domingo, 17 de julho de 2022

AINDA EXISTE VIDA?!


     Depois de um longo período distante desse blog eis me aqui novamente. Acredito que pouquíssimas foram as vezes que me distanciei desse espaço por tanto tempo, foram meses aí desde a última postagem. Durante esse tempo entrei até regularmente aqui; entrava, dava uma olhada geral na cria, lia algumas postagens aleatórias, ouvia as músicas e assistia o material aqui colocado, mas ficava nisso, não tentava escrever. Acho que alguns períodos da nossa vida são tão particulares e as experiências de vivencia-los tão novas que não se encontra facilmente palavras para expressa-los, então por essa razão fiquei fora um tempo. Sabia que por mais que quisesse não conseguiria sintetizar tudo o que estava vivendo e a razão também nem era essa. Mas não pense que esse período foi ruim, pelo contrário, achei necessário e acredito que quando eles ocorrem na vida a mensagem é para mais observar. Passar pelo processo com maior atenção, assim como com abertura, curiosidade e interesse. Foi isso o que fiz.

      O texto que trarei hoje está influenciado por esse período e a mensagem que deixo aqui é de uma imagem. Um exame de eletrocardiograma. Durante a leitura de todo o texto quero que fique com essa imagem na sua mente (um exame de eletrocardiograma) porque ela resume com perfeição a ideia do texto. A melhor forma de sintetizar uma mensagem é sempre através de uma analogia, de uma metáfora, de um símbolo; símbolos têm o poder de reunir em si toda uma gama de informações que são rapidamente subentendidas por quem recebe. Então tenha em mente aquelas finas linhas de um eletrocardiograma subindo e descendo, subindo e descendo...

     Você já deve estar imaginando qual analogia pretendo fazer e é exatamente esta: uma comparação com a vida. Se pensamos bem: existiria outra analogia mais próxima do que é a nossa vida?! A vida é igual o eletrocardiograma, feita de altos e baixos, de nuances, oscilações e mudanças. E o engraçado de tudo é que almejamos exatamente o contrário, buscamos sempre por estabilidade, buscamos por previsibilidade, queremos a não-mudança, quando no entanto linhas retas num eletrocardiograma significa que o coração...?!

      É difícil viver a vida com essa entrega, com total abertura e vontade de passar pelos altos e baixos com coragem e ter curiosidade, interesse e principalmente desenvolvendo potência para viver assim, porque no fim o sentido da nossa existência é ter potência para viver. A vida só quer de nós coragem para vivê-la como ela se apresenta. E isso não tem nada a ver com não sentir medo, nem com ganhar ou perder, com se dar bem ou se dar mal, nem mesmo com o que é certo ou errado, a grande questão de tudo é "Quanto de vida existe na sua vida?!". Você já se perguntou isso? Se você vai acordar amanhã para trabalhar ou para procurar um trabalho, se você ama a vida que tem ou se está lutando contra a morte, o quanto de vida está implicado ai?!

      Não falo aqui de positividade tóxica, porque acho essa história ridículo; positividade tóxica é querer tirar o direito de uma pessoa de sofrer a própria vida em paz. Mas falo do topar a vida. De falar a si mesmo: "Está bem, eu topo! Eu pago esse preço!” Esteja a vida indo muito bem – obrigado –, esteja ela uma merda em dado momento. Aceita passar pelo processo. Seja lá como for a vida, ela é tua e ninguém poderá viver por você! Isso implica em si implicar com a própria existência. Só e simplesmente porque é o que é; é o que tem pra hoje. E isso também não é “discurso de perdedor” (seja lá o que isso for), é apenas você se apropriar da própria vida e aceitar o pacote completo que vem com ela, com toda força, coragem e dignidade necessárias. Uma vez li uma frase que dizia mais ou menos assim: “na alegria seja a alegria, na dor seja a dor”. Isso é profundo... Dá conta disso?! Sabe o que isso significa?

      Viva aquilo que tiver que viver de frente, com dignidade. Não desista de si. Se está triste não nega isso, não tem motivo para fingir o contrário, aceita e passa por esse processo. Se não fizer isso não terá condições de compreender o que é verdadeiramente sentir também uma alegria genuína, que é justamente o contraponto dessa tristeza. Só podemos reconhecer o que é o dia porque conhecemos a noite; só podemos sentir o paladar doce porque algum momento provamos do sabor salgado. Quente e frio; saúde e doença; contração e expansão. A vida só é compreendida por contrastes. Jamais deseje uma vida perfeita, porque isso não existe – nem poderia existir, sabe por quê? Nós humanos só conseguimos nos motivar a buscar e damos algum valor às coisas a partir da falta que isso nos traz. Sem falta não existe desejo. Sem desejo não existiria movimento. E ausência de movimento é o mesmo que morte – lembra do eletrocardiograma?

      Gostaria muito que sempre se lembrasse da analogia com o eletrocardiograma. Altos e baixos... Acertos e erros... Ganhos e perdas... A vida está muito além de tudo isso! A vida é o movimento. Um movimento que vem de um desejo que surge a partir de uma falta. E graças ao Criador somos seres faltantes por excelência. Não espere então por completude, por estabilidade, nunca encontraremos isso, porque é justamente uma condição instável e incompleta que nos possibilita existir e nos motiva a caminhar. Agradeça verdadeiramente a cada momento de tristeza, porque eles nos possibilitam apreciar os momentos de alegria. Atravessar caminhos sombrios e tortuosos também fazem parte da jornada. E algumas vezes na vida será justamente a partir do inferno que alcançaremos a melhor visão do paraíso, isso significa que ao passar por períodos difíceis na vida podemos enxergar coisas importantes, que talvez jamais teríamos dado a atenção e a devida consideração se a vida não tivesse sido como foi.

"A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo." Anaïs Nin

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