“ De manhã, uma
mulher olhou pela janela e viu a nova vizinha estendendo a roupa no
varal. Ela falou para o seu marido “A vizinha nova não sabe lavar
roupa. Viu como a roupa que ela acabou de lavar está suja? Aposto
que ela não usa nem sabão em pó!”. E dia após dia ela fazia os
mesmos comentários para o marido “Não acredito que ela deixa os
filhos usarem essas roupas sujas”. Muitas semanas depois, ela olhou
pela janela e ficou surpresa ao ver as roupas da sua nova vizinha
limpas e brilhantes, então ela chamou o marido e disse “Querido,
olhe! A vizinha finalmente aprendeu a lavar a roupa”. O marido
sorriu e disse “Querida, fui eu que acordei cedo hoje e limpei a
nossa janela”. ” (estória popular)
Um dos mecanismos
estudados na Psicologia que me chama muito a atenção é a Projeção.
Escolhi essa imagem, de um homem olhando-se no espelho e vendo suas
costas, porque retrata bem esse mecanismo de defesa: um homem que vê
as próprias costas no espelho porém sem ter consciência disso!
A primeira vez que ouvi
sobre esse assunto foi na faculdade. A partir daí passei a prestar
mais atenção no comportamento das pessoas que eu criticava, na
tentativa de aprender um pouco mais sobre mim mesmo. Percebi que é
possível sim, projetarmos nossas falhas, aquilo que nos incomoda, no
outro e depois atacá-lo. É um movimento inconsciente mesmo, mas nem
por isso menos perverso. Ou nefasto. Podemos dizer também, com uma
boa dose de hipocrisia.
Tudo o que nos desperta
sentimentos muito intensos, como raiva, ódio, repúdio é parte de
nós. Estamos simplesmente fazendo uma transferência, e achando
assim – inconscientemente – que estamos atingindo o problema,
resolvendo-o. E não estamos. Estamos apenas nos enganando.
Vira e mexe me pego
julgando alguém. Criticando erros. Tentando me legitimar em cima das
falhas de alguém. E isso é cruel. Tentar se sobressair as custas
dos demais. E como a gente faz isso... E a gente sempre julga ter
razão. Fora está errado. O outro é sempre o problema, carrega a
culpa, cometeu o erro... enquanto nós só a razão. O engraçado é
que, ou somos os perfeitos ou as vítimas, não existe parcerias ou
co-autoria.
Acredito sinceramente
no mal. Eu sou do bem e do mal. Eu carrego Deus e o diabo dentro de
mim. E por essa razão eu escolho a quem dar ouvidos. Agora, achar
que o diabo é um ser de chifres, que cospe fogo e vive no inferno –
e que é para lá que eu vou se eu for culpado – é ilusão demais.
O diabo é o meu ódio em excesso, a minha inveja, a crítica
rasteira, a minhas próprias ações mal intencionadas. A minha
intenção! Nessa análise o diabo somos nós mesmos. Só que é mais
fácil conviver com a nossa consciência, quando jogamos a culpa em
algo exterior. E as sociedades, desde de que existem, só focaram no
externo. Movemos grandes quantidades de energia e conhecimento
alterando apenas o exterior, olhando sempre para fora, modificando o
nosso entorno, enquanto a nossa parte interna pagava o preço. Nos
tornamos fracos emocionalmente, cheios de medos, cheios de culpas –
que precisamos achar um bode expiatório para conviver com nossos
demônios. Alguém para pagar a conta. O engraçado é que não
existe meia culpa, alguém tem sempre que pagar o pato sozinho.
Nós criamos nossos
próprios demônios porque idealizamos a vida. Perdemos muito tempo
criando um mundo perfeito que justifique a dor que é viver o
presente, que esquecemos de olhar para a vida como imperfeição.
Processo. Movimento constante. Para nós tudo tem que ser bonito,
puro, se encaixar e ter respostas. Não há espaço para o erro e
então o nosso errado é condenável. Eu acho que a gente precisa
começar a assumir as nossas falhas e nos aceitarmos como seres que
estão em constante processo. Partes de um todo incompleto, que não
tem como finalidade uma conclusão assertiva. Essa divisão que
fazemos entre bem e mal, certo e errado, verdade e mentira é o que
acaba com a nossa vida e mina as relações. Vamos passar a prestar
mais atenção ao que se passa em nosso interior e veremos que muitas
vezes tudo aquilo que julgamos estar no outro, na verdade estava em
nós mesmos o tempo todo. Quem sabe aí a gente passe a conviver
melhor com as diferenças, porque talvez percebamos que no fundo no
fundo, nem somos tão diferentes assim!