sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

JUSTIÇA



Sempre que me deparo com uma situação em que preciso decidir alguma coisa, procuro primeiramente verificar se estou sendo neutro, para depois tentar ser justo comigo e com os que serão afetados pela minha decisão. Não é uma tarefa simples, porque, via de regra, o que parece justo a uma pessoa nem sempre é para outra. As pessoas são diferentes e possuem contextos e históricos de vida diferentes e isso implica no que elas julgarão como certo ou errado, em determinado momento ainda, pois elas podem mudar de opinião. Acredito então que para ser “justo” são necessárias basicamente duas coisas: um parâmetro racional e um coração puro. 

Quando possuímos um parâmetro racional é mais fácil decidir. Um parâmetro racional é compreendido por todos da mesma forma. Imagine um salão com diversas mesas e em cada mesa há duas crianças sentadas, uma de frente para a outra. Em cada mesa existem números desenhados. Começa a brincar aquela criança que se senta de frente para o número desenhado corretamente no centro. Verifica-se que em uma dessas mesas gerou-se um conflito, porque para uma das crianças se vê o desenho de um 6 e para a outra criança desta mesma mesa esse número se parece com um 9. É difícil saber qual criança começará a brincadeira pois ambas estão corretas, quando observam o desenho de seu ponto de vista. Agora vamos supor que para esses casos exista desde o começo a seguinte regra: “Ao observar números com duplo sentido, começará a brincadeira quem estiver vendo o número maior.” Foi estabelecido um parâmetro racional! Diante disso já temos como saber quem começará a brincadeira. O que eu descrevo aqui como “parâmetros racionais” são as regras do jogo. As leis estabelecidas. As convenções. As políticas. Os limites previstos entre os envolvidos para demarcar onde começarão e terminarão seus direitos e deveres. Assim sendo, os parâmetros devem sempre ser as primeiras ferramentas a se recorrer quando pensamos em agir com justiça.

No entanto, agora imaginemos a seguinte situação. Seguindo ainda o exemplo acima, imagine que numa das mesas existe o desenho do número 8! Ambas as crianças desta mesa estarão de frente para o número desenhado corretamente. E desta vez ambas estarão vendo o mesmo número, não há maior ou menor. Quem pode começar a brincadeira, quando os parâmetros disponíveis não solucionaram a questão? Toda essa estória que criei pode ser um simples exemplo, mas acredite, na vida real existem muitas leis (regras, normas, políticas etc.) que não dão conta de equacionar satisfatoriamente todos os conflitos, porque, via de regra, somos seres humanos. Somos muito diferentes entre nós mesmos e não seria possível todos os parâmetros disponíveis, por mais bem pensados que sejam, darem conta da infinidade de conflitos que podem surgir das nossas relações. Por esse motivo as leis são constantemente revistas e atualizadas.

Em alguns momentos da minha vida, quando preciso decidir alguma coisa e os parâmetros disponíveis para a situação são nebulosos ou não me auxiliam objetivamente, verifico antes de mais nada como anda o meu coração. Sei que esse é um momento em que eu terei que decidir, estará em minhas mãos. Será preciso neutralidade. Imparcialidade. Responsabilidade pela minha decisão. Preciso me despir de meus preconceitos e sentimentos até. Confesso que não gosto muito desse papel porque sinto que sou eu quem está definindo algum futuro, quando minha decisão pode afetar significativamente a vida de outra pessoa. Mas eu aceito o que cabe a mim fazer, porque sei que são situações que acontecem e faz parte. Quando me utilizo de parâmetros é mais fácil porque não sou eu quem decidiu, foi a “lei”. Se me valho do meu entendimento a cerca da questão para equacioná-la, exige-me um coração puro e nesse caso existe uma lei maior me vigiando, a do Universo. Uns chamam de Lei do Retorno. Outros de Lei da Atração. Eu chamo de  Lei Divina. Essa eu tenho cisma. Tenho medo. Essa eu tomo muito cuidado... porque diferente da dos homens, essa não falha.