domingo, 9 de setembro de 2012

"Desfronteirar" o Ser


No post anterior, falei sobre o pensamento linear e sobre a necessidade de desenvolvermos um pensamento complexo nos dias atuais; um pensamento mais elaborado, que leve em consideração a globalização.


O pensamento - unicamente - cartesiano (aquele linear), que desconsidera o todo, a contradição e a imprevisibilidade, é o fundamento de uma atitude nossa nociva nos dias atuais, que é dar respostas rápidas aos problemas de forma quase mecânica. “Sim ou não”. “Dois e dois são quatro”. “Logicamente isso levará naquilo”. Ao seguir essa fórmula engessada de raciocinar, cometemos dois equívocos principais: primeiro, não raciocinamos efetivamente sobre o problema e segundo, nós acreditamos ter domínio absoluto sobre a questão. Isso é o que tem levado a sociedade moderna aos graves problemas socioambientais que vivemos. Problemas que não admitimos que fracassamos em solucionar. A globalização mudou a realidade. Hoje nós vivemos, nos relacionamos, nos comunicamos, criamos, aprendemos e devemos educar de maneira diferente de quando o modelo linear foi criado. Na época, não existia internet, terrorismo, aquecimento global, nem sete bilhões de pessoas no mundo. A realidade mudou, mas o modelo permaneceu. A gente ainda aprende nas escolas o raciocínio linear e o reproduzimos repetidamente. “Primeiro uma coisa, depois outra, em seguida outra...e o veredito absoluto”. Num ritmo sucessivo, que desconsidera variáveis e imprevisibilidade. Hoje já se sabe que esse tipo de pensamento não garantirá a sobrevivência humana; o modelo linear, unicamente, não serve mais.

Qual o objetivo desse post?
Quero nos fazer pensar sobre o pensamento complexo de forma empírica. Prática. Não sei se é porque a discussão ainda é recente, acho que estamos de mais teóricos! Falamos da necessidade de desenvolvimento do “pensamento em rede”, mas não se fala sobre o assunto com praticidade. Como desenvolver esse “tal” pensamento complexo é o que deve nos interessar. Por onde começamos? Será que o caminho é apenas através da Educação (básica!)? E quem não estiver estudando (resolva-se sozinho!)?
Sinceramente, acredito que fórmulas concretas e exatas nunca existirão mesmo. Eu sei. O que precisaremos é constantemente analisar o que funciona e o que não funciona mais, rever e recriar o modo de olharmos e pensarmos sobre tudo - sempre -. No entanto, quero abrir um parênteses: não quis dizer no post anterior que o pensamento linear não sirva. O ser humano usa a linearidade para ordenar os pensamentos, raciocinar e dar uma síntese. De outra forma a gente enlouqueceria. O pensamento linear então é necessário, sim, sempre será. Porém, diferente de uma máquina como um computador por exemplo, o cérebro humano suporta complexidade. Não só suporta, como trabalha bem com a complexidade. O que isso significa? Na prática, mais do que criar um modelo de pensamento novo, precisamos de um estilo de vida complexo, onde continuaremos utilizando o pensamento linear para ordenar as tarefas diárias, porém, misturando tudo simultaneamente! Entendendo que não controlamos tudo, mas entendendo de tudo um pouco!

O que acontece nos dias de hoje é que, por exemplo, num curso superior, quem estuda uma determinada área acaba só estudando sobre aquela área. Os aprendizados de outras áreas não se misturam. Quem faz determinada atividade, termina se limitando apenas aquele universo. Como se o conhecimento não fosse integrado. Por quê? Porque acredita-se que a simultaneidade e a diferença confundiriam o aprendizado, o cérebro. Eu não acredito nisso! Se a realidade presente nos prova, que futuro será da diferença, da pluralidade e da multiplicidade, o estilo de vida que devemos ter daqui em diante não pode seguir moldes isolados. Não vai funcionar. Não sobreviveremos assim. No futuro, acredito que os profissionais mais completos para trabalhar não serão aqueles experts numa única área, mas sim aqueles que saberão de tudo um pouco, tendo ampla visão do todo.
Nós precisamos desautorizar o mito, que diz que o nosso cérebro enlouquece com a complexidade. Que ele não suporta ou não trabalha bem com a simultaneidade. O cérebro humano é superior ao mais avançado computador existente (na minha opinião), porque ele é capaz de gerir um estilo de vida não linear, sem fundir, sem queimar, sem entrar em pane. Somos os únicos animais que suportam isso. Sabemos que vivemos, que um dia vamos morrer e que, em algum nível, somos controlados. O homem utiliza o “fio” da racionalidade apenas para gerar uma síntese de conhecimento, porém ele não é refém desse “fio” no processo! A máquina não calcula o imprevisto e a contradição, por isso não suporta o erro, mas o ser humano suporta! A gente cai, levanta e continua. A gente aprende errando e se supera.

Devemos sim nos dedicar em tudo até chegar a uma conclusão. Porém, não podemos acreditar que um conhecimento esteja desconectado do outro ou que vamos aprende-lo isoladamente. Temos que aplicar esse modelo complexo nas nossas atividades diárias. Ler de bula de remédio a Shakespeare. Assistir de desenho animado a documentários sobre a fauna e a flora. Ouvir de "eguinha pocotó" a Frank Sinatra. Praticar de exercícios para o corpo a exercícios para a mente. Refletir o nosso ponto de vista e todos os outros pontos de vista sobre a mesma questão. Contar piadas e filosofar. Dançar samba, forró e valsa. Precisamos é adquirir um estilo de vida múltiplo. Diferente. Pluralizado. Sem preconceitos. Parar com esse negócio bobo de "isso não é da minha área". "Isso não é minha praia". Tudo nos interessa! Tudo pode ser interessante! Enquanto estou sentado na carteira, em sala de aula, assistindo meu professor, o MEC está discutindo sobre mudanças na Educação, existem projetos para aumentar a malha ferroviária brasileira, estamos em ano de eleição, tudo o que está acontecendo fora da sala de aula em que estou me atinge (ou atingirá) sensível ou insensivelmente, quer eu queira ou não. Como na frase, que desconheço o autor: "O bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque.". Assim sendo, nós não podemos achar que o saber se fará isolado, não integrado. Mais do que um novo modelo de pensamento, precisamos “desfronteirar” o Ser!


Um último conselho: misture sim, mas nem por isso perca o foco!

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