Essa é a
última postagem de 2019. A postagem de hoje começou a dias, talvez semanas
atrás, quando comecei a pensar sobre ela. Fiz reflexões profundas sobre como esse
ano foi para mim procurando sintetiza-lo em poucas palavras, até encontrar apenas
uma. Sacrifício! Auto-sacrifício, na verdade. Essa palavra definiria o meu ano
de 2019. Você deve estar pensando que “não foi um ano bom então”. Diria o
contrário. Apesar de ter sido sim um ano DIFÍCIL, o balanço geral é positivo,
porque foram movimentos CONSCIENTES.
Na imagem
dessa postagem vocês observam uma carta do tarot, O Enforcado ou Dependurado. Sou apaixonado pelo tarot
pela sua SIMBOLOGIA. Adoro simbologia. Gosto de figuras de linguagem,
analogias, a significação das coisas e o que somos capazes de aprender. Desde
de criança gosto de mitologias. Gosto da psicologia analítica e dos arquétipos
do Jung. O símbolo tem um significado. O corpo fala. Uma imagem fala mais do
que mil palavras. Sou interessado no que está oculto, no que não foi dito, no
que está submerso e nem sempre vem à consciência.
Gosto de
observar a vida e os seus movimentos. Gosto de observar as pessoas, as
conversas, os conflitos. Gosto de me observar. Prestar atenção aos detalhes.
Sons. Gestos. Olhares. Silêncios... Aprender a procurar o conteúdo latente ofuscado
por aquilo que alguém está expressando. Aprender que às vezes esses conteúdos podem
divergir: algo mostrado na superfície diverge do que está submerso. Aprender
também a discernir quando o conteúdo por mim visto é uma projeção minha. Freud
trouxe o conhecimento de uma instância psíquica chamada de Inconsciente. Aprendi
então que uma pessoa não é mentirosa ou falsa – como julgava muitos
no passado – quando me mostra algo diferente do que estou captando, pois talvez
ela não tenha ainda consciência disso. E não cabe a mim trazer isso à tona. Essa
é a tônica dessa postagem: a vaidade por trás de tentar expor os conteúdos alheios
e de julgar saber o que é melhor para os outros.
De todas
as teorias psicológicas que conheci, me incomodava a psicanálise. E tudo
começou com a psicanálise. Me irritava com essa abordagem e entrava em impasses
com psicanalistas, porque a achava “passiva”. Me incomodava o fato de uma pessoa
de fora (o analista) enxergando muitas vezes claramente uma situação, não intervir.
Não falar aberta e objetivamente o que ele está captando. Tinha a crença que
seria muito melhor se fosse direto! Quando fiz uma especialização em psicologia
organizacional, estudei numa disciplina mais sobre a abordagem psicanalítica e
convivendo com psicanalistas e conversando com eles entendi melhor a psicanálise.
Compreendo hoje que o que leva anos para se construir não se “descontrói” da
noite para o dia. E expor o que vejo nos outros só revelará uma necessidade egóica
minha. A de querer estar certo e ficar com a razão. E quem tem razão?!
Onde quero
chegar com tudo isso? Eu aprendi... Ou melhor... A vida me ensinou que eu não sei
o que é melhor para uma pessoa que eu gosto. E isso dói sabe onde? No ego. Quantas
vezes tentamos intervir numa situação, numa história, na vida de uma pessoa,
seja de um familiar, de um amigo, de alguém que gostamos muito e tentamos falar
para essa pessoa o que é melhor para ela? A gente quer o bem dessa pessoa? Sim.
Estamos imbuídos de boas intenções? Sim. Mas até onde não estaríamos tentando
CONTROLAR a situação? É duro admitir isso, porque dói no ego, mas é controle.
Quando entramos, até sem a autorização clara, na vida das pessoas que a gente
ama e tentamos mostrar a elas, quase impondo, o melhor caminho para elas
é um sinal de prepotência velada. Ao fazer isso nos colocamos num pedestal onde
nos julgamos melhores, pois saberíamos o melhor a ser feito e ditamos o
que o outro precisa fazer para obter sucesso, saúde, bem-estar. E isso é tão
falso, né gente... Muitas vezes a gente não sabe direito nem o que é melhor à
nossa própria vida, como podemos julgar saber o que será melhor na vida de
outra pessoa? Mesmo que isso seja uma atitude por amor, no fundo é só vaidade.
Controle. E ego.
Eu tinha
essa crença inconsciente. Quando eu gosto de uma pessoa, tento imaginar o que
seria melhor para ela e vou a empurrando em direção a isso (inconscientemente).
Vou condicionando seu caminho. Quem fazia isso comigo? Meu pai. Ele se achava
muito certo e no direito de escolher todos os meus caminhos. Ele fazia isso por
amor? Sim. Ele me amava demais. Só que no fundo eu nunca gostei disso, pois só me
fazia sentir manipulado, controlado e o pior de tudo: que eu não
era aceito nem amado por ele do jeito que eu era. Então perto dele me
sentia sempre em falta, sempre aquém. Quando entramos na vida das pessoas que gostamos
para verificar o que seria melhor para elas, subentende-se aqui que do jeito
que elas são não é possível ou não serve para nós. Numa tentativa de fazer o bem
para a pessoa, estamos fazendo mais mal.
É duro
admitir que tenho esse comportamento crítico do meu pai. Tudo o que eu odiava
nele, como sua crítica excessiva, seu ego inflamado, seu excesso de controle, o rigor
desmedido, às vezes sem perceber reproduzo esses comportamentos, não só
com os outros, como comigo mesmo. E por que é duro admitir isso? Porque sou
igualzinho a ele. Entenda que a pessoa que você mais briga, que mais bate de
frente e te irrita é justamente porque vocês se parecem! Aceita que dói menos. Hoje,
entendendo melhor alguns conceitos da psicanálise, percebo que reproduzimos comportamentos
no automático, mas não basta você ter o conhecimento de um mecanismo inconsciente,
você precisa elabora-lo!
O que eu quero dizer é que um comportamento inconsciente
não deixará de atuar só porque se teve conhecimento dele, pois ele tenderá
sempre a se repetir. É como um disco riscado que a música trava ali, é uma
tendência ficar se repetindo. É uma marca, uma cicatriz no nosso psiquismo. O
que quero dizer com isso? Como fui criado por um pai com essas características e
sempre fui mais apegado a ele, “registrei” esse comportamento mesmo não
gostando! Por amor a ele! Sou sim excessivamente crítico,
orgulhoso, gosto de controlar tudo e rigoroso, por mais que eu não goste disso.
Ter consciência disso não vai MUDAR o meu jeito de ser, MAS pode me oferecer ferramentas
para me trabalhar melhor. Assim, quanto mais consciência tiver desse
funcionamento da minha personalidade, e das razões disso estar vindo à tona,
obtenho mais autonomia para decidir se valerá a pena ou não persistir nisso.
E você, já
se observou para descobrir quais crenças tem e quais comportamentos reproduz
sem muita consciência? Quem te ensinou a ser assim? Por que você continua com
isso? Vale a pena continuar?
Agora, você
deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com a carta do tarot?
A carta
significa um sacrifício consciente. Note que a personagem da carta, mesmo
dependurada, está com uma expressão de tranquilidade, pois ela chamou essa
situação. Significa uma crise “provocada”. É uma atitude consciente que
despertou uma crise. É sacrificante, porque a situação nunca será confortável
(embora esperada): a figura está suspensa pelos pés. Mas veja que interessante:
isso lhe dá a oportunidade de ver numa perspectiva diferente! Essa
mensagem figura o meu ano de 2019. Ao tomar consciência de algumas questões,
tomei conscientemente também decisões que não foram fáceis, pelo contrário, foi
doloroso. Porém me fez enxergar a vida por outros ângulos. E isso mudou tudo.
Desejo de coração a todos que tenham um 2020 repleto de Amor. Paz. Saúde. E consciência.