quinta-feira, 19 de julho de 2018

O QUE APRENDI NOS 10 ANOS DE BLOG: INTEGRAÇÃO


Sinto-me incapaz diante de pessoas negativas. Poucas coisas na vida me dão mais tédio, desprazer, do que lidar com pessoas assim. Sinto preguiça, tenho extrema dificuldade em exibir a essas pessoas uma outra perspectiva de vida menos carregada, menos pessimista, porque via de regra elas resistem, vitimam-se, agarram-se no próprio comportamento, e no fim termino inevitavelmente me sentindo exaurido. Incomodado. Consumido. Contaminado.

Tenho dificuldade de entender qual seria a efetividade de olhar para as coisas enxergando o que há de pior, sem tentar ao menos buscar algo de positivo. Não vejo ganhos em ser negativo. E por esse motivo sempre que posso fujo do contato. Quando não posso, limito-me a ficar quieto, evitando absorver a negatividade e criticando a pessoa em pensamento.

Mas isso é mais fácil, não é? É mais fácil por esse caminho pelo qual tendo a percorrer. Colocar-me numa posição diferente, superior, de onde eu possa julgar, sem buscar entender quais fatores estariam por de trás de toda negatividade. E o mais importante: quais aspectos talvez estariam sendo refletidos, estando em mim mesmo, mas não posso aceita-los?

Fazer essa reflexão dá mais trabalho. Mas também é o mais justo com a pessoa. E comigo mesmo.

Em abril esse blog completou 10 anos. Em junho eu fiz 30 anos de idade. Quando iniciei esse espaço, no auge dos meus dezenove anos, eu acredito que uma das minhas maiores dificuldades era aceitar pessoas diferentes de mim. E continua sendo até hoje. Porém hoje eu percebo melhor, e a cada dia com maior claridade, que quanto mais me revolto com uma pessoa e não sou capaz de convencê-la do contrário, estou revelando mais os aspectos de uma necessidade minha. Uma necessidade de controlar o outro, de fazê-lo mudar, de fazê-lo entender o quanto tenho razão. É dominação, prepotência e praticamente uma mentira que tento contar a mim mesmo, pois posso no fundo nem ter razão de fato.

Hoje tenho mais consciência que aquilo que julgo como sendo muito certo, que funciona muito bem, que é óbvio, muitas vezes se encaixará perfeitamente apenas para mim, na minha vida, e que não necessariamente pode ser aplicado satisfatoriamente às outras pessoas, porque elas terão outras necessidades e partiram de outros contextos. Entendi que o “óbvio” é uma palavra que não existe nas relações humanas e que nós realmente muitas vezes servimos de espelhos uns aos outros.

É difícil aceitar isso, pois dói assumir que aquilo que mais nos incomoda no outro também habita em nós mesmos. Exige muita maturidade e franqueza. E coragem, de encarar aquelas sombras que não gostamos nem de tocar no assunto. Mas eu já descobri que não “tocar no assunto”, não olhar para nossas sombras só faz com que elas se fortaleçam. E esse mecanismo termina gerando as projeções externas.

Por isso, vos digo: o mundo tal como você vê, não passa muito longe da extensão de seu próprio interior.


Quanto mais esse interior é negligenciado, mais o que está do lado de fora incomoda, porque se escancara na sua frente tudo aquilo que você não pode aceitar. Mas existe um caminho de paz, ele se chama Autoaceitação. E tudo começará com a sua Integração.

A palavra “integração” vem de íntegro, que significa “inteiro”, “completo”, “pleno”. E é isso que eu desejo a você: que você se torne uma pessoa íntegra. Que você dê as mãos para aquela sua parte que você não aceita, não a entende, que você até evita de olhar! Abrace essa parte, com carinho. Aproprie-se daquilo que é seu também, daquilo que veio aí com você, daquilo que você é, daquilo que faz parte de você. Sem julgamentos. Todos temos partes boas e partes “nem tão boas assim”, e está tudo bem. Não há problemas nisso. Tire esse peso. Tire essa culpa. Não precisa ser assim. Faz parte também ser do jeito que você é. E quanto mais você compreender isso, quanto mais você aceitar isso, quanto melhor você integrar isso dentro de si, mais pleno você viverá.

E com o tempo você acabará percebendo que as pessoas são boas também, e assim como você, elas também estão aqui tentando aprender com as próprias limitações. Isso vai te desarmar e você passará a ver a vida com outros olhos. E aí entra uma percepção bacana também, pois tudo aquilo que você admira nas outras pessoas, também existe dentro de você!

FAÇA UM EXERCÍCIO:
Pense numa pessoa, de seu convívio, que você não gosta, que incomoda muito você. Em seguida, liste num papel as principais características que essa pessoa possui que te irrita muito. Agora, faça a seguinte reflexão:

“Em quais momentos de sua vida, você age (ou já agiu) com essas mesmas características?”

Tente ser o mais sincero consigo mesmo, e se surpreenderá com o quão pode se parecer, em algumas circunstâncias, com essa pessoa que tanto te incomoda. Agora, se mesmo assim não conseguir se enxergar, mostre o papel com a listagem para uma pessoa que te conheça muito bem e pergunte se você teria alguma das características... 

A grande moral da história é que o que está te incomodando tanto nem é a pessoa em si, é o que você se vê nessa pessoa, mas não pode aceitar. Entenda. Aceite. Integre-se.