sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O LADO BOM DA BRIGA



Outro dia, um amigo e eu estávamos conversando numa rede social – fazia um tempo que não nos falávamos – e de repente ele escreve assim: “Um dia quando eu for um profissional bem sucedido, vou te procurar para apertar sua mão e agradecê-lo”. De início imaginei que ele estivesse brincando ou sendo irônico e disse isso a ele. Muitas vezes nós nos desentendemos e nessas ocasiões eu o critiquei muito, sendo assim imaginava que ele me evitava pelas coisas que já ouviu de mim. Só que ele respondeu que na verdade não só é grato, como tudo o que fiz e falei a ele o fizeram crescer como ser humano. Hoje o percebo mais maduro por pensar assim. Apesar de surpreso com sua resposta, não é primeira vez que isso acontece, já houve situações semelhantes com outras pessoas. Pessoas que travei fortes discussões, onde na hora da raiva falei tudo o que queria francamente e também terminei ouvindo o que não esperava, mas hoje são as pessoas que eu mais me identifico, ou as que eu mais confio, ou são justamente as que mais me fizeram me desenvolver como pessoa.

Existe uma ideia, meio romantizada, de que as relações sempre devem ser saudáveis e harmoniosas e de que na vida é só pensar positivo que obteremos crescimento. Prega-se que as pessoas precisam sempre ser educadas, tolerar, compreender e aceitar umas as outras com seus defeitos e suas limitações. Tudo tem que parecer um mar de rosas. Mas e os embates não acontecem na vida real? Eu não vou aqui pregar o contrário, porém quero convidar a refletirmos sobre uma contribuição positiva advinda das relações conflituosas; das brigas; das discussões; das ofensas; dos comentários ácidos, irônicos, sarcásticos. A gente esquece que existe aprendizado também a partir desse conflito acirrado. Veja a própria história, as guerras impulsionaram o desenvolvimento dos países envolvidos. A gente não admite mas o que nos possibilita crescer é a dor. É o sofrimento. O ser humano odeia ser contrariado, mas ele é atraído por tudo aquilo que o contraria. E aquilo que contraria propicia crescimento. Embora a gente não perceba num primeiro momento, as relações com as pessoas que brigamos podem nos ensinar muito sobre nós mesmos porque são relações francas. Note que quando você precisa de um feedback sincero, ou você procura aquela pessoa que sabe que é muito racional ou procura aquela pessoa que não tem muito afeto por você. Justamente porque sabemos que quando gostamos de alguém “suavizamos” a crítica. Fazemos “vista grossa” para não magoar essa pessoa. Mas e quando uma pessoa precisa ouvir algo para crescer? Tem gente que precisa de um verdadeiro choque de realidade para acordar para determinadas situações. E vem possivelmente na forma de briga e discussão, quando alguém diz algo que a pessoa não quer ouvir. Mas precisa ouvir!

Você deve estar pensando: “Mas eu posso dar um feedback sincero, construtivo e ainda ser gentil!”. Eu não duvido que possa. Mas você vai concordar que não existem apenas pessoas gentis ao nosso redor. Existem aquelas pessoas que brigamos, que brigam conosco, que nos ofendem, que jogam indiretas, que lançam mão de ironia e sarcasmo. E nada do que essas pessoas fazem se pode aproveitar? É tudo picuinha? O nosso problema é que não prestamos atenção ao que está sendo dito e sim apenas em como está sendo dito. Existem pesquisas que comprovam que apenas 7% de nossa comunicação está no conteúdo dito, o restante se faz pela nossa expressão corporal e pelo nosso tom de voz. Ou seja, nós praticamente ignoramos os “embrulhos” quando eles vêm em embalagem que não nos agrada. Nós só entendemos ou aceitamos conforme é transmitido. Mas o que é mais importante: a capa do livro ou o seu conteúdo? Como comunicar ou o que se comunica?

Eu sei que a comunicação é tão importante quanto o conteúdo, mas na vida em muitos momentos somos expostos a situações estressantes, desafiantes, com pessoas diferentes de nós. Não podemos deixar de considerar o conteúdo só porque veio na forma de grosseria. Da mesma forma que a vida pode ser cruel nos ensinando algo através de uma doença, de algum sofrimento; existem algumas pessoas que nos agridem mas podem nos ensinar algo de bom. Em ambos os casos só cabe a nós querer considerar. Faça um exercício simples. Puxe na sua memória algum dia que tenha brigado com alguém. Certamente essa pessoa disse coisas que você não gostou. Subtraia toda a grosseria da forma como a pessoa falou, mas reflita o que essa pessoa disse essencialmente. Agora que está com o ânimo mais calmo, que pode raciocinar melhor, será que nada, nada mesmo, fazia sentido?

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