domingo, 30 de novembro de 2014

Descendentes

 
A força da vida é como um rio que corre; de uma forma ou de outra, seguirá em frente...


(...)Rachai um pedaço de madeira, e eu estou lá. Levantai a pedra e aí me encontrareis.””

E ele disse: "Quem encontrar a interpretação destas Sentenças não experimentará a morte.””

(Apócrifo Evangelho de Tomé [ou seria de Judas?] )

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

OS CAVALEIROS E SUAS CRUZADAS


São Jorge e o Dragão, de Gustave Moreau.

O homem nasceu para a ação, tal como o fogo tende para cima e a pedra para baixo.” ( Voltaire )


Sempre admirei o fato de São Jorge ser um santo e um guerreiro. Pois significa que para ser bom não precisa ser fraco. O caminho do bem também requer lutar com garra, pois sempre haverão as cruzadas da vida. Sempre admirei esse código dos cavaleiros. Guerreiros templários, medievais, montados em cavalos fortes, empunhando longas espadas, usando armaduras reluzentes com brasões em cores bem vivas desenhados no peito e orgulhosamente lutando até o morte se preciso for para defender uma nação, um lema ou uma causa. As vezes estando a própria família em jogo. Guerreiros que no fundo se abdicariam de si mesmos, anulando suas vidas por completo para olhar uma estrela a ser alcançada, defendida, e simplesmente busca-la. Com resignação. Com coragem. Com lealdade!

Vejo glória em sacrifícios assim, pois penso que o caráter de um homem pode muito bem ser medido pela intensidade com que ele protege e luta por aquilo que verdadeiramente ama. É preciso muita força e dedicação para se manter firme e leal a qualquer coisa que seja. É quase uma vocação. A lealdade seja talvez a característica mais marcante numa pessoa. A firmeza do seu caráter, através da sua capacidade de se manter firme àquilo que jurou defender junto. A própria palavra lealdade me parece ter se derivado dessa outra: “lado”. Lado a lado...

Só que um cavaleiro de verdade também não é assim alienado pela ideia que o norteia, sem ter um sentido ao que faz. Ele deve saber muito bem o que defende; ele precisa acreditar naquilo que busca; e, principalmente, ele precisa comungar dos mesmos princípios e ideais centrais motivadores. Somente assim é justificado todo sofrimento, toda dor, toda lágrima até uma morte honrosa. No fundo todo guerreiro busca isso, uma morte honrosa. “Até que a morte os separe”, lembra? Isso vale para tudo a que nos unimos nessa vida por amor. Pois apenas o amor justifica tal coisa, acredite.

Eu anseio e gosto quando a minha vida ganha esse brilho de sacrifício. Para mim não há nada mais forte do que trabalhar, sofrer, suar, brigar por aquilo que acredito me fazer um sentido particular; ou quando o que está em jogo perpassa aqueles que me são especiais. Tudo acaba valendo a pena. Os caminhos estreitando a travessia, e a vida pedindo mais concentração e habilidade no combate. As lembranças e os sentimentos cortando a pele como lâminas, e o sinal que trocarei de pele para surgir uma armadura mais resistente, e a antiga precisará ser queimada. Cada dificuldade trazendo consigo uma espécie de sofrimento motivador, proporcionando-me mais gás e me dando mais gana na cruzada. Apesar de serem momentos terrivelmente difíceis de travar, sei que nessas horas somente a lealdade ao que verdadeiramente amo e acredito que deverá falar mais alto e me relembrar de persistir junto. A vida termina ganhando um novo norte e toda dor ganha um novo sentido. E tudo o que buscamos nessa vida é um sentido.

Apesar de eu as vezes procurar tranquilidade e sossego, já percebi que não suporto tanto tempo os intervalos entre uma batalha e outra. Nem eu, nem a vida. Acaba sendo angustiante demais para quem tem energia de sobra ficar parado. Sou brasa encoberta. Preciso de uma boa causa para lutar. Que me deem uma boa briga para participar. Quero um bom motivo para viver. Pois se viver é uma dádiva, é preciso também um bom motivo para morrer!


"O valor dos grandes homens mede-se pela importância dos serviços prestados à humanidade." (Voltaire)


domingo, 16 de novembro de 2014

O silêncio do Oráculo



"Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo."
*Inscrição no oráculo de Delfos, atribuída aos Sete Sábios
(c. 650a.C.-550 a.C.)
 
Desde de criança estudo esoterismo. Me lembro que me aguçava a curiosidade só de ouvir ou ler palavras como “mistério”, “oculto”, “secreto”; ou quando percebia adultos ao meu redor conversarem afastados do público em geral, com um ar de suspense. Essas conversas podiam não ser nada do que eu imaginava, mas me fixava nesses movimentos isolados. Como são os processos invisíveis ao olho nu. A germinação de uma semente. A cura de uma doença. O ar que respiramos. A vida do aspecto micro. Além até, quântico. Nós não vemos mas estão acontecendo. E eu gosto de captar esses processos com intuição, pois tenho fé que assim mantemos contato com o Criador. E aí entra o tema do post: Diálogos com o Criador.

Tenho passado por uma fase difícil e tudo começou quando parei de ouvir Deus. Essa linguagem Dele subliminar, intuitiva, muitas vezes falada apenas em nossos corações, a mim sumiu de repente. Como se a comunicação fosse falhando, falhando, diminuindo a cada dia mais, até que um dia simplesmente desapareceu. Senti que Ele saiu de cena e eu fique aqui só. Com algum propósito, só pode – pensava.

Bem, aguentei firme os primeiros dias. Assim que as semanas foram se passando, e os meses também, comecei a surtar... Esbravejei, blasfemei, praguejei contra a Vida! Sempre fui um homem de fé e temente a Deus, mas me senti totalmente desamparado. Será um teste? - me indagava (e vai por mim: é sempre uma espécie de teste).

Como um eterno buscador de respostas, fui consultar os conhecimentos antigos. Para a numerologia pitagórica estou num ano pessoal 7 (Autoconhecimento). Para a astrologia num ano escorpiano (“A ti Escorpião, darei uma tarefa muito difícil. Terás a habilidade de conhecer a mente dos homens, mas não te darei a permissão de falar sobre o que aprenderes. Muitas vezes te sentirás ferido por aquilo que vês, e em tua dor te voltarás contra Mim, esquecendo que não sou Eu, mas a perversão de Minha Idéia, o que te faz sofrer. Verás tanto e tanto do homem enquanto animal, e lutarás tanto com os instintos em ti mesmo, que perderás o teu caminho; mas quando finalmente voltares, terei para ti o Dom supremo da Finalidade.”). E para o tarot, são três cartas: Os enamorados, A força e A estrela (Decisão, Força e Fé). 

*O Olho da Providência

Bem, muitas dessas coisas me pareciam fazer sentido. E se haveria um propósito maior, somente minha fé Nele me ajudaria. Firme na garrucha! – me dizia todos os dias, lembrando da minha falecida vó. E assim fui com resiliência tocando os dias. Ora Deus conversava comigo e curava minhas tristezas - mas não respondia minhas perguntas; ora Ele sumia novamente. Já estava me irritando esse jogo! Após as orações eu ainda continuava perdido e achava que estava começando a ficar louco, que estava ido longe demais com esses diálogos - mais para monólogos - com Deus. Ou Ele ou eu tinha que dar um jeito nessa situação. Ou eu ia simplesmente me dar um comando (sim, como uma espécie de máquina! rs) para agir como gente grande: ter fé, ser forte, aguentar firme e entender que isso são fases difíceis da vida que todos passam, e fim de papo!

Mas assim eu não queria, isso pra mim não bastava... Eu queria tanto entender esse processo a fundo, com intensidade, com profundidade, tirar uma conclusão disso tudo e poder de alguma forma crescer com isso. Aprender com isso. Sempre acreditei que Deus tem uma missão para cada um de nós e Ele fala conosco em todas as fases da vida. Com essa não haveria de ser diferente!

Foi então que numa sombria madrugada, quase às 05:00, após ter varado à noite discutindo com Deus, tudo se iluminou de alguma forma. Parei para refletir por onde, por qual assunto - o tema específico – que comecei a ler e estudar sobre esoterismo. E me lembrei que foi sobre oráculos. Notei que a minha motivação primeira foi obter um contato direto com a Divindade. Com essa parte pura e sagrada que habita todo ser humano. Uma parte Criativa, Criadora, de grande Conhecimento. E que busquei esse contato direto por medo. O início de todo esse processo foi medo. Medo de viver a minha própria vida. Medo de tomar em minhas mãos as rédeas da carruagem e deixar de atribuir a Deus cada passo a ser dado. Desde de criança sou indeciso e inseguro, porque tenho medo de tomar a decisão errada e magoar aqueles que amo. Mas quanto mais experiências vivo descubro que as diferenciações entre decisões certas e erradas são reducionistas e polarizadas. 

Dei por mim que, como muitos, continuo buscando um contato com um Deus que me aponte um caminho a seguir, que decida por mim, que fale objetivamente o que seu fiel servo deve fazer. Por esse motivo os homens criaram os oráculos. Por isso os jogos adivinhatórios, como os baralhos de tarot, as runas etc; por isso o homem olhou para o céu e às estrelas; muitas vezes para não ter que olhar para a própria vida e encontrar nas suas atitudes as respostas para o seu destino. Deus deu ao Homem o livre arbítrio e a racionalidade para ser livre para discernir o que é melhor a ser feito. Mas nós queremos um Deus que aponte um caminho de salvação, uma porta para os céus, as palavras sagradas, porque assim é muito mais fácil, e também mais cômodo.
Queremos que Deus seja como a placa de trânsito que nos aponta o caminho para a estrada reta, mas tenho pensado Nele ultimamente como um grande farol que ilumina todo o mar e cabe a cada um de nós a decisão íntima de por onde navegar. Acredito hoje que Deus nos quer fortes, que tenhamos fé Nele, mas que também tenhamos fé em nós mesmos!

Passei a minha vida inteira pedindo a Deus: “aponte-me Senhor um caminho; diga-me o que queres que eu faça” e hoje é como se o Criador replicasse: “aponte-me Você um caminho; diga-me Você o que queres fazer, e Eu sempre O seguirei”. 

Para finalizar, um poema: 

O Poeta & O Espelho 

(de Felipe Santos)


I – Vem Ver
(O Espelho:)

Bem vindo meu amigo
É bom vê-lo novamente!
Quanto tempo esteve longe,
Perdido em sua mente?

Ignorou suas falhas…
Maquiou todos os defeitos…
Ergueu suas muralhas…
Criou seus preconceitos…

Tsc, tsc, tsc…

Forjou tantas máscaras…
Para vestir quando me olhar…
Mas eis que aqui estou
E te aconselho a tirar

Tente manter a calma
Faça tudo, mas não fuja
Pois a sujeira em baixo do tapete
Ainda continua suja

Venha comigo
Venha, segure minha mão
Pois juntos daremos um volta

Para o Jardim de Sua Vida
Atravessaremos a porta

Lá lhe mostrarei
Tudo o que precisa ver
Não tenha tanto medo
Pois tudo
Tudo aqui

É você

(...)

É um poema muito bonito! Ele tem sequência e recomendo muito que leiam porque vale a pena.