“Os
chineses aprenderam sobre flexibilidade ao observar como o bambu se
comporta numa ventania. Perceberam que uma árvore rígida quebra-se
com um vento muito forte. O bambu não. Ele se curva e depois que o
vendaval passa volta intacto à posição original.”
Decidir é
uma das tarefas mais difíceis na vida. E das mais importantes
também. Decisões mostram o seu caráter e certamente irão
determinar o seu destino. A questão mais difícil aqui não seria
exatamente decisões em si, mas especificamente o processo decisório.
Durante o decidir. Decisões são apenas a ponta de uma lança;
mas há todo um processo antes, que para alguns chega a demorar
bastante. Comigo é assim. Dependendo da questão é complexo. Tanto
posso me surpreender com a conclusão chegada, como chego a sofrer um
bocado também. Fico quieto e isolado. Ruminando dias. É um
verdadeiro calvário. Durmo e acordo com a questão; me alimento com
a questão; tomo banho, escovo os dentes, dirijo com a questão.
Haverá uma simbiose até uma síntese, até formar uma decisão
definitiva. Sim, definitiva! E vou me explicar por quê.
Atento ao
que eu quero; ao que está em jogo; a quem são os envolvidos; e no
que impactará qualquer decisão. Estratégia isso? Pode até ser.
Mas não bem pragmatismo. Também não é preocupação com o que os
outros irão achar, e sim em como serão afetados os envolvidos. É
importante pesarmos o quanto os nossos interesses impactarão nas
outras pessoas, em nós mesmos, e até onde valerá a pena, a curto,
a médio e a longo prazo.
The Choice of Hercules - Nicolas Poussin
Por essa
sistematização toda, quem me conhece fala que para eu tomar uma
decisão preciso até meditar antes. Dou risada é claro. Mas acho
mais engraçado que para outras pessoas, que não me conhecem tanto,
passo outra imagem. De alguém muito decidido. Mas eu nunca fui.
Talvez a razão de eu transparecer isso, seria porque defendo que,
após uma análise criteriosa, após um planejamento difícil, após
uma reflexão dolorosa, a ação resultante deve ser firme. Constante
e objetiva. Eu demoro dias debatendo sobre uma questão – mesmo
sozinho –, mas após chegado a um acordo, arregaço as mangas e não
se fala mais no assunto. Toco o barco adiante. E não vou parar até
segunda ordem! Posso até reavaliar o planejado, mas a essa altura do
campeonato não faço nenhuma alteração drástica sem que
argumentos levantados sejam infalíveis! Ou no mínimo pertinentes.
Não me deixo influenciar por modismo, vontade efêmera,
auto-sabotagem, censura, crítica, nem sentimentalismo; ou as novas
alterações serão incorporadas ao DNA daquilo que foi planejado
anteriormente, ou não serão consideradas; sinto muito aos outros ou
a mim mesmo.
Por isso
eu disse acima que a princípio para mim decisões devem ser
definitivas. Por isso eu disse que os meus riscos no chão, lá do
post anterior, são fins provisórios. As decisões, as leis, as
regras, as políticas, os princípios são fins. Provisórios, mas
fins. Até uma segunda análise, até segunda ordem, até um segundo
planejamento é isso que deverá ser respeitado. E seguido. Imagine
se mudássemos as leis, os nossos planos pessoais, os projetos no
trabalho, de acordo com o nosso humor. Ao sabor do vento. A vida
seria um caos! Ninguém respeitaria ninguém. Nem mesmo nós nos
respeitaríamos. Mas tem gente que faz isso. Toma uma decisão hoje –
de cabeça quente –, para tomar outra amanhã; muda planos,
rescinde contratos, quebra compromissos, traem acordos por impulsos.
E se dizem flexíveis, com a desculpa de dançar conforme a música.
E eu para essas pessoas sou rígido, inflexível, não sei lidar com
os imprevistos da vida, é claro. Infelizmente já ouvi muito isso,
não vou negar que dou essa conotação mesmo. A de ser alguém que
não tem molejo, que não se dobra facilmente. Mas eu sei lidar com
os imprevistos sim. E para isso nem sempre é necessário mudar. As
vezes o verbo é outro. É resistir.
Os Amantes - Arcano VI do Tarot
Decidir não é fácil mesmo, porque envolve tantas coisas. Mas não acredito em decisões certas ou erradas, eu acredito em decisões! Não importa se uma decisão se mostrará correta ou errada, importa o quanto essa decisão foi pensada, repensada e tomada com coragem, e o quanto ela será respeitada até segunda ordem. Como nas empresas, existem a Missão, a Visão e os Valores. Eu sinceramente acredito ser saudável mudar a nossa visão ao longo da vida, repensarmos alguns valores também, porém a missão é imutável. Não faz sentido mudarmos constantemente, se a vida nos exige atitude e uma posição. É preciso estabelecer uma posição na vida.
Aquele bambu
inicial até se dobra ao vento, mas note também que a sua raiz nunca
saiu do mesmo lugar! Penso eu então que o foco não seria bem
flexibilidade, mas talvez humildade!