“Toda
mudança positiva - todo salto para um nível maior de energia e
consciência - envolve um ritual de passagem. A cada subida para um
degrau mais alto na escada da evolução pessoal, devemos atravessar
um período de desconforto, de iniciação. Eu nunca conheci uma
exceção.” (Dan Millman)
Tudo no
mundo é feito de energia, inclusive nós mesmos. Quando acordamos,
levantamos e fazemos as tarefas diárias somos movidos por energia.
Quando falamos, quando brigamos, quando trabalhamos, quando comemos,
até quando parados, tudo o que fazemos é impulsionado por energia.
Acredito que a quantidade dela pode variar de uma pessoa para outra,
mas o controle e a canalização dela fazem toda a diferença na
manutenção de uma vida mais saudável, e eles só podem ser obtidos
mediante consciência e reflexão sobre os próprios atos. Sobre essa
energia. Mas a gente não a percebe; a gente nem se percebe.
A sociedade contemporânea globalizada, mesmo trazendo muitos
benefícios à humanidade – benefícios materiais em grande parte
–, tem prejudicado sorrateiramente o bom fluir dessa energia nas
nossas vidas, o que tem gerado os grandes males da atualidade:
ansiedade, pânico, impulsividade, obesidade, depressão, compulsões, e por aí
vai.
A
sociedade que vivemos é caracterizada por exigir de nós
reações muito rápidas a estímulos que têm vindo muito
rapidamente também, e isso impossibilita algo extremamente
necessário para que não haja desperdício ou uma sobrecarga
energética: a pausa para reflexão – ter a consciência dos
nossos próprios atos, para avaliar consequências. O espaço entre
as demandas externas que chegam diariamente e as respostas que
precisamos dar está sendo cada vez mais curto; não tem dado tempo
para que o pensamento racional entre em ação; ao invés disso
reagimos impulsivamente automaticamente. A Dianética fala sobre isso como Mente Analítica e Mente Reativa. A Neurociência
fala em Sequestro da Amígdala Cerebral. Seja o nome qual for,
o princípio é o mesmo: ações sem a percepção do que está
sendo feito, e por quê. É o caso do obeso – que as vezes nervoso, ansioso,
triste – desconta na comida e não percebe a quantidade
do que está ingerindo. Ou o compulsivo em compras que acaba se endividando facilmente. Ou aquele que por impulsividade age primeiro; fala, grita,
prejudica-se, e depois se arrepende. Pessoas sobrecarregadas com estresse que não conseguem dar vazão às próprias demandas e acabam surtando. Pessoas se vitimizando por uma
situação, quando são incapazes de perceber que os seus próprios
atos culminaram para o acontecido. Não enxergam isso! Realmente não
conseguem. Volto a repetir, porque até a nossa percepção da realidade está alterada. Para nós a realidade parece mais rápida do
que o pensamento consegue acompanhar e até a nossa percepção de
tempo está alterada; a gente percebe-se sempre com menos tempo do
que o necessário, como se o tempo passasse mais depressa.
Toda essa
problemática do meu ponto de vista começa já na fase escolar. Se disciplinamos
nossas crianças e nossos adolescentes para reproduzirem
conteúdos e não educamos para a criação de novos, se
impomos a memorização de dados e não incentivamos uma reflexão
sobre a realidade e um pensamento crítico, de que forma,
mais tarde quando adultos nessa sociedade contemporânea, eles
saberão responder às demandas? A resposta é que eles não saberão.
Essa é a nossa problemática atual. Nós somos incapazes de pensar
sobre a vida com um olhar amplo e um pensamento crítico; o que nós
temos a oferecer são respostas prontas. Comportamentos irracionais.
Mecânicos. Quando estamos com um problema nos angustiando, ao invés de
refletirmos sobre esse incômodo, preferimos comprar, comer, beber,
tudo para fugir da realidade. Quando precisamos ter atitude frente uma situação, ou
reagimos impulsivamente e depois pensamos sobre o que fizemos, ou
paralisamos e nada fazemos. Não tem meio termo. Não tem
racionalização. É como a cobra que come o próprio rabo!
Acredito
que este problema atual é mais sério do que qualquer política pública
conseguirá resolver facilmente. É um problema de estruturas
psíquicas. Comportamentos muito enraizados. Eu acho que quisemos tanto um dia fabricar
um cidadão pacato e passível de controle, como esse que vive na sociedade atual, e
conseguimos! Vemos uma sociedade hoje imatura politicamente, que quando
tenta revindicar alguma coisa termina extrapolando e gerando
mais violência. Só que nós não podemos
reclamar agora. O projeto não foi esse? Não queríamos uma massa assim? Se agora queremos mudar, se agora queremos uma
sociedade forte, matura politicamente, precisamos mudar métodos!
Fazer tudo o que deixamos de fazer até hoje. Oferecer uma educação
de qualidade que atinja a todos com igualdade, e que privilegie a
criatividade e o pensamento analítico. Dar suporte psicológico,
médico, social. E por que não espiritual?! Demonstrar assim que a vida é mais do que tudo isso. Devemos fazer o que deveríamos ter feito. Do jeito
certo. E isso vai demandar tempo. E resultados aparecerão a longo prazo.
Será que podemos esperar? Só que quanto mais demoramos também,
menos tempo temos...
" Ó, vós, na possessão de tão robustos intelectos... observai os ensinamentos que se escondem... sob o véu destes estranhos versos." (Dante Alighieri)