Hoje eu gostaria de falar um pouco sobre a congruência. Você se
consideraria uma pessoa congruente? Essa é uma das
perguntas que permeia a minha vida de tempos em tempos. E acho
necessário nos questionarmos isso. Principalmente nesse momento de
pandemia. Que apesar de difícil e sofrido, e sem romantização alguma também, afirmo que nunca observei tantos movimentos de interiorização. De forma voluntária ou não, muitas pessoas estão sendo
“convidadas” a olhar a própria vida de outro ângulo. Penso que de tempos em
tempos deveríamos mesmo nos fazer perguntas. Buscar encontrar
congruência em nossa vida; o que queremos, quais ações tomamos, quem realmente somos – ou o que gostaríamos pelo menos de nos
tornar.
Em que acredito? Em que confio? O que espero da vida? O que imagino ser interessante, positivo ou capaz de agregar algo de bom a mim e às pessoas ao meu redor?
As perguntas acima certamente chamam outras.
O
que quero na minha vida? Quais
são os meus sonhos e principais objetivos? Como
gostaria de ser lembrado? Quais são os meus
valores centrais (realmente)? O
que não estou disposto a negociar? Mas também qual seria
o meu limite, a minha necessidade e o meu poder de barganha dentro de
uma negociação? Até que
ponto estou disposto (e sou capaz de ir) pelo
o que acredito?
É essencial sabermos responder minimamente boa parte dessas perguntas, mas infelizmente é justamente aqui que temos maior dificuldade por falta de autoconhecimento e autoanálise. E sem isso fica difícil, quase impossível nos responder seguramente as perguntas que vêm a seguir.
Que
caminho é esse sob os meus pés? Quem
me torno por esse percurso? Esse
caminho me aproxima do ponto que almejo chegar?
O que é preciso fazer se necessário
recalibrar à rota inicial? Quais ações tenho
tomado e quais ainda não tomei? Quais
seriam as possíveis consequências, os
riscos e o preço a ser pago de mudar? E de
permanecer aqui?!
Isso
é buscar por congruência. Congruente é a pessoa que busca alinhar o máximo
possível aquilo que acredita com a sua prática. De preferência se
tornando uma pessoa melhor a si mesma e também às demais. O homem não é uma ilha. Obviamente que é impossível um estado
de total congruência. E seria até uma mentira da minha parte afirmar que
já alcancei isso. Eu nunca alcancei porque isso não existe. É uma
busca constante encontrar equilíbrio entre o eu e o outro. Ainda mais difícil isso em grupo. Temos o nosso jeito de ser e o mundo nos impõe diariamente limites e regras, para lapidar o nosso caráter. É justamente através do outro no caminho que o animal-homem pode se ver, se humanizar, ganhar civilidade, ética e
sabedoria.
Nós vivemos em sociedade. Precisamos saber nos relacionar com respeito com todo tipo de pessoa. Isso é civilização. O sistema é capitalista. Precisamos trabalhar para obter dinheiro. É preciso equalizar então os nossos valores e os da engrenagem social. Não podemos confundir ser congruente com total liberdade. Se esse texto trouxer essa ideia, minha intenção é diferente. Ninguém pode ser o que quiser e fazer o que bem entender, se isso estiver objetivamente prejudicando outra pessoa. Isso seria cruel. Como animal social, o homem “interpreta” seu personagem. Isso é esperado e saudável até. Já pensou se todos fossem exatamente como quiserem? Não daria certo. A máscara então é necessária. Mas não podemos nos identificar demasiadamente com ela. Existe um INDIVÍDUO por trás, com ideias, emoções e opiniões próprias. Sendo assim,
O
que de você é VOCÊ?
Este
é um verdadeiro desafio. Ouvir o nosso interior e saber alinhá-lo
aos apelos e exigências externos. Se só levamos em consideração as nossas necessidades e desrespeitamos as regras e os limites do meio,
atropelamos os outros. Mas se também não entendemos quem nós somos e
não respeitamos as nossas necessidades apenas cedendo ao meio, passamos
por cima de nós mesmos. E isso terá um alto custo lá
na frente! Embora na hora ninguém se dá conta disso. Mas é exatamente esse
extrato que a pandemia traz à tona. Aqueles que viviam no piloto
automático; num deixa a vida me levar; pondo a si mesmo à mercê dos outros; numa vida incongruente,
estão sendo convocados a um acerto de contas. Com si próprio. E isso é
muito duro, porque a pandemia possibilitou questões que estavam
recalcadas e inconscientes virem à tona com força. Mas a pandemia não criou nada. Ela só deu foco. Lupa. E
uma vez que se ganhou consciência não tem como esquecer. Ou
você elabora isso, ou isso vai te acompanhar de algum modo vida à fora. O que fazer agora? É o que muitos estão se
perguntando em relação a casamento, divórcio, criação de filhos, relação com pais, trabalho,
carreira, saúde mental. E alguns continuam negando.
Você: o que tem feito?