Abrigo
duas características distintas entre si. Enfrento as circunstâncias
adversas e questiono os cenários, as vezes com altivez e bravura
até. Mas também sei conter firmemente um impulso de discordar,
quando acredito que a ordem precisa do respeito necessário para
se prevalecer desta forma, na paz. Nesse segundo caso, note que
associo conceitos como ordem, concordância e paz; embora na prática
muitas vezes posso desconsiderar isso. Nessa dança de contrários,
até me confundo e algumas vezes sofro para descobrir qual Jonas deve
ganhar forma, qual Jonas quero que tome a frente de uma situação.
As vezes acontece de a própria situação acabar escolhendo por
mim... Ouvi a um tempo atrás que sou o que se pode chamar de
subversivo. Não sabia o significado dessa palavra e fui
consultar. Ao descobrir fiquei curioso com essa denominação. Embora
concordo em vários aspectos...
Quando
mais jovem, brigava ferrenhamente com o meu pai porque infelizmente
eu não era o filho perfeito que ele tanto sonhava. Ser um filho
passivo e aceitar o que ele ensinava como tudo o que se poderia, e
deveria, aprender na vida, não deu muito certo. Isso me irritava a
beça, de uma maneira que você não faz ideia. Por essa razão eu
fui muito rebelde e desobediente. Eu retrucava as suas verdades, pois
aquilo engasgado na minha garganta, que doía no meu peito e fazia
meu corpo ferver de raiva também merecia ser exposto. Afinal, por
que apenas ele podia gritar?! Se eu era o culpado (como sempre me
sentia ser), eu tinha de me defender também; ou não é isso o que a
justiça prega? Infelizmente nossos debates sempre desembocaram em
brigas intensas, porque apesar de meu pai ter sido bom em alguns
aspectos, ele foi também fechado demais em suas convicções; quase
um ditador. E eu nunca suportei pessoas que sabem facilmente gritar
suas verdades mas não tem coragem o suficiente de ouvir o que eu
tenho a dizer. Penso que é preciso as vezes mais coragem para ouvir
certas coisas do que falar.
Na
fase escolar tive problemas com professores que se colocaram à
frente da sala como seres imponentes; intocáveis; fontes únicas de
sabedoria. Só eles podiam ter a palavra final. Só eles podiam saber
todos os assuntos. Apenas eles decidiam qualquer coisa na sala, sem
ter de ouvir a opinião do resto da classe; se éramos ali a maioria,
mesmo hierarquicamente inferiores naquela situação, deveríamos ser
respeitados e ter as nossas questões levadas em consideração
também. Era eu lembrar disso que eu levantava a mão para questionar
e a briga começava. Infelizmente aqueles que se sustentam em títulos
nem sempre suportam perguntas; é permitido tudo, menos questionar a autoridade. Para mim as pessoas grandes estão abertas para colocar em
xeque seus próprios conceitos se for necessário; um homem que não
se auto-reavalia, nem se permite contrariar, é um tolo maior; e se
este tiver poder nas mãos, torna-se ainda muito perigoso.
O
tempo passou, vivi algumas experiências e sofri bastante, por isso
mudei minha “abordagem”, por assim dizer. Hoje quando me deparo
com uma situação estressante ao invés de sacar as armas, me
desarmo. Como um radar, sei quando algo está vindo ao meu encontro.
Antecipo a situação e consigo administra-la e me administrar
melhor. Controlo a minha respiração. Conto até dez. Quando num
impasse com outra pessoa, presto atenção ao que estou falando, a
como estou falando, assim como penso no que gostaria de dizer.
Procuro não incitar mais a discussão e mantenho o foco na
conciliação. Mas também presto bastante atenção ao quanto a
outra parte está aberta, para assim não trair aquilo em que
acredito. E na pior das circunstâncias o aviso é único: saia de
discussão. Antes de perder completamente o controle é melhor parar.
(Eu tento parar) Prefiro sair como o perdedor ou como o errado se for
o caso, mas já não pago para ver até onde a discussão vai dar.
Nunca acaba bem.
Segurar
um impulso é muito mais difícil do que suportar as consequências
dele. Essa tarefa chega a ser física até. E saber discernir entre
os dois polos é estágio para os mais evoluídos: quando conter
determinadas emoções e quando se deixar agir. Para quem gosta de
argumentar como eu, este é um bom desafio. Eu não quero com este
post dizer que o correto seja um ou outro absolutamente, pois
acredito que todo extremo pode ser perigoso. A mim me parece que o
caminho do meio talvez seja a melhor pedida. Um caminho que contemple
você saber ouvir o ponto de vista do outro, mas também se fazer respeitar
o seu ponto de vista, sem para isso ter que impôr nada; as pessoas
não mudam porque impomos as coisas, elas mudam por si só, quando
querem - ou conseguem. Acho importante imprimirmos nossa opinião no mundo, mas
brigar por isso... apenas em raras exceções.
Finalizo
com dois conselhos. Primeiro. Tudo é energia. Toda energia procura
vazão. Quando ela não é exteriorizada, é interiorizada, ou seja,
se você não explodiu, certamente você implodiu. Então, se você
não canalizar de alguma forma essa energia retesada em você, ao longo do tempo ela
vai te adoecer de alguma forma, pode acreditar. Segundo. Eu sei que é
difícil saber o que fazer (conter ou agir) quando o sangue realmente
ferve. Nesse momento a gente quase não pensa, nem em nós, nem nas
outras pessoas. Mas, para desencargo de consciência, eu sempre
refleti assim: se após o ocorrido, já com a cabeça fria, eu não
me arrepender de uma atitude tomada, sei que fiz a melhor escolha,
dentro daquilo que me foi possível escolher. Aprendo com isso, e
sigo em frente.