terça-feira, 4 de agosto de 2015

MADEEEEEIRAA!



Estamos vivendo um tempo particularmente muito diferente do que já vivemos. Eu vou partir deste princípio para defender meu ponto de vista. Posso concordar que serei radical em algumas colocações, mas convido você a debater comigo este meu ponto de vista e constatar que a afirmação seguinte faz bastante sentido. Hoje nós perdemos a noção de futuro, e nós não sabemos o que fazer!

Mais do que qualquer outra época, o futuro tem se diluído gradativamente. Sim, falo com a propriedade de alguém de 27 anos, que apesar da pouca idade vê diferenças muito significativas nas últimas décadas. Algumas delas então. Quando criança, por volta dos meus sete anos de idade, me lembro que era bastante comum os adultos ao meu redor me perguntarem qual era o meu plano de vida, qual era o meu projeto para o futuro. Observava nos mais velhos, tanto de minha família como da vizinhança onde morava, uma motivação a criar uma carreira profissional; observava que eles construíam suas vidas muitas vezes trabalhando para uma única empresa até. Na escola, nós tínhamos uma preocupação grande em estudar, em adquirir conhecimentos que nos garantissem uma melhor condição de vida no futuro; eu me lembro que estudar era muito importante na construção de um futuro melhor. Os relacionamentos também eram mais duradouros, mais sólidos, assim como me pareciam mais importantes, as pessoas se esforçavam mais para manter laços de amizade, de namoro, de casamento.

E por que isso tudo foi importante? Do meu ponto de vista acredito que isso sempre será importante para a manutenção dessa sociedade que criamos. Uma sociedade baseada – ainda – por instituições verticais, com poderes centralizados, centralizadores, que só faz sentido enquanto temos uma noção de futuro, enquanto temos a crença da existência de um amanhã. Enquanto acreditamos que no futuro as coisas serão (ou poderão) ser melhores, justificamos qualquer investimento nosso de energia e tempo. “Vou estudar muito hoje, para obter um trabalho melhor amanhã”. “Vou dedicar minha energia e meu tempo extra neste trabalho, para construir uma carreira nesta empresa”. “Vou sacrificar desejos e vontades efêmeras, para realizar um propósito futuro”. “Para se construir uma vida leva-se tempo, então para gerir bem um país também”. A nossa sociedade, da forma como ela foi estruturada, precisa então da crença de um futuro, precisa que as pessoas invistam sua energia e seu tempo no presente objetivamente, concentradamente, em alvos únicos para que ela possa se manter.

O problema é que a situação mudou radicalmente. E tem mudado rapidamente. A realidade hoje é tão assustadora, tão precária e necessita de medidas tão urgentes que temos uma sensação de morte eminente. Hoje nós não pensamos no futuro porque em primeiro lugar nós o tememos! O cenário atual não nos garante no futuro nem sequer a vida, quiçá uma condição melhor. Pedir a um jovem que sacrifique seu presente para construir o seu futuro é motivo de piada. Que futuro? Aquecimento global; catástrofes naturais; escassez; roubos de dinheiro público, trapaças políticas; inflação, instabilidade econômica, desemprego crescente; aumento de criminalidade, de violência, de mortes? Não... o futuro dele é incerto. É inexistente. Assim como o seu e o meu. Na idade média, o homem abriu mão do seu presente em nome do Paraíso. Na modernidade, o homem abriu mão do seu presente em nome da Tecnologia, de um Futuro melhor. Hoje nós não abrimos mão de nada! Penso que se Nietzsche nos visse hoje repensaria alguns conceitos de sua filosofia. Ele veria que o niilismo talvez tenha sido modificado; pela primeira vez na história o homem não abre mão do seu presente em nome de nada. Hoje ele vive a vida, desejando curtir e gozar cada instante. Impulsivamente. Despreocupadamente. Unicamente...

Se nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Acredito que esse nosso temor, essa nossa descrença no futuro, é o que nos tem feito viver “melhor” (bem entre aspas) o presente. Hoje pelo menos estamos mais interessados na máxima “carpe diem” do poeta Horácio, “aproveite o dia”. É o que queremos agora. Ninguém quer se sacrificar mais em nome de nada. Vemos evasão na escola. Rotatividade de pessoal nas empresas. Descrença no poder público. Mas lembra que eu disse logo acima que ainda vivemos numa sociedade com instituições verticais e centralizadoras que necessitam de uma noção de futuro para se manterem? Eis aí o nosso problema. E ninguém está sabendo o que fazer. O Estado, o setor privado, a escola, a família, a igreja, todas as intuições estão falindo - nos moldes antigos. Então como gerir uma sociedade que foi estruturada através da crença de um amanhã, quando a realidade atual tem nos tomado essa crença?

Eu só vejo dois caminhos. Ou as instituições reconstroem a noção de futuro no consciente coletivo, fazendo com que as pessoas acreditem novamente no amanhã e assim – quem sabe – voltem a investir energia e tempo para o futuro. Alternativa essa que acho impossível de acontecer. Ou as instituições se transformem completamente a partir de suas estruturas, horizontalizando-se. E quando digo isso é alterar radicalmente mesmo a forma como educamos, como trabalhamos, como nos relacionamos, como exercemos nossa fé. Abrindo a novos formatos, mais flexíveis, mais humanos, mais informais, menos programados e mais momentâneos e circunstanciais. Derrubando conceitos embutidos como projeto de vida, plano de carreira, planejamentos a longo prazo. Para isso todas as instituições precisarão rever seus paradigmas sem preconceito, sem julgamento, com maior aceitação à diferença, à pluralidade, à diversidade. Se não derrubarmos e reconstruirmos o nosso sistema de sociedade agora, será muito difícil determinadas instituições sobreviverem amanhã!



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