sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Liberte-se deste excesso de um falso controle


"Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der" (Carl Gustav Jung)

Recentemente fiz espontaneamente uma avaliação mental com fins científicos, que se objetiva a caracterizar temperamento, comportamentos e aspectos pessoais, assim como também avalia sintomas e transtornos psiquiátricos possíveis. Fiz online. Gratuitamente. Utilizei este site. Vou dividir este post em dois temas centrais. No primeiro falarei da importância de nos expressarmos. No segundo, foco desse post, utilizarei o resultado do meu teste para argumentar sobre o excesso de um falso controle.


Achei interessante e gostei da elaboração e sistemática do teste, principalmente do resultado dele, que acredito que chegou muito próximo de como estou – neste momento. Alguns já devem ter notado aqui no blog que gosto de assuntos com um teor psicológico. Psiquiátrico. Filosófico. Sociológico. Gosto de ler artigos e matérias sobre eles sempre que posso. Sobre neurociência, quântica e medicinas alternativas também. Sou curioso e pesquiso sobre qualquer coisa que me interesse. Leio sobre um assunto, observo as teses contrárias sobre ele, avalio tudo e tiro minhas próprias conclusões - que jamais foram verdades absolutas, uma vez que nunca cursei essas especialidades numa faculdade por exemplo. Aqui neste blog então nunca existiu nem existirá alguma verdade absoluta. Se bem que nem mesmo um especialista será algum dia dono de verdades universais. Mesmo assim, continuo convicto da importância de todos nós termos opiniões pessoais sobre as coisas. É importante que nos posicionemos no mundo. Isso é ter atitude como pessoa!

Sei que utilizo um método dedutivo para escrever aqui, que pode sim ser a argumentação de um leigo em muitos assuntos, mas baseio-me sempre em referências e considero importante o ato da expressão. Não tenho dúvida que a humanidade só evolui na tentativa e erro, através da troca de experiências e opiniões contrárias e pessoais. É uma grande pena o fato de uma pessoa se intimidar pela opinião pública e deixar de expôr suas ideias em razão disso. Por medo talvez de ser taxada de arrogante, cala-se. Num silêncio que nunca emite o que pensa. Nunca fala do que gosta. Estando sempre a margem de si mesma. E isso é muito triste. Há pessoas de uma indiferença total a cerca de qualquer assunto, nunca têm opinião formada sobre nada. Vivem num relativismo pouco ou nada produtivo, que acho muito castrador, não traz criatividade nenhuma e no fim empobrece e enfraquece a existência. Expressar-se é viver! Expressar-se não é sinal de arrogância, sim de potência, de coragem. Arrogância consiste na forma de se expressar, não na expressão em si. Apesar de jamais existir um único caminho, isso não invalida o direito da argumentação. Da dedução. Daquele famoso chute! E se no fim se provar que estávamos errados o tempo todo, pelo menos alguém foi forte o bastante para erguer a mão e emitir sua opinião contrária!

Termino então essa parte do post lembrando que nascemos dotados de racionalidade. Se cada um tem o seu próprio cérebro, significa que não vamos pensar a mesma coisa que todos nunca. Então a gente não precisa fingir que pensa!

Quanto ao teste, uma coisa chamou muito minha atenção no resultado, que foi o aspecto "controle", um dos aspectos avaliados neste teste. Fiquei pasmo ao deparar com um altíssimo grau de controle no meu comportamento. Sei que sou bastante disciplinado e gosto de regras, mas fiquei realmente impressionado com a escala de avaliação para o quesito controle, que deu quase 100%! Noto isso agora mesmo, neste momento que escrevo. Eu escrevo uma palavra e já apago. Escrevo outra e reescrevo a frase inteira. Numa tentativa incansável de encontrar as palavras certas que darão o exato sentido ao que quero expressar aqui. E sabe o que é isso? Isso é uma pura besteira!
Não há palavras exatas. Há apenas uma ideia na minha cabeça. Mas essa neura quase infernal que me trava. Isso explica porque não postei nada nos últimos dias, mesmo querendo muito. Tive inúmeras boas ideias que, no instante que sentei para escreve-las, já não me pareceram mais tão boas assim. Então saí em busca de melhores ideias... Nem preciso dizer o resultado né, o que isso significa... O tempo passa e a vida vai embora...

Quando tentamos controlar demais a vida deixamos de vive-la então, porque Vida necessariamente é descontrole. Absolutamente. É improvável, intangível, indomável. A vida, as paixões, a alegria, os prazeres todos são impossíveis de serem totalmente controláveis e por natureza tendem a nos destruir. Ao vivermos demasiadamente uma paixão sentimos que ela nos adoece. Um prazer levado ao extremo pode ser a causa da nossa morte. A vida em si leva a morte. Porém é através de controle que existimos, e no entanto não significa que o excesso de controle garante domínio sobre a vida. Porque não controlamos nada em absoluto. Nem a nós mesmos!
Neste momento sinto como se estivesse em frente a um enorme outdoor, com letras garrafais, escrito: VOCÊ É DOMINADO!

Finalizo essa última parte dizendo que devemos ter um mínimo de controle em nossas vidas para vivermos plena e responsavelmente bem em família, em sociedade, com nós mesmos. Porém sem jamais buscar um controle absoluto sobre algo, porque no fim o que encontraremos não passarão de ilusões!


 

sábado, 3 de novembro de 2012

SOLIDÃO, ANGÚSTIA E INOVAÇÃO



É engraçado como ainda não percebemos quanto podem ser essenciais momentos de solidão. Há pessoas que temem tanto eles, que no menor pressentimento que enfrentarão a vida sozinhas, desesperadamente já procuram uma base fixa para se apoiar. Um ombro para segurar, uma mão para guiar a algum lugar, que ninguém melhor que elas mesmas para saber a direção. Mas se sujeitam a serem levadas ao sabor do vento, ao fluxo da maré, por medo dessa solidão que seria erguer as velas da própria nau e trilhar um caminho sozinhas. É um medo tolo esse, porque é impossível enfrentar a vida ao lado de alguém sempre. A única certeza é que viemos e partiremos dessa sozinhos. Não digo para ninguém viver só a vida toda, ser sozinho por opção, mas aprender a tirar o devido aprendizado de momentos solitários. São eles que moldam nossa existência. Apuram nossa capacidade de viver.

Acredito que a habilidade do homem afiar a si mesmo e recriar o mundo ao seu redor passa por momentos de solidão. Onde é apenas ele com ele mesmo. Não há a onde fugir. Nem a quem recorrer. A grande maioria desses momentos é terrivelmente angustiante; águas difíceis de navegar sem alguém ao lado como suporte. Nesses instantes que o homem entra em contato com a criatividade. São instantes de vida realmente sendo vivenciados. Somente a partir desse confronto com nós mesmos, com essas energias, que nos conheceremos um pouco mais; a partir daí surgirão novas ideias, novos olhares e o mundo renascerá! Todo ser humano passa por momentos como esses e eles fazem parte da sua trajetória. A vida não é apenas glórias e vitórias. Ela é um conjunto de forças conflitantes e contraditórias e enfrenta-las é inevitável. Viver é um exercício de luta constante contra nós mesmos. Sem drama! Evitar a dor é impossível, mas é necessário trabalhar com a dor inteligentemente. Se não podemos com a vida, convertemos a dor que ela nos causa em contenção ao nosso favor, impulsionando essa energia gerada a onde queremos. Não controlamos a vida, mas nós decidimos seu curso em nossa existência.

Da dor natural que é viver surgem dúvidas em relação a própria vida. Essas dúvidas geram um incômodo, que é angustiante porque é desconhecido; assusta, tira o sono, não deixa pensar direito. E esse desconforto traduzido em linguagem que a uns virá em forma de pintura, a outros em forma de dança, a outros através da escrita. Como veio esse post. Vem através da arte. A questão é que todo esse processo carrega em si um amadurecimento e só após atravessarmos surge o que chama-se Inovação. A inovação é o resultado desse processo que não deve ser negligenciado.
Muitos escritores e pintores passam anos de suas vidas sem publicar um único livro e pintar um único quadro. Lêem, observam, viajam, experienciam a vida. Mas, de arte, nada surge. E por que isso acontece? Não há inspiração. Nem necessidade. Sem ambas não há arte. No entanto, ao atravessarem um momento sombrio em suas vidas, rapidamente a alegria surge em suas obras. Como se fosse magica! Quando estamos com fome qualquer coisa parece saborosa. Sem tempo a perder, conseguimos fazer o dobro de coisas que faríamos com mais tempo. O que altera então? Inspiração e necessidade. Da mesma forma que a solidão gera um processo de inovação, a necessidade e a pressão potencializam a energia. Somos melhor motivados inspirados e necessitados.

Já me deparei com matérias de diversos “especialistas” tentando apontar os métodos para inovação. Congressos debatendo fórmulas para empresas alcançarem criatividade de colaboradores. Acredito sinceramente que isso até seja válido, porque de alguma forma estão discutindo, mas não apostaria em métodos ou receitas mecânicas e protocoladas. Até porque não há como tornar-se o que já se é. Nem aprender o que já se sabe. Parto de um princípio de que todo ser humano é naturalmente criativo e por natureza já sabe inovar. Quando somos criança, somos inovadores por excelência, dotados de uma capacidade de recriar e imaginar o mundo constantemente. Durante nosso crescimento, a cultura castra essa nossa capacidade natural, limitando nosso potencial. Criança é potencial puro! Assim sendo, o problema não é saber ou não saber ser criativo, é uma questão de cultura castradora que impõe severamente padrões absolutos e até cruéis. Um modo de pensar, de sentir, de falar, de Ser. Um único modo! Sem espaço ao novo.

Se queremos tratar de inovação, aprendamos primeiramente a viver sozinhos, a perder, a não sofrer com a contradição, a não temer o desconhecido, a enfrentar a nós mesmos e a pensar por si próprios. O desafio para a sociedade contemporânea e às empresas não é a criação de um método para as pessoas inovarem e sim uma mudança de cultura existente. Precisamos de uma cultura diferente da que vivemos até hoje para dar espaço à inovação. Que seja capaz de unir corpo e pensamento, que desenvolva nas pessoas uma visão crítica e holística sobre a vida, utilizando um pensamento complexo e sem o tradicional medo da mudança, do erro e da solidão.