
“ – Por que você chora? – perguntaram as Oréiades.
– Choro por Narciso – disse o lago
– Ah, não nos espanta que você chore por Narciso – continuaram elas.
– Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.
– Mas Narciso era belo? – perguntou o lago.
– Quem mais do que você poderia saber disso? – responderam, surpresas, as Oréiades.
– Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:
– Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo.
“Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, minha própria beleza refletida”.
“Que bela história”, disse o Alquimista.” (Paulo Coelho)
Hoje parei para rever alguns posts antigos e fiquei refletindo momentos vividos, pensando em como eu enxergava a vida, o que procurava no mundo e o que eu já conclui. Constatei que terminei voltando ao mesmo ponto de partida após uma longa jornada, ironicamente...
Talvez o desejo mais egoísta desse Blog fosse tentar através de análises filosóficas – um tanto críticas demais às vezes, confesso – conhecer o ser humano em sua plenitude, porque, sabe-se lá de que forma, isso me traria algumas respostas valiosas. No entanto, constato que voltei a estaca zero, porque me parece claro que o que observei talvez tem mais a ver comigo mesmo do que com qualquer outra coisa. Talvez buscando entender a vida seja possível apenas entender a si mesmo. Percebi que ao abrirmos uma janela para analisar o que há lá fora, vemos mais sobre o que está do lado de cá do que o que há lá de fato. E isso é muito irônico.
Achei que analisando cada momento da vida, pessoas, decisões, movimentos, sei lá... cada coisa que me viesse a mente, eu fosse capaz de trazer à luz algum ensinamento valioso; talvez isso me ajudasse a responder algumas perguntas pessoais para Isso Tudo fazer sentido. Quem somos nós. Para quê estamos aqui. Hoje noto que avaliar o que está fora do nosso alcance sem nos misturamos no próprio julgamento é tarefa tola. Isso sim talvez seja sem lógica. O que vemos somos nós. O que presenciamos o tempo todo somos nós. O que nos toca e é tocado, somos nós. Há sempre em tudo um pouco de nós todos. E isso é muito irônico.
Quando criança, me lembro das pinturas, que pra mim eram incrivelmente diferentes, do estilo surrealista. Como as obras de Salvador Dalí. Lembro-me de que as obras me chamavam a atenção e eu gostava muito de analisa-las seriamente atentando a cada detalhe. Hoje vejo que não era por causa da beleza das obras, nem por causa da escolha das cores, ou das tonalidades e dos desenhos. Era pela ausência de lógica. Eu buscava insistentemente encontrar algum ponto onde o pintor foi lúcido. Elas eram estranhas demais! (e que me perdoem os críticos de arte). Imagino que seja impossível interpretar sem nos despirmos das ideias preconcebidas ou não nos desapegarmos da razão.
Ainda quando criança, lembro-me de que ao contrário de muitos, me causava mais pânico a imensidão e o que era amplo demais do que um ambiente fechado; olhar para o céu causava-me um grande incomodo justamente pelo fato dele não ter fim. Números não tem fim. O mar dá a ideia de sem fim. As emoções me dão essa ideia também. E sabe o que é mais irônico nisso tudo?
Pra mim é um completo estranhamento e há uma certa admiração em coisas sem limites estabelecidos. Achava as obras de Salvador Dalí malucas e assustadoras, porque eu não as entendia, mas paradoxalmente toda vez fazia pinturas iguais a elas nas aulas de desenho livre, nas disciplinas de Artes. Sempre achei o céu assustador, porque ele é imenso e parece que vai engolir tudo, e no entanto quando queria me acalmar e objetivar minhas ideias era só olha-lo. O mar é imenso e me parece misterioso, e mesmo assim cheguei a pensar em servir à Marinha. Mesmo odiando números sempre fui um dos melhores da escola em matemática. Acho certos estágios emocionais difíceis de lidar, no entanto dez entre dez pessoas que me conhecem bem apostariam tudo que nasci pra ser psicólogo. Recentemente, fiz uma uma bateria de testes vocacionais que apontaram ao Comércio Exterior, logo após eu ter dito para o meu professor (de Comércio Exterior!) que não sabia se tinha me encontrado no curso; ele riu sabiamente, dizendo-me que está aí a grande lição da vida! Que lição é essa!!?? Isso é tudo muito irônico!
Eu tinha dito a mim mesmo (até ontem) que não ficaria mais acordado até tarde, fosse lendo, na internet ou vendo TV, porque eu iria dormir cedo; fiz pacto de oito horas de sono com meu corpo. É madrugada e estou aqui no Blog, escrevendo; porque o momento da criação resolveu chegar só agora. É ironia demais...
Pra mim a vida tem sido uma busca interior por respostas lógicas e explicáveis através do que eu julgava ver no mundo, mas se tornou um constante reforçar da vida em me dizer que não tenho controle sobre ela. Não será domável. Explicável! Por mais que eu insista...
Minhas teorias estão sendo postas à prova e colocando em xeque meus paradigmas; as respostas não têm mais vindo lógicas. Algo Maior tem me mostrado coisas por ângulos realmente “180graus” diferente. Atando-me a esse estado de completa impotência. De repente, tudo o que eu achei que fosse a grande verdade mostrou-se uma opinião pessoal e tudo o que pensei sobre a humanidade diz respeito mais sobre a mim mesmo, unicamente. Sinto-me tolo agora. Como se eu recebesse um “xeque-mate”. Numa partida comigo mesmo. Ou isso tudo é muito genial ou isso tudo é muito irônico...
[/ “ – Existem três tipos de alquimistas – disse meu Mestre. – Aqueles que são vagos porque não sabem o que estão falando; aqueles que são vagos porque sabem o que estão falando, mas sabem também que a linguagem da Alquimia é uma linguagem dirigida ao coração, e não à razão.
– E qual o terceiro tipo? – perguntei.
– Aqueles que jamais ouviram falar em Alquimia, mas que conseguiram, através de suas vidas, descobrir a Pedra Filosofal.” (Paulo Coelho)]