sábado, 23 de maio de 2015

SUBVERSIVO



Abrigo duas características distintas entre si. Enfrento as circunstâncias adversas e questiono os cenários, as vezes com altivez e bravura até. Mas também sei conter firmemente um impulso de discordar, quando acredito que a ordem precisa do respeito necessário para se prevalecer desta forma, na paz. Nesse segundo caso, note que associo conceitos como ordem, concordância e paz; embora na prática muitas vezes posso desconsiderar isso. Nessa dança de contrários, até me confundo e algumas vezes sofro para descobrir qual Jonas deve ganhar forma, qual Jonas quero que tome a frente de uma situação. As vezes acontece de a própria situação acabar escolhendo por mim... Ouvi a um tempo atrás que sou o que se pode chamar de subversivo. Não sabia o significado dessa palavra e fui consultar. Ao descobrir fiquei curioso com essa denominação. Embora concordo em vários aspectos...

Quando mais jovem, brigava ferrenhamente com o meu pai porque infelizmente eu não era o filho perfeito que ele tanto sonhava. Ser um filho passivo e aceitar o que ele ensinava como tudo o que se poderia, e deveria, aprender na vida, não deu muito certo. Isso me irritava a beça, de uma maneira que você não faz ideia. Por essa razão eu fui muito rebelde e desobediente. Eu retrucava as suas verdades, pois aquilo engasgado na minha garganta, que doía no meu peito e fazia meu corpo ferver de raiva também merecia ser exposto. Afinal, por que apenas ele podia gritar?! Se eu era o culpado (como sempre me sentia ser), eu tinha de me defender também; ou não é isso o que a justiça prega? Infelizmente nossos debates sempre desembocaram em brigas intensas, porque apesar de meu pai ter sido bom em alguns aspectos, ele foi também fechado demais em suas convicções; quase um ditador. E eu nunca suportei pessoas que sabem facilmente gritar suas verdades mas não tem coragem o suficiente de ouvir o que eu tenho a dizer. Penso que é preciso as vezes mais coragem para ouvir certas coisas do que falar.

Na fase escolar tive problemas com professores que se colocaram à frente da sala como seres imponentes; intocáveis; fontes únicas de sabedoria. Só eles podiam ter a palavra final. Só eles podiam saber todos os assuntos. Apenas eles decidiam qualquer coisa na sala, sem ter de ouvir a opinião do resto da classe; se éramos ali a maioria, mesmo hierarquicamente inferiores naquela situação, deveríamos ser respeitados e ter as nossas questões levadas em consideração também. Era eu lembrar disso que eu levantava a mão para questionar e a briga começava. Infelizmente aqueles que se sustentam em títulos nem sempre suportam perguntas; é permitido tudo, menos questionar a autoridade. Para mim as pessoas grandes estão abertas para colocar em xeque seus próprios conceitos se for necessário; um homem que não se auto-reavalia, nem se permite contrariar, é um tolo maior; e se este tiver poder nas mãos, torna-se ainda muito perigoso.

O tempo passou, vivi algumas experiências e sofri bastante, por isso mudei minha “abordagem”, por assim dizer. Hoje quando me deparo com uma situação estressante ao invés de sacar as armas, me desarmo. Como um radar, sei quando algo está vindo ao meu encontro. Antecipo a situação e consigo administra-la e me administrar melhor. Controlo a minha respiração. Conto até dez. Quando num impasse com outra pessoa, presto atenção ao que estou falando, a como estou falando, assim como penso no que gostaria de dizer. Procuro não incitar mais a discussão e mantenho o foco na conciliação. Mas também presto bastante atenção ao quanto a outra parte está aberta, para assim não trair aquilo em que acredito. E na pior das circunstâncias o aviso é único: saia de discussão. Antes de perder completamente o controle é melhor parar. (Eu tento parar) Prefiro sair como o perdedor ou como o errado se for o caso, mas já não pago para ver até onde a discussão vai dar. Nunca acaba bem.

Segurar um impulso é muito mais difícil do que suportar as consequências dele. Essa tarefa chega a ser física até. E saber discernir entre os dois polos é estágio para os mais evoluídos: quando conter determinadas emoções e quando se deixar agir. Para quem gosta de argumentar como eu, este é um bom desafio. Eu não quero com este post dizer que o correto seja um ou outro absolutamente, pois acredito que todo extremo pode ser perigoso. A mim me parece que o caminho do meio talvez seja a melhor pedida. Um caminho que contemple você saber ouvir o ponto de vista do outro, mas também se fazer respeitar o seu ponto de vista, sem para isso ter que impôr nada; as pessoas não mudam porque impomos as coisas, elas mudam por si só, quando querem - ou conseguem. Acho importante imprimirmos nossa opinião no mundo, mas brigar por isso... apenas em raras exceções.

Finalizo com dois conselhos. Primeiro. Tudo é energia. Toda energia procura vazão. Quando ela não é exteriorizada, é interiorizada, ou seja, se você não explodiu, certamente você implodiu. Então, se você não canalizar de alguma forma essa energia retesada em você, ao longo do tempo ela vai te adoecer de alguma forma, pode acreditar. Segundo. Eu sei que é difícil saber o que fazer (conter ou agir) quando o sangue realmente ferve. Nesse momento a gente quase não pensa, nem em nós, nem nas outras pessoas. Mas, para desencargo de consciência, eu sempre refleti assim: se após o ocorrido, já com a cabeça fria, eu não me arrepender de uma atitude tomada, sei que fiz a melhor escolha, dentro daquilo que me foi possível escolher. Aprendo com isso, e sigo em frente.

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