sábado, 22 de maio de 2021

SOMOS HERÓIS, NÃO DEUSES


     O texto de hoje tem muito a ver com o anterior. Nesse eu gostaria de falar sobre Vulnerabilidade. Ou melhor: vulnerabilidades. Pensei sobre esse tema durante essa semana por uma série de razões, mas principalmente por conta do momento atual que estou vivendo. Há alguns meses me desliguei de meu último trabalho e estou atualmente trabalhando em outro emprego. Para mim é impossível não associar isso à postagem de hoje, ao que vivenciei nesse período nessa transição e ao que ainda estou vivendo. São interessantes reflexões. Valiosos aprendizados a minha vida.

     Quando me desliguei de meu último emprego, a primeira coisa que me chamou a atenção foi editar meu perfil no LinkedIn, porque quando fiz isso e selecionei uma opção para deixar público aos recrutadores que eu estava disponível no mercado de trabalho, automaticamente seria possível disparar em minha rede a seguinte a frase:

"Olá a todos. Estou procurando emprego e agradeceria seu apoio. Agradeço, antecipadamente, por quaisquer conexões, conselhos ou oportunidades que você possa oferecer.#OpenToWork"

      Imediatamente me bateu uma sensação de vergonha. Uma vaidade – descabida, eu sei. Mas foi uma sensação desconfortável de exposição. Ficava me perguntando: Assim todos vão saber que estou desempregado e buscando emprego, e eu não sou capaz de conseguir um novo emprego sem precisar ‘disso’?!”. Levou alguns poucos minutos até eu pensar racionalmente e decidir publicar, mas foi tempo o bastante para me fazer refletir sobre o meu orgulho. Essa arrogância. Uma autossuficiência. Sobre uma total falta de capacidade de me mostrar frágil. Vulnerável. E humano! De repente uma pessoa curtiu. Outra curtiu. Alguém compartilhou essa postagem. Outra pessoa comentou. E eu me senti abraçado. Protegido. Aliviado.

      Ainda sem entender direito o que havia acabado de aprender com isso, fui seguindo os dias procurando emprego, me cadastrando em vagas e enviando currículos. Pouco a pouco, os amigos, os familiares, inclusive pessoas que eu não esperava começaram a me ajudar de variadas formas. Fosse me marcando em postagens de vagas. Me enviando anúncios de oportunidade de trabalho. Me recomendando pessoalmente algumas vezes até. Mas novamente me indagava: Eu preciso mesmo da ajuda deles? Não sou capaz de conseguir um novo emprego sozinho, por méritos próprios?” (como se fosse algum demérito obter algo com o auxílio de outra pessoa!). Novamente eu sentia que estava sendo orgulhoso demais e logicamente havia "algo ao meu redor” tentando me ensinar…

      Arrumei emprego na minha área. Iniciei. Mas embora possuindo larga experiência em RH, especialmente em processos de departamento pessoal, precisei aprender as novas atividades nesta empresa, porque cada local possui suas particularidades de trabalho. Sistemas diferentes. Processos internos diferentes. Legislações específicas. Outra cultura organizacional! E isso demanda flexibilidade da nossa parte. Abertura ao novo. Paciência. Humildade para aprender. Humildade para pedir ajuda. Mas, novamente, a capacidade de aceitarmos ajuda! Foi pensando sobre tudo isso e por sempre observar movimentos similares em mim ao longo da minha vida e nas pessoas nas diversas empresas em que trabalhei que resolvi escrever sobre isso. Sobre as nossas vulnerabilidades e o quanto é importante desenvolvermos uma característica de mostrarmos isso em nossas relações, sejam profissionais ou pessoais.

     Eu me refiro a uma capacidade de nos mostrarmos frágeis e abertos à ajuda. Por que somos tão orgulhosos? Por que precisamos fazer tudo sozinhos? De onde vem essa autossuficiência? Estamos tentando provar o quê, para quem?! É claro que esse meu comportamento diz muito sobre a minha infância e a forma como fui educado pelos meus pais. E estou trabalhando isso na análise. Mas a questão a nos perguntarmos sempre nessas situações é: “Será que precisa ser assim?. Quando decidi me desligar de meu último trabalho, eu tinha muito claro na minha mente que iniciaria uma nova Jornada do Herói. Para quem nunca ouviu sobre isso, recomendo que leia O Herói de Mil Faces de Joseph Campbell.

     É claro que não é fácil dizer adeus quando há a necessidade de virar a página. Dói muito. Choramos sentindo que nada mais será como antes. Mas em algum momento a dor daquilo que se partiu abre espaço à esperança do novo que vem surgindo. E eu sempre associo esse momento com o herói caminhando num deserto durante a chamada noite escura da alma, mas após esse período sombrio chegará a aurora! O raiar do dia é certo então. Nós só precisamos continuar em frente.

     A grande lição que aprendi... Ou melhor, que estou aprendendo é pedir ajuda. Aceitar ajuda! E para isso é importantíssimo demonstrarmos onde dói. Onde estamos feridos. Qual é a nossa vulnerabilidade. Chega de orgulho bobo. A pandemia tem nos mostrado que podemos mais com esforços coletivos. Somos falíveis. Frágeis. Pequenos. Passamos por dificuldades e não precisamos sair delas sozinhos. Obtive esse novo emprego com muitas mãos. Estou aprendendo com outras tantas. Admito que tenho dificuldade de pedir ajuda. Principalmente de aceitar. Mas na Jornada do Herói, o nosso herói também busca por conselhos. Recebe apoio. Porque ninguém consegue nada na vida de fato sozinho. Nem precisaria ser assim. Somos seres interdependentes. Quando pedimos ajuda revelamos a nossa pequenez e através de espelhamento o outro se identifica conosco. E quando aceitamos ajuda, damos a quem nos ajudou a sensação de importância em nossa vida. E esse laço que nos une é constituído do sentimento mais belo que pode existir: o Amor Fraterno!

E aí, você já ofereceu ajuda a alguém hoje? Ou será que é você quem está precisando de uma mão aí? 🤝🙂

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