Vejo
pessoas dizendo que se pudessem voltar atrás teriam feito algo diferente.
Enquanto a pessoa só fala, ok. Quando percebo que além do falar existe algum sofrimento,
isso me chama a atenção. Já me perguntaram se me arrependo de alguma coisa que
fiz ou que falei e sempre respondi não decididamente. Eu nunca me arrependi de
nada mesmo – e posso estar sendo leviano ao falar isso, mas sinceramente é uma
verdade para mim. Pelo menos é há um bom tempo. Não entendo sentimento de culpa
ou de remorso. Acho que até por isso alguns brincam que ‘pareço um psicopata’
rs. Mas sabe por que não me arrependo? Vamos falar a verdade: do que adianta o
arrependimento? Resolve alguma coisa nos sentirmos culpados? Eu acho (e uso a
palavra ‘acho’ porque é só o que eu penso) que sou assim porque não me é
racional a culpa ou o remorso; o que foi feito já está, não se remedia
passado. Felizmente ou infelizmente. É assim. Ponto. Como sou muito racional tenho
a tendência a optar por visões de mundo que me permitam alguma autonomia. E aí
entra outra coisa que sempre me julgam: “você fala assim porque é racional
demais, você não tem sentimentos!”. Isso é uma grande falácia que dizem ao meu
respeito, que sei como foi fortalecida. Só que eu não sou frio em absoluto nem
insensível, muito pelo contrário, sou hipersensível, quase tudo me afeta
fortemente – as pessoas não têm noção disso! E elas não têm noção porque eu
escondo, eu dissimulo, eu reprimo as emoções e os sentimentos (externamente) e
banco o durão. Digo ‘externamente’ porque por dentro muitos sentimentos estão em
brasa viva! Mas por fora fico como aquele trecho da música Behind Blue Eyes, do
Limp Bizkit: “None of my pain an’woes can show through”. “Nenhuma de
minhas dores e desgraças pode transparecer”. Lembro quando a ouvi pela primeira vez na adolescência... No fim é só mais um mecanismo de defesa! Já me ajudou e ajuda muito em alguns momentos e também me atrapalha em muitos
outros.
Agora,
se você me perguntar: existem coisas que você fez ou já disse que não se
orgulha? Inúmeras! Muitas coisas mesmo. As vezes que magoei profundamente meus
pais com coisas que eu disse. Ou a alguns professores que choraram em sala de
aula. A amigos. No passado, quando movido por muita raiva, a forma que eu tinha
de descarregar esse sentimento era mirar o ponto mais vulnerável de alguém e criticar
ali. Como sou muito observador e costumo analisar tudo é comum, depois de um
tempo convivendo com alguém, que eu perceba, intua, ou deduza, onde dói mais nessa
pessoa. Se é uma relação mal resolvida com um dos pais. Ou com o cônjuge, ou
filho. Se é uma questão da pessoa com ela mesma. Em pouco tempo convivendo eu pegava isso, via
claramente onde era a ferida essencial da pessoa e, no momento que eu me sentia
muito magoado com a pessoa, era nesse ponto que criticava.
Isso
era legal? Óbvio que não! Isso é baixo. Medíocre. É atitude de pessoa ruim. Pessoa
de mal com a vida. E uma pessoa ferida. Era infantil, estava machucado, tinha um interior
muito frágil, daí a necessidade de proteção emocional e essa era a única forma
que tinha para fazer as pessoas me odiarem e se afastarem. Sei que não
precisava reagir assim com essa agressividade tão vil, por isso me envergonho
disso. Eu jamais vou ser capaz de me orgulhar de fazer alguém chorar! Só que
isso não muda o meu passado. Está feito! Por essa razão que eu digo que não me
arrependo de nada, porque eu não posso mudar o que eu fiz. E vamos a outra
parte dessa moeda: eu era outra pessoa.
Se
você buscar na sua memória a si mesmo a dez ou quinze anos atrás verá que era outra
pessoa. Tinha outra cabeça. Outros valores. Você mudou! Nós mudamos. Por isso
não faz sentido, nem é justo conosco também, olhar para o passado – com
a cabeça de hoje – e nos julgarmos pesadamente pelo que fizemos ou
deixamos de fazer. Precisamos ter claro que ali, naquela situação, naquele contexto,
dentro daquelas circunstâncias e com as ferramentas que tínhamos, fizemos determinadas
escolhas. Hoje possivelmente faríamos diferente, mas erámos outro ali. Da mesma
forma que não é justo julgar uma pessoa pelo seu passado, não se julgue também.
Fique em paz.
E
que isso não se confunda com falta de responsabilidade pelos nossos
atos. Muito pelo contrário, deveria nos fortalecer, porque pense: se hoje você
tem consciência de algo que não foi legal na sua vida, você tem a opção de fazer
diferente agora. De fazer melhor. Hoje tomo mais cuidado com as minhas palavras.
Evito criticar as pessoas tão duramente da forma que fazia. Agora quando com
raiva, acesso as lembranças do que fiz lá atrás que não foi legal e me
pergunto: “quer mesmo fazer isso novamente?”; “vai se orgulhar disso
depois?”. Nunca me perguntei se “vou me arrepender”, pergunto sempre se “vou me orgulhar”, mas se a resposta for negativa, penso imediatamente duas vezes. E fico consciente que se
eu insistir nisso e fizer, a consequência depois será só minha, porque tive consciência de que estava fazendo escolha. Mas o foco é sempre no hoje, porque
agora eu tenho consciência.
Se
você é alguém que faz muitas visitas ao seu passado e sente dores pelo que fez
ou deixou de fazer, por alguma coisa que disse que magoou alguém ou que deixou
de falar e hoje se arrepende, não seja demasiadamente duro consigo. Você fez o
que podia fazer dentro do que as circunstâncias permitiram. Isso não redime atos
passados, mas nos traz o poder de fazer diferente agora. Ao invés de se culpar,
pergunte-se: “o que eu posso tirar de proveito disso, para numa próxima quem
sabe agir diferente?” e “por que precisei agir assim?”. É necessário visitar o
passado, mas não para julgar quem você foi, pelo contrário, para fazer as pazes consigo! Pode
existir aí dentro de você uma criança interior que precisa de atenção e acolhimento,
não de mais julgamentos. A partir do momento que você acolhê-la, entendê-la e aceitar que
essa criança interior cresceu e hoje tem novos recursos para lidar com o que
a afetou um dia, ganhará um novo olhar para a vida, vai passar a enxergar as
pessoas diferente e não vai mais precisar machucar ninguém, pois só fere quem
está de alguma forma ferido na mesma condição ou proporção – e falo por
experiência própria.
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