[/ Tenho tido tanta vontade de escrever que me é difícil segurar as palavras dentro de mim mesmo. É incrivelmente reconfortante os momentos de dor quando se analisa de outra forma. Estou lendo O Guardião de Memórias de Kim Edwards e tenho gostado muito da atmosfera que o livro evoca. David, um dos personagens do livro, está desesperadamente aprisionado em lembranças que de alguma forma o confortam e Norah, sua esposa, vive uma vida totalmente pausada, paralelamente com a vida que ela desejou viver. O livro é muito tenso, realista, algo vivo... Quero saber onde isso vai terminar. ]
Quantas vezes não passamos por momentos difíceis sem imaginar que existe saída. É doloroso passar por essas experiências porque de alguma forma ela nos obriga a nos depararmos com a nossa pequenez frente à vida. Não somos nada! Não assim insignificantemente. Mas humildemente. Nunca paramos para analisar o tamanho do Universo e onde nos situamos nele; outro dia assistia a um vídeo de imagens do Universo e onde nós – planeta Terra – estávamos colocados. É interessante e ao mesmo tempo assustador constatar que somos um grão de areia, um cisco no cenário todo. O Universo é tão assustadoramente imenso que me atreveria a garantir que somos quase inexistentes nele. Talvez tudo seja realmente inexistente, numa tentativa de ser constantemente criado, já pensou?!?
Nesses momentos de dor é interessante como os nossos sentidos se aguçam e captamos melhor os sinais. Não sei se já percebeu, mas estamos o tempo todo sendo bombardeados por informações, imagens, matéria, que não nos damos conta que existe um “por trás” disso tudo. Eu sei que pra alguns talvez essa conversa esteja indo longe demais e parecendo muito complicada ou complexa; mas por que será que nos momentos mais decisivos a nossa atenção redobra e seríamos capazes de captar um mosquito voando?!
Seria porque talvez a nossa capacidade de interação com o que está ao nosso redor esteja invariavelmente ligada a como levamos a nossa vida. Vou explicar. Temos vivido tempos em que tudo é mostrado, explícito, notícias bombásticas e fatos mirabolantes a todo momento, que não estamos sendo capazes de captar o que está por trás das cortinas. Algumas coisas se ligando silenciosamente por trás do brilho dos holofotes como sinapses. Insights da realidade. E nós não vemos por dois motivos: primeiro porque estamos cegamente compenetrados no que está reluzindo e segundo porque não sei se estamos preparados ou queremos ver além do que nos é apresentado.
Aonde quero chegar com esse 'papo de louco'? Sei que você deve estar pensando isso agora e não o culpo, afinal a gente não ouvi muito sobre coisas assim e nos acostumamos a descreditar quem fala sobre isso. Mas o fato é que existe sim muito mais coisas do que de fato captamos e algumas pessoas que já conseguiram mergulhar além dessa camada superficial puderam ver. Nunca nos perguntamos em que momento Leonardo Da Vinci pintou aquelas belíssimas obras, certo? Quem sabe, o que move uma bailarina a dançar ardentemente no palco, enquanto seu corpo parece estar possuído por uma energia apaixonante? Ou em que momento um atleta recupera o fôlego já diminuto e escava dentro de si até encontrar a reserva inesgotável de energia para vencer a partida? Não... Isso não sabemos, porque a gente não capta. Porque é um sopro de vento delicadamente insensível e irrelevante que desencadeia o que muda a vida de um pobre homem. São forças de nossa própria autoria que desconhecemos mas que se integram ao todo e transmutam as coisas.Seria porque talvez a nossa capacidade de interação com o que está ao nosso redor esteja invariavelmente ligada a como levamos a nossa vida. Vou explicar. Temos vivido tempos em que tudo é mostrado, explícito, notícias bombásticas e fatos mirabolantes a todo momento, que não estamos sendo capazes de captar o que está por trás das cortinas. Algumas coisas se ligando silenciosamente por trás do brilho dos holofotes como sinapses. Insights da realidade. E nós não vemos por dois motivos: primeiro porque estamos cegamente compenetrados no que está reluzindo e segundo porque não sei se estamos preparados ou queremos ver além do que nos é apresentado.
Estamos nos programando com comandos através de ensinamentos e práticas tão práticas que nós não conseguimos nos permitir aprender em que momento entram os ingredientes que dão vida a receita: intuição, intenção, criatividade. E é aí que quero entrar. Qual é a medida certa para um café perfeito? Por que duas pessoas com receitas idênticas provocam sabores diferentes? Por que o olhar das pessoas para a mesma direção captura cenas distintas?
Porque depois do conhecimento e da prática entra na minha opinião outra coisa chamada “fator humano”. A dignidade da arte (em qualquer coisa que imaginar) não é ensinada e você jamais vai acertá-la mesmo depois da milésima tentativa. Sabe por quê!? Porque você vai ter que encontrar primeiro algo que dou a minha vida ao afirmar que Leonardo Da Vinci conhecia. Santos Dumont, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector também devem ter conhecido. Fator humano. Ele ultrapassa a teoria e a prática das coisas e faz o mendigo rico e a parte barro sagrada, através de algo que eu não saberia – nem que quisesse – explicar. Porque sou humilde demais ao admitir que é um estágio em que já Não importa o que você tem aprendido e Não importa o quanto você tem praticado, você simplesmente faz como nunca antes. E aí do nada o sagrado se cria. A singela tela ganha vida. A dança imortaliza a bailarina e a canção toca o cantor. Neste ponto acontece o que chamamos de Alquimia. A capacidade de transformar o que for de mais rústico em obra de arte.
Não estou aqui tentando dizer que encontrei o “fator humano”, nem mesmo que esse seja seu nome ou que sei como utiliza-lo. Não. Quero dizer que em algum momento da nossa vida todos nós já nos deparamos com ele. Quando? Quando você fez aquele prato sem receita, medindo os ingredientes pela intuição. Ou quando você mirou despretensiosamente e terminou acertando em cheio. Quando descobriu e manipulou um talento natural, sem nunca ensaiar. Quando – plagiando Jean Cocteau – não sabendo que era impossível, você foi lá e fez. É nesse momento que aconteceu a Vida! Aí Ela se revelou, manifestando-se num breve espetáculo diante dos seus sentidos desacostumados a captá-la.
Sabe o que seria bom que você fizesse? Que ajustasse os seus ouvidos para captar esse silêncio e os seus olhos para enxergar além do que lhe é aparentemente mostrado. Programasse-se para as surpresas, desacostumando-se do óbvio. Pelo contrário, inove cada dia mais! Descubra um dom e não espere, simplesmente aconteça, você é capaz disso. Há algo que apontará corretamente o caminho, apenas siga o fluxo que o suga. Sem pretensões gloriosas e sem lamentações, desprepare-se, desarme-se e se liberte. Então vai descobrir o que talvez grandes pensadores, pintores, músicos ao longo das suas vidas descobriram: a vida como uma forma criativa de existir, onde somos livres para criar o que quisermos... Experimente. Acredito que quando entendermos isso, seremos capazes de ir muito além do que acreditamos que podemos, sabe por quê? Porque nós somos um mar aberto, navegável, de infinitas possibilidades...
Tente!
“Querendo, mentalizamos; mentalizando, agimos; agindo, atraímos; e atraindo, realizamos.” (Extraído do livro Sinal Verde, espírito André Luiz e psicografia de Chico Xavier)