Eu não gosto de dar conselhos a ninguém. Faço em raras exceções, quando alguém me pede isso, o que ainda procuro me policiar ao máximo para não ditar o que a pessoa deveria fazer. Penso que para ajudar de fato, o ideal nesses casos é sempre devolver à pessoa perguntas que a façam refletir sobre a sua dúvida e com isso sozinha ela será capaz de encontrar as melhores respostas. Parto de um princípio então de que todos nós já possuímos dentro de nós mesmos as respostas para todos os nossos dilemas. Mas se eu tivesse que escolher um único conselho que pudesse ser empregado indistintamente a qualquer pessoa, em qualquer situação e tempo, certamente eu reproduziria a famosa inscrição na entrada do Oráculo de Delfos: “conhece-te a ti mesmo.” Busque autoconhecimento.
Eu sei também que apesar de todos falarem que autoconhecimento é importante, não é uma tarefa fácil, nem simples, principalmente às pessoas que não têm esse hábito. O autoconhecimento requer a realização de uma investigação interna constante. Mas não raro percebo que muitas pessoas não sabem nem por onde começar a trilhar um caminho rumo ao seu autoconhecimento. Fica uma coisa abstrata demais. Muito subjetiva. Às vezes mística. Enfim, algo de difícil compreensão do que seria isso e mais difícil ainda de como colocar em prática isso no dia a dia. Acredito então que facilitaria muito ter uma técnica básica, um método possível, algo simples que qualquer pessoa pudesse encontrar ao menos um ponto de partida.
Com o propósito de ajudar essas pessoas, hoje faço esse texto. O meu objetivo é mostrar o caminho das pedras. Caminho esse que um dia eu trilhei e descreverei aqui algumas práticas valiosas que um dia eu mesmo fiz e hoje recomendo a qualquer pessoa que queira se conhecer melhor. Se você é uma pessoa que tem pouco conhecimento sobre si mesma, mas gostaria de melhorar nesse sentido, então eu peço que leia esse texto com atenção, com a sua mente bastante aberta, não julgue nenhuma das propostas passadas aqui, sem antes se permitir realiza-las.
Antes de iniciarmos gostaria de dizer que a melhor forma de obter autoconhecimento é através de psicoterapia ou fazendo análise. Se isso for viável a você nesse momento, pense sobre procurar um psicólogo ou um psicanalista e certamente esse profissional te auxiliará de forma personalizada no caminho rumo ao seu autoconhecimento.
Bom, vamos lá! Apesar de algumas pessoas não gostarem muito de realizar testes psicológicos e comportamentais, eu posso garantir que eles podem ajudar sim – e muito – no processo de autoconhecimento. Mas é fato também que nenhum teste no mundo é capaz de revelar com cem por cento de precisão a complexidade que é a personalidade humana. Mas o meu objetivo aqui também nem é este. Fazer você se descobrir. O meu objetivo é te provocar reflexões a partir de um ponto de partida que você chegará sozinho, validará com o seu meio e empiricamente você poderá se trabalhar nesse processo através de reflexões e autoanálise.
Comecei meus processos de autoconhecimento ainda na infância e início da adolescência. Não sabia por onde começar na época, de que ponto puxar o pensamento; o que deveria ser analisado primeiro. Eu precisava de algo para começar. Um mínimo esboço sobre mim, sobre a minha personalidade. Adoro utilizar a seguinte analogia. Quando vamos elaborar um texto ou realizar um desenho, num primeiro momento precisamos elaborar um esboço do trabalho, para depois com o tempo irmos aprimorando e lapidando a nossa obra. Na época que comecei sentia então a necessidade de obter um esboço inicial da minha personalidade e a partir dele começar as reflexões sobre mim mesmo, sobre o meu comportamento. Mas nunca para me definir! Apenas para começar a me conhecer mais. Veja que no próprio cabeçalho do meu blog já escrevo: “não se defina por completo, não se dê por concluído”. No autoconhecimento então busquei desde sempre pontos de partida, mas nunca me contentei com pontos de chegada!
Nesse processo fiz inúmeros testes psicológicos e comportamentais, desde aqueles de revista de moda e culinária até testes validados mesmo por psicólogos. Na internet explorei vários testes e descobri alguns úteis – e gratuitos – para se obter um esboço inicial da personalidade e iniciar esse caminho ao autoconhecimento. Eu recomendarei aqui três testes. 1º O teste do Eneagrama. 2º O Teste do Zodíaco. 3º Os testes que se assemelham à tipologia do MBTI* (*Na internet pode haver testes similares ao MBTI, mas o teste original é uma ferramenta de Assessment exclusiva da consultoria Feliipelli que é a sua representante oficial no Brasil). Há muitos testes que são oferecidos gratuitamente na internet de diferentes formas, mas é importante destacar que esses testes não são científicos, não validam o resultado, são meramente informativos, para divertimento e eles não substituem uma avaliação psicológica, nem um tratamento receitado por um profissional especializado. Os testes que fiz da internet que mais gostei têm as seguintes características:
Possuem maior número de perfis possíveis (Ex.: O Eneagrama te dá 9 perfis possíveis; o Teste do Zodíaco te dá 12 perfis possíveis; os testes similares à tipologia junguiana e ao MBTI te dão 16 perfis possíveis);
Possuem maior número de questões (Quanto mais questões o teste tiver, o resultado tende a ser mais próximo do seu perfil);
Possuem respostas que permitem a escolha numa escala maior (Ex.: Discordo completamente/ Discordo consideravelmente/ Discordo pouco/ Nem discordo nem concordo/ Concordo pouco/ Concordo consideravelmente/ Concordo completamente).
Então, vamos à prática! Dividiremos a técnica desenvolvida aqui em cinco etapas, ok?
1ª ELABORAR OS TESTES;
2ª PESQUISAR SOBRE SEUS RESULTADOS;
3ª LISTAR AS CARACTERÍSTICAS DOS PERFIS;
4ª SELEÇÃO E VALIDAÇÃO COM O MEIO;
5ª REFLEXÃO E AUTOANÁLISE.
1ª ELABORAR OS TESTES
Faça primeiramente os três testes que recomendei acima. Existem vários sites bons na internet que fornecem um resultado interessante. Eu selecionei agora um deles e fiz os meus testes neste:
Zodíaco: https://www.idrlabs.com/pt/verdadeiro-signo-do-zodiaco/teste.php
Tipologia Jung: https://www.idrlabs.com/pt/teste.php
Abaixo os resultados dos meus testes (clique na imagem):
2ª PESQUISAR SOBRE SEUS RESULTADOS
Faça pesquisas no Google como as seguintes (de acordo com o seu resultado): “características tipo 1 eneagrama”; “características signo virgem zodíaco”; “características intj mbti”.
3ª LISTAR AS CARACTERÍSTICAS DOS PERFIS
Enquanto você pesquisa as características dos seus perfis na internet, você pode ir anotando numa folha simples de caderno (eu gosto de escrever à mão nesses momentos) as características (“positivas” de um lado e “negativas” do outro) que você descobrir de cada perfil. Leia tudo o que encontrar sobre o seu perfil. Depois anote pelo menos cinco características positivas e cinco negativas de cada perfil. Desta forma:
4ª SELEÇÃO E VALIDAÇÃO COM O MEIO
Essa etapa é crucial para a técnica, porque o seu meio tem grande possibilidade de validar de forma mais fidedigna o seu resultado. Aqui entram as pessoas que convivem diretamente com você e que você confia. Ex.: mãe, pai, avôs, avós, irmãos, filhos, cônjuge, outros familiares, amigos, colegas de trabalho, líderes etc. O importante é que sejam pessoas que você sabe que querem o seu bem e que você acredita que te darão uma devolutiva sincera sobre o seu resultado.
Você vai selecionar pelo menos cinco dessas pessoas (pode ser mais se quiser), entregará uma listagem apenas com as características e pedirá a elas para selecionarem por favor pelo menos 8 características positivas e 8 negativas dessa listagem que são as mais evidentes na sua personalidade e no seu comportamento, de acordo com o ponto de vista da pessoa. Desta forma:
5ª REFLEXÃO E AUTOANÁLISE
Ao receber de volta as listagens, de posse dessas devolutivas você conhecerá quais são as suas características mais evidentes, então você terá condições agora de iniciar um processo de reflexão e autoanálise sobre isso. Mas deixo claro que isso aqui é só o comecinho, assim como intitulei esse texto, essa técnica se propõe a ser um humilde pontapé inicial ao seu processo de autoconhecimento. Porque existem pessoas que não conseguem chegar nem aqui! E a partir de agora elas têm, no mínimo, características precisas de sua personalidade e de seu comportamento, validadas pelo seu meio, e isso as possibilita uma interessante autoanálise.
Nesse momento, algumas reflexões aqui podem ser bem pertinentes. Veja o meu caso por exemplo. Fiz comigo essa técnica há bastante tempo, meus perfis continuam os mesmos, mas de lá para cá busquei desenvolver algumas características do meu jeito de ser. E é óbvio que ainda escorrego em muitas delas. Porque essa técnica é só a ponta do iceberg. Você poderá ir com ela até certo ponto no seu autoconhecimento. Até o seu ponto cego. A partir daí já será necessário um processo de psicoterapia ou uma análise. E o objetivo final dessa postagem é este: que ao final de sua reflexão e autoanálise, você busque por um profissional que dará continuidade no seu autoconhecimento.
Minha autoanálise a partir dos testes psicológicos foi muito reveladora! Uma coisa vai puxando a outra. Vou colocar abaixo alguns diálogos reais que tive comigo mesmo e como buscava me investigar.
- Jonas, por que você se cobra de ser tão perfeito? De onde vem isso? Quem você está tentando agradar? Qual é o problema de fato se você for alguém imperfeito? O que você ganha com um comportamento crítico e julgador: você mais afasta ou aproxima as pessoas de você? Você acha realmente que é possível você manter o controle de todas as variáveis? Não é cansativo viver assim? De onde vem tanta exigência com os outros e consigo? E esse ressentimento residual: você está cobrando mais responsabilidade das pessoas, mas no fundo não é por que você que não se permite relaxar e só está descontando essa sua “castração de prazer” sendo chato e crítico com os outros? São eles que precisam de mais responsabilidades ou você quem precisa se permitir mais? E por que você não se permite? Do que você tem medo? Do que você está se escondendo? E essa formação reativa? Esse mau-humor, essa ironia, essa antissociabilidade, no fundo você não está afastando primeiro as pessoas por medo de elas te afastarem antes? Isso é carência ou medo de rejeição? Ou seriam as duas coisas? Quem te machucou? Vamos olhar pra isso?
Dói. Já vou adiantando. Não espere que essa minha técnica tenha um final gostosinho e açucarado, porque não terá. É da ordem do amargo mesmo. Mas é digno! É um processo realista e digno. E de muita coragem. Não tem outro caminho. Aliás, até tem, mas como naquele filme Matrix, Morpheus entrega ao Neo duas pílulas: uma azul, que permite que ele esqueça tudo o que aconteceu e permaneça [inconsciente] na realidade virtual da Matrix; outra vermelha, que o libertará da Matrix e o conduzirá ao mundo real. Você escolhe, todos os dias, qual pílula tomar. O que estou te oferecendo aqui é apenas uma possibilidade de acordar.
“- Por que doem os meus olhos?” (Neo)
“- Porque você nunca os usou.” (Morpheus)