Por
que nos incomodamos com o comportamento das pessoas? Por vezes ficamos irritados,
tristes ou chateados com alguns comportamentos alheios. Já parou para pensar
sobre isso? Eu não sei você, mas me policio sempre para não interferir além do
que acho devido. Vira e mexe, me friso: “Jonas, mais ouça, pois nada do que
disser aqui ajudará muito.” Esse tipo de coisa acontece comigo. Hoje graças a
Deus não mais com a frequência do passado. Em outros tempos, eu ficava irritado
ou chateado quando alguém vinha reclamar de algo e oferecia conselhos que nunca
eram ouvidos de fato. No fundo a pessoa só queria reclamar mesmo, o que não conseguia
entender. Vou tentar trazer alguns exemplos para facilitar. Só vou atentar ao
uso do gênero. Uma pessoa veio conversar comigo e disse:
-
Nossa, meu relacionamento está por um fio! Não dá mais. Não suporto mais, a
gente vive brigando demais. Chega! Cansei. Acho que vou terminar.
E
eu, um pouco surpreso com a força que a pessoa carrega nas frases, e na
tentativa de ajudar, proponho:
-
Já tentou expor a essa pessoa o seu ponto de vista, os seus sentimentos de
insatisfação nessa relação?
-
Não... Se eu falar isso já virá com ironia, às vezes até me ofende, só falta me
agredir fisicamente! É muita humilhação. Teve traição um tempo atrás e eu perdoei,
mas agora não dá mais. Esse relacionamento só tá me jogando pra baixo, preciso
terminar.
-
Entendi. E se vocês dessem um tempo? Não dá para continuarem assim, né, passou do
limite, agressão não dá mesmo. E se você propor um tempo?
A
pessoa olha para mim como se isso fosse a última coisa que ela pensaria em
fazer na vida e diz:
-
Então... o problema é que eu amo demais né, se eu não amasse tanto seria tudo
mais fácil, seria tudo mais simples.
-
Bom, pelo que diz então existe amor aí e se valer a pena, poderia tentar algo
novo. Na sua opinião, o que vocês poderiam fazer de diferente nessa relação que
traria um impacto positivo? Ou o que tem faltado fazer da sua parte, o
que você poderia fazer de diferente? – pergunto. A pessoa parece se estressar
rapidamente e responde:
-
Da minha parte, nada! Eu já fiz de tudo o que podia fazer. Quem tem que fazer agora
é ela! Ela precisa acordar para a vida, porque eu já me cansei disso! Se ela
não melhorar o seu jeito, acho que não vamos muito longe não.
Eu
fico em silêncio um tempo, penso no que a pessoa está me trazendo e faço uma
última tentativa.
-
Se você não disser o que está se passando com você, o que está sentindo, se
você não sentar com essa pessoa e conversarem sobre tudo isso, já passou pela
sua cabeça que talvez ela nem imagine? Você está esperando que ela mude o
comportamento com você, mas como ela poderia mudar sem saber onde vem errando? E
mais uma pergunta: caso essa pessoa não mude o seu comportamento,
na pior das hipóteses o que você vai fazer a respeito?
-
Ah, deixa rolar! Quando uma situação não tem solução, solucionada está. – disse
finalizando a conversa.
-
Ok.
Quantas
vezes na vida ouvimos ou nós quem reproduzimos reclamações como essas acima? E
podemos substituir essa situação amorosa por uma questão no trabalho, ou na
família, ou com um amigo. Esperamos que a outra parte adivinhe o que está se passando
conosco, que leia nas entrelinhas, que interprete em nosso olhar ou através de
nosso silêncio tudo o que não queremos expor. Seja por medo, orgulho, ingenuidade,
mágoa, raiva. Infelizmente não resolve isso. Não funciona assim. A gente precisa
expor claramente para as pessoas o que sentimos e o que esperamos no
relacionamento com elas. Deixar o máximo claro possível. Mas estar preparados também
para tomar uma atitude, talvez definitiva até, caso a outra parte opte por não colaborar.
É um direito da outra parte. Só que aí cabe a nós a que fazer com isso, pois como
o ditado diz: “quando nada muda, mudamos nós”.
Será que essa pessoa acima da minha conversa
queria de fato solucionar o problema ou só queria RECLAMAR do problema? É
o funcionário que reclama ano após ano do trabalho, mas nunca se desliga. A
pessoa que reclama do excesso peso, mas não segue a dieta; ela paga, mas não vai
à academia. E não adianta ficar discutindo, elas sempre vão reclamar dos
problemas, mas logo em seguida elas terão todas as justificativas mais
plausíveis para o seu comportamento. Entendo que muitas soluções não
são simples nem fáceis, mas QUERER genuinamente é a primeira medida eficaz
para qualquer coisa na vida. Às vezes falamos que vamos procurar ajuda porque
temos um problema, mas devemos buscar ajuda quando queremos RESOLVER um
problema. Problemas todos temos. Resolvê-los é a questão. Quando entro numa
situação assim, paro e me pergunto: “Quero de fato resolver esse problema?” Quando
vem alguém me reclamar de algo, durante a conversa também me questiono: “Essa
pessoa quer de fato resolver esse problema?” Isso muda tudo! Quais problemas você
está tentando de fato resolver? E quais você só tem reclamado?
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