domingo, 18 de novembro de 2018

O TESTE PSICANALÍTICO DA MINHA VIDA


     Há uns dez anos fiz um teste que proponho que você o faça agora. O objetivo é apenas autoconhecimento. Na época me surpreendi com o quão interessante foi o resultado desse teste por conta das reflexões que ele me trouxe. O curioso também é que no decorrer dos anos, de tempos em tempos me pego refletindo seu resultado novamente e por incrível que pareça ainda hoje ele me é intimamente revelador. Ao longo dos anos o fiz com diversas pessoas e muitas o consideraram mais como uma brincadeira (talvez até seja mesmo), mas em todas as vezes em que ele foi aplicado não pude deixar de reparar como os envolvidos ficavam impactados e se punham a pensar sobre o resultado. Como já disse, por mais que alguns o vissem como algo... talvez bobo, percebo que ele parece revelar à pessoa algo de muito íntimo. Então eu proponho que você o faça agora e logo adiante explicarei a dinâmica desse teste e como você chegará ao seu resultado; assim como dividirei aqui o meu próprio e quais foram as principais reflexões que ele me gerou.

     Procure fazer esse teste num momento que você esteja bem consigo mesmo, calmo e relaxado. Procure um local silencioso, em que possa fazer com tempo e tranquilidade e que não seja interrompido durante esse período. Pegue um pedaço de papel e algo para você anotar. Não leia o texto todo antes de concluir o teste e tome cuidado para não ler o resultado também – isso vai te influenciar.


TESTE:
     Feche os olhos e pense em três animais, quaisquer que sejam, depois os escreva no papel, conforme os exemplos abaixo.

     Agora pense apenas no seu primeiro animal. Concentre-se apenas no primeiro. Imagine-o. Observe-o em sua mente: como é esse animal; como ele se movimenta; como ele se sente... Escreva no papel três características psicológicas (é o comportamento, é o “jeito” que o seu animal tem). Não se preocupe com as características psicológicas escolhidas pois não terá característica certa nem errada, só é importante que neste momento você seja fiel ao que está imaginando em sua mente e tente descrever exatamente o jeito do animal de acordo com a forma que ele se parece na sua visão.

ANIMAL: ______________ , ______________ , ______________ .

     Agora faça o mesmo com o segundo animal, concentrando-se apenas nele e descrevendo quais as três características psicológicas que você está percebendo pelo comportamento que ele tem.

ANIMAL: ______________ , ______________ , ______________ .

     Agora repita o mesmo com o terceiro animal, concentrando-se apenas nele e descrevendo quais as três características psicológicas que você está percebendo pelo comportamento que ele tem.

ANIMAL: ______________ , ______________ , ______________ .


RESULTADO
O primeiro animal é como você se vê.
O segundo animal é como você é visto.
O terceiro animal é como você é de fato.


     Agora explicarei a dinâmica do teste, na minha análise, com base naquilo que li na época quando fiz o teste comigo e com base naquilo que intui e observei ao longo dos anos nas diversas pessoas em que apliquei. Já advirto: se o seu resultado dá 100% certo ou se trata apenas de uma brincadeira, eu não sei, portanto não o leve a sério. Recomendo que o utilize, talvez como um ponto de partida, para uma reflexão sobre si mesmo – o que é sempre válido. E se você ficou tão surpreso quanto eu, e as diversas pessoas que o fizeram, vou colocar agora a minha análise utilizando o meu próprio resultado. E com base nas minhas percepções você vai analisando – de forma crítica – o seu próprio resultado.

     Quando fiz esse teste comigo a dez anos atrás, ficou assim:

CAVALO: LIVRE, SELVAGEM, INDOMÁVEL.

LEÃO: ARROGANTE, OBSERVADOR, ORGULHOSO.

CÃO: FIEL, LEAL, PROTETOR.

     Primeiramente, não importa a escolha dos animais em si (seja cavalo, leão, cachorro, cobra, escorpião etc.), porque nesse teste não existe um animal considerado bom ou mau, o que importa mesmo são as características percebidas e descritas de cada animal. Posso por exemplo escolher uma cobra (que é considerado um animal peçonhento) mas na minha mente percebê-la com características tidas como “positivas”. Portanto, o animal em si não é um fator tão importante, mas sim o que se percebe do mesmo. E por esse motivo talvez o teste até pudesse ser aplicado utilizando outro exemplo ao invés de pedir animais, mas a escolha de ser com animal é pelo fato de podermos colocar neles características “humanas”, de podermos projetar mais facilmente, porque no fim este é um teste projetivo. O objetivo é justamente fazer o indivíduo se projetar em algo; e ele fará isso sem perceber através dos animais.

     O primeiro animal fala justamente da forma como nos vemos, como acreditamos ser. Se você perguntar a uma pessoa como ela é, muito provavelmente os primeiros adjetivos que vier em sua mente é como ela acha que é, ou como ela gostaria de ser. Porque esse é o mecanismo do seu ego: não é a pessoa quem está falando neste momento, é o seu ego vindo à tona. Observo que a gente tem uma tendência a se esconder (inclusive de nós mesmos). No meu primeiro animal escolhi um cavalo com características de liberdade, de não controle, pois é exatamente assim como me vejo, como eu gosto de ser visto. Eu não gosto que o meio me controle, que as pessoas tentem me manipular, porque quero sempre me imaginar livre. O que nem sempre é totalmente verdade, pois veja que as características do meu terceiro animal já dão uma ideia oposta, a de vínculo. Assim, ao passo que gosto de me imaginar independente, a contra partida anseio também por um lar, por um par, por um elo no qual eu seja de alguém (ou de algo) e isto seja também em algum nível meu.

     Por que na minha vida foi importante essa reflexão? A resposta é porque muitas vezes, num momento de raiva ou de impulsividade, eu abandonei coisas e pessoas. Nesses momentos eu me questionava por que estava numa determinada situação fazendo algo. Isso me gerava revolta e um sentimento de “eu preciso me libertar dessas amarras”, mas sem perceber que eu mesmo me colocava as amarras, e permanecia na situação por vontade própria, porque no fundo era exatamente aquilo que tinha buscado para ser feliz. Isso gerava um conflito em mim mesmo. O terceiro animal veio me revelar um indivíduo que gosta de regras, costumes, rotinas, ordens claras. Gosta de se sentir fiel e leal a um sistema de coisas e sentimentos que para ele sejam importantes, ou seja, um indivíduo que busca uma causa maior que si mesmo, para seguir. Com essa análise resolvi parar de fugir, de mim mesmo – como faz o meu cavalo. Eu parei de brigar e de me rebelar com aquilo ao qual me submetia por vontade própria, já que era o que verdadeiramente amava. E foi então que veio o “clique”: eu constatei que toda as vezes que fugia de uma determinada situação que me sentia “domesticado” (eu odeio essa palavra) no fim não terminava mais feliz; o prazer de bancar o indomável, o “em mim ninguém manda”, era provisório, porque depois eu não me sentia mais realizado por isso. Quero dizer que todas as vezes que esperei a raiva passar, contive a paranóia de me achar submisso e me mantive fiel e leal aquilo que combinei previamente, apesar de ser difícil (ao meu ego num primeiro momento), terminava me sentindo mais realizado. Descobri que ser fiel, leal e se submeter a algo, para mim, não tem nada a ver com ser menor ou ser submisso, muito pelo contrário, tem algo de grandioso. Isso mudou a forma como passei a lidar com duas coisas: a Raiva e o Orgulho. (onde entra meu segundo animal).

     Eu notei, tanto através do meu próprio teste, quanto nas pessoas que o apliquei, que muitas das vezes as características do segundo animal têm muito a ver com um mecanismo de defesa da pessoa. Um mecanismo de sobrevivência ou de proteção do eu. E o segundo animal vai falar como você é visto porque é justamente como você está se mostrando aos outros. Como todos nós temos mecanismos de defesa e todos nós temos a tendência a esconder (ou a proteger) quem somos, essas características servem justamente de camuflagem, de defesa. No meu caso, é comum as pessoas me revelarem que quando me conheceram me acharam fechado demais, com um ar arrogante, prepotente, com um jeito meio altivo e orgulhoso, até esquivo, como se fosse alguém que não quisesse “se misturar” aos demais. Mas note que o terceiro animal, que é como de fato sou, quer ser parte das coisas, ser fiel, leal e ainda proteger. Então essa imagem conflita com a do segundo. Todavia faz sentido quando imaginamos o segundo animal como um mecanismo de defesa. Mas por que agir assim?

     Cada pessoa lança mão de um mecanismo de defesa por um motivo muito íntimo, que somente a pessoa poderá se responder. Cada pessoa precisa fazer as analogias e inferências entre as imagens evocadas de cada animal escolhido no seu teste e analisar como se dá a dinâmica desse trio na sua própria personalidade, porque no fim todos compõem o eu. No meu caso, é o medo de estar numa relação de total confiança, em que a outra parte possa se aproveitar a tal ponto da situação, que no fim eu saia prejudicado. É um medo muito profundo de me machucar ao depender das pessoas! Se por um lado eu preciso do contato, por outro lado temo as consequências naturais desse contato, porque vamos combinar: as relações são naturalmente desgastantes e se atritam. O meu terceiro animal é justamente um cão na minha análise porque para mim o cão respeitará o dono e a propriedade até o fim, mesmo sofrendo maus tratos nessa relação. Daí o dito “o cão é o melhor amigo do homem”. E isso em mim sinceramente me assusta um pouco porque vem com isso uma constatação perigosa também: é muito tênue a linha que separa me submeter a alguém (ou a algo) por amor e doação, de me ver numa relação abusiva que beira o sadismo (exemplo clássico vivenciado na minha relação com o meu pai). Meu pai foi um homem que me amava muito, me tratava muito bem, quando são, porém, tinha problemas com álcool, possuía um humor ferino e críticas mordazes. Eu me lembro que na adolescência tivemos brigas épicas, com agressões físicas inclusive – de ambos os lados! Era uma relação tempestiva, embora de muito amor também. Quando eu estava longe dele não via a hora de estar com ele, ele era um grande amigo, porém trinta minutos juntos a gente já se atacava; ele era territorial e controlador e eu não suportava que mandassem em mim... então já viu. Daí que começa todo um conflito que gerará mais tarde um problema com figuras de poder e autoridade, que reverberará nas salas de aula com alguns professores e em algumas empresas com alguns chefes... rs

     Então o segundo animal tende a revelar isso: a imagem que as pessoas estão captando de você porque você está transmitindo assim – até inconscientemente. E caso a imagem transmitida de seu segundo animal seja muito destoante do terceiro, de forma que esteja te prejudicando ou aos demais, questione-se o porquê disso. “Do que estou tentando me proteger?”. “Por que estou agindo assim?”. “O que estou tentando defender, ou esconder?”. “Vale a pena continuar nessa postura?”. No meu caso, quando me percebo me afastando do meio, por estar emitindo uma imagem equivocada, seja de superioridade, de excesso de intelectualidade, de excesso de introspecção, de excesso de vaidade (orgulho), começo a me fazer as perguntas acima. E o engraçado é que tudo isso passa por mim quase despercebidamente, já que carrego uma crença que foram os outros que estavam me afastando, que estavam contra mim, até eu constatar que na verdade era eu quem estava adotando uma postura ou tendo um determinado comportamento que afetava o meio de forma contrária ao que eu gostaria. Ou seja, com isso tento trazer para mim a responsabilidade pelos acontecimentos que estão afetando a mim e aos outros. E considero essa uma atitude muito mais inteligente da nossa parte.

     Apenas desejo a você que esse teste proporcione um ponto de partida para novas reflexões:

  • Qual é a imagem que você tem de si mesmo: é realmente isso o que você é ou consegue ser? (primeiro animal)
  • Essa imagem que você tem de si mesmo vai de encontro ao que você está transmitindo às pessoas? (segundo animal)
  • Como essas duas imagens estão em relação aquilo que você verdadeiramente é? (terceiro animal)

     E no fim lembre-se: você é a união dos três animais, no fundo não existe de fato separação.