“O
homem é corda estendida entre o animal e o Superhomem: uma corda
sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso
olhar para trás, perigoso tremer e parar.” (Nietzsche)
Gosto
muito da ideia de limite e de tempo. Desde de criança imagino um
cenário onde leis e limites são traços no chão. Riscos nos
contornando. Penso, desde essa época, na interação com essas
demarcações no chão. E procuro repetir a mim mesmo. “Ficar
sempre antes delas”. “Ficar em cima delas”. “Um
pé lá, um pé cá”. “As vezes dois pés lá!”. Penso
na relação dessas demarcações com a segurança e a manutenção e
a evolução das coisas. Quando olho para a História da humanidade
por exemplo, as vezes concluo que só evoluímos graças a homens e
mulheres que ousaram ultrapassar essas linhas em algum momento.
Entretanto, as vezes também concluo que muitos morreram por este
mesmo motivo. Então me confundo sobre qual seria a melhor relação
com os limites. Afinal, para que são feitos os limites? Controlar o
que está a montante? Potencializar? Reprimir? Eles têm prazo de
validade? Quem deve determiná-los?
Quando
procuro as respostas na filosofia, chego a conclusão que todo ser
vivo, sendo parte da natureza, é uma força que tenta a todo
instante transbordar. Não sei se seria necessariamente uma única
força em questão; penso em várias forças agindo em conjunto. O
fato é que essa força naturalmente procura vazão. Isso significa
que embora vivamos em sociedade e que precisamos de disciplina, nós
naturalmente somos compostos de violência, de excessos. Aí entre o
conceito de “super homem” de Nietzsche, o homem domando a si
mesmo. Porém, isso também não deixa de ser uma violência com nós
mesmos, pois domar a si mesmo é ato que, a priori, vai contra a
nossa natureza.
Analisando
pelo prisma da sociologia, o homem é um animal social e para haver
civilidade as leis são necessárias. Mas quem cria as leis são
homens, e como o homem é falho certas leis também podem ser.
Regimes nazistas e fascistas que o digam. Portanto, as leis são
tentativas de organizar uma sociedade, mas dependendo do lugar e do
tempo em que forem avaliadas podem ser relativas. Até erradas.
Avaliemos as leis existentes a cem anos atrás... Então aqueles meus
riscos no chão começam a ganhar uma certa mobilidade...
Hoje,
após duas décadas vividas, já tendo adquirido uma certa
experiência – e um histórico! – concluo que existem limites
criados para o nosso bem, mas a estes sempre caberão reavaliações
constantes. Tenho ciência que dentro de mim existe uma gama de
intensidades que nem sempre saberei controlá-las, mas que isso não
tira a responsabilidade pelos meus atos. Posso certamente dizer que
limite e tempo são os temas centrais da minha vida. Nada me fascinou
– e incomodou – tanto quanto isso. Até hoje, diante de certos
limites confesso que nunca sei exatamente o que fazer, e por quanto
tempo; se uma metade minha é conservadora, a outra certamente deve
ser bem revolucionária!
Limites são fins provisórios! Reflita.
Policie. Atualize-se constantemente. E questione sempre que possível.
Tanto princípios morais quanto éticos, tanto democracia quanto
justiça são coisas que precisam ser eternamente discutidas e
revistas. Para não haver relatividade são estabelecidos parâmetros
de tempo num espaço; sem revisões podemos muito bem nos encurralar em
fronteiras que já nem devem mais existir!
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