domingo, 28 de setembro de 2014

LIMITE: UMA PONTE OU UM FIM?


O homem é corda estendida entre o animal e o Superhomem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.” (Nietzsche)


Gosto muito da ideia de limite e de tempo. Desde de criança imagino um cenário onde leis e limites são traços no chão. Riscos nos contornando. Penso, desde essa época, na interação com essas demarcações no chão. E procuro repetir a mim mesmo. “Ficar sempre antes delas”. “Ficar em cima delas”. “Um pé lá, um pé cá”. “As vezes dois pés lá!”. Penso na relação dessas demarcações com a segurança e a manutenção e a evolução das coisas. Quando olho para a História da humanidade por exemplo, as vezes concluo que só evoluímos graças a homens e mulheres que ousaram ultrapassar essas linhas em algum momento. Entretanto, as vezes também concluo que muitos morreram por este mesmo motivo. Então me confundo sobre qual seria a melhor relação com os limites. Afinal, para que são feitos os limites? Controlar o que está a montante? Potencializar? Reprimir? Eles têm prazo de validade? Quem deve determiná-los?

Quando procuro as respostas na filosofia, chego a conclusão que todo ser vivo, sendo parte da natureza, é uma força que tenta a todo instante transbordar. Não sei se seria necessariamente uma única força em questão; penso em várias forças agindo em conjunto. O fato é que essa força naturalmente procura vazão. Isso significa que embora vivamos em sociedade e que precisamos de disciplina, nós naturalmente somos compostos de violência, de excessos. Aí entre o conceito de “super homem” de Nietzsche, o homem domando a si mesmo. Porém, isso também não deixa de ser uma violência com nós mesmos, pois domar a si mesmo é ato que, a priori, vai contra a nossa natureza.

Analisando pelo prisma da sociologia, o homem é um animal social e para haver civilidade as leis são necessárias. Mas quem cria as leis são homens, e como o homem é falho certas leis também podem ser. Regimes nazistas e fascistas que o digam. Portanto, as leis são tentativas de organizar uma sociedade, mas dependendo do lugar e do tempo em que forem avaliadas podem ser relativas. Até erradas. Avaliemos as leis existentes a cem anos atrás... Então aqueles meus riscos no chão começam a ganhar uma certa mobilidade...

Hoje, após duas décadas vividas, já tendo adquirido uma certa experiência – e um histórico! – concluo que existem limites criados para o nosso bem, mas a estes sempre caberão reavaliações constantes. Tenho ciência que dentro de mim existe uma gama de intensidades que nem sempre saberei controlá-las, mas que isso não tira a responsabilidade pelos meus atos. Posso certamente dizer que limite e tempo são os temas centrais da minha vida. Nada me fascinou – e incomodou – tanto quanto isso. Até hoje, diante de certos limites confesso que nunca sei exatamente o que fazer, e por quanto tempo; se uma metade minha é conservadora, a outra certamente deve ser bem revolucionária!

Limites são fins provisórios! Reflita. Policie. Atualize-se constantemente. E questione sempre que possível. Tanto princípios morais quanto éticos, tanto democracia quanto justiça são coisas que precisam ser eternamente discutidas e revistas. Para não haver relatividade são estabelecidos parâmetros de tempo num espaço; sem revisões podemos muito bem nos encurralar em fronteiras que já nem devem mais existir!