Quando olho para
trás para cada mês deste ano e tento fazer uma espécie de retrospectiva, é inevitável
me fazer a seguinte pergunta: “Que ano foi esse?”.
Em muitos momentos
ao longo do ano, tive a impressão de estar pisando em ovos ao ver as pessoas ao
meu redor se agarrando a crenças e opiniões de forma muito radical. O ano
inteiro, mais especialmente no segundo semestre com a proximidade das eleições,
só se ouvia falar de “nós” e “eles”. E podemos classificar esses “nós” e “eles”
de inúmeras formas. Esquerda e direita. Verdadeiro e falso. Certo e errado. Bem
e mal. Deus e o outro. Era tanta dicotomia com polarizações e opiniões tão
rasas e superficiais que em muitos momentos me perguntava se precisava tudo
isso. Brigas entre familiares. Discussões entre colegas de trabalho. Entre
amigos. Pessoas desfazendo laços por conta dessas diferenças, onde a maioria
das discussões começavam com o gancho da política e corriam para todos os
campos, fosse a religião, a sexualidade, a regionalidade, a cor etc. Isso só me
provou uma coisa: nós todos precisamos trabalhar mais a nós mesmos; a nossa
tolerância; aprender a enxergar o outro e a respeita-lo em toda a sua
diferença. O outro não é nosso inimigo. O outro é só uma pessoa que foi criada
por uma família diferente da sua, que teve outras experiências e percepções na
vida e tem as suas próprias subjetividades. Talvez para alguns isso que irei escrever
aqui seja difícil compreender, mas uma coisa é fato: o outro é um mundo! Cada
pessoa carrega em si um mundo em toda a sua complexidade. E aí entra o gancho deste
post, que ao meu ver me ensinou muito durante 2018. A gente não muda o outro! O
outro se muda quando quiser, se quiser. E não deveria haver problema aceitar
que ele seja assim.
Ver um homem que
beija outro não deveria ser problema para ninguém, além dos dois. Ou das duas. O
que duas (ou três) pessoas fazem, sexualmente falando, diz respeito a essas
pessoas, e quem se intromete está se intrometendo onde não é chamado. Simples
assim. Me desculpe se isso fere os seus princípios éticos/morais/religiosos. Se
incomoda tanto feche os olhos, não busque ver nem saber ou se intrometer nisso.
Não traga isso para a sua vida e arbitre sobre o seu corpo. O que o outro faz
da sua vida, do seu próprio corpo não me interessa. Interessa a ele! Se um
cidadão se declara petista porque comunga das mesmas ideias do partido ou um outro adere a ideia de ditadura não me interessa. Não é ser omisso ou
demasiadamente neutro, é só aceitar que o outro é diferente, pensa e sente
diferente. E está tudo bem ele ser assim. Democracia não significa todos serem
iguais, muito pelo contrário, é o encontro das diferenças de forma civilizada. Legal.
Respeitosa. E politicamente falando, lá nas urnas! Não é dentro de casa, do trabalho
ou na vizinhança que atuo politicamente. A gente exerce nossa política no voto.
E quando o voto da maioria gera um resultado que não nos agrada, precisamos ser
adultos. E por isso existem mandatos.
Significa que tenho
que aceitar aquilo ou aquele que segue caminhos que vão contra tudo o que
acredito? Não. Ninguém é obrigado a aceitar ninguém. Apenas a respeitar! Não
sou a favor nem aceitaria uma ditadura, mas respeito quem ache bom pra si ou
para o país. Eu não sou a favor da legalização da maconha (com as devidas
ressalvas), mas respeito quem use – e esta pessoa não deve nada a mim; seu corpo,
seu dinheiro, seu tempo, ela utiliza como bem entende, isso não me interessa. Mesmo
porque o fato de não ser legalizado nunca atrapalhou ninguém de acessar...
E refletindo sobre esse
movimento, de acordo com a psicanálise, esse ódio que estamos presenciando tem
dito muito sobre os que proferem os insultos. Não sei se você tem consciência
disso, mas tudo aquilo que te incomoda demasiadamente no outro, a tal ponto que
te faça ataca-lo por isso, em algum nível esse movimento está dizendo muito
sobre si mesmo. Se existe um impulso de atacar o outro, de denegri-lo ou até de
extingui-lo, por ele ser diferente, recomendo que entenda melhor o porquê
disso. E rápido! Já que é óbvio que isso está tentando te dizer alguma coisa...
O que seria eu não sei. Não estou aqui diagnosticando nada, nem julgando
ninguém; mas acredito que o que o outro busca fazer com a sua própria vida não
deveria nos incomodar – tanto.
Quem me acompanha
neste espaço sabe que a minha maior dificuldade sempre foi aceitar as pessoas
que pensam diferente de mim. Vira e mexe, eu me via metido em discussões onde ficava
argumentando e rebatendo alguém, no intuito de provar a esta pessoa o quanto ela
estava errada. Sabe o que eu ganhava com isso? Nada de bom. Só inimizades. Era
visto como o moralista chato. Aquele que quando estava chegando numa roda de
pessoas já podia ouvir: “ai, lá vem ele...”. As pessoas não gostavam da minha
companhia. E vamos combinar: quem gosta de um crítico julgador moralista religioso
pregando suas verdades o tempo todo? Ninguém aguenta. É cansativo. O
excessivamente religioso que prega o tempo todo acaba sendo chato. Aquele que defende
seu partido com unhas e dentes é cansativo. A feminista radical; o politicamente
correto do meio ambiente; o extremista da direita; o extremista da esquerda; todos
esses quando começam seus discursos ideológicos, de forma incessante, crítica e
ácida, sem validar opiniões opostas e muitas vezes sem o menor senso do inoportuno,
terminam sendo pessoas difíceis de conviver. E vivemos em sociedade meu Deus! Por
essa razão já faz alguns anos que venho tentando mudar; ser menos rígido e
inflexível, e passei a respeitar a verdade dos outros, porque só a eles diz respeito.
Hoje eu dou uma
ideia a alguém, falo da minha ideologia, mas procuro ouvir como a pessoa pensa.
Sem ataca-la. Sem julgá-la. Numa conversa normal onde o mais importante pra mim
é conhecer o universo do outro. Pode ser que ele não mude com a minha visão de
mundo e nem eu mude como penso, mesmo assim está valendo o encontro, pois o
objetivo não é convencer; é encontrar pontos em comum e principalmente,
conhecer um ao outro. Eu sou católico, mas recebo testemunhas de Jeová na minha
porta. Já os ouvi diversas vezes. Tenho amigos evangélicos que me contam como vivem
sua religião. Aprendo muito. Culturalmente é rico. E continuo sendo católico. A
grande mensagem que quero trazer com essa postagem de fim de 2018 é que
precisamos nos autoconhecer mais. Quando a gente investe em autoconhecimento, descobrimos
dentro de nós mesmos contrastes e contradições, então a partir daí é mais fácil
entender o outro. Não digo para aceitar,
amar ou copiar. Digo para respeitar! Legitimar, autorizar que o outro tenha o
direito – constitucional ainda no nosso
país – de ser o que ele quiser. De pensar, agir politicamente e exercer o seu
credo. Eu me autodeclaro como de esquerda. Está no meu Face, lá na descrição. Mas
no fundo tenho plena convicção também que existem tantos matizes, mesmo dentro
da(s) esquerda(s) e direta(s), que nem sei definir o que seria de fato isso
hoje em dia. As vezes sinto que entre o pessoal da extrema esquerda sou julgado
como de direita e entre os da extrema direita sou considerado muito progressista.
No entanto, não existe uma só pessoa que poderia dizer que me viu discutindo
política. Todo mundo me perguntou este ano em quem eu votaria e não respondi,
nem aos meus próprios familiares. Não votei no Bolsonaro. Hoje eu falo. Mas confesso
que gosto dele, também. Ele tem aquele jeitão mas sinto ser um homem honrado. Não
concordo com algumas de suas ideias, mas em muitas eu concordo sim. Me parecem
bem razoáveis para o nosso país. E não estou traindo a “esquerda” por isso.
Como também não estou traindo Nossa Senhora de Fátima, da qual sou muito
devoto, por dizer que gosto da religião evangélica onde eles não veneram santos.
No fim, somos todos
cidadãos. Moramos na mesma casa – as vezes literalmente! Trabalhamos juntos. Precisamos
dar produção. Se faltar algo na minha casa, é no vizinho que vou bater. Não
votei no Bolsonaro, mas entendo que vivo num país democrático onde ele venceu pela
maioria dos votos e que ele e eu somos brasileiros e estamos no mesmo barco, devo
respeitar sua legitimidade como governante eleito. Entre direitas e esquerdas,
religiões e sexualidades, somos todos humanos. Somos de carne e osso. E d’baixo
da terra, após o último fechar de olhos, todos nós vamos feder do mesmo jeito. Existem
pais, mães, filhos, amigos, vizinhos, colegas de trabalho envolvidos em brigas
ideológicas, que me pergunto: será que vale a pena dormir estando com a razão,
se para isso foi preciso brigar com todo mundo? Seja qual for a religião, a constituição,
a ética e a moral, o princípio essencial é sempre o mesmo: não faça ao outro
aquilo que não gostaria para si. Quando estamos juntos somos mais fortes e
nossas diferenças menores.
Tenhamos todos uma boa
passagem de ano e desejo a todos um bom 2019. Regido por Marte ainda!! rs
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