*Essa foi a minha primeira tatuagem, feita em homenagem ao meu pai.
Eu
sou geminiano. Nascido num dia 03 de junho. De acordo com a
astrologia, o Sol estava na constelação de gêmeos durante o meu
nascimento. Isso significa, basicamente, que era para eu ser
comunicativo, extrovertido, aberto, alguém que faz amigos
facilmente, que gosta de mudanças, de novidades... E eu odeio tudo
isso. Sou fechado, desconfiado, sério, tenho poucos amigos, não
gosto de jogar conversa fora e algumas vezes sou tão direto que
minhas palavras cortam como navalhas. Só concordo com uma característica
do meu signo: sou contraditório...
Eu
sempre tive uma personalidade contraditória. E um gênio forte. Por
deixar as minhas opiniões claras – as vezes quando não
solicitadas – já bati de frente com muitas pessoas. A impressão
que eu tenho é que sempre foram as pessoas que eu mais admirei e as que
eu mais amei. Me lembro do meu pai reclamar à
minha mãe que eu não tinha sal nem açúcar, e que eu era um mármore
como pessoa. Para ele eu não devia gostar de ninguém, muito menos
dele. No entanto ele estava errado nesse ponto, eu não só o amava
como foi ele quem eu mais admirei nessa vida. Ele só nunca soube disso. Eu
não podia dar a ele esse gosto. Morreu achando que era adiado. Ao seu
lado, no seu leito de morte, chorando pedi perdão. Mas pedi em
silêncio – rezando para que ele tivesse escutado...
Nunca
entendi porque o esforço para não transparecer sentimentos. Me
pergunte o que eu penso, o que eu acho, qual a minha opinião sobre
algo, e saberá. Honesta e francamente. Me pergunte o que eu sinto a
respeito e eu travarei. Vou me desconsertar, então eu desviarei o
foco. Não responderei. Como um signo do elemento ar, um geminiano é
bom no mundo das ideias, mas no das emoções...
O
fato é que eu sempre fui estranho mesmo. E nem sempre gostei de ser
assim. Na infância, enquanto via as crianças da minha idade se
divertindo com amigos de verdade, eu brigava com os meus imaginários.
Falava sozinho, brincava sozinho, era esquisito que só. Na escola,
enquanto todos iam na biblioteca para assistir filmes na sala de
vídeo, eu ia à seção esotérica ler sobre mitologias. Obviamente
que eu não era a criança mais popular na época... Tinha até
vergonha às vezes. Porém, foi lá, naquelas estantes, que acabei
descobrindo que o planeta que regia gêmeos era mercúrio, e mercúrio
era utilizado pelos alquimistas para fazer ouro, e mercúrio também
era chamado de Hermes, um deus mensageiro que tinha permissão para
entrar e sair do reino dos mortos – como os irmãos gêmeos Cartor
e Pólux, um que vivia no céu e o outro no reino de Hades, e podiam
trocar de lugar a cada dia. Essas estórias tentam simbolizar
o universo ambíguo e contraditório dos nativos do signo. Bem e mal,
luz e sombra, verdades e mentiras são apenas questões de prismas...
Dediquei
uma boa fase da minha adolescência para refletir sobre minha
personalidade. Quis entender por que o ser humano é tão complexo,
por que magoamos justamente aqueles que mais amamos, por que temos
dificuldade de assumir e decidir as coisas, por que a vida era assim
tão conflitante... Por que a gente complica coisas que devem ser
simples?! Achava que as respostas estariam no conhecimento. Então
continuava “olhando para o céu”... Até que um dia me deparei com
o seguinte texto: “para
você, Gêmeos, dou as perguntas sem respostas para que possa trazer
a todos a compreensão do que o homem vê a seu redor. Você nunca
saberá por que os homens falam ou ouvem, mas em sua procura pela
resposta encontrará meu dom do conhecimento".
Apesar
de me fazer sentido, se isso é verdade ou não, eu nunca saberei,
mas nem preciso dizer o
quão desapontado eu fiquei. Tinha que ser muito azarado para estar
destinado a não ter as respostas, quando tudo o que eu mais queria
era saber algumas questões existenciais.
Assim
fui crescendo deslocado entre os demais. Me isolando do grupo.
Adquirindo hábitos e características de ermitão. Quando ouvia meus
colegas comentarem entre si, o quanto o padre tinha pedido que
rezassem por aqueles pecados, tinha até medo de lhe confessar os
meus. Fugia da igreja então. Me sentia alguém muito mau para pisar
lá. Ou tinha algo muito errado comigo, ou o sistema que o mundo
operava era muito hipócrita. Eu contrariava o meu pai e apanhava. Eu
contrariava alguns professores e ia para fora da sala de aula. Eu
contrariava a igreja e ia para o inferno. Eu tinha as perguntas
sem respostas... O que mais podia fazer?!
Por
um tempo resolvi me render ao sistema. Para sobreviver foi preciso
deixar os outros pensarem que concordava um pouco com certos
mandamentos. Amansei meu gênio e domestiquei minha personalidade.
Embora eu saiba que aqui dentro, bem lá no fundo, preso por grades
bem fortes, jaz uma fera que eu nunca soube controlar muito bem...
Todos
queremos um lugar para chamar de céu, um alguém comum para chamar
de santo e é claro, um Monstro para crucificarmos por nossos
próprios pecados.
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