segunda-feira, 9 de setembro de 2013

oãçejorP


De manhã, uma mulher olhou pela janela e viu a nova vizinha estendendo a roupa no varal. Ela falou para o seu marido “A vizinha nova não sabe lavar roupa. Viu como a roupa que ela acabou de lavar está suja? Aposto que ela não usa nem sabão em pó!”. E dia após dia ela fazia os mesmos comentários para o marido “Não acredito que ela deixa os filhos usarem essas roupas sujas”. Muitas semanas depois, ela olhou pela janela e ficou surpresa ao ver as roupas da sua nova vizinha limpas e brilhantes, então ela chamou o marido e disse “Querido, olhe! A vizinha finalmente aprendeu a lavar a roupa”. O marido sorriu e disse “Querida, fui eu que acordei cedo hoje e limpei a nossa janela”. ” (estória popular)


Um dos mecanismos estudados na Psicologia que me chama muito a atenção é a Projeção. Escolhi essa imagem, de um homem olhando-se no espelho e vendo suas costas, porque retrata bem esse mecanismo de defesa: um homem que vê as próprias costas no espelho porém sem ter consciência disso!
A primeira vez que ouvi sobre esse assunto foi na faculdade. A partir daí passei a prestar mais atenção no comportamento das pessoas que eu criticava, na tentativa de aprender um pouco mais sobre mim mesmo. Percebi que é possível sim, projetarmos nossas falhas, aquilo que nos incomoda, no outro e depois atacá-lo. É um movimento inconsciente mesmo, mas nem por isso menos perverso. Ou nefasto. Podemos dizer também, com uma boa dose de hipocrisia.

Tudo o que nos desperta sentimentos muito intensos, como raiva, ódio, repúdio é parte de nós. Estamos simplesmente fazendo uma transferência, e achando assim – inconscientemente – que estamos atingindo o problema, resolvendo-o. E não estamos. Estamos apenas nos enganando.
Vira e mexe me pego julgando alguém. Criticando erros. Tentando me legitimar em cima das falhas de alguém. E isso é cruel. Tentar se sobressair as custas dos demais. E como a gente faz isso... E a gente sempre julga ter razão. Fora está errado. O outro é sempre o problema, carrega a culpa, cometeu o erro... enquanto nós só a razão. O engraçado é que, ou somos os perfeitos ou as vítimas, não existe parcerias ou co-autoria.

Acredito sinceramente no mal. Eu sou do bem e do mal. Eu carrego Deus e o diabo dentro de mim. E por essa razão eu escolho a quem dar ouvidos. Agora, achar que o diabo é um ser de chifres, que cospe fogo e vive no inferno – e que é para lá que eu vou se eu for culpado – é ilusão demais. O diabo é o meu ódio em excesso, a minha inveja, a crítica rasteira, a minhas próprias ações mal intencionadas. A minha intenção! Nessa análise o diabo somos nós mesmos. Só que é mais fácil conviver com a nossa consciência, quando jogamos a culpa em algo exterior. E as sociedades, desde de que existem, só focaram no externo. Movemos grandes quantidades de energia e conhecimento alterando apenas o exterior, olhando sempre para fora, modificando o nosso entorno, enquanto a nossa parte interna pagava o preço. Nos tornamos fracos emocionalmente, cheios de medos, cheios de culpas – que precisamos achar um bode expiatório para conviver com nossos demônios. Alguém para pagar a conta. O engraçado é que não existe meia culpa, alguém tem sempre que pagar o pato sozinho.

Nós criamos nossos próprios demônios porque idealizamos a vida. Perdemos muito tempo criando um mundo perfeito que justifique a dor que é viver o presente, que esquecemos de olhar para a vida como imperfeição. Processo. Movimento constante. Para nós tudo tem que ser bonito, puro, se encaixar e ter respostas. Não há espaço para o erro e então o nosso errado é condenável. Eu acho que a gente precisa começar a assumir as nossas falhas e nos aceitarmos como seres que estão em constante processo. Partes de um todo incompleto, que não tem como finalidade uma conclusão assertiva. Essa divisão que fazemos entre bem e mal, certo e errado, verdade e mentira é o que acaba com a nossa vida e mina as relações. Vamos passar a prestar mais atenção ao que se passa em nosso interior e veremos que muitas vezes tudo aquilo que julgamos estar no outro, na verdade estava em nós mesmos o tempo todo. Quem sabe aí a gente passe a conviver melhor com as diferenças, porque talvez percebamos que no fundo no fundo, nem somos tão diferentes assim!