segunda-feira, 22 de junho de 2015

Bons sonhos




Há dias em que me sinto meio assim sei lá. Não sei explicar, e pra ser sincero nem quero tentar. Quero escrever a essa hora porque simplesmente é melhor do que sufocar isso aqui tentando dormir, e sonhar que tive pesadelos...

Há momentos na vida em que não sinto nada, absolutamente nada. Sou tragado pra um mundo totalmente vazio. Tão vazio como me sinto agora. Como se eu me jogasse de um penhasco bem alto sem paraquedas só pra sentir algo antes de morrer. Quando me sinto assim é exatamente isso o que tenho vontade de fazer: provocar-me algo. Queimar-me com certas lembranças doloridas. Sufocar devidos sentimentos insanos. Abafar um grito de liberdade que ecoa paredes a fora deste quarto. E enfim me entorpecer...

Eu sei que isso está parecendo melancólico e um tanto trágico, mas é toda verdade que sou capaz de (d)escrever neste momento. Me desculpe. Me imagine com uma garrafa de uísque, enchendo a cara, podendo sentir o cheiro da fumaça do meu próprio cigarro. É exatamente assim que me veria. É minha alma que deve estar assim neste momento. Sedenta de insônia. Mordaz. Feroz, e ao mesmo tempo silenciosa fitando-me como um abutre à espera de algo.

Puxo um último trago e apago o cigarro com se estivesse finalizando um ritual macabro de automutilação, e regeneração. Auto-ajuda-destrutiva?! Adoro isso, pode crer. Amanhã devo despertar melhor, tenha certeza disso! Provavelmente com alguma ressaca existencial - já ouviu essa? Tomarei um banho imaginando que a água leva embora todo pecado consumido, e me prepara para um novo dia. É tudo o que temos, um novo dia não é. Mas tem dias em que estamos cansados de tudo. E dá uma vontade de provocar uma explosão apenas pra iluminar o tédio em que nos encontramos. Ou correr pra bem longe, fingindo que conseguiremos fugir de nós mesmos por alguns instantes.

Levanto e vou ao banheiro mal podendo com o peso dos pensamentos. Me olho no espelho com a esperança de não conseguir me ver; queria que outro estivesse ali. Quem sabe uma versão melhorada dele. Que pena, tenho a impressão que o mundo não acabou, parece que o veneno ainda não surtiu efeito. Sento na cama e decido escrever - com uma sede incrível de vomitar tudo (exatamente tudo) que me vem à mente. Para me exorcizar. Acho que estou conseguindo, não acha? Sinto lágrimas rolarem mas não sou capaz de registrá-las. Como diz a música, "let it be"...

Olho para o lado a procura do resto da garrafa, quero um último trago antes de apagar. De repente percebo que a garrafa nunca existiu de fato. E eu nunca fumei de verdade. Não sei brincar com bombas. E tudo não passou de um daqueles sonhos que temos acordados antes de dormir... Agora acho que descansarei.