"A claridade é uma justa repartição
de sombras e de luz." (Goethe)
Eu sempre
fui atraído pelo lado dark da vida. Desde criança
sempre vejo mais beleza em personagens que transparecem sentimentos
que por vezes não são assim tão ideais como a sociedade gostaria, pois me parecem honestos. Como também sempre me incomodou as pessoas que são
“redondas” demais, boas demais, perfeitas demais, com
esse excesso de ordem em tudo. Pra mim falta caos aí. Um caos que
obviamente está travestido de bondade, de humanidade, de um falso
otimismo. Pior do que um otimista fanático, é um falso otimista.
Aquele se esforça demais para transparecer o que está transparente
que não se sente. Chega a ser cômico, as vezes até assustador...
Acho
muito justo assumir uma raiva e um ódio que estejamos sentindo. Pois
são verdadeiros! São sentimentos que fazem parte da natureza de
qualquer pessoa querendo ela ou não. Fingir que temos apenas
sentimentos puros e pensamentos imaculados, além de ser uma grande
mentira, não tem razão pra isso. Afinal, a quem queremos agradar? E
mentir? Já mentimos a nós mesmos o tempo todo. Não somos santos e
nunca seremos. Nem precisamos ser. Até mesmo os santos foram simples
homens um dia, e só foram canonizados, pelos outros, por motivos as vezes escusos, após a sua morte. Acho bacana tentarmos
diariamente sermos melhores, pessoas com atitudes e pensamentos
elevados, mas acredito que isso seja mais uma busca do que um
destino. E não pode se transformar em hipocrisia pois perfeitos e puros nunca seremos. Somos perecíveis, fracos e
falhos. Amamos tanto quanto odiamos. Rimos da mesma forma que
choramos. Desejamos o bem tanto quanto somos capazes de desejar o
mal, e sermos pessoas más! O fato é que a gente esconde, se
esconde. Dissimulando e maquiando as expressões pra debaixo da moralidade.
E nos prestamos a um papel bonito que se encaixe perfeitamente nos
padrões estabelecidos, como partes de um rebanho que nunca sabe de
onde vem nem pra onde vai.
Isto aqui
não é nenhuma apologia à maldade, não estou pregando que devemos
ter comportamentos ruins, indignos, apenas afirmo ser pura besteira fingir que
eles não existam. Todos nós temos um lado dark que cutuca
nossa consciência quase sempre. O fato de não darmos vazão aos
sentimentos “menos nobres” com facilidade não faz com que eles não existam.
Eles existem e precisam ser encarados. Falo por experiência própria. Acho muito revelador quando reflito sobre o ódio que estou sentindo à
determinadas coisas ou pessoas. Como também é bem produtivo quando
dialogo com a minha raiva. Aprendi a me aceitar melhor quando fiz as
pazes com a minha inveja, com o meu egoísmo, com o meu conformismo, até com o pior de
todos, o Orgulho! Estão aqui, sempre estiveram, e não me deixarão nunca,
fazem parte de mim e bebo desse veneno diariamente. E pra quem não
sabe utilizamos os próprios venenos para elaborar a sua cura. Assim
sendo, acredito que precisamos conhecer o inferno para reconhecer o
céu.
Eu
entendo porque é preferível dizer que gostamos da cor branca ou
invés da cor preta. As religiões sempre associaram a luz ao Sagrado. E
assim fazem até hoje! Da mesma forma que as sociedades intelectuais
sempre associaram a iluminação ao conhecimento. O branco
simbolizaria a pureza e a evolução, enquanto o preto o pecado e o mal. É comum
escolhermos os caminhos mais claros pois temos fé que estes nos
conduzirão à salvação; é comum acharmos que se darmos espaço
apenas aos nossos pensamentos mais nobres e somente às atitudes
humanitárias cairemos nas graças do Criador. Pra mim isso tudo é
baboseira religiosa das piores. Até homens considerados santos, que
desenvolveram estigmas, também foram profundamente atormentados. Para falar bem a verdade religião é uma coisa que sempre me
incomodou, seja ela qual fosse. O fato de existir um
mestre religioso numa posição que detém o poder de pregar, julgar e muitas vezes sentenciar ao mesmo tempo, chega a me dar medo pois é
muito poder concentrado numa mão humana. Não vou me estender nisso
pois iria longe...
Esse post fala sobre esse lado dark das coisas. Traz à luz uma
parte pútrida, fétida da vida, e igualmente rica. Uma parte sombria ignorada da nossa
personalidade. Um lado oculto que pode nos ensinar muito. De vez em quando dê
mais atenção a essa parte. Dê ouvidos a sua ira. Sinta toda a sua dor. Beba desse ódio. Delicie-se
destes venenos. Mergulhe fundo em todos os cantos, até os mais obscuros e labirintosos
de si mesmo. Conheça-te a fundo. O Autoconhecimento é uma prática de conhecer a si
mesmo, e o nosso universo interior é bastante vasto. Quando retornar à
superfície após cada mergulho vai perceber que da mesma forma que o
esterco a terra fertiliza, a escuridão a alma santifica!
Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem (VITRIOL)
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