Você não tem ideia do quanto eu queria escrever sobre esse tema de
hoje, já queria falar sobre isso há um bom tempo. Em primeiro lugar já peço
desculpa pelo textão. Nem todo mundo curte quando a postagem fica grande, quando
isso acontece alguns até desistem nas primeiras linhas, infelizmente. Mas tenho
certeza que esse tema será relevante para você, não só como pessoa, mas
principalmente profissionalmente, já que isso impacta diretamente no perfil do profissional do futuro (que hoje já se faz presente). Trarei algumas
dicas e alguns exercícios que eu mesmo faço, mas o mais importante é a forma
de encarar a vida daqui em diante com esses novos conhecimentos. Peço
paciência para que você tente lê-lo até o fim. Falarei nessa postagem em duas
ideias centrais que se encontrarão ao longo do texto e tentarei ser o máximo
didático possível já que essa postagem terá uma cara "meio técnica", mas garanto que é
mais simples do que parece. Como esse é um blog pessoal farei alguns links com
experiências e reflexões minhas em episódios específicos da minha vida. Vários conceitos
que existem sobre aprendizagem, sobre comportamento e formação da nossa
personalidade, que começou lá com a Psicanálise, estão sendo reformulados a
partir de novos estudos de Neurociência. A postagem de hoje então é sobre abertura
à novas ideias e não se pôr em caixas.
Era década de 90,
eu não devia ter mais do que oito anos quando li uma matéria numa revista falando
sobre neurônios, sobre a perda deles durante a vida e o impacto disso ao ser
humano. É engraçado, mas não esqueço o medo que eu tinha de perder neurônios...
Eu sei, você vai dizer, “que medo mais nerd esse”. Ok, tudo bem, mas eu sempre
fui um nerd. Sempre fui o esquisitão da turma – sou até hoje. Na matéria falava
sobre manter hábitos regulares de leitura, fazer palavras cruzadas, jogo da velha,
sobre praticar atividades físicas e ter uma alimentação balanceada também. Isso
tudo para retardar uma perda neuronal natural ao longo da vida. Mas em
ponto nenhum dessa matéria falava sobre criação neuronal. Levei esse
assunto à sala de aula e perguntei a minha professora na época como fazer para criar
novos neurônios. E ela me respondeu:
- É uma boa pergunta,
mas até onde tenho conhecimento não é possível. Nascemos com uma quantidade de
neurônios que ao longo da vida vamos perdendo. Esse é o processo natural da
vida. O que podemos fazer é minimizar essa velocidade através dos hábitos que falam
na matéria dessa revista, por isso é importante o hábito da leitura!
Fiquei
decepcionado com isso. Não queria concordar. Mas de fato tudo o que lia ou assistia
sobre aprendizagem e como funcionava a nossa mente batia nessa tecla, de que só
perdíamos neurônios ao longo da vida. Mas na minha visão isso era muito
determinante, porque colocava o ser humano numa caixa sem muita autonomia
para se superar. E mais estranho ainda é que nós mesmos adquiríamos crenças
que iam justificando ficar nessa caixa!! “Fulano é bom em Matemática, por
isso que ele não é bom em Português.” Ou o contrário disso. “Fulano não se
sai bem na escola, porque seu negócio é mais a música.” “Fulano é bom em
Artes, porque seu pensamento é mais voltado para isso, então não é muito bom nas
outras disciplinas.” “Quem cuida muito do físico ou da estética é porque
é burro.” Ou o contrário. Perceba que são extremos e não tem como uma
pessoa participar das duas polaridades. Eu me lembro quando estava no cursinho preparatório
para vestibular, queria prestar Unicamp. E eu já era formado em Administração. Quando
os professores do cursinho perguntavam qual curso prestaríamos, notava bastante
espanto neles quando respondia “Ciências Sociais”. Quando os indagava, me
respondiam que imaginavam “que fosse para alguma Engenharia”. No dia da
inscrição, sabe-se lá porquê, coloquei como segunda opção Ciências Sociais
(queria me especializar em Ciências Políticas), pus como primeira Ciências Econômicas.
Não passei – por pouco – na primeira fase. Será que eu não teria passado, se
tivesse seguido mais o que de fato eu queria?!
Aprendemos a colocar
as pessoas em caixas. Pôr rótulos! Fizeram isso conosco um dia e acreditamos. Acreditamos
que uma pessoa é boa em Português, porque nasceu com isso. Escrevo bem aqui no
blog, porém olhe as primeiras postagens, verá mais erros gramaticais que hoje. E
na época da escola era bom em Língua Portuguesa e igualmente bom em Matemática.
Por que a gente acredita que sendo bom numa se tem mais dificuldade na outra?
Quem disse que são saberes antagônicos? Ah! Já sei. Foi o livro sobre Múltiplas
Inteligências, do Gardner. Não vou discutir que um ser humano pode ter maior aptidão
para uma área de estudo, mas isso não dificulta em outra. Isso é uma crença,
algo que está no senso comum, algo que ouvimos desde criança, chancelamos e
repassamos inconscientemente. Mas não tem respaldo científico. Não é porque uma
pessoa tem um raciocínio lógico-matemático mais elevado, que essa mesma pessoa
não possa ter, também, uma inteligência intrapessoal ou de linguagens significativa.
Muito se acreditava sobre o hemisfério esquerdo e direito do cérebro, mas a
ciência sabe hoje que a funcionalidade do cérebro humano não é tão segmentada e
dividida assim. O cérebro funciona mais como um todo. É só refletir sobre as
grandes mentes da humanidade. Leonardo Da Vinci, pintor, escultor, matemático,
escritor etc. Muitos poderão dizer: “ele era superdotado”. Eu não tenho dúvidas
quanto isso. Só acredito que o que nos impede de alcançarmos resultados
diferenciados tem mais a ver com o que DIZEMOS A NÓS MESMOS QUE NÃO PODEMOS com
o que de fato não podemos fazer. Existe uma diferença entre comportamento e capacidade
cognitiva de fato.
Todo mundo acha
que sou um típico nerd. Engraçado que um nerd carrega aquele estereótipo: esquisitão,
de Exatas, manja muito de informática, é magro demais ou muito acima do peso, usa
óculos, tem a cara cheia de espinhas, avesso a esportes, amante de HQs, sem
tattoos... Isso são rótulos! Parte é verdade, parte não tem nada a ver comigo nem com ninguém, dessa forma fechadinha! Nos meus testes de perfil comportamental por exemplo, de fato
Conformidade é mais elevado. E com isso se pode inferir que possuo maior precisão,
perfeccionismo, detalhismo, acurácia etc. Mas isso só significa
que, dentro desse espectro de atividades e competências, fico mais
confortável, pois tendo a dar mais respostas rápidas com menor esforço. Quando
o RH aplica um teste assim, ele quer avaliar onde o candidato ou o colaborador
conseguirá o resultado mais rápido com o menor esforço. Só isso. No meu
caso, um indivíduo assim vai bem em áreas analíticas, áreas de cálculo, áreas
que demandem atenção maior a DETALHES, como: contabilidade, departamento
pessoal, planejamento estratégico, controle de qualidade etc. Isso significa
que essa pessoa não seria, em absoluto, um bom vendedor? Que é impossível uma
pessoa com esse perfil se dar bem numa área de marketing, publicidade, propaganda,
design? Que essa pessoa não serviria para estar em setores da empresa que demandem
muito relacionamento interpessoal? Não. Não. Não é verdade! Só é “sim”, se essa
pessoa acreditar nisso e quiser. E esta postagem é justamente para recomendar o
contrário disso. Recomendar que você não se coloque numa caixa.
Não queria ser rotulado
de nada em absoluto. Com os estudos mais atualizados sobre neurociência e
comportamento humano veio um termo chamado Plasticidade Cerebral. E isso
é fantástico! Significa que não só somos capazes de produzir novos
neurônios, como estamos constantemente provocando alterações através de novas
conexões neuronais e isso acontecerá a vida toda. Por isso esse termo “plasticidade”.
Hoje se sabe que o comportamento, a personalidade, a inteligência não são estanque,
inatos, imutáveis. Não em absoluto. Nós somos capazes de mudar e nos
transformar em qualquer fase da nossa vida. Basta querer. Os nossos hábitos fazem
em nosso cérebro um determinado caminho neuronal, um determinado circuito. A
partir do momento que adquirimos novos hábitos, forçamos a criação em nosso cérebro
de novos caminhos, de novas conexões. Isso nos transforma! E para essa receita de
autotransformação, você precisa de apenas dois ingredientes: vontade e persistência.
A gente precisa querer algo, mas não só querer, persistir, insistir nisso que
estamos nos propondo. Aí entra o aspecto profissional.
Ontem,
conversando com a minha mãe, ela me contou que seu irmão está desesperado. Meu
tio ligou para ela, contou sobre mudanças que estão ocorrendo em sua empresa e pediu
que minha mãe orasse por ele. Preste atenção. Meu tio trabalha nessa empresa há
décadas, acredito que já se aposentou e continua lá. O setor produtivo onde ele
trabalha está sendo todo computadorizado e estão o ensinando como acompanhar
e monitorar os computadores do setor. Ele ficará responsável por isso. Coitado,
ele está em pânico. Disse a minha mãe que mal consegue dormir. Para dar conta,
ele está agora tendo aulas de informática com os meus primos. Primeiro ponto: parabéns
ele ter aceito! Ele poderia ter se recusado, ter inventado uma desculpa e saído
fora, ele já está aposentado. Ou prestes a se aposentar. Mas ele quis aprender.
Está se desafiando. O segundo ponto é o seguinte: ele está tendo a oportunidade
de aprender algo que em tese ele já deveria estar se mexendo para saber! Não é fácil isso
que vou dizer, mas é real. Nem todos os empregadores poderão ESPERAR você
adquirir novas competências e habilidades para dar conta de um novo desafio. Você
tem que se antever a isso! Hoje, a carreira e o desenvolvimento profissional
estão nas mãos de cada um de nós, não mais na empresa. Não espere que
seu gestor ou empresa desenvolva você. É claro que eles podem, e em alguma medida
até devem, mas essa responsabilidade é sua! Essa responsabilidade é de cada um
de nós. O futuro do trabalho já está exigindo um perfil de profissional que use
muito a sua neuroplasticidade.
Sou analista de
recursos humanos e recebo muitos currículos diariamente. Uma vez me perguntaram
o seguinte: ficar numa mesma empresa durante muitos anos seria ruim por passar
uma imagem de acomodação? A resposta é: depende. Quando estou diante
de um candidato nessa situação, numa entrevista, estou mais preocupado em descobrir
o quanto esse indivíduo se desenvolveu e se transformou, enquanto profissional
e enquanto pessoa, ao longo de sua permanência nessa empresa. Quero saber se houve
participação em cursos ou palestras; se houve graduações ou pós graduações; se a
pessoa assumiu novos desafios, seja em novas posições ou na mesma até; o que
agregou àquela companhia nesse período, onde
cresceu e se transformou com isso; ou seja, estou mais interessado em saber se
houve uma evolução, se a pessoa e a empresa estão melhores por conta desse
relacionamento. Se a resposta for “sim”, independe de quanto tempo a pessoa
ficou no seu antigo trabalho, porque houve ganhos para ela enquanto pessoa e
profissional e para a empresa também. O problema é quando a resposta é “não”,
ou seja, os anos se passaram e a pessoa ficou estagnada, ela não buscou se aperfeiçoar
nem obter novas competências e habilidades. Isso é perigoso. O mundo do trabalho
está mudando rápido, isso exige dos profissionais mais abertura a
novas ideias e pensar fora da caixa. Hoje é requerido que os profissionais de fato
não queiram ficar em caixas!
Para finalizar
essa postagem, gostaria de dizer que muito do que você acredita que não é capaz
é só coisa da sua cabeça, não tem respaldo científico algum. Pense que se muitas
pessoas conseguem, você também é capaz de conseguir. Você não é inferior às
outras pessoas que já conseguiram, não se subestime. Isso vale para iniciar um curso numa faculdade;
se inscrever num curso de dança; frequentar uma academia; aprender um novo idioma; começar alguma
atividade artesanal; iniciar um blog ou um canal no YouTube. Por que não?! O
que te impede?? É apenas a sua cabeça, as suas crenças que te impedem. Dê o primeiro passo, permita-se. Existem
alguns exercícios simples, que eu faço também, que são muito legais para forçar
a criação de novas conexões neuronais. Como por exemplo:
- Experimente usar a outra mão para escovar os dentes, abrir as portas, se ensaboar no banho, para comer e se possível até para escrever pequenas coisas;
- Dormir do outro lado da cama;
- Se tem o hábito de ir trabalhar de carro, um dia da semana vá de moto; se tem o hábito de ir de moto, vá um dia de carro; ou vá a pé; se for mais longe, um dia pode ir de ônibus;
- Se tem o hábito de ir por um mesmo caminho, explore ir por novos;
- Mude de vez quando as coisas no seu trabalho, na sua mesa ou na sua casa de lugares;
- Pelo menos um dia na semana ouça uma playlist de músicas bem diferentes do que está acostumado;
- Experimente novos pratos de comida;
- Sempre que possível faça os pequenos cálculos mentalmente;
- Force-se a chamar sempre todas as pessoas pelo nome, isso te obrigará a memorizá-los;
- E principalmente: permita-se conversar com novas pessoas – faça amizades com pessoas diferentes de você!
O nosso cérebro é
um verdadeiro poupador de energia. Ele quer sempre obter o melhor resultado com
o menor esforço possível, então ele faz de tudo para você criar e se manter num
hábito. E quando você provoca conscientemente pequenas alterações no seu
dia a dia, isso o obriga a “sair do automático” e com isso fazer novas sinapses.
É claro que no início isso vai cansar você. Se fizer por exemplo tudo isso que
listei acima, ao final do dia estará cansado, talvez até com um pouco de dor de
cabeça. Mas ao persistir irá diminuir esses efeitos e obrigará seu cérebro a se
adaptar. Não tenho dúvidas que isso melhorará sua criatividade, sua inteligência,
seu raciocínio, sua vivacidade; se sentirá mais jovem, mais capaz, tudo porque estará
abrindo mais canais, fazendo mais conexões.
Lembre-se dessa
simples receita que vai apenas dois ingredientes: vontade e persistência.
Tenha uma vontade forte de se abrir para novas ideias e persista nisso que deseja
para si ou para sua vida. Tudo começa aí na sua mente, você é a única pessoa
que pode se limitar. A neuroplasticidade prova que você é capaz de mudar.
Basta você querer.