Que infelizmente nós deixamos muito a desejar nesse sentido. Falta em nós uma abertura ao diálogo nos relacionamentos. Posso contar nos dedos quantas foram as relações em que estive que isso acontecia. Não há nada mais necessário do que o diálogo nos relacionamentos, sejam de quaisquer natureza. Porque tudo, exatamente tudo, partirá de uma boa conversa. Disso não dá pra escapar.

     A pergunta que deixo aqui hoje é a seguinte:

Como você mantém os seus relacionamentos? Há um canal aberto de diálogo nas suas relações? As pessoas sentem que têm abertura para chegar até você e conversar? E você, procura fazer esse caminho inverso: tomar a iniciativa de conversar com as pessoas?

     Não falo aqui de qualquer tipo de conversa. Falo daquelas conversas que importam de verdade. Daquelas conversas que decidem rumos. Que precisam ser tidas. Principalmente quando envolve pais e filhos. Professores e alunos. Gestores e liderados. Amigos. Cônjuges. E poucas vezes vejo isso acontecer no dia a dia. Conheço pais que os filhos são verdadeiros desconhecidos para eles. Pais que conversam sobre tudo com os filhos, menos sobre aquilo que mais precisaria ser dito. Fingem que está tudo bem. E o tempo passa...

     E nas empresas então? Nas empresas parece que é um mundo paralelo. Ainda pior. Sinceramente falando. Não à toa um dos problemas mais sérios, desde sempre, nas organizações é a comunicação. Líderes que são incapazes de chegar até um membro de sua equipe e conversar honestamente sobre o que se passa. Não com o objetivo de expor essa pessoa – até porque esse tipo de conversa ocorre entre quatro paredes. Ali, só os dois. Olho no olho. Cara a cara. “O que se passa com você?”. “Eu sinto isso…”. “Tenho percebido assim, me corrija se estiver errado”. “Como posso te ajudar?”. “Vamos lidar com isso juntos”. Mas raramente isso acontece.

     A gente percebe quando uma conversa é sincera. Quando a pessoa que nos procura está desarmada. E aí, por mais que nós estejamos armados quando essa pessoa nos procura para conversar, quando olhamos nos olhos dessa pessoa, ao vê-la numa postura aberta e em paz, a gente baixa as armas. E ali a conversa flui. Uma conversa que até pode esquentar em alguns momentos, mas o saldo sempre terminará positivo quando o objetivo que se busca é o entendimento. Não provar quem está correto. Pouco importa quem está ou estava certo. Quem está com a razão. “Vamos nos entender?”. “Vamos fazer isso acontecer?”. Sem demagogia. Sem fazer isso para inglês ver. Lidando com a situação como adultos.

     Mas nessas horas não é o que eu vejo. Não é o que fazemos. Nós regredimos e agimos como crianças. E o que me surpreende mais é perceber a incapacidade de tomar a frente da situação aquele que tem a autoridade. Pais que entram na birra dos filhos. Professores medindo força com alunos. Gestores trazendo para o pessoal questões com seus liderados. E aí vira uma guerra de egos... Não que filhos, alunos e liderados têm o direito de agir de forma imatura, mas a questão é: Quem é o cabeça? Quem está à frente dessa situação? A liderança tem que trazer a responsabilidade para si. Esse é o papel da liderança. Chamar a parte envolvida para uma boa conversa. Não para subjugar ou mostrar quem é que manda. Mas para administrar essa situação. Alguém tem que dar o primeiro passo e é sempre o líder. E isto é o que falta nas empresas em geral. Líderes que queiram administrar conflitos.

     Não adianta tapar o sol com a peneira. Fingir que não existe um problema, quando já está evidente os sinais. Passar por cima. Empurrar com a barriga na esperança que isso se solucionará sozinho com o tempo. Não vai! Não sem investir tempo, energia e um diálogo sincero, com humildade. Liderança servidora. O bom líder é aquele que serve a sua equipe. Ele só pode ser líder existindo uma equipe. É como um presidente. Ele não é só o representante de uma nação. Ele serve a esta! É o seu dever moral! Da mesma forma um líder. Todavia, não é nada incomum presenciarmos lideres que falam uma língua e a sua equipe outra. Remam para um lado e a equipe vai para outro. E ninguém se comunica. Embora a responsabilidade da comunicação deve sempre partir de quem está no comando.

     E não é por mensagem. Pais educando filhos por WhatsApp. Gestores que só mandam mensagens, e-mails… Falta o velho cara a cara. O olho no olho. Uma mensagem é fria. Não vem com entonação de voz. Texto, quem lê pode colocar a dramatização que quiser. Olho no olho você sente a pessoa. Você capta a sua intenção. Isso diminui ruído. Evita mal entendido. Mas isso exige maturidade emocional. Isso exige humildade. Rebaixar o orgulho. E vontade de lidar com todas as situações. Porque conflitos acontecem. Faz parte. E não é fingindo que está tudo bem que eles se resolvem. Falta de diálogo mina as relações aos poucos. A conta gotas. E ergue muros ao invés de construir pontes.  

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