terça-feira, 26 de junho de 2012

Error


“ – Por que você chora? – perguntaram as Oréiades.
– Choro por Narciso – disse o lago
– Ah, não nos espanta que você chore por Narciso – continuaram elas.
– Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.
– Mas Narciso era belo? – perguntou o lago.
– Quem mais do que você poderia saber disso? – responderam, surpresas, as Oréiades.
– Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:
– Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo.
“Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, minha própria beleza refletida”.
“Que bela história”, disse o Alquimista.”
(Paulo Coelho)


Hoje parei para rever alguns posts antigos e fiquei refletindo momentos vividos, pensando em como eu enxergava a vida, o que procurava no mundo e o que eu já conclui. Constatei que terminei voltando ao mesmo ponto de partida após uma longa jornada, ironicamente...

Talvez o desejo mais egoísta desse Blog fosse tentar através de análises filosóficas – um tanto críticas demais às vezes, confesso – conhecer o ser humano em sua plenitude, porque, sabe-se lá de que forma, isso me traria algumas respostas valiosas. No entanto, constato que voltei a estaca zero, porque me parece claro que o que observei talvez tem mais a ver comigo mesmo do que com qualquer outra coisa. Talvez buscando entender a vida seja possível apenas entender a si mesmo. Percebi que ao abrirmos uma janela para analisar o que há lá fora, vemos mais sobre o que está do lado de cá do que o que há lá de fato. E isso é muito irônico.
Achei que analisando cada momento da vida, pessoas, decisões, movimentos, sei lá... cada coisa que me viesse a mente, eu fosse capaz de trazer à luz algum ensinamento valioso; talvez isso me ajudasse a responder algumas perguntas pessoais para Isso Tudo fazer sentido. Quem somos nós. Para quê estamos aqui. Hoje noto que avaliar o que está fora do nosso alcance sem nos misturamos no próprio julgamento é tarefa tola. Isso sim talvez seja sem lógica. O que vemos somos nós. O que presenciamos o tempo todo somos nós. O que nos toca e é tocado, somos nós. Há sempre em tudo um pouco de nós todos. E isso é muito irônico.

Quando criança, me lembro das pinturas, que pra mim eram incrivelmente diferentes, do estilo surrealista. Como as obras de Salvador Dalí. Lembro-me de que as obras me chamavam a atenção e eu gostava muito de analisa-las seriamente atentando a cada detalhe. Hoje vejo que não era por causa da beleza das obras, nem por causa da escolha das cores, ou das tonalidades e dos desenhos. Era pela ausência de lógica. Eu buscava insistentemente encontrar algum ponto onde o pintor foi lúcido. Elas eram estranhas demais! (e que me perdoem os críticos de arte). Imagino que seja impossível interpretar sem nos despirmos das ideias preconcebidas ou não nos desapegarmos da razão.
Ainda quando criança, lembro-me de que ao contrário de muitos, me causava mais pânico a imensidão e o que era amplo demais do que um ambiente fechado; olhar para o céu causava-me um grande incomodo justamente pelo fato dele não ter fim. Números não tem fim. O mar dá a ideia de sem fim. As emoções me dão essa ideia também. E sabe o que é mais irônico nisso tudo?

Pra mim é um completo estranhamento e há uma certa admiração em coisas sem limites estabelecidos. Achava as obras de Salvador Dalí malucas e assustadoras, porque eu não as entendia, mas paradoxalmente toda vez fazia pinturas iguais a elas nas aulas de desenho livre, nas disciplinas de Artes. Sempre achei o céu assustador, porque ele é imenso e parece que vai engolir tudo, e no entanto quando queria me acalmar e objetivar minhas ideias era só olha-lo. O mar é imenso e me parece misterioso, e mesmo assim cheguei a pensar em servir à Marinha. Mesmo odiando números sempre fui um dos melhores da escola em matemática. Acho certos estágios emocionais difíceis de lidar, no entanto dez entre dez pessoas que me conhecem bem apostariam tudo que nasci pra ser psicólogo. Recentemente, fiz uma uma bateria de testes vocacionais que apontaram ao Comércio Exterior, logo após eu ter dito para o meu professor (de Comércio Exterior!) que não sabia se tinha me encontrado no curso; ele riu sabiamente, dizendo-me que está aí a grande lição da vida! Que lição é essa!!?? Isso é tudo muito irônico!

Eu tinha dito a mim mesmo (até ontem) que não ficaria mais acordado até tarde, fosse lendo, na internet ou vendo TV, porque eu iria dormir cedo; fiz pacto de oito horas de sono com meu corpo. É madrugada e estou aqui no Blog, escrevendo; porque o momento da criação resolveu chegar só agora. É ironia demais...

Pra mim a vida tem sido uma busca interior por respostas lógicas e explicáveis através do que eu julgava ver no mundo, mas se tornou um constante reforçar da vida em me dizer que não tenho controle sobre ela. Não será domável. Explicável! Por mais que eu insista...
Minhas teorias estão sendo postas à prova e colocando em xeque meus paradigmas; as respostas não têm mais vindo lógicas. Algo Maior tem me mostrado coisas por ângulos realmente “180graus” diferente. Atando-me a esse estado de completa impotência. De repente, tudo o que eu achei que fosse a grande verdade mostrou-se uma opinião pessoal e tudo o que pensei sobre a humanidade diz respeito mais sobre a mim mesmo, unicamente. Sinto-me tolo agora. Como se eu recebesse um “xeque-mate”. Numa partida comigo mesmo. Ou isso tudo é muito genial ou isso tudo é muito irônico...


[/ “ – Existem três tipos de alquimistas – disse meu Mestre. – Aqueles que são vagos porque não sabem o que estão falando; aqueles que são vagos porque sabem o que estão falando, mas sabem também que a linguagem da Alquimia é uma linguagem dirigida ao coração, e não à razão.
– E qual o terceiro tipo? – perguntei.
– Aqueles que jamais ouviram falar em Alquimia, mas que conseguiram, através de suas vidas, descobrir a Pedra Filosofal.”
(Paulo Coelho)]


domingo, 17 de junho de 2012

O DEPENDURADO


Todo mundo tem um grande medo na vida. O meu é ficar louco. É engraçado, mas é verdade. Me lembro de muito pequeno dizer isso as pessoas e notar como elas tentavam entender o funcionamento desse medo. Até hoje não sei entender exatamente como ele funciona. Sabe quando você tem a sensação que o mesmo caminho que leva à loucura, leva à cura? rs Pois é, acho que já expliquei isso aqui rs rs


Desde de sempre, em algum momento da minha vida, me percebo vasculhando o meu inconsciente, revirando a parte mais profunda. Nem sempre é intencional, às vezes sou puxado e quando dou por mim já estou lá. Preso. Aí começa a tortura: ser capaz distinguir o que é real do que é fantasia, o que é inconsciente do que é consciente, o que é de agora do que já aconteceu ou ainda está por vir... Bagunça mesmo. Tenho a certeza então de que se não entender fico louco. Entendendo, fico sábio mais um pouco. Complexo...

Sempre fui atraído por assuntos sobre a mente humana. Um dia ainda farei uma faculdade de psicologia por causa exatamente dessa atração. Acho fantástica a mente humana. Acho o ser humano muito rico por causa dessa capacidade. Raciocinar. Mentalizar as coisas. Não desmereço os sentimentos e as emoções, até porque eles são originados no cérebro também. Através do sistema límbico. As manias, os TOCs, a dependência, a psicose, a psicopatia sempre me atraíram; a capacidade de criar mundos mentais que são tão reais apenas na mente de uma pessoa me parece interessante; “demônios”, somatizações e tudo o mais sempre foram objeto de estudo pra mim. Sempre fui atraído pela funcionalidade cerebral exatamente pelo mistério e perigo no qual o cérebro nos envolve: a gente nunca descobriu qual a exata capacidade da nossa mente e o que ela é capaz de abrigar – inconscientemente falando.

Passei os últimos anos da minha vida em bibliotecas, livrarias, na internet, em conversas procurando assuntos e lendo livros, desde astrologia, numerologia, parapsicologia, neurologia até antropologia, mitologia, geopolítica, quântica e lei da atração... Descobri coisas fantásticas a respeito da vida e acredito que isso me ajudou a não enlouquecer em algumas épocas e também a quase enlouquecer, exatamente pelo fato de compreender as coisas. Falando assim: é como ir abrindo os olhos e não podendo mais fechá-los, onde você é obrigado então a assistir tudo.
Acredito sinceramente que o conhecimento colocado em prática no dia a dia, se transforma em sabedoria ao longo da vida e essa sabedoria traz ao homem consciência dos seus atos (ou a ausência deles) e com isso responsabilidades. Não dá para voltar e deixar de ter consciência uma vez que algo se tornou consciente, porque não somos como os computadores que é só jogar na “Lixeira” e depois deletar de lá – “pronto, eliminado o arquivo” -. Penso que um trauma pode até "deletar" algo, mas isso não significa que não exista. Ficou latente. Acredito que o ser humano convive com o que aprende e com o que se recusa a aprender, a vida toda, e isso pra mim é uma benção e uma maldição. Pode soar estranho essa linha de raciocínio, mas realmente penso dessa forma.

As pessoas têm vícios, manias e hobbies. O meu é ler, estudar e pesquisar. Acumulando conhecimento. Seja lá o que eu me interessar num determinado momento da vida, pego esse assunto e começo a “disseca-lo”, estudo até chegar ao meu ponto de vista – que sei que poderá ser apenas um ponto de vista, uma verdade dentre as muitas outras. Mas ainda assim é o meu ponto de vista, é a minha mente – não vivo a mente de outra pessoa –, preciso valorizar o que eu concluo então. Sendo certo ou errado, é o que eu fui capaz de concluir, naquele momento da vida. E para uma pessoa entender-me teria que ser capaz de ver a vida, viver as experiências e sentir o mundo exatamente como eu. Como isso não é possível respeito as opiniões dos outros e faço a minha valer também.

Passei muitos estudando sobre a mente humana - e não sou nenhum especialista no assunto! - e quis tentar entender porque para alguns refletir é tão difícil. Porque algumas pessoas sofrem tanto com os próprios pensamentos: sejam de cobrança, culpa, medo, ansiedade... Mecanismos internos que podem prendê-la dentro dela mesma e causar sofrimento. Tenho uma teoria...
Acredito que tem gente que teme tanto mergulhar no próprio (in)consciente, primeiro porque no fundo há aquele medo do que vai existir e segundo porque o desconhecido é quase sinônimo de errado. Mas penso que não conseguimos mentir (conscientemente) a nós mesmos por muito tempo. Não dá. Conhecer a si mesmo significa se fazer perguntas desconfortáveis e obter respostas muitas vezes inesperadas. Se enfrentar mesmo. Pode ser difícil e chato esse processo, só que fazendo isso nós descobrimos uma coisa que se chama: a verdade! Acendendo a luz do quarto, de repente nada de mostro. Enfrentando determinado medo, vemos que foi mais fácil do que parecia. O que eu observo é que ao jogar "luz" [esclarecimento] sobre o que dizemos ser sombras, descobrimos que o mal estava na nossa mente, não existia nada de errado no "escuro"[desconhecido]. O mal fomos nós que criamos, é tão parte de nós quanto o bem.

Outro dia fui estudar umas referências da palavra “diabo”. Você sabia que em algumas culturas ela significa “inimigo”? E que muitas vezes nós somos nosso próprio inimigo? Se Deus vive dentro de nós, acredito que o diabo também viva. Antes que comecem o preconceito e as acusações contra mim, leiam com atenção: não sou anti-cristo, acredito em Deus e tenho muita fé! Ao meu modo. Apenas parto do princípio que julgamos como ruim e maléfico tudo o que desconhecemos ou nos é estranho e acredito que quando praticamos autoconhecimento percebemos que nós mesmos podemos ser maus também. Pessoas do mal. Não são as energias negativas que nos definem assim, são as nossas ações. Energia é energia em qualquer lugar do mundo, em qualquer religião, em qualquer época, o que a define como boa ou má é a nossa intenção – de que forma e com qual propósito ela é utilizada -. Constato que para alguns é mais fácil dizer que foi o diabo ou que a culpada foi a sociedade ou qualquer outra coisa, para no fundo livrar nossa pele da responsabilidade pelos nossos atos. Aí jogamos a resposta das nossas ações e decisões pra debaixo do tapete e tentamos acreditar que não somos responsáveis por nada.

O que eu pretendo dizer e gostaria que enxergasse nesse post?

Antes de mais nada, o que você quiser entender ou enxergar! Aqui é livre para interpretações. Agora, só não me responsabilize pelas suas análises. Pode estar vendo mais sobre você mesmo através do que julga estar nesse post. Eu aprendi e sinceramente acredito que julgamos os outros por nós mesmos.
Acho que somos energia pura e ela só será boa ou ruim conforme como agimos ou pensamos e atraímos o mesmo como resultado. Acho que existe Deus e o diabo dentro de todo ser humano (Um Amigo e um inimigo) e como na estória dos lobos, sobrevive aquele que você alimenta.
Eu descobri que antes de ter medo do que o mundo tem a nos oferecer, comecemos a nos preocupar com o que nós identificamos como perigoso, feio ou mal no mundo, porque através desses julgamentos podemos descobrir mais sobre nós mesmos e talvez toda essa maldade enxergada esteja apenas em nós.
Ao praticar autoconhecimento, eu percebi que posso ser tão cruel quanto aquele que eu julgo como mau e julga-lo nunca me colocará numa posição superior a ele, tampouco vai garantir que um dia os papéis não se invertam, porque nós dois temos uma coisa em comum: somos humanos. Dotados de falhas. Apenas fizemos escolhas e tomamos caminhos diferentes, e é claro que o resultado também mudou. Se eu não puder entender isso, me igualo a ele no erro.

Comece então a se responsabilizar pelas coisas que te acontecem, sempre prestando atenção na forma como você vê o mundo a sua volta e as pessoas ao seu redor, porque mais importante do que ver, é como enxergamos.


Nem todos aqueles que nós julgamos serem pessoas do mal são realmente pessoas do mal, mas em todas as vezes que julgamos um pouco de maldade tivemos.