domingo, 29 de setembro de 2019

O Futuro do Trabalho e a Neuroplasticidade


            Você não tem ideia do quanto eu queria escrever sobre esse tema de hoje, já queria falar sobre isso há um bom tempo. Em primeiro lugar já peço desculpa pelo textão. Nem todo mundo curte quando a postagem fica grande, quando isso acontece alguns até desistem nas primeiras linhas, infelizmente. Mas tenho certeza que esse tema será relevante para você, não só como pessoa, mas principalmente profissionalmente, já que isso impacta diretamente no perfil do profissional do futuro (que hoje já se faz presente). Trarei algumas dicas e alguns exercícios que eu mesmo faço, mas o mais importante é a forma de encarar a vida daqui em diante com esses novos conhecimentos. Peço paciência para que você tente lê-lo até o fim. Falarei nessa postagem em duas ideias centrais que se encontrarão ao longo do texto e tentarei ser o máximo didático possível já que essa postagem terá uma cara "meio técnica", mas garanto que é mais simples do que parece. Como esse é um blog pessoal farei alguns links com experiências e reflexões minhas em episódios específicos da minha vida. Vários conceitos que existem sobre aprendizagem, sobre comportamento e formação da nossa personalidade, que começou lá com a Psicanálise, estão sendo reformulados a partir de novos estudos de Neurociência. A postagem de hoje então é sobre abertura à novas ideias e não se pôr em caixas.

            Era década de 90, eu não devia ter mais do que oito anos quando li uma matéria numa revista falando sobre neurônios, sobre a perda deles durante a vida e o impacto disso ao ser humano. É engraçado, mas não esqueço o medo que eu tinha de perder neurônios... Eu sei, você vai dizer, “que medo mais nerd esse”. Ok, tudo bem, mas eu sempre fui um nerd. Sempre fui o esquisitão da turma – sou até hoje. Na matéria falava sobre manter hábitos regulares de leitura, fazer palavras cruzadas, jogo da velha, sobre praticar atividades físicas e ter uma alimentação balanceada também. Isso tudo para retardar uma perda neuronal natural ao longo da vida. Mas em ponto nenhum dessa matéria falava sobre criação neuronal. Levei esse assunto à sala de aula e perguntei a minha professora na época como fazer para criar novos neurônios. E ela me respondeu:

            - É uma boa pergunta, mas até onde tenho conhecimento não é possível. Nascemos com uma quantidade de neurônios que ao longo da vida vamos perdendo. Esse é o processo natural da vida. O que podemos fazer é minimizar essa velocidade através dos hábitos que falam na matéria dessa revista, por isso é importante o hábito da leitura!

            Fiquei decepcionado com isso. Não queria concordar. Mas de fato tudo o que lia ou assistia sobre aprendizagem e como funcionava a nossa mente batia nessa tecla, de que só perdíamos neurônios ao longo da vida. Mas na minha visão isso era muito determinante, porque colocava o ser humano numa caixa sem muita autonomia para se superar. E mais estranho ainda é que nós mesmos adquiríamos crenças que iam justificando ficar nessa caixa!! “Fulano é bom em Matemática, por isso que ele não é bom em Português.” Ou o contrário disso. “Fulano não se sai bem na escola, porque seu negócio é mais a música.” “Fulano é bom em Artes, porque seu pensamento é mais voltado para isso, então não é muito bom nas outras disciplinas.” “Quem cuida muito do físico ou da estética é porque é burro.” Ou o contrário. Perceba que são extremos e não tem como uma pessoa participar das duas polaridades. Eu me lembro quando estava no cursinho preparatório para vestibular, queria prestar Unicamp. E eu já era formado em Administração. Quando os professores do cursinho perguntavam qual curso prestaríamos, notava bastante espanto neles quando respondia “Ciências Sociais”. Quando os indagava, me respondiam que imaginavam “que fosse para alguma Engenharia”. No dia da inscrição, sabe-se lá porquê, coloquei como segunda opção Ciências Sociais (queria me especializar em Ciências Políticas), pus como primeira Ciências Econômicas. Não passei – por pouco – na primeira fase. Será que eu não teria passado, se tivesse seguido mais o que de fato eu queria?!

            Aprendemos a colocar as pessoas em caixas. Pôr rótulos! Fizeram isso conosco um dia e acreditamos. Acreditamos que uma pessoa é boa em Português, porque nasceu com isso. Escrevo bem aqui no blog, porém olhe as primeiras postagens, verá mais erros gramaticais que hoje. E na época da escola era bom em Língua Portuguesa e igualmente bom em Matemática. Por que a gente acredita que sendo bom numa se tem mais dificuldade na outra? Quem disse que são saberes antagônicos? Ah! Já sei. Foi o livro sobre Múltiplas Inteligências, do Gardner. Não vou discutir que um ser humano pode ter maior aptidão para uma área de estudo, mas isso não dificulta em outra. Isso é uma crença, algo que está no senso comum, algo que ouvimos desde criança, chancelamos e repassamos inconscientemente. Mas não tem respaldo científico. Não é porque uma pessoa tem um raciocínio lógico-matemático mais elevado, que essa mesma pessoa não possa ter, também, uma inteligência intrapessoal ou de linguagens significativa. Muito se acreditava sobre o hemisfério esquerdo e direito do cérebro, mas a ciência sabe hoje que a funcionalidade do cérebro humano não é tão segmentada e dividida assim. O cérebro funciona mais como um todo. É só refletir sobre as grandes mentes da humanidade. Leonardo Da Vinci, pintor, escultor, matemático, escritor etc. Muitos poderão dizer: “ele era superdotado”. Eu não tenho dúvidas quanto isso. Só acredito que o que nos impede de alcançarmos resultados diferenciados tem mais a ver com o que DIZEMOS A NÓS MESMOS QUE NÃO PODEMOS com o que de fato não podemos fazer. Existe uma diferença entre comportamento e capacidade cognitiva de fato.

            Todo mundo acha que sou um típico nerd. Engraçado que um nerd carrega aquele estereótipo: esquisitão, de Exatas, manja muito de informática, é magro demais ou muito acima do peso, usa óculos, tem a cara cheia de espinhas, avesso a esportes, amante de HQs, sem tattoos... Isso são rótulos! Parte é verdade, parte não tem nada a ver comigo nem com ninguém, dessa forma fechadinha! Nos meus testes de perfil comportamental por exemplo, de fato Conformidade é mais elevado. E com isso se pode inferir que possuo maior precisão, perfeccionismo, detalhismo, acurácia etc. Mas isso só significa que, dentro desse espectro de atividades e competências, fico mais confortável, pois tendo a dar mais respostas rápidas com menor esforço. Quando o RH aplica um teste assim, ele quer avaliar onde o candidato ou o colaborador conseguirá o resultado mais rápido com o menor esforço. Só isso. No meu caso, um indivíduo assim vai bem em áreas analíticas, áreas de cálculo, áreas que demandem atenção maior a DETALHES, como: contabilidade, departamento pessoal, planejamento estratégico, controle de qualidade etc. Isso significa que essa pessoa não seria, em absoluto, um bom vendedor? Que é impossível uma pessoa com esse perfil se dar bem numa área de marketing, publicidade, propaganda, design? Que essa pessoa não serviria para estar em setores da empresa que demandem muito relacionamento interpessoal? Não. Não. Não é verdade! Só é “sim”, se essa pessoa acreditar nisso e quiser. E esta postagem é justamente para recomendar o contrário disso. Recomendar que você não se coloque numa caixa.

            Não queria ser rotulado de nada em absoluto. Com os estudos mais atualizados sobre neurociência e comportamento humano veio um termo chamado Plasticidade Cerebral. E isso é fantástico! Significa que não só somos capazes de produzir novos neurônios, como estamos constantemente provocando alterações através de novas conexões neuronais e isso acontecerá a vida toda. Por isso esse termo “plasticidade”. Hoje se sabe que o comportamento, a personalidade, a inteligência não são estanque, inatos, imutáveis. Não em absoluto. Nós somos capazes de mudar e nos transformar em qualquer fase da nossa vida. Basta querer. Os nossos hábitos fazem em nosso cérebro um determinado caminho neuronal, um determinado circuito. A partir do momento que adquirimos novos hábitos, forçamos a criação em nosso cérebro de novos caminhos, de novas conexões. Isso nos transforma! E para essa receita de autotransformação, você precisa de apenas dois ingredientes: vontade e persistência. A gente precisa querer algo, mas não só querer, persistir, insistir nisso que estamos nos propondo. Aí entra o aspecto profissional.

            Ontem, conversando com a minha mãe, ela me contou que seu irmão está desesperado. Meu tio ligou para ela, contou sobre mudanças que estão ocorrendo em sua empresa e pediu que minha mãe orasse por ele. Preste atenção. Meu tio trabalha nessa empresa há décadas, acredito que já se aposentou e continua lá. O setor produtivo onde ele trabalha está sendo todo computadorizado e estão o ensinando como acompanhar e monitorar os computadores do setor. Ele ficará responsável por isso. Coitado, ele está em pânico. Disse a minha mãe que mal consegue dormir. Para dar conta, ele está agora tendo aulas de informática com os meus primos. Primeiro ponto: parabéns ele ter aceito! Ele poderia ter se recusado, ter inventado uma desculpa e saído fora, ele já está aposentado. Ou prestes a se aposentar. Mas ele quis aprender. Está se desafiando. O segundo ponto é o seguinte: ele está tendo a oportunidade de aprender algo que em tese ele já deveria estar se mexendo para saber! Não é fácil isso que vou dizer, mas é real. Nem todos os empregadores poderão ESPERAR você adquirir novas competências e habilidades para dar conta de um novo desafio. Você tem que se antever a isso! Hoje, a carreira e o desenvolvimento profissional estão nas mãos de cada um de nós, não mais na empresa. Não espere que seu gestor ou empresa desenvolva você. É claro que eles podem, e em alguma medida até devem, mas essa responsabilidade é sua! Essa responsabilidade é de cada um de nós. O futuro do trabalho já está exigindo um perfil de profissional que use muito a sua neuroplasticidade.

            Sou analista de recursos humanos e recebo muitos currículos diariamente. Uma vez me perguntaram o seguinte: ficar numa mesma empresa durante muitos anos seria ruim por passar uma imagem de acomodação? A resposta é: depende. Quando estou diante de um candidato nessa situação, numa entrevista, estou mais preocupado em descobrir o quanto esse indivíduo se desenvolveu e se transformou, enquanto profissional e enquanto pessoa, ao longo de sua permanência nessa empresa. Quero saber se houve participação em cursos ou palestras; se houve graduações ou pós graduações; se a pessoa assumiu novos desafios, seja em novas posições ou na mesma até; o que agregou àquela companhia nesse período,  onde cresceu e se transformou com isso; ou seja, estou mais interessado em saber se houve uma evolução, se a pessoa e a empresa estão melhores por conta desse relacionamento. Se a resposta for “sim”, independe de quanto tempo a pessoa ficou no seu antigo trabalho, porque houve ganhos para ela enquanto pessoa e profissional e para a empresa também. O problema é quando a resposta é “não”, ou seja, os anos se passaram e a pessoa ficou estagnada, ela não buscou se aperfeiçoar nem obter novas competências e habilidades. Isso é perigoso. O mundo do trabalho está mudando rápido, isso exige dos profissionais mais abertura a novas ideias e pensar fora da caixa. Hoje é requerido que os profissionais de fato não queiram ficar em caixas!

            Para finalizar essa postagem, gostaria de dizer que muito do que você acredita que não é capaz é só coisa da sua cabeça, não tem respaldo científico algum. Pense que se muitas pessoas conseguem, você também é capaz de conseguir. Você não é inferior às outras pessoas que já conseguiram, não se subestime. Isso vale para iniciar um curso numa faculdade; se inscrever num curso de dança; frequentar uma academia; aprender um novo idioma; começar alguma atividade artesanal; iniciar um blog ou um canal no YouTube. Por que não?! O que te impede?? É apenas a sua cabeça, as suas crenças que te impedem. Dê o primeiro passo, permita-se. Existem alguns exercícios simples, que eu faço também, que são muito legais para forçar a criação de novas conexões neuronais. Como por exemplo:

  • Experimente usar a outra mão para escovar os dentes, abrir as portas, se ensaboar no banho, para comer e se possível até para escrever pequenas coisas;
  • Dormir do outro lado da cama;
  • Se tem o hábito de ir trabalhar de carro, um dia da semana vá de moto; se tem o hábito de ir de moto, vá um dia de carro; ou vá a pé; se for mais longe, um dia pode ir de ônibus;
  • Se tem o hábito de ir por um mesmo caminho, explore ir por novos;
  • Mude de vez quando as coisas no seu trabalho, na sua mesa ou na sua casa de lugares;
  • Pelo menos um dia na semana ouça uma playlist de músicas bem diferentes do que está acostumado;
  • Experimente novos pratos de comida;
  • Sempre que possível faça os pequenos cálculos mentalmente;
  • Force-se a chamar sempre todas as pessoas pelo nome, isso te obrigará a memorizá-los;
  • E principalmente: permita-se conversar com novas pessoas – faça amizades com pessoas diferentes de você!

            O nosso cérebro é um verdadeiro poupador de energia. Ele quer sempre obter o melhor resultado com o menor esforço possível, então ele faz de tudo para você criar e se manter num hábito. E quando você provoca conscientemente pequenas alterações no seu dia a dia, isso o obriga a “sair do automático” e com isso fazer novas sinapses. É claro que no início isso vai cansar você. Se fizer por exemplo tudo isso que listei acima, ao final do dia estará cansado, talvez até com um pouco de dor de cabeça. Mas ao persistir irá diminuir esses efeitos e obrigará seu cérebro a se adaptar. Não tenho dúvidas que isso melhorará sua criatividade, sua inteligência, seu raciocínio, sua vivacidade; se sentirá mais jovem, mais capaz, tudo porque estará abrindo mais canais, fazendo mais conexões. 

            Lembre-se dessa simples receita que vai apenas dois ingredientes: vontade e persistência. Tenha uma vontade forte de se abrir para novas ideias e persista nisso que deseja para si ou para sua vida. Tudo começa aí na sua mente, você é a única pessoa que pode se limitar. A neuroplasticidade prova que você é capaz de mudar. Basta você querer.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O QUE É SUCESSO



Antes de nos perguntarmos o que é sucesso, eu acho bem oportuno nos perguntarmos primeiro: sucesso para quem? A quem interessa o sucesso? É para a família, para a sociedade ou para nós mesmos? Sucesso é para você! É para cada um de nós.

Vou contar uma história para você. É uma história simples e bem pessoal. Isso me fez enxergar a vida de uma forma muito diferente depois. Já adianto que essa história não terá nenhum fato extraordinário, mas, se ela puder transmitir a você um pouco do que significou para mim, já está muito bom. Foram fatos cotidianos, mas tenho certeza que você se identificará em algum momento – e se isso acontecer a missão dessa postagem terá sido alcançada. Gostaria de dizer antes de mais nada que acredito que podemos (e devemos) extrair ensinamentos no dia a dia a partir de fatos corriqueiros, pois é justamente aí que se encontra a beleza da vida: em pequenos detalhes. É uma pena que esperemos grandes acontecimentos para pararmos um pouco para refletir sobre a nossa vida, já que ela [a vida] está constantemente nos mostrando coisas. Se você pudesse parar por alguns instantes para respirar e só observar, captaria informações que podem estar passando despercebidas por você. A esse afinamento dá-se o nome de Espiritualidade. Essa sintonização é a nossa religiosidade. Uma comunicação direta com o Universo.

Estava na faculdade, era mais jovem, isso foi há quase dez anos. Trabalhava numa empresa e estava muito feliz com as promoções que vinha recebendo. Aprendia teorias na faculdade e podia vivenciar a prática no trabalho; para quem está na faculdade sabe o quanto isso significa: poder atuar na área em que se estuda. Nessa empresa, que é uma rede de lojas, comecei numa função e fui galgando rapidamente através de boas oportunidades que foram me dadas. Antes era uma pequena rede, hoje é enorme! Reconheço que confiaram muito em mim e me deram ótimas oportunidades, o que me enchia de alegria. Lembro-me certa vez de ouvir do diretor geral (que é proprietário) que “eu era um investimento para a empresa” e estava sendo treinado e desenvolvido “para gerenciar tudo abaixo dele”. Nessa ocasião estávamos numa reunião conversando sobre projetos e traçando metas para 2020 – e o ano era 2010! Eu sabia que teria muito trabalho pela frente, o desafio seria grande e uma oportunidade era tudo o que buscava. Na faculdade meus professores ficavam contentes quando comentava das coisas que vinha aprendendo na prática e meus colegas de sala me elogiavam por isso. Estava feliz. Algo me dizia que se continuasse neste caminho muito provavelmente encontraria tudo o que buscava. Dinheiro, poder e sucesso! Afinal, quem não quer tudo isso?!

O tempo foi passando, estava trabalhando muito, estudando bastante e sem perceber uma sensação estranha começou a me rondar. Não sabia explicar o que era, apenas sentia um aperto no peito que vinha do nada. Em muitos momentos me pegava com os pensamentos longe, como se apenas o corpo estivesse presente. Eu saia aos finais de semana à noite, comia, bebia, dançava, via gente, dava risadas! Mas algo ali apertava silenciosamente. Algo não me deixava em paz. Algo me dizia que eu não estava tão feliz quanto achava. Como podia não estar?! Estava na faculdade e trabalhando na minha área, começava a ter um salário melhor, tinha condição de comprar coisas que antes não podia. Então não entendia por que tristeza. Não aceitava isso! Pois me soaria como ingratidão à vida sentir isso. Então fui driblando como pude; ora sentia superar aqueles sentimentos; ora eles me dominavam...

Era final de ano, as lojas estavam abertas até mais tarde e eu tinha adquirido um estranho hábito nos últimos meses; o de fazer compras! Quase todo dia saia dar uma volta pelo centro da cidade no meu horário de almoço e voltava com algo. A desculpa era sempre a mesma: um presente para dar a alguém ou algo que “estava precisando”. Não sei em que momento isso se deu, mas quando dei por mim percebi que só entrava nas lojas mais caras. Passei a fazer questão de comprar coisas mais caras. Também tinha adquirido outro hábito nessa época; o de ligar para minha mãe diariamente. E eu sempre fui independente! Mas como nessa época meu pai tinha falecido há pouco tempo, eu só tinha a minha mãe e como morava numa cidade (com ela), trabalhava em outra e estudava em outra a gente não se via; então comecei a ter necessidade de ligar para ela todo dia. E de repente já não conseguia mais trabalhar sem ligar para minha mãe pelo menos duas vezes ao dia, uma antes do almoço e outra depois, e era isso que me dava o gás necessário para prosseguir por mais algumas horas trabalhando. Eu só queria ouvir a sua voz alguns minutos, porque aquilo era como um farol, um ponto de estabilidade para mim, já que me sentia no olho do furacão!

Foi quando ao final de um dia, depois de uma semana estafante de trabalho e estudos, entrei numa loja e quando vi já tinha comprado relógio, óculos de sol, perfume, roupas, calçados, não podia nem com as sacolas. Cheguei em casa, entrei no meu quarto, joguei tudo sobre a cama, sentei no chão e desabei chorar. “Para tudo.” “Chega.” “Você não está legal!” “Vai empurrar isso até quando?”. Essas coisas ecoavam na minha mente... Na semana seguinte, ao dar uma volta no meu horário de almoço, ao invés de entrar numa loja, parei numa livraria. Comprei um livro chamado A Cura Quântica, do Deepak Chopra. Mergulhei nesse livro. Semanas depois me desliguei dessa empresa. E ninguém acreditava! Dentro de mim sentia que tinha decepcionado a todos, principalmente aqueles que um dia confiaram em mim. Por um bom tempo quis acreditar que eles é que foram os culpados. Hoje sei que não, porque, primeiro, não existem culpados! E segundo, a vida é minha e sou eu o responsável pelo que me acontece. Todos foram sempre gentis e bons comigo e hoje compreendo que estamos sempre no lugar certo, no momento certo, com as pessoas certas, passando pelas situações que precisamos passar, para aprender aquilo que é necessário para nos desenvolvermos enquanto seres humanos. Portanto não cabe tristeza, medo, nem ansiedade, tudo é aprendizado!

            Eu não precisei ganhar muito dinheiro, mudar de classe social, nem ficar poderoso ou ter projeção social – como um dia quis – para compreender que o sucesso não depende de nada disso. Graças a Deus, esse simples fato ocorrido já no começo da minha vida profissional, me despertou para muitas coisas em todos os sentidos. E como sou grato por isso. Por poder entender já bem jovem que bens materiais são importantes, mas não podem me proporcionar bem-estar pessoal. Nem autorrealização. Sucesso é mais do que isso. Porque na hora do “vamos ver”, na “noite escura da alma”, quando estamos entre o carpete e o taco, só uma coisa alivia um coração aflito: paz de espírito! E isso não se compra, porque isso não se vende. E nem todos que dizem ter sucesso encontraram essa paz. Hoje para mim sucesso é paz de espírito, não tem nada a ver com coisas materiais. E sabe uma forma simples que encontro? Coloco um tênis e saio para correr no parque. Um fone de ouvido e uma boa música. Ao ver as águas do rio, sentir na pele o calor do Sol, o vento soprando meu rosto, um cheiro suave vindo das folhas das árvores, me sinto tão grato que tudo fica tão pequeno! E me sinto tão completo! Começo a orar. O mundo pode acabar nesse momento e eu estarei agradecendo... 

Eu não sei o que você tem buscado ou o que para você é sucesso, mas eu gostaria de coração que você acreditasse que viver, que a Vida é muito mais do que fama, status, poder ou coisas materiais. O lado material da vida é importante. Mas o lado espiritual da vida é essencial! 

Para finalizar, gosto bastante dessa fala da jornalista e apresentadora Regina Volpato. Assista ao vídeo. 

domingo, 1 de setembro de 2019

FERA FERIDA: você machuca os outros?



Vejo pessoas dizendo que se pudessem voltar atrás teriam feito algo diferente. Enquanto a pessoa só fala, ok. Quando percebo que além do falar existe algum sofrimento, isso me chama a atenção. Já me perguntaram se me arrependo de alguma coisa que fiz ou que falei e sempre respondi não decididamente. Eu nunca me arrependi de nada mesmo – e posso estar sendo leviano ao falar isso, mas sinceramente é uma verdade para mim. Pelo menos é há um bom tempo. Não entendo sentimento de culpa ou de remorso. Acho que até por isso alguns brincam que ‘pareço um psicopata’ rs. Mas sabe por que não me arrependo? Vamos falar a verdade: do que adianta o arrependimento? Resolve alguma coisa nos sentirmos culpados? Eu acho (e uso a palavra ‘acho’ porque é só o que eu penso) que sou assim porque não me é racional a culpa ou o remorso; o que foi feito já está, não se remedia passado. Felizmente ou infelizmente. É assim. Ponto. Como sou muito racional tenho a tendência a optar por visões de mundo que me permitam alguma autonomia. E aí entra outra coisa que sempre me julgam: “você fala assim porque é racional demais, você não tem sentimentos!”. Isso é uma grande falácia que dizem ao meu respeito, que sei como foi fortalecida. Só que eu não sou frio em absoluto nem insensível, muito pelo contrário, sou hipersensível, quase tudo me afeta fortemente – as pessoas não têm noção disso! E elas não têm noção porque eu escondo, eu dissimulo, eu reprimo as emoções e os sentimentos (externamente) e banco o durão. Digo ‘externamente’ porque por dentro muitos sentimentos estão em brasa viva! Mas por fora fico como aquele trecho da música Behind Blue Eyes, do Limp Bizkit: “None of my pain an’woes can show through”. “Nenhuma de minhas dores e desgraças pode transparecer”. Lembro quando a ouvi pela primeira vez na adolescência... No fim é só mais um mecanismo de defesa! Já me ajudou e ajuda muito em alguns momentos e também me atrapalha em muitos outros.

Agora, se você me perguntar: existem coisas que você fez ou já disse que não se orgulha? Inúmeras! Muitas coisas mesmo. As vezes que magoei profundamente meus pais com coisas que eu disse. Ou a alguns professores que choraram em sala de aula. A amigos. No passado, quando movido por muita raiva, a forma que eu tinha de descarregar esse sentimento era mirar o ponto mais vulnerável de alguém e criticar ali. Como sou muito observador e costumo analisar tudo é comum, depois de um tempo convivendo com alguém, que eu perceba, intua, ou deduza, onde dói mais nessa pessoa. Se é uma relação mal resolvida com um dos pais. Ou com o cônjuge, ou filho. Se é uma questão da pessoa com ela mesma.  Em pouco tempo convivendo eu pegava isso, via claramente onde era a ferida essencial da pessoa e, no momento que eu me sentia muito magoado com a pessoa, era nesse ponto que criticava.

Isso era legal? Óbvio que não! Isso é baixo. Medíocre. É atitude de pessoa ruim. Pessoa de mal com a vida. E uma pessoa ferida. Era infantil, estava machucado, tinha um interior muito frágil, daí a necessidade de proteção emocional e essa era a única forma que tinha para fazer as pessoas me odiarem e se afastarem. Sei que não precisava reagir assim com essa agressividade tão vil, por isso me envergonho disso. Eu jamais vou ser capaz de me orgulhar de fazer alguém chorar! Só que isso não muda o meu passado. Está feito! Por essa razão que eu digo que não me arrependo de nada, porque eu não posso mudar o que eu fiz. E vamos a outra parte dessa moeda: eu era outra pessoa.

Se você buscar na sua memória a si mesmo a dez ou quinze anos atrás verá que era outra pessoa. Tinha outra cabeça. Outros valores. Você mudou! Nós mudamos. Por isso não faz sentido, nem é justo conosco também, olhar para o passado – com a cabeça de hoje – e nos julgarmos pesadamente pelo que fizemos ou deixamos de fazer. Precisamos ter claro que ali, naquela situação, naquele contexto, dentro daquelas circunstâncias e com as ferramentas que tínhamos, fizemos determinadas escolhas. Hoje possivelmente faríamos diferente, mas erámos outro ali. Da mesma forma que não é justo julgar uma pessoa pelo seu passado, não se julgue também. Fique em paz.

E que isso não se confunda com falta de responsabilidade pelos nossos atos. Muito pelo contrário, deveria nos fortalecer, porque pense: se hoje você tem consciência de algo que não foi legal na sua vida, você tem a opção de fazer diferente agora. De fazer melhor. Hoje tomo mais cuidado com as minhas palavras. Evito criticar as pessoas tão duramente da forma que fazia. Agora quando com raiva, acesso as lembranças do que fiz lá atrás que não foi legal e me pergunto: “quer mesmo fazer isso novamente?”; “vai se orgulhar disso depois?”. Nunca me perguntei se “vou me arrepender”, pergunto sempre se “vou me orgulhar”, mas se a resposta for negativa, penso imediatamente duas vezes. E fico consciente que se eu insistir nisso e fizer, a consequência depois será só minha, porque tive consciência de que estava fazendo escolha. Mas o foco é sempre no hoje, porque agora eu tenho consciência.

Se você é alguém que faz muitas visitas ao seu passado e sente dores pelo que fez ou deixou de fazer, por alguma coisa que disse que magoou alguém ou que deixou de falar e hoje se arrepende, não seja demasiadamente duro consigo. Você fez o que podia fazer dentro do que as circunstâncias permitiram. Isso não redime atos passados, mas nos traz o poder de fazer diferente agora. Ao invés de se culpar, pergunte-se: “o que eu posso tirar de proveito disso, para numa próxima quem sabe agir diferente?” e “por que precisei agir assim?”. É necessário visitar o passado, mas não para julgar quem você foi, pelo contrário, para fazer as pazes consigo! Pode existir aí dentro de você uma criança interior que precisa de atenção e acolhimento, não de mais julgamentos. A partir do momento que você acolhê-la, entendê-la e aceitar que essa criança interior cresceu e hoje tem novos recursos para lidar com o que a afetou um dia, ganhará um novo olhar para a vida, vai passar a enxergar as pessoas diferente e não vai mais precisar machucar ninguém, pois só fere quem está de alguma forma ferido na mesma condição ou proporção – e falo por experiência própria.