Um amigo, estudante de Filosofia, está prestes a terminar o curso. Está na fase de elaboração do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Ele veio me procurar pedindo uma contribuição minha para a sua obra. Ele acompanha o blog e admira o jeito que escrevo. Me deu seu tema e pediu minha opinião. Preciso mencionar que fiquei lisonjeado? Preciso mencionar que fiquei sem jeito até? É verdade também que fiquei surpreso. Por dois motivos principais. Primeiro porque ele é um seminarista, podia pedir orientação aos seus colegas e superiores mas está recorrendo a uma fonte externa. Ponto para ele. Segundo porque ele estuda filosofia numa instituição católica e é seminarista. Combinações perigosas... Filosofia e religião juntas é quase como trabalhar com energia nuclear. Os ganhos e os riscos são igualmente elevados. Não me pergunte por que mas sempre vi assim. A verdade é que tanto ele quanto eu sabemos que um TCC é um trabalho acadêmico formal, de cunho científico, que exige “referências sérias” e que disso resultará uma nota de aprovação. O que para mim sempre foi uma baboseira do começo ao fim. São “n” os motivos. Combinamos então que escreverei aqui um post em cima do tema trazido e espero sinceramente que isso “contribua” a ele de alguma forma. Assim como aos demais leitores. É verdade que gosto, sim, de filosofia. Mesmo sem entender muito. Assim como é verdade que estou sempre pronto a dar o meu ponto de vista sobre as coisas. Mesmo sem ser chamado. E eu não tenho a menor ideia sobre como vou escrever sobre o tema que ele me trouxe...
Como um bom tema, esse que ele me trouxe faz a gente pensar e repensá-lo ao longo da vida. Consequentemente, qualquer opinião ofertada aqui está sujeita a ser refutada no futuro, pelo próprio autor. Antes de começar, já peço desculpas se o português aqui ficar rebuscado e o raciocínio complexo demais. Isso é ranço da tradição da filosofia. Não somente da filosofia. Tomemos o “juridiquês” como exemplo. Coisa que sempre detestei. Não suporto pessoas que falam ou escrevem difícil, porque uma coisa é você falar a acadêmicos ou a um grupo de intelectuais e eruditos e seu único objetivo é impressionar. O que mesmo assim acho desnecessário. Outra coisa é você saber que está falando com todo tipo de público (como o que frequenta esse espaço) e ficar se utilizando de palavras difíceis e sentenças complexas, dificultando a compreensão. Repito. Ranço de um passado.
Imagino que a essa altura deva estar curioso sobre o tema, mas pedirei sua licença novamente para fechar um parênteses aberto no primeiro parágrafo. O porquê disse que um TCC é uma baboseira do começo ao fim. Penso assim porque num TCC não há produção de conhecimento. Salvo raríssimas exceções. Na minha opinião deveria ter. Você estuda quatro/cinco/seis anos e no fim não tem liberdade para trilhar por caminhos que outros já não passaram. Quando fiz o meu por exemplo, lembro-me do meu orientador me cobrando a todo momento que eu deveria referenciar alguém. Jamais poderia concluir nada que partisse única e exclusivamente do meu próprio cérebro, sem uma referência. Num TCC, o aluno deve sempre referenciar um autor, escrever numa linha de raciocínio cartesiana, seguindo uma devida canaleta. E muitas vezes nem poderá ser “qualquer” canaleta. Nem se desviar dessa canaleta ao longo do trabalho! Você colocará uma viseira e seguirá o Autor (ao céu ou ao penhasco)... Já não bastasse julgarem o aluno, formado pela própria instituição, como incapaz de produzir algo inovador por conta própria, muitas instituições ainda pedem que esse trabalho seja feito em grupo! O que é ainda mais controverso, porque num grupo de cinco pessoas por exemplo, no muito três fazem o trabalho. Sem falar que você tem que ouvir do orientador: “diga o que o autor disse, apenas usando outras palavras”. (Oi?) (Como é?) Qual a diferença disso e plágio? E não me venha dizer que esta foi uma experiência que vivi na minha faculdade, porque nós sabemos que na grande maioria das instituições funciona da mesma forma. Isso não é culpa do orientador. Como também não é culpa da instituição. O responsável é o nosso velho modelo de ensino. Soaria ilógico uma universidade exigir que um aluno criasse algo novo num TCC, quando somos ensinados desde sempre a reproduzir conteúdos. Assim nos vemos passando adiante as mesmas (es)(his)tórias e encenando a mesma peça; mudam-se os cenários e as personagens mas o enredo permanece o mesmo. Seja na academia. Seja na vida. Seja na política... Deixo isso apenas para pensarmos...
O tema que meu amigo trouxe é Identidade Pessoal. Minha opinião aqui será rasa e superficial. Não espere algo profundo ou substancial. Não vou invocar um filósofo aqui. O que é mais provável que aconteça é que, como não sigo uma linha de raciocínio cartesiana, eu saia totalmente da casinha. Ou como dizem, tente pensar fora da caixa. Afirmo também que nunca existirá uma resposta certa ou definitiva para esta questão, porque se trata de uma visão subjetiva.
A questão Identidade Pessoal, em filosofia, trata das condições que explicam que uma pessoa é a mesma no decorrer de sua vida. Por exemplo, nas seguintes perguntas: Você é a mesma pessoa de anos atrás? Com base em que você afirmaria ou negaria isso? Como alguns podem observar ao analisar essas questões, ocorre o que ficou conhecido como “problema mente-corpo”. Existem duas correntes importantes relacionadas na resolução desse problema. O dualismo e o monismo. Basicamente, enquanto os dualistas vêem mente e corpo como coisas distintas, os monistas vêem uma coisa só. No entanto, ainda dentro do monismo, existem aqueles que consideram que mente e corpo são matéria, aqueles que entendem que ambos estão na mente e um terceiro tipo que seria “neutro”, segundo o qual existiria uma terceira substância que não seria física nem mental.
Como eu responderia, hoje, as duas questões acima? – Eu sou e não sou o Jonas de anos atrás, porque enquanto o Jonas existe, eu nunca existi! O Jonas é uma pessoa com nome, é uma ideia com formato. Intenção. Consciente. Aos quinze anos de idade, eu tinha uma professora chamada Maristela que me disse algo que eu nunca me esqueci. Ela me contou que sua mãe lhe dizia a seguinte frase: “tudo o que você dá nome, existe!”. Utilizo essa frase como base. O “Jonas” existe. Como percepção, mas na verdade o eu nunca existiu. O Eu é uma fabricação idealizada da percepção humana, que envolve questões biológicas, culturais e sociais. O homem, em seu delírio antropocêntrico, acredita poder se desvincular do todo e ter domínio sobre isso. No entanto, o homem é parte do todo. E o todo é fruto da percepção. De quem?! - você deve estar se perguntando agora. Aí entra a minha religiosidade... A Mente (que ao longo da história ganhou inúmeros nomes) é a origem do todo. Penso que essa Mente experiencia através da percepção humana – do corpo. O corpo (as sensações, as experiências, os sentidos) não é secundário em relação a mente, porque não existe essa relação, tudo seria a mente. Não exatamente da forma que fomos culturalizados aqui no Ocidente, negando os instintos e o próprio corpo, através de um pensamento “socrático-platônico-aristotélico”, que foi impulsionado pelo cristianismo (que nunca passou de um platonismo para o povo). Eu até entendo que essa “estratégia” teve sua finalidade, naquele período, na Grécia. Precisava-se de leis. O pensamento de Platão, com uma ideia cristalizada de verdade, ordenou o povo. Assim como o cristianismo fez em seguida com a ideia de culpa e pecado. O pensamento de Platão atingiu as elites, enquanto o cristianismo o povo. Ambos são métodos eficazes de controle, organização – e dominação – das pessoas. Por isso penso que a filosofia do Ocidente e o cristianismo são filhos do mesmo pai, e como todos os irmãos, às vezes não se bicam!
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