domingo, 10 de setembro de 2017

As competências do profissional do futuro


Nos últimos anos uma das grandes inquietações das pessoas tem sido imaginar como será o futuro profissional. A carreira de trabalho está cada vez mais nas mãos dos trabalhadores do que num planejamento feito pelas empresas. A tecnologia vem avançando num ritmo cada vez mais acelerado modificando sistemas produtivos, processos de trabalho, maneiras de se viver em sociedade. Palavras como “robótica” e “inteligência artificial” estão cada vez mais presentes na vida de qualquer pessoa. Algumas profissões estão sendo modificadas, outras praticamente estão desaparecendo por conta da evolução tecnológica e classes de trabalhadores vem se perguntando sobre a existência de sua própria categoria de trabalho no futuro.

Como muitas pessoas, eu também tenho me preocupado com o futuro do trabalho. Eu sou jovem, tenho 29 anos, tenho muito pela frente para trabalhar, porém penso que mesmo as pessoas com idade mais avançada deveriam refletir também sobre essas questões. E muitas já estão fazendo isso! Com uma possível reforma da Previdência sendo discutida e com a expectativa de vida aumentando é certo que as pessoas viverão mais e possivelmente trabalharão mais também. Dessa forma torna-se imperioso que um trabalhador pense agora em estratégias que o tornarão empregável ou com possibilidades mínimas de se manter num futuro ainda difícil de se prever, em relação ao trabalho.

Eu me debrucei sobre esse tema com afinco na tentativa de conhecer que competências um profissional deveria se atentar. Nos últimos meses me dediquei a pesquisar e consumir materiais de inúmeras fontes, formais e informais, e formatos dos mais diversos, para entender o que os especialistas estão falando, intuindo ou prevendo sobre trabalhoXfuturo. Percebo nas discussões que chega a um determinado ponto que as diferentes ideias se convergem para um único caminho e é a partir desse ponto que faço as minhas sintetizações. Com base nas minhas pesquisas listarei abaixo os conhecimentos, as habilidades, as atitudes e as características que um profissional deve se atentar para se tornar mais competitivo no futuro. Note também que elas têm um viés mais comportamental do que técnico. São elas:

  • Proatividade
  • Comunicação
  • Lifelong Learning (aprendizagem contínua)
  • Uso de tecnologias
  • Participação e compartilhamento
  • Adaptabilidade
  • Pensamento crítico
  • Pensamento analítico
  • Raciocínio complexo
  • Capacidade de sintetização
  • Conhecimentos interdisciplinares (carreira em T)
  • Competências paralelas e contigênciais (Plano B)

Vamos lá. Agora vou explicar porque escolhi cada uma delas.

Proatividade, porque hoje estamos diante de um cenário que muda constantemente. Muda a política; a legislação; a tecnologia; os costumes, e isso impacta nos indivíduos e nas empresas. Hoje não faz mais sentido uma empresa prometer plano de carreira para um colaborador, porque na prática ela não vai conseguir sustentar isso. As pesquisas mais recentes já apontam que as novas gerações ficarão bem menos tempo nas empresas do que gerações mais antigas, além de já trazerem consigo uma forte inclinação para empreender. Se as empresas não podem garantir carreira para um colaborador, depende dele refletir mais essas questões, e para isso ele precisa ser proativo. Não dá para esperar que a empresa lhe dê cursos, incentivos, ferramentas, oportunidades, sempre; embora as empresas ainda o farão e propiciarão terreno favorável ao desenvolvimento dos colaboradores, dependerá de cada colaborador buscar o seu autodesenvolvimento e ter mais atitude frente a essas questões.

Comunicação. Essa sempre foi e continuará sendo o calcanhar de Aquiles das empresas. Desenvolver uma boa oratória, se fazer entender muito bem evitando ruídos, tendo clareza de propósitos e objetividade é sempre bem vindo. Coloco neste pacote o famoso feedback, a capacidade de transmitir a um chefe ou a um subordinado o que é necessário, visando sempre alinhamento de propósitos e alcance de objetivos comuns. Saber dar e receber feedback continuará sendo positivo, principalmente para pessoas que almejarem posições de liderança.

Lifelong learning, uso de tecnologias, participação e compartilhamento. Essas são bastante importantes. Colocarei-as juntas para explicar que as pessoas precisam aprender a aprender e compartilhar isso. Estarem constantemente abertas e conectadas. Aquele posicionamento fechado do “eu sei porque sempre fiz assim” cada vez mais está caindo com as constantes transformações; as pessoas precisam ser curiosas, ter interesse em aprender coisas novas, reaprender umas com as outras e atualizarem-se continuadamente. Como a sociedade se dá pelos seus meios, pela interação das partes, hoje isso perpassa a tecnologia, a internet, as redes sociais, o compartilhamento do conhecimento em tempo real, então é importante saber navegar. Eu recomendaria a qualquer pessoa hoje a ter pelo menos um perfil no Facebook, a ter um perfil no Linkedin, a se inscrever no Youtube, a ter mais familiaridade com a internet, com as suas ferramentas e os seus processos. Por mais que a pessoa seja reservada e não queira publicar ali fotos pessoais ou não queira produzir vídeos, ser youtuber por exemplo, isso não é necessário. Somente estar nessas redes pode ser uma grande oportunidade de obter conhecimento. O Facebook por exemplo permite curtir páginas e receber seus conteúdos; o usuário pode confeccionar a sua rede de contatos e páginas de interesse de maneira bem personalizada às suas necessidades de informações, fazendo com que só de entrar na rede a pessoa já tenha a possibilidade de se atualizar constantemente. O Youtube possui um aplicativo que o usuário só precisa ter uma conta e depois se inscrever nos seus canais de interesse, que ele receberá por e-mail as atualizações dos canais. E quem diz que não dá para se atualizar pelo Facebook e pelo Youtube está redondamente enganado. Claro que existem notícias e conteúdos falsos, assim como canais que pouco agregam, mas se o usuário souber fazer a filtragem e selecionar ele tem uma ótima fonte.

Adaptabilidade. Os profissionais precisam ser flexíveis e se adaptarem às novas realidades. Um bom exemplo disso é a Reforma Trabalhista que altera intensamente a CLT e passa a vigorar a partir deste ano. É necessário ter maleabilidade e jogo de cintura para se adaptar ao novo cenário e as novas regras que se configurarão. Gosto de uma frase do William George Ward que diz assim: “O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas”.

Pensamento crítico, pensamento analítico, raciocínio complexo e capacidade de sintetização. Essas competências como o próprio nome demonstra são mais complexas. Mas também são de extrema importância! Hoje se sabe que a linearidade não dá mais conta de traduzir a nossa realidade globalizada, tecnológica e com indivíduos tão diversos e plurais. Olhar uma situação por uma única ótica e com um pensamento linear traz análises rasas e resultados precários. Hoje mais do que nunca, e no futuro isso tende a se acentuar, as empresas buscarão solucionadores de problemas. Colaboradores capazes de enxergar a empresa sistemicamente, a partir do seu olhar, do olhar de cada setor, das estratégias da empresa e ver a interligação de como todas essas variáveis impactam numa situação observada, numa decisão a ser tomada, num planejamento. O pensamento crítico faz o profissional questionar e buscar as respostas. O pensamento analítico o faz analisar racionalmente a situação, o problema, o desafio. O raciocínio complexo o permite fazer mentalmente os hiperlinks, as conexões, as analogias, as inferências e somar tudo isso ao seu background, a sua bagagem de conhecimentos, para, por último, ser capaz de sintetizar. Olhar para “x”, que impacta em “y”, que será impactado por “z” e “w” e o produto dessa análise é a conclusão, é a hipótese, é a estimativa, é a previsão, é o resultado (sintetização). E como se desenvolve isso? Consumindo conteúdos diferentes, de diferentes fontes (formais e informais), de diferentes plataformas, constantemente.

Conhecimentos interdisciplinares (Carreira em T). Carreira em T é o seguinte. O profissional possui uma formação base e depois ele vai somando conhecimentos e habilidades paralelamente a sua área de formação ou atuação. Vou me dar como exemplo. Minha graduação é Administração de Empresas. Atualmente faço duas especializações, uma em Recursos Humanos (área que trabalho formalmente) e uma outra especialização em Psicologia Organizacional. Tenho planos de iniciar no próximo ano outras duas especializações, uma em Coaching e outra em Direito do Trabalho. Veja que minha formação inicial se dá em Administração, todavia, todos esses conhecimentos vêm agregando a minha formação horizontalmente, de acordo também com a minha estratégia de carreira. Então o profissional precisa estar aberto e ser proativo para obter conhecimentos de outras áreas, de outras ciências, que venham a lhe trazer maior capacidade de solucionar problemas, haja vista que sua visão e capacidade de sintetização aumentam.

Competências paralelas e contigênciais (Plano B). O que percebi nas minhas pesquisas é que cada vez mais se ouvirá falar de carreiras profissionais, no plural mesmo para o profissional. Multitrabalhos. Ou seja, o profissional precisará desenvolver, ao longo de sua vivência profissional, talentos, habilidades e conhecimentos para atuar em outras frentes por “n” fatores, como: a sua profissão pode ser ser substituída pela tecnologia; num revés da economia a sua profissão pode perder momentaneamente espaço; pode ser dispensado e demorar a retornar à mesma função, e para isso é necessário um Plano B. Vou me utilizar como no exemplo acima. Numa situação imprevista, poderia atuar no futuro como coach, como consultor ou até como palestrante. De repente, posso cursar Direito e atuar como advogado trabalhista, ou cursar Psicologia e atuar como psicólogo. Ser professor. O que quero dizer é que o profissional precisará ter ferramentas (conhecimentos, habilidades, características) que ele foi capaz de, estrategicamente, ir desenvolvendo, formalmente ou informalmente, paralelamente, contingencialmente, durante todas as suas carreiras profissionais, para ter sempre cartas nas mangas! O famoso Plano B. Ou C, ou D.

Eu não espero fechar aqui uma conclusão, mas sim trazer ainda mais a reflexão. Da mesma forma que tudo o que venho lendo tem me servido para pensar o futuro em relação ao trabalho, que este texto tenha o mesmo propósito. Só gostaria de trazer uma última reflexão: O futuro é o resultado da nossa participação para a sua criação, através das decisões que tomamos hoje, sendo assim que decisões você vai tomar?