Depois de um longo período distante desse blog eis me aqui novamente. Acredito que pouquíssimas foram as vezes que me distanciei desse espaço por tanto tempo, foram meses aí desde a última postagem. Durante esse tempo entrei até regularmente aqui; entrava, dava uma olhada geral na cria, lia algumas postagens aleatórias, ouvia as músicas e assistia o material aqui colocado, mas ficava nisso, não tentava escrever. Acho que alguns períodos da nossa vida são tão particulares e as experiências de vivencia-los tão novas que não se encontra facilmente palavras para expressa-los, então por essa razão fiquei fora um tempo. Sabia que por mais que quisesse não conseguiria sintetizar tudo o que estava vivendo e a razão também nem era essa. Mas não pense que esse período foi ruim, pelo contrário, achei necessário e acredito que quando eles ocorrem na vida a mensagem é para mais observar. Passar pelo processo com maior atenção, assim como com abertura, curiosidade e interesse. Foi isso o que fiz.
O texto que trarei hoje está
influenciado por esse período e a mensagem que deixo aqui é de uma
imagem. Um exame de eletrocardiograma. Durante a leitura de todo o
texto quero que fique com essa imagem na sua mente (um exame de
eletrocardiograma) porque ela resume com perfeição a ideia do
texto. A melhor forma de sintetizar uma mensagem é sempre através de uma analogia, de uma metáfora, de um
símbolo; símbolos têm o poder de reunir em si toda uma
gama de informações que são rapidamente subentendidas por quem recebe. Então tenha em mente aquelas finas linhas de um
eletrocardiograma subindo e descendo, subindo e descendo...
Você já deve estar imaginando qual analogia pretendo fazer e é exatamente esta: uma comparação com a vida. Se pensamos bem: existiria outra analogia mais próxima do que é a nossa vida?! A vida é igual o eletrocardiograma, feita de altos e baixos, de nuances, oscilações e mudanças. E o engraçado de tudo é que almejamos exatamente o contrário, buscamos sempre por estabilidade, buscamos por previsibilidade, queremos a não-mudança, quando no entanto linhas retas num eletrocardiograma significa que o coração...?!
É difícil viver a vida com essa entrega, com total abertura e vontade de passar pelos altos e baixos com coragem e ter curiosidade, interesse e principalmente desenvolvendo potência para viver assim, porque no fim o sentido da nossa existência é ter potência para viver. A vida só quer de nós coragem para vivê-la como ela se apresenta. E isso não tem nada a ver com não sentir medo, nem com ganhar ou perder, com se dar bem ou se dar mal, nem mesmo com o que é certo ou errado, a grande questão de tudo é "Quanto de vida existe na sua vida?!". Você já se perguntou isso? Se você vai acordar amanhã para trabalhar ou para procurar um trabalho, se você ama a vida que tem ou se está lutando contra a morte, o quanto de vida está implicado ai?!
Não falo aqui de positividade tóxica, porque acho essa história ridículo; positividade tóxica é querer tirar o direito de uma pessoa de sofrer a própria vida em paz. Mas falo do topar a vida. De falar a si mesmo: "Está bem, eu topo! Eu pago esse preço!” Esteja a vida indo muito bem – obrigado –, esteja ela uma merda em dado momento. Aceita passar pelo processo. Seja lá como for a vida, ela é tua e ninguém poderá viver por você! Isso implica em si implicar com a própria existência. Só e simplesmente porque é o que é; é o que tem pra hoje. E isso também não é “discurso de perdedor” (seja lá o que isso for), é apenas você se apropriar da própria vida e aceitar o pacote completo que vem com ela, com toda força, coragem e dignidade necessárias. Uma vez li uma frase que dizia mais ou menos assim: “na alegria seja a alegria, na dor seja a dor”. Isso é profundo... Dá conta disso?! Sabe o que isso significa?
Viva aquilo que tiver que viver de frente, com dignidade. Não desista de si. Se está triste não nega isso, não tem motivo para fingir o contrário, aceita e passa por esse processo. Se não fizer isso não terá condições de compreender o que é verdadeiramente sentir também uma alegria genuína, que é justamente o contraponto dessa tristeza. Só podemos reconhecer o que é o dia porque conhecemos a noite; só podemos sentir o paladar doce porque algum momento provamos do sabor salgado. Quente e frio; saúde e doença; contração e expansão. A vida só é compreendida por contrastes. Jamais deseje uma vida perfeita, porque isso não existe – nem poderia existir, sabe por quê? Nós humanos só conseguimos nos motivar a buscar e damos algum valor às coisas a partir da falta que isso nos traz. Sem falta não existe desejo. Sem desejo não existiria movimento. E ausência de movimento é o mesmo que morte – lembra do eletrocardiograma?
Gostaria muito que sempre se lembrasse da analogia com o eletrocardiograma. Altos e baixos... Acertos e erros... Ganhos e perdas... A vida está muito além de tudo isso! A vida é o movimento. Um movimento que vem de um desejo que surge a partir de uma falta. E graças ao Criador somos seres faltantes por excelência. Não espere então por completude, por estabilidade, nunca encontraremos isso, porque é justamente uma condição instável e incompleta que nos possibilita existir e nos motiva a caminhar. Agradeça verdadeiramente a cada momento de tristeza, porque eles nos possibilitam apreciar os momentos de alegria. Atravessar caminhos sombrios e tortuosos também fazem parte da jornada. E algumas vezes na vida será justamente a partir do inferno que alcançaremos a melhor visão do paraíso, isso significa que ao passar por períodos difíceis na vida podemos enxergar coisas importantes, que talvez jamais teríamos dado a atenção e a devida consideração se a vida não tivesse sido como foi.
"A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo." Anaïs Nin
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