segunda-feira, 20 de junho de 2016

O medo de mexer no psicológico



Primeiramente gostaria de agradecer pela recepção da última postagem. Há muito que eu não via a quantidade de acessos como teve o blog em tão pouco tempo. Gostaria de aproveitar para agradecer aos visitantes que são de países onde a língua nativa não é o português - Tenho muita curiosidade sobre vocês. Saber que uma pessoa do outro lado do mundo por exemplo está neste momento lendo essas palavras... Fico imaginando se é brasileiro, se é alguém que fala o idioma, qual é a cultura do local em que vive e o que pensa essa pessoa sobre o que encontra aqui. Consigo levantar algumas informações porque a plataforma desse espaço permite explorar as visitas. Identificar de onde elas chegam; se é diretamente ou por algum mecanismo de busca; se é um retorno ou é a primeira vez; qual é o tempo permanecido aqui no blog; qual o caminho percorrido por essa pessoa aqui dentro etc. Obviamente que isso é possível porque o sistema identifica justamente o endereço de IP do visitante, mas como muitas vezes o IP é dinâmico, uma pessoa poderia acessar frequentemente o blog mas a mim apareceria sempre como sendo sua primeira visita. O que é uma pena pois não consigo explorar mais esse visitante, e consequentemente acabo desconhecendo as suas preferências. E é mais ou menos sobre isso que quero falar...

Como sei muito pouco – praticamente nada – do visitante em si (salvo algumas exceções), fico imaginando como ele é. Salvo exceções porque alguns são seguidores do blog, então eu entro no blog da pessoa também e acabo a conhecendo. Outros me encontram em redes sociais. Na vida pessoal as vezes. Mas a grande maioria eu não faço ideia de quem seja, como seja e o que pensa. E eu gosto de saber o que as pessoas pensam. A respeito de tudo. Eu gosto na verdade de conhecer as pessoas, psicológica e emocionalmente falando. Mas conhecer mesmo, por trás da máscara social. Quem realmente você realmente é. Se a pessoa me permite até, eu “invado” a sua particularidade. Porque eu gosto de investigar a fundo. E também de “mexer no psicológico” das pessoas – como alguns brincam. E é justamente isso que gostaria de trazer hoje: por que algumas pessoas não permitem, nem se permitem, mexer no seu psicológico?

Uma vez, um colega de uma empresa em que trabalhei, me disse o seguinte: “Você busca uma interpretação pra tudo e pra tudo você tem uma interpretação. Mas aqui você não pode ser assim.”. Ele falou tão simples e foi de uma percepção tão profunda que eu nunca mais me esqueci daquilo. Ele não me conhecia bem, trabalhávamos juntos a poucos meses e nosso contato nunca passava da protocolar rotina do trabalho. Mas foi aí nesse dia que tive a percepção de como o meu jeito de ser era transparente. Ao passo que gravei muito bem também o final de sua frase “aqui você não pode ser assim.”.

Aos 7 anos de idade mudei de uma cidade para a que vivo atualmente. Me lembro que era quase meio do ano, peguei a turma já formada e as aulas em curso. Passadas poucas semanas, me lembro de certo dia levantar a mão apontando para o quadro: “Dona, ali não se escreve com letra maiúscula?”. Brotou um riso desconfortável. “Não, Jonas, ali eu posso escrever como eu quiser, com letra maiúscula, minúscula, não faz diferença.” Continuei com a dúvida: “Dona, por ser um substantivo próprio não deveria ser escrito com letra maiúscula, é nome próprio.” Aquela mulher me fuzilou com o olhar e virou-se para o quadro me ignorando por completo, enquanto eu escutava os murmurinhos vindos do fundo da sala: “lá vai o sabidão querendo saber mais que a professora”. 

Aos 10 anos de idade, em uma das brigas – sem sentido – com o meu pai, vem ele e começa: “Você tem que acatar tudo o que eu falo!”. “Por quê?”. “Porque eu sou o seu pai!!”. “Mas você não é meu dono.”. E sai andando... já sabendo que iria apanhar.

Em um site, paguei para obter um teste que mapeia algumas dimensões da personalidade, com base nas respostas de uma série de questões sobre vários assuntos. O que segue é o resultado da dimensão “Abertura a novas experiências”:

Nem todos vão ficar felizes com a sua mente aventureira. Muitas pessoas estão satisfeitas com as ideias que servem bem a elas e à sua cultura, e com a visão a que se acostumaram sobre o que é ou não verdade. Elas não se animam com a perspectiva de sair de sua zona de conforto. Outras têm medo de novas maneiras de pensar e de formas criativas de resolver problemas porque são um pouco frágeis, no sentido em que têm problemas em manter a serenidade em seu mundo atual e não querem que alguém, como você, por exemplo, expanda as fronteiras de seu cosmo intelectual e cultural. Assim, não se surpreenda se as suas ideias pouco convencionais, às vezes, forem causa de críticas a você, ou mesmo se as pessoas fugirem da exploração de novos territórios da mente que você acha tão estimulantes.

Preciso falar mais alguma coisa? Eu não consigo entender. Eu juro que respeito a opinião dessas pessoas, já me deparei com muitas ao longo da vida. Eu só não entendo por quê. Por que a recusa de pensar “fora da caixa”? Por que não questionar o status quo? Por que alguns assuntos ainda hoje não podem ser discutidos abertamente? Por que algumas pessoas se escondem atrás de um absolutismo intocável recusando iniciativas e posicionamentos diferentes? Eu só não consigo achar uma resposta...

Apesar disso o resultado desse mesmo teste finaliza assim:

Apesar de algumas respostas negativas ao seu modo de pensar, muitas pessoas acham os seus pensamentos progressistas e a sua vívida imaginação muito atraentes. Algumas acham as suas maneiras novas de pensar e a sua disposição para explorar, que os outros acham intimidadoras, uma qualidade muito atraente. Outras almas criativas encontrarão em você uma companhia na jornada para o desconhecido e ficarão felizes com o companheirismo. As conversas com elas serão animadas e inovadoras e acenderão a imaginação, tanto a sua quanto a delas. Mesmo as pessoas menos curiosas que você ficarão impressionadas com a sua coragem de pensar e acreditar no que para elas é inimaginável e com a sua disposição de embarcar em aventuras da mente que elas achariam perigosas ou amedrontadoras. Para essas pessoas, você pode se tornar um mentor sobre o lado mais louco do pensamento e da crença, empurrando-as em direção às ideias criativas e progressistas que você acha tão interessantes.”.

Quer saber o que eu penso sobre tudo isso? Não dá para viver uma vida na superfície do nosso psicológico. Eu compreendo que nem todos estão prontos para mexer em certas partes, porque muitas vezes envolve feridas não cicatrizadas e traumas complicados, mas acredito que em algum momento é preciso mexer no psicológico. E digo mais ainda. Acredito que chega um momento em que a própria vida vai nos desnudar. Então, sempre que possível, desnude as pessoas. Sempre que possível, seja desnudado por elas. E troque experiências. Não tenha pudores. Como disse Caetano: “De perto, ninguém é normal”.


2 comentários:

Unknown disse...

Muito feliz por ter retornado e mais ainda pela disposição às mudanças. Acho incrível a maneira como você escreve. Parabéns, grande abraço!!!

Jonas Souza disse...

Carlinhos, incrível é ter você nesse espaço. Você é intelectual pra mim. Me envaidece ser elogiado por alguém que lê bastante assim como você. Agradeço e espero sempre corresponder às suas expectativas.

Abração