“O que acham? Havia um homem que tinha dois filhos. Chegando ao primeiro, disse: 'Filho, vá trabalhar hoje na vinha'. E este respondeu: 'Não quero!' Mas depois mudou de ideia e foi. O pai chegou ao outro filho e disse a mesma coisa. Ele respondeu: 'Sim, senhor!' Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?” Mateus 21:28-31
Fidelidade e lealdade, duas palavras que sempre chamaram a minha atenção, desde sempre. Ainda me lembro da primeira vez que eu as ouvi juntas numa mesma frase sendo postas como sinônimas. Da mesma forma como penso ainda hoje, eu já sabia naquele exato momento que apesar de estarem sendo postas naquela ocasião como idênticas em significado, a mim haviam diferenças sutis mas profundamente essenciais para se caracterizar onde começaria uma e terminaria a outra. Sempre refleti profundamente o significado íntimo dessas duas palavras, a tal ponto que eu diria que para mim elas compõem as palavras mais importantes da minha vida! Sinceramente falando. Mas afinal, o que seriam fidelidade e lealdade?
Para mim fidelidade está ligado ao respeito a uma imagem, a um status, a uma condição, é a responsabilidade a um compromisso assumido, seja este de qualquer natureza, podendo ser entre amigos, entre cônjuges, entre família, numa relação profissional. Já a lealdade ao meu ver está ligado a um companheirismo, a uma parceria; quando penso nesta palavra automaticamente penso em presença física, me vem na cabeça a palavra “lado”, como se lealdade me significasse estar ao lado de alguém, permanecer junto dessa pessoa em qualquer condição. Enquanto para mim a fidelidade estaria mais nos campos conceitual, ético, moral, teórico e pactual das relações, a lealdade seria a materialização disso, seria a vivencia, seria a prática das relações.
Vou dar alguns exemplos. Como acontece com quase todas as pessoas, cada um de nós tem inúmeros amigos e com cada um deles temos uma forma específica de nos relacionar. Eu me lembro na minha adolescência, por exemplo, que eu tinha amigos que discordavam de mim sobre algumas posições minhas – o que é perfeitamente natural. Esses amigos comentavam com outras pessoas a nossa divergência de opiniões, sendo por vezes críticos e ácidos em seus comentários ao meu respeito, algumas vezes beirando a fofoca e a intriga. Quando essas conversas, que eram feitas pelas minhas costas pelos meus próprios amigos, chegavam aos meus ouvidos eu ficava triste e chateado. Mas o interessante é que esses mesmos amigos eram aqueles que eu tinha total liberdade para ligar de madrugada para desabafar ou solicitar uma ajuda que jamais foi negada! Eram os amigos que ficavam literalmente ao meu lado nos melhores e nos piores momentos da minha vida. Eles foram sempre leais à nossa amizade. Mesmo sendo infiéis a mim muitas vezes. Podiam falar mal de mim pelas costas mas eram de uma profunda parceria como se jamais pudessem negar um pedido meu. O inverso também era verdadeiro. Tive amigos que nunca me traíram, mas em compensação eu jamais pude contar plenamente, pois em certas ocasiões tiveram justificativas relevantes para falarem não para mim. Esses em particular foram sempre fiéis a mim. Mas nem sempre leais a nossa amizade...
Vemos também dinâmica parecida no mundo empresarial. E os gestores em particular percebem isso no dia a dia. Há aqueles funcionários que se solicita uma tarefa extra imprevista e mais trabalhosa e, pelas costas do gestor, eles se rebelam, xingam, falam mal da empresa, fazem um carnaval no setor. Mas pontualmente cumprem exatamente o que tem que ser feito! Eles são fiéis à empresa? Não. Mas são leais ao trabalho. Eles questionam, retrucam, às vezes falam mal da empresa ou batem de frente com o líder, mas em seguida fazem além do trabalho que é preciso ser feito, estranhamente vestindo sempre a camisa da empresa. Por outro lado tem aqueles funcionários extremamente educados, responsáveis e pontuais com suas obrigações, mas que também fazem apenas a sua parte, mais nada. São limitados, inflexíveis, não vão um milímetro além do que fora previamente acordado no contrato de trabalho. Tanto que numa situação imprevista e urgente, o líder chega a pensar duas vezes antes de fazer uma solicitação extra de última hora a esses funcionários. Pode-se dizer que eles são fiéis a empresa porque cumprem com o seu papel ali dentro, mas dizer que eles seriam funcionários leais? Eu teria minhas ressalvas...
No ambiente organizacional é extremamente oportuno ao líder saber distinguir quem é o que ali dentro. Eu costumo dividir um grupo de funcionários de uma empresa em 4 subgrupos básicos: 1-aqueles que são fiéis, mas não são leais; 2-aqueles que são leais, mas não são fiéis; 3-aqueles que não são nem fiéis nem leais; 4-aqueles que são fiéis e são leais. Preste bastante atenção ao primeiro e ao segundo subgrupo (e faça você, enquanto líder ou empregador, uma reflexão do que é mais importante para si: fidelidade ou lealdade? – a partir dessa resposta você saberá melhor quais estratégias utilizar com cada um); o terceiro subgrupo dispense imediatamente, ele nem deveria estar mais na sua empresa; e o quarto promova se possível o quanto antes. Em minha análise, o primeiro e o segundo subgrupos são importantes porque são os que carregam e mantém a empresa; o terceiro subgrupo puxará sempre para baixo por isso precisa ser identificado e eliminado o quanto antes!; já o quarto, e será o menor subgrupo no ambiente organizacional, é aquele disposto a entregar mais, que traz potencial de empreendedorismo corporativo, precisa ser bem estimulado e ser criado um ambiente favorável pois neste subgrupo estão os funcionários com cabeça de dono!
E para você, o que é fidelidade? E lealdade? Qual dos subgrupos pesaria mais: o primeiro ou o segundo? Faça uma reflexão: divida as pessoas com quem convive em quatro subgrupos. Quais seriam as pessoas em sua vida que você deixaria no terceiro subgrupo, vale a pena manter essas relações? Quais seriam as pessoas que você deixaria no quarto subgrupo, você tem as valorizado?