La Liberté guidant le peuple,
Eugène Delacroix
“O
que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.
(Martin Luther King)
Tenho
muita dificuldade em definir a mim mesmo o que é ético, o que não
é; o que na verdade seria moral, ou imoral. Nunca sei plenamente se
é correto responder a verdade diante de uma pergunta me feita.
Imagino se a pessoa espera de fato a verdade. Não a sua verdade –
a que quer ouvir, a que conforta os seus interesses, ou os da
maioria, mas a que condiz com o que realmente penso. Nunca descobri o
limite entre expôr de mais ou de menos; me expôr mais, ou me expôr
menos... E me incomoda pensar sobre isso; me faz sentir diferente.
Quem tenta sair do padrão e termina taxado.
O que me
espanta mesmo é uma sensação de me sentir estrangeiro em terra
natal. Observar como tomamos como certo coisas que são
descaradamente erradas – conscientes. A questão é que se
incomodar parece pior. O relativismo no
político/social/corporativista garante maior sobrevivência. Quase
uma legitimidade predatória. Relativamos tanto a verdade, a honra, a ética ao ponto delas se diluirem em meio aos nossos próprios
interesses. Ser transparente virou sinônimo de não ser político.
Falar a verdade tem hora. E ser honesto não combina numa negociação.
É preciso ser calculista, ter cartas na manga, e “palavras
flexíveis”. Não é permitido se colocar muito também (a menos que
isso não desagrade ninguém).
Assim nos
tornamos pessoas que respondem apenas o óbvio. Sorrimos simpáticos
e parecemos íntimos de quem no fundo nem apreciamos. Aplacamos
sonhos, vestimos máscaras e adentramos passivamente na roda,
acompanhando o rebanho. E nos matamos um pouco por dia.
Para onde
estamos indo? Quais perspectivas temos? Desconheço quais são os
princípios e valores que conjugam esse momento atual. No passado
existia verdadeiramente uma coisa chamada Palavra, que remetia à honra de um homem. Dois homens selavam um compromisso através de
fios do bigode, mais nada. E por incrível que pareça bastava. Não
eram necessários contratos, assinaturas, e nem testemunhas. Hoje se
você fizer isso é logrado na certa. Um homem não sustenta mais sua
afirmação, se algo por escrito, que leve sua assinatura, não o
lembrar disso. Ou seja, um papel precisa lembrá-lo de que ele é um
homem (no sentido ético da palavra). Mas o que é ética mesmo? Ah!
Mas quem se importa?!
Eu me
importo! Me incomodo. E me espanto diariamente. Nem acredito que tudo
acontece debaixo do nosso nariz. Nossa educação em casa é frouxa,
na escola alienada e na sociedade psicopática. Em casa educamos os
filhos, não para serem sensíveis e inteligentes, mas para serem
fortes e espertos (o que leva uma conotação bem diferente), não mostramos limites nem punimos maus atos. Na escola castramos qualquer
senso crítico e sabotamos cidadania. E na sociedade aprende-se
apenas os atalhos do curso, quem são os “cabeças” da pólis
e como obter as armas necessárias. Onde estamos errando? - é
o que me pergunto toda vez que ouço nos noticiários que uma criança
cometeu um crime. Ou uma mãe abandonou o filho num hospital. Roubos,
assassinatos, violência, delitos que, praticamente, têm nos
obrigado a nos conformar com a realidade atual. Só que aquele que
acomoda-se com essa realidade não pode reclamar de futuro, porque é
conivente. Uma realidade como a de hoje, baseada em valores
psicopáticos, só pôde se estabelecer tanto tempo tendo havido um
conluio coletivo. Todos somos, de alguma forma, em maior ou menor
grau, cúmplices! E isso deveria nos causar muita vergonha e nos incomodar bastante. E nem de longe isso é exagero.
Precisamos
resgatar alguns valores antigos que, do meu ponto de vista, jamais
deveriam se perder, independente do quão a sociedade avance. Honra. Fraternidade. Ética. Justiça. Coragem. Desabituarmos-nos dessa mania de ficar procurando muitas vezes razões para tentar justificar o injustificável. Ao invés
disso, prestar mais atenção à formação das gerações. Pais atentarem-se em dar uma educação com mais limites e diálogo;
professores uma educação que estimule a criatividade e a vontade
de pensar e as pessoas de bem se unir, pois como bem diz a médica
psiquiatra autora de diversos livros, Ana Beatriz Barbosa Silva,
“o mal é muito unido!”.