sábado, 24 de dezembro de 2016

A ESCALADA DA VIDA



Fim de ano pra mim é sempre momento de reflexão. É aquela hora que eu olho para trás e dou uma visualizada em cada mês. Só que neste ano tenho olhado mais longe; tenho visualizado os últimos anos. Para ser mais preciso desde 2008.

O ano de 2008 foi um divisor de águas na minha vida. Em 2008 eu comecei a trabalhar com carteira profissional assinada; criei esse blog; retomei os estudos; concluí o ensino médio; prestei vestibular e me sentia literalmente iniciando a escalada de uma grande montanha. A escalada da vida de um homem! Até esse ano eu me sentia meio adolescente ainda. Eu sempre trabalhei, tinha meio próprio dinheiro e até era responsável, mas eu não tinha compromissos. Era responsável ao sabor do meu humor, não era comprometido com nada e com ninguém. Detestava a ideia de me comprometer ou criar e gerar expectativas. Por não gostar do método de ensino da escola, eu parei de estudar. Se em algum momento eu me aborrecia com um emprego, eu pedia as contas e saia no mesmo dia. Eu não tinha encanação com nada. Se me estressava muito, tchau. Pegava minhas coisas e sabia exatamente onde estaria a porta. E ia sem olhar pra trás. Quantas vezes não fiz isso...

Só que em 2008 já não tinha mais meu pai. Eu era o homem da casa. Pessoas dependiam de mim e esperavam a minha decisão para saber o que fazer. Você apertar a tecla do “foda-se” quando sabe que haverá alguém por trás para segurar a barra é uma coisa. Quando você sabe que você é a barra que outros estão segurando a situação muda completamente de figura. Então senti o peso da responsabilidade de se manter uma família. Percebi que era hora de entregar a minha carteira profissional pra alguém assinar. Aí entendi o que significava assinar um contrato de trabalho! Procurei o EJA (Educação de Jovens e Adultos), concluí o ensino médio, pouco tempo depois estaria assinando o contrato da faculdade. Esses processos me fizeram refletir que o meu maior medo era “assinar” as coisas, porque a minha “assinatura” era como uma promessa de comprometimento. Eu não entregava a minha carteira profissional para assinarem porque eu sabia que haveria todo um processo para sair caso eu quisesse e eu fugia de vínculos complicados. Eu gostava de tudo que era “simples para entrar e mais simples ainda pra sair!”.

Durante esses últimos anos pude perceber que uma vontade de “sair” muitas vezes passa. A questão é que eu era de uma impulsividade tamanha que, sem mentira nenhuma, do momento que eu me estressava, passando muitas vezes pela discussão, até chutar o pau da barraca era questão de minutos. Era capaz de levar ao chão em segundos projetos que eu acalentava e construía demoradamente. Eu não tinha paciência. Eu não ouvia a opinião das pessoas. Meu interior era muito frágil. Estava sempre na defensiva e pronto para atacar. E isso me consumia muito energia interna. Sabe quando você deixa todos os aplicativos e ferramentas de um celular abertos e funcionando desnecessariamente (wifi, dados, luminosidade, volume alto, vibrar, proteção de tela etc)? Isso consome a bateria. No entanto, o problema não é consumir ou não a bateria, é o consumo desnecessário! Eu fazia o mesmo processo e ia minando minhas energias diárias desnecessariamente, então quando era preciso lidar com estresse e adversidades mesmo, como não tinha energia suficiente para pensar eu fugia. E quem não enfrenta os desafios da vida não adquire força, nem maturidade. Assim, nas raras vezes que tentava resolver problemas nessa época, não resolvia nada, só agravava a situação. Como não tinha maturidade nem força, quando me estressava demais, não via uma saída, e como não tinha paciência para esperar, a única solução era “sair”daquela situação. Hoje vejo que sempre há uma solução.

É mais simples do que parece. A solução para os problemas, do meu ponto de vista com base em tudo que experimentei nesses anos, demanda primeiramente em estar desarmado. Em paz. Ninguém resolve nada em sentimento de guerra, nem a própria guerra. Quem vive armado vive cansado e não raciocina direito porque está se deixando consumir por sua própria energia. Eu me descobri campeão nesse processo porque tenho um temperamento explosivo. Quando algo qualquer me contraria e consegue me frustrar é questão de tempo até eu sentir os sinais físicos. Meu coração sorrateiramente começa a bater mais rápido, minha respiração no mesmo embalo vai imperceptivelmente mudando, começo a me incomodar com o espaço, com a temperatura, pensamentos bélicos vão surgindo e meu olho começa a mirar. Tudo isso como uma preparação para um ataque. E o pior, tudo isso muito, muito, muito sutilmente. Nesse estagio estou tomado pela ira. Cego. E com raiva damos outra dimensão aos problemas; damos uma dimensão errada; não escutamos as partes contrárias e já não pensamos no que falamos nem fazemos.

Hoje, após ter escalado alguns estágios dessa montanha, observo que a maior empreitada tem sido aquela que faço diariamente para me conhecer melhor, me desenvolver mais e me harmonizar com o meio. Eu sei que continuarei errando. Eu sei que continuarei me estressando. Mas a vida é feita de uma gama de experiências e existe sim, sempre, luz ao final de qualquer túnel, só demanda que estejamos calmos e em paz o suficiente para encontrar, muitas vezes com a ajuda de outra(s) pessoa(s). Isso exige também humildade. Autocontrole. (Auto)Indulgência. E muita, muita paciência. Percebi também que as pessoas e as situações não nos irritam, nós é quem permitimos que a raiva nos contamine cada vez mais, dependendo do estágio em que já nos encontramos. E que uma boa alimentação, uma boa noite de sono, atividade física regular, andar com fé e ter um ouvido amigo nas horas vagas, nos preparam para qualquer problema que encontraremos pelo caminho.

Eu olho pra essa minha escalada e sinto orgulho de mim mesmo das partes em que venci os obstáculos. Mas sinto muito mais orgulho daquelas partes em que eu não venci, mas também não deixei de escalar. Aprendo dia após dia que o grande objetivo da vida não está em vencer ou não vencer, está numa escolha pessoal que fazemos diariamente de não parar de caminhar. Não importa aonde você está. Não importa aonde você quer chegar. O que importa realmente é se você desistiu nesse caminho. Não desista de você! Não desista dos seus sonhos! Dê a si mesmo a chance, a oportunidade de continuar, porque a vida não é uma partida, a vida não é uma chegada, a vida é o seu movimento constante. A vida é o seu caminhar!

Eu te desejo de coração um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!