sábado, 17 de setembro de 2016

O y da questão


Alguns aspectos da sociedade tem mudado significativamente desde a chegada dos indivíduos nascidos a partir do final da década de 80. Existem diferenças significativas no modo como as gerações Y e Z percebem a realidade, se relacionam e principalmente em como as mesmas têm escolhido viver os limites e os protocolos praticados até então.

Apesar de eu ter nascido nos anos 1980 e ser um integrante da geração Y, confesso que sempre me identifiquei mais com a geração anterior, a geração X. E por essa razão observo curioso as mudanças nos comportamentos e nos protocolos sociais. Observo com atenção a dinâmica social, seja na esfera familiar, profissional, acadêmica, afetiva, pessoal. Acredito que até a geração X a sociedade era marcada por delimitações muito claras de aspectos como, por exemplo, sexualidade; formação familiar; consumo; construção de carreira profissional; realização pessoal; sucesso; aprendizado. E definições claras dos papéis sociais: o que é ser um homem; o que é ser uma mulher; o que é ser pai; mãe; filho; cônjuge; cidadão; aluno; professor.

A partir da geração Y tudo vem mudando. Estes jovens inovaram o mercado de trabalho, formaram famílias diferentes e se relacionam de formas mais fluídas. Soltas. Menos protocolar. E isso de primeiro momento julgamos como algo negativo. Cheguei a escrever posts aqui sobre isso. No entanto hoje eu penso de maneira diferente. Não vejo mais as mudanças que estão ocorrendo como irresponsáveis, imaturas, muito menos problemáticas. Vejo uma nova construção social sendo realizada. Uma construção totalmente diferente de estruturas que eram aceitas até então. E isso causa um verdadeiro “choque de ideologias”. Para citar alguns exemplos temos a mudança nas lideranças empresariais. As lideranças estão mais pontuais. Situacionais. Vai à frente aquele que sabe, naquele momento, lidar com o problema. Mas não necessariamente este ficará na posição de líder para sempre, porque, com o surgimento de outra situação-problema, poderá ser um outro membro da equipe, mais capacitado para solucionar aquela equação, quem tomará a frente. Isso é Liderança Compartilhada. A empresa cria uma equipe, um time, que compartilha o poder decisório e a liderança para a resolução das situações-problemas. O poder é compartilhado. Obviamente que isso exige um alto grau de maturidade da equipe e da cultura da empresa. 

Na família, o homem não tem mais a palavra final. Apesar de na maioria dos lares ele ainda ser o tomador de decisões, essa realidade tem mudado constantemente para uma dinâmica onde homens e mulheres compartilham o poder, algumas vezes até com o próprio filho. O filho é um participante no processo decisório. E isto se faz necessário para que ele desenvolva desde cedo responsabilidade e autonomia. Numa casa onde pai e mãe trabalham fora, esta criança navegará sozinha na internet e precisará ter responsabilidade e discernimento para saber o que irá pesquisar, acessar, compartilhar.

Na política também temos presenciado fenômenos interessantes nesse sentido. Jovens têm participado mais ativamente dos movimentos políticos e cobrado relações mais claras, honestas e dignas de seus governantes. Nos últimos anos, assistimos um negro chegar à cadeira da presidência do país mais poderoso do mundo; uma mulher chegar à presidência do nosso; realizamos impeachment, pela segunda vez... Não há como dizer que o mundo não esteja mudando...

Na mídia assistimos agora casais gays em horário nobre. E não mais apresentados de maneira cômica. As próprias gerações mais novas têm mostrado que o tema sexualidade para elas não é um tabu nem motivo de preconceito. Essas gerações lidam com a sexualidade de maneira menos proibitiva e mais fluída. Apesar de ainda existir preconceito em nossa sociedade, nunca se viu com tanta naturalidade héteros e gays convivendo e se relacionando entre si sem discriminação nem gozações. Relacionamentos estes que seriam impossíveis de ocorrer até décadas atrás, quando havia mais segregação e guetos. 

O que estamos assistindo diante de nossos olhos é a diluição das estruturas de tudo aquilo que dávamos como correto, estável e sólido. Uma total diluição das estruturas antigas pré-estabelecidas e a construção de estruturas mais provisórias que satisfazem momentaneamente determinados interesses. Num cenário onde saem as tradições e os protocolos sociais e adentram novas formas de se viver é óbvio que cause choque de gerações. O cenário atual exige de todos nós mais flexibilidade, criatividade e adaptabilidade às mudanças e uma maior aceitação às diferenças para lidarmos uns com os outros, principalmente com as novas gerações que são pluralizadas, multiculturais e cheias de diversidade. Isso causa desconforto porque destrói toda idealização de verdade e combate o status quo, porém, penso que devemos ser estrategistas e utilizar os ventos a nosso favor. Um bom navegante não reclama dos ventos, ele ajusta as velas. Se é uma certeza que a mudança veio para ficar, que o cenário está mudando e continuará, o que precisamos fazer é aprender a jogar esse jogo. Recentemente ouvi a seguinte frase: “não se pode expandir sem abrir mão de controle”. Acho que consigo entender o que queria ser dito. E você?

Em seleção natural, Charles Darwin nos mostrou que o meio ambiente seleciona as espécies. As espécies mais adaptadas ao meio são as que sobrevivem. Isso faz pensar, não?

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