sexta-feira, 31 de agosto de 2012

NÃO LINEARIDADE E COMPLEXIDADE

Já imagino que tem gente torcendo o nariz depois de ler o título. Vamos fazer um esforço...


Nas últimas semanas, passei um tempo pesquisando na internet sobre como será o cenário futuro e também estive lendo matérias em revistas e artigos online sobre o mesmo assunto. As perspectivas e tendências desse “futuro em rede”. Com base em uma opinião pessoal minha, sobre o que venho lendo e também tenho observado atualmente, acredito que o futuro não será fácil, por causa de “n” fatores que praticamente vão nos obrigar a mudarmos o olhar sobre a vida e adquirirmos uma atitude diferente de pensar sobre os problemas. Com um olhar mais amplo, que alcance o todo e um pensamento não linear, complexo, seremos mais aptos a encarar e conviver com os desafios que virão. Mas isso resulta também num ensino educacional com modelo(s) diferente(s) (que já estão sendo estudados pelo MEC), num “corpo empresarial” mais preocupado com sustentabilidade – de outra forma não sobreviverá por “n” razões –, num “corpo governamental” mais engajado em crescimento e desenvolvimento também – ou o bem estar não acompanhará o aumento do PIB –, e numa sociedade mais ambientalmente consciente e politicamente ativa – para que exista um estilo de vida sustentável e equânime –; tudo baseado em princípios éticos, morais, legislativos mais claros, mais humanos, mais firmes e mais justos!

Alguns assuntos estão em alta na boca do povo, sendo discutidos por muitos veículos de comunicação e algumas palavras têm ganhado muita força também. “Os caminhos de uma educação mais reflexiva”. “O perfil de um novo profissional mais humano”. “As profissões que ascenderão ou terão de se adequar”. “Quais as promessas e ameaças desse 'futuro em rede' ”. Justiça, honestidade, liberdade, singularidade, são palavras entrando fortemente no nosso vocabulário cotidiano. Isso tem significado que a população em geral está mudando o seu modo de pensar e está começando a questionar o que é bem estar, e o governo e as empresas notam que se faz necessário reformular suas práticas por causa exatamente disso. Vivemos em sociedade, mas cada um de nós quer ser visto, ouvido e lembrado como um indivíduo único, diferente, com necessidades desiguais. A tecnologia tem permitido ao cidadão consumidor conhecer mais a fundo sobre as atividades socioambientais das empresas e dos governantes. A maior característica do mundo atual, que será ainda mais acentuada no futuro na minha opinião, é essa potencialidade de desenvolvimento do ser humano e ao mesmo tempo a imprevisibilidade do cenário. Uma capacidade de forte desenvolvimento da população, paralelo a uma capacidade do próprio sistema se reformular e se transformar tão rapidamente contrariando espectativas. Isso explica o porquê o pensamento linear é reducionista; o futuro será (o que já é, ainda mais acentuado) complexo. Onde o foco será a multiplicidade, a pluralidade e a diferença. Onde quem domina é o homem, não a máquina! O burro da estória é o computador, porque ele utiliza apenas pensamento cartesiano para funcionar. Nós trabalhamos com a complexidade. A potencia máxima será o Capital Humano e ao mesmo tempo não poderemos (como já não podemos!) prever com precisão, nem controlar o cenário completamente sem admitir que também somos controlados pelo sistema. E como disse a filósofa Viviane Mosé inspirada por Edgar Morin, através do "princípio de instabilidade", cairão-se as barreiras e a internet acabará com o gueto do conhecimento! Assim o papa do conhecimento será o curioso, o criativo, o inovador, o que estará sempre disposto a se reinventar.

Percebi que esse meu interesse em tentar prever o cenário futuro tem sido uma vontade de muitos, o que diferencia é o enfoque do estudo. As empresas querem saber para produzir e vender melhor, serem mais competitivas e terem uma gestão mais humana. O governo quer responder às necessidades da população da melhor forma e vai apostar em investimentos na educação daqui em diante. Só um parênteses nisso: um dos principais medos dos nossos investidores em Educação é se isso garantirá uma melhor educação de fato! Na minha opinião, sim e não! O que vai depender é a administração ser bem feita. Já obtivemos provas de outros países que investiram em educação, mas não conseguiram aumentar os índices de ensino, porque não tiveram uma boa administração. A fórmula, mais do que maior investimento, é uma boa administração como sempre. Um pai de família pode ganhar um salário mínimo ou dois, ele vai se endividar do mesmo jeito se não souber administrar bem suas economias. O país precisará seguir esse mesmo princípio: uso inteligente dos investimentos, com boa administração e expectativas a longo prazo - desde o ensino básico!

Tenho absoluta certeza de que nunca saberemos, comprovadamente, o que dará certo. Mas nós já sabemos o que não tem dado! Estamos naquela fase que vou apelidar de “Pós Divórcio”. Nunca me casei e criei esse apelido agora, mas acredito que ele exemplifica muito bem isso o que quero explicar. Depois que alguém se separa, para mim é natural que essa pessoa sinta vontade de se relacionar de novo, mas ela não tem a menor ideia do que encontrará no caminho, ela apenas sabe o que ela não quer mais encontrar! Por experiência do que já vivenciou e terminou não dando certo. Nós estamos num momento muito próximo dessa analogia, a humanidade sabe que o futuro será incerto de qualquer forma, mas estão despencando nossos paradigmas, colocando em xeque a nossa sobrevivência. E nós temos isso como trunfo nas mãos. Os erros! As experiências que trouxeram lições. Sabemos o que não deu certo até aqui. Consumismo desenfreado. Idealismos. Verdades e não verdades cristalizadas. Preconceitos. Niilismo. A sociedade não pode, por medo de um futuro diferente e desconhecido se intimidar e não avançar. Acumulando pessoas depressivas. Quando caí de bicicleta a primeira vez aos 6 anos de idade, confesso que me deu vontade de nunca mais subir numa, porém se eu não tivesse tentado novamente e não tivesse continuado a cair até aprender, hoje ainda não saberia. Nunca ninguém aprende coisa alguma na vida sem deixar o medo de lado e se arriscar. O que precisamos nesse momento do nosso país é apostar mesmo em educação, planejamento e desenvolvimento, mais inovação, valorizar o capital humano e apostar sem medo. A coragem para avançar em investimentos, mãos firmes para controlar e uma boa administração são o que minimizarão os riscos desse futuro!


Miguel Nicolelis explica como a interface cérebro-máquina altera a maneira como nos comunicamos e de que forma a neurociência deve transformar o que conhecemos como formas de trabalho e as relações no ambiente profissional, em entrevista especial para a HSM.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

IDENTIDADE BRASILEIRA


Estive em uma instituição que realiza atividades socioeducativas com crianças que os pais trabalham fora o dia todo. Essa instituição acolhe essas crianças em tempo integral e durante esse período realiza ótimas atividades com elas. Mas o que eu gostei mais de ver foi como respondem bem a tudo, como elas são organizadas e espertas. Elas sabem que têm talento para qualquer coisa, mas sabe o que lhes falta? Quem acredite nisso além delas. Conversando com o pessoal da instituição, descobri que elas passam pelo mesmo dilema que o típico brasileiro sofre muito: falta de crédito e ausência de portas abertas. Apesar delas serem carentes, não é de dinheiro que elas mais precisam, é de atenção e confiança. São crianças carentes de amor e carinho e precisam de cuidado e espaço na sociedade, para crescerem e se desenvolverem com grande potencialidade; elas precisam que confiem nessa capacidade delas fazerem isso. Sem menosprezo nem descaso. É um trabalho complexo, um esforço conjunto entre sociedade, governo e empresas, e uma questão de dar mais crédito e oferecer mais perspectivas. Por que eu estou escrevendo sobre isso?

Porque essas crianças que conheci refletem claramente o povo brasileiro em geral. Há um imenso potencial latente na população e acredito que nós ainda não notamos isso. O que mais falta para o nosso país crescer economicamente e desenvolver todas as camadas sociais é darmos atenção para a nossa própria raça. É preciso recriar coisas e cavar canaletas. Somos um povo incrível e não deveríamos mais duvidar disso. Sem desmerecer outras nações, acredito que o brasileiro tem algo de muito especial na forma peculiar de fazer cultura; tem um talento na gente que é diferente do restante do mundo e o restante do mundo já notou isso faz tempo. (E temem isso!). Só nós que ainda não percebemos direito essas coisas. A grande maioria do povo não é mais criativa não por falta de saber ser, mas por falta de encontrar espaço para ser. Não há cuidado com o ensino, não há políticas públicas privilegiando a cultura e não há caminhos para demonstrar o que em nós sobra: um jeito específico de fazer música, de canta-las, de dança-las; um jeito específico de viver, de criar, num gingado que dribla a dificuldade diária e equilibra em braços fortes contas a pagar e salário mínimo. Muitas vezes é por esse descaso e esse desinteresse que nos entregamos e ganhamos fama de povo acomodado. Mas há grandes exceções...

O nosso problema não é tanto pensar e ser criativos, porque pensar a gente até sabe bem quando quer e criatividade também temos (é preciso para sobreviver). A discussão central está em não haver espaço e não existir o devido cuidado com o planejamento desde as crianças. Por isso devemos mexer no nosso país desde as bases! Somos um povo briguento, mas ainda hoje não sabemos brigar e nos entregamos fácil. Não sei porquê desse jeito de caminhar de cabeça baixa pelo mundo. Ainda há um resquício de “sim, sinhô” no nosso sangue. Uma passividade sanguínea. Por um débito já pago! Precisamos perder esse medo de nos assumirmos como brasileiros definitivamente, que não mais devem nada a ninguém e recriar caminhos para a nossa própria gente inovar e se reinventar. Temos um incrível potencial para isso, que se justifica na nossa própria cultura, nessa forma difícil que fomos criados desde sempre. Sabemos muito bem lidar com as adversidades. Agora é necessário criar outros modelos, seja através de políticas públicas, de oficinas de teatro, dentro de escolas em salas de aulas, através de projetos socioeducativos, seja através de tudo isso e muito mais, o mais importante é que trabalhar no que é nosso. E cavar canaletas para que essas crianças continuem abrindo caminhos no futuro. Precisamos urgentemente de uma nação que seja capaz de criar e sustentar a realidade que o país quer alcançar.

Acredito sinceramente que uma das grandes coisas que o governo anterior fez ao nosso país foi abrir caminhos. Política a parte, ele nos colocou (como país) no mapa! Defendo que essa é a receita. Abrir caminhos. Mas também ensinar esse povo a pensar e privilegiar o capital humano nacional, porque talento há! O país está crescendo, há inúmeros projetos para ampliar a nossa malha ferroviária, aumentar o transporte aquaviário, portos secos etc. Muitos países estão investindo maciçamente em inovação, P&D (Planejamento e Desenvolvimento), e estão conseguindo desenvolver a economia enquanto o Brasil está importando mão de obra!!? Nós estamos importando mão de obra porque não temos planejamento, atenção e coragem de educar o nosso próprio povo para trabalhar no que é nosso, e isso é uma vergonha nacional! O trem está caminhando a todo vapor e lá na frente vamos precisar de pessoas competentes para dirigi-lo e dar continuidade nesse caminhar. Ou o país quer ficar nas mãos de estrangeiros, de novo!? As políticas públicas, nesse momento importante do nosso país, devem contemplar mais do que nunca a cultura, a educação, a inovação, através de modelos de ensino reflexivos e globalizados, para que as nossas crianças (se) enxerguem (n)o mundo. Consigam lidar politica e sabiamente com os problemas trazidos pela modernidade. Problemas que vão muito além dos exercícios escolares. Problemas complexos e integrados.

É hora de apostar no nosso povo desde as bases! Pegar os nossos educadores e trabalha-los com amor e respeito, buscar formas de pagar a eles salários dignos, para que eles coloquem essa moçada para fazer o que nós fazemos de melhor: criar! Como diz minha avó: "essa molecada só faz arte". Realmente, o povo brasileiro faz e das boas ainda! Vamos parar com esse negócio de “sim, sinhô” e erguer a cabeça de uma vez por todas, vamos colocar essa criançada para pensar de verdade nas escolas e apostar nelas, mas acima de tudo vamos assumir a nossa identidade brasileira. Uma grande característica de nação madura é saber se colocar e se posicionar como tal. Nós somos brasileiros!!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O que você está fazendo aqui?


“Só depois que a tecnologia inventou o telefone, o telégrafo, a televisão, a internet, foi que se descobriu que o problema de comunicação mais sério era o de perto.” (Millôr Fernandes)


Já reparou como todos nós fazemos tamanha força para aparentarmos apenas a nossa melhor parte na internet? A imortal. Aquela fake... Viemos à internet no passado para melhorar nossa vida cotidiana, aprender mais, nos entreter, nos informar, em busca de qualidade. Viemos com o objetivo de tornar a comunicação mais rápida, menos falha, com o propósito de maior socialização também. A proposta inicial me parecia essa, organizar e facilitar a vida contemporânea. No entanto, anos depois, nós entramos diariamente nesse espaço virtual na construção de um lugar ideal, um mundo irreal, que parece muito possível ser obtido com essa tecnologia. E nele transparecemos que somos inteligentes – não, inteligentes não mais, agora a moda é parecer culto. Eloquente. Grandioso! Todo mundo sabe sobre tudo, sobre todos, a qualquer momento, e no fundo ninguém conhece ninguém e entende das coisas apenas na superficialidade dos dados. Mesmo com tantas informações continuamos estranhos desconectados. Mas a vida nunca pareceu tão agradável! Com a pasteurização da internet tudo é bonito. O desempregado, desarrumado, introvertido, chato, nas redes sociais fica bonito, bem vestido, popular e chique – pois a moda agora é ser bem vestido também. Eu sei, sou um desses e isso me envergonha muito. Entendo bem desse universo, porque estou nele nesse momento e sou um dos seus usuários. Ele nos encanta com as possibilidades! É tão fácil constatar o que estou falando, é só dar uma passadinha rápida por alguns perfis em qualquer uma dessas diversas redes sociais existentes. Aliás nem precisa ir muito longe não, olha aqui mesmo no perfil do meu blog. Pareço muito bem, não é? Tentei parecer... Mas isso não significa que sou outra pessoa, mas também não significa que sou desse jeito, todo dia. Barba feita, cabelo com gel e no melhor ângulo – que consegui depois de tirar umas dez fotos. “Editei” o que quis transmitir. Escolhi a melhor foto que eu tinha no meu notebook. E a descrição sobre mim? Claro que eu colocaria só a melhor, é a meu respeito né, jamais descreveria algo negativo sobre mim. Quero parecer legal. Bem visto e bem quisto. Preciso muito disso. Marketing pessoal é realmente tudo!

É claro que estou ironizando essa situação séria e sendo bastante sarcástico com isso. Marketing pessoal não é nada disso, você não precisa ser falso nem se descrever mentindo para agradar alguém. Deve ser quem você verdadeiramente é, nos dois mundos. Transparecer o que sente. Mas na realidade não é o que está acontecendo. Fugimos da vida cotidiana real para a virtualidade, porque ela garante um controle de coisas que não temos fora desse espaço. Na internet podemos ser quem quisermos, ter muitos amigos – e sem precisar conviver com a chatice de algumas pessoas, o mau humor de outras, sem TPM... Relacionamento interpessoal é zero. Fora da net tornou-se chato, cinza, sofrível. Mas se querem saber a verdade, a vida não “tornou-se” coisa alguma, ela sempre foi assim: altos e baixos, pessoas de todas as personalidades, adversidades que temos que lidar e conviver porque somos sociedade. Mas o que aconteceu foi que a internet nos mostrou as maravilhosas oportunidades de sermos quem quisermos, até o que não somos e é essa a grande isca, pois nunca estivemos satisfeitos com o que somos. Adoramos é idealizar a vida. Podemos mudar, ser diferente, não tolerar quem não queremos; para que vamos ser reles mortais então? Aguentar outro ser humano cara a cara, assumir nossos fracassos, nossas falhas e andar de cabeça erguida numa sociedade onde todos parecem vitoriosos e onipotentes em seus castelos construídos virtualmente? Querem saber, acho que temos dado importância de mais para a estética das coisas. Para a reação das pessoas. Para o julgamento alheio. Nos importando de mais em criar um mundo bonito, divertido e alegre virtualmente e nos esquecendo de tentar isso na vida real. Com isso, passamos cada vez mais tempo presos nesse lugar tentando achar alguma coisa que fora dele não encontramos. Precisamos tirar vantagem da internet e não o contrário! Porque quando os recursos do planeta não forem capazes de suprir a nossa enorme demanda, além de ainda não estarmos satisfeitos, vamos viver aonde? Ou alguém aí já comprou seu terreninho em outro planeta? Ouvi dizer que tem umas praias ótimas em Marte...

Esse espaço está se resumindo em nossa vida ao ponto de se torna-la. A internet está nos dando esse poder. Mas o objetivo dela era esse? Afinal, qual é o objetivo da internet? Organizarmos nossa vida, trocarmos ideias e soluções uns com os outros, aprendermos, batermos um bom papo ou criar uma vida virtual paralela? O que você tem feito na internet??

Hoje não tem como saber se a pessoa que vemos no avatar é realmente a que está por trás dele. Será que ela é tão bonita quando a da foto? Será a da foto!? Será tão legal quanto a descrição do perfil? Não dá para saber se aquelas palavras utilizadas para descreve-la é o que realmente ela é ou o que gostaria de ser ou se a sua imagem não passou por um desses “programinhas manipuladores”, porque há um abismo que nos separa. Estamos conectados por abismos de distância! Somos perfeitos e grandiosos, aí clicamos em “sign out” e a ficha cai. A realidade é bem diferente... Sabe quem eu sou?
Um jovem universitário pobre, que não sabe de nada, dependendo do ângulo bonito, dependendo do gosto bem vestido, dependendo da análise verdadeiro, maduro para algumas coisas, mas totalmente inexperiente para outras, que quer te dizer o seguinte: “ – Use a internet mas não seja usado por ela, tire proveito! Pois enquanto você está aqui lendo minhas palavras, a vida está acontecendo aí a sua volta – afasta o seu olhar dessa tela pra você ver. Aproveita o que você leu aqui e saia respirar ar puro olhando para o céu, para o Sol, reflita, pisa um pouco no chão, abraça o seu filho, conversa com ele!, brinca com seu animal de estimação, porque enquanto está aqui a sua vida está acontecendo... Nem mesmo eu – o autor – estou aqui neste momento, porque enquanto está lendo essas palavras (que eu já escrevi), fui viver de verdade...” .

Mas volto! rs rs rs


Trailer OS SUBSTITUTOS (The Surrogates) - Legendado
No filme, “em 2054, humanos vivem isolados interagindo através de andróides chamados Surrogates. Quando assassinatos começam a ocorrer, um policial sai de casa pela primeira vez em anos para descobrir uma conspiração”.



É isso o que queremos!?

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Pensamento é músculo


“- Simples. Eu tenho que falar de uma maneira simples...”.
É esse o conselho que me dou para tentar explicar o que quero. Por quê? Porque o que quero explicar é um pensamento muito complexo e receio que ninguém entenda o que quero passar.



Tenho feito reflexões muito profundas sobre a vida (sobre a mim mesmo). Este blog tem como objetivo fazer o leitor repensar, refletir, questionar sobre a si mesmo, sobre a sua própria vida. Eu mesmo repenso, reflito e questiono o que escrevo aqui sempre. Mas percebi que algumas coisas que posto podem ser difíceis de acompanhar para alguns e isso me fez lembrar de uma época da minha vida – e por essa razão escrevo esse post, que já dou nome: “Pensamento é músculo”. Vou contar uma breve história minha...

Uns anos atrás, acredito que uns quatro ou cinco talvez, era noite e fui assistir a um programa de televisão, onde uma apresentadora (não me lembro quem exatamente) argumentava sobre um tema. Acredito que era sobre Felicidade – não me lembro ao certo –. Porém me lembro muito bem que não consegui entender nada do que ela falou; minha capacidade de entender não acompanhava o raciocínio dela; não consegui assimilar a complexidade da sua linha de raciocínio. Minha visão de mundo era bem fechada e limitada, e até então eu não tinha o hábito de refletir sobre nada. Então achei o programa chato, a apresentadora estranha e em dois minutos (no máximo!) troquei de canal. Juro que até me esforcei para acompanhar o que ela dizia sobre Felicidade, mas a complexidade do seu discurso era tamanha que eu tive dor de cabeça. Foi mais prático julgar aquele programa como chato, desinteressante e sem utilidade para a minha vida.
Só que não me dei por vencido! Como acho que deveríamos fazer com tudo na vida que nos confronta e nos desafia. Não desistir. Você até pode deixar quieto por um tempo, enquanto adquire mais forças, mas numa hora ou outra retorne e tente novamente. Seja o que for.
Naquela época – vai parecer estranho –, eu queria entender aquele programa. Mais que isso, eu queria entender sobre o que ela falava, especificamente. Por que era tão difícil? Nesse momento percebi algo. Quando um entendimento é grandioso ou complexo demais, a gente se afasta e o declara como chato, porque é conflitante. Mas isso só significa que a nossa mente está menor do que o entendimento. Precisamos expandir. Expandir a visão e a nossa existência.

Quando você quer tonificar um músculo, o que você faz? Exercita-o, não é? Seja lá qual for o movimento que você fizer com esse músculo estará trabalhando-o. Você só precisará respeitar os limites do seu corpo. É da mesma forma o pensamento! Pensamento é músculo! Reflexão é músculo! E da mesma forma atrofia e atravanca o movimento (= a vida).
Corpo sedentário é ruim para a saúde? Mente sedentária também! Ao constatar isso passei a praticar reflexão com maior frequência. Mas como se pratica reflexão!? Pensando! Tendo vontade de pensar! Na minha opinião (de leigo), a filosofia dá ferramentas para elaborar melhor as ideias, para estruturar a construção de um pensamento. Como se você fosse um arquiteto. Quanto mais você pensa sobre si mesmo, mais você está refletindo sobre a vida, porque você é a vida! Então refletir sobre si é refletir sobre a vida.

Imagine-se frente a frente com uma parede. Aí, nessa parede você desenha um ponto. Com o seu nariz colado nesse ponto desenhado na parede, você apenas tem a visão do que os seus olhos alcançam. Que é muito pouco. Agora, ao dar um passo para trás, a abrangência da sua visão aumenta. E quanto mais passos para trás você der, mais amplitude a sua visão ganha. Refletir é “dar passos para trás”. Irá chegar um momento (que é o ponto que eu espero que a humanidade chegue) que de tantos passos dados para trás, a sua visão de mundo se tornará você. A parede é você e você é a parede. Não será mais você quem vê, a vida é quem vê através de você.
Mas é lógico que até você chegar nesse ponto e você entender isso tudo, você precisará refletir para “trincar” o seu pensamento. Pensamento sarado! De que forma você faz isso? Pensando, primeiramente, sobre si mesmo nas pequenas coisas do cotidiano. Pensando sobre a sua própria vida no dia a dia. É o que eu faço de uns cinco anos pra cá. Ao deitar a noite (pode ser durante o dia, ao acordar, durante o banho, no quarto ou onde quiser, isso não é “receita de bolo”) pense em algumas atitudes suas. Pense no que você fala. Pense em você mesmo; tente se ver nos seus pensamentos. Esse é o primeiro passo, quando você começar a se ver em terceira pessoa, enxergar a si próprio e se analisar. Essa é a nossa maior capacidade: existir e enxergar a existência.
Então, da mesma maneira quando estamos fazendo abdominais e o nosso condicionamento físico vai melhorando e suportando mais séries gradativamente, é a forma de pensar. Quanto mais você pensar sobre suas próprias ações, mais o seu pensamento se tornará complexo. Caberá mais mundo dentro de você. Mais vida. A partir daí você começará a viver de verdade esse sistema complexo que se chama Vida. Passará a pensar melhor. Falar melhor. Viver melhor. Entendendo o todo.

Eu não sou o “cara” da reflexão, não! Nunca serei. Nunca ninguém foi também. Sou apenas um dos que gostam de pensar e tem curiosidade sobre todas as coisas. Que acredita que o pensamento é um músculo e por isso precisamos malha-lo para criar arte. Refletir para não atrofiar (= alienar). Sabe qual foi o meu maior ganho nisso tudo? Capacidade de aceitar as minhas contradições naturais, capacidade de saber viver com as perguntas sem respostas, capacidade de suportar o sofrimento dos momentos de transição e capacidade de sentir e viver a vida com gozo, vontade, potência e coragem!
Treine o seu pensamento. Questiona. Questione-se. Questionar é viver. A vida é um eterno perguntar sem responder. Não sabemos nem onde nem quando a vida começa; o que ela é ou para onde ela vai. Nós apenas temos a existência. Então, construa a sua de maneira criativa!

Viviane Mosé em Anamnese falando sobre existência, sofrimento, auto-medicação, idealismo, violência, entre outros temas.



Nota: Criei esse post baseado, também, em entrevistas que assisti, na internet, da poeta, psicanalista e filósofa Viviane Mosé. Até fiz uma coisa que não faço a muitos anos, um poema:

Saber (Não) Ser

...Eu
sou.
Sou?
Sei, sou!
Sei? Sei explicar...
Nasci. Respiro. Sinto
calor. Pensamentos. Dor!
Medo... Angústia... Amor... Alegria!
Eu sou... Sabia.
Sou ideal. Sou verdade . Sou certo? Mentira!
Serei morte então, isso sei!
Se serei morte, sou Vida.
Mas há Vida!? Não sei se sou, como sei?
Não sei explicar...
Não há vida! Nem morte!
Há o não
sei se sou,
nunca serei,
sempre fui
eu...

(Jonas Souza)