Uma
brasa, longe do fogo, é simplesmente um pedaço frio de carvão.
Eu
me surpreendo sempre que me deparo com alguém tomando uma atitude
extrema, sem avaliar a consequência disso a si mesmo e àqueles que o
cerca. Sem se dar conta da importância de parar, pensar um pouco e tolerar. Observo que, na grande maioria das vezes, falta de tolerância tem resultado inesperado e consequências desagradáveis. Às
vezes, parando um minuto para pensar já não agimos do mesmo jeito.
O resolver as coisas de cabeça quente, crente que somos os únicos com a razão, termina não resolvendo nada. Pois
é numa bobeada que nós determinamos coisas que podem
mudar nossas vidas de maneira séria e importante. E a vida toma
outro rumo mesmo. O resultado é pra valer! Ninguém faz o que quer na vida. Pelo menos não uma
pessoa saudável, sociável, respeitadora. Vivemos em conjunto, onde
os limites se fazem necessários. Limites esses estabelecidos para
nos ordenar, nos organizar, nos potencializar, nunca com o intuito de
nos oprimir, nos barrar ou nos separar, porque ninguém pode ser uma ilha isolada do todo,
nós precisamos, obrigatoriamente, nos relacionarmos. O ser humano
não consegue viver uma vida toda solitariamente, isso é impossível. Nos dias atuais, o
que me parece muito fácil de acontecer nas redes sociais, sempre foi
impossível de se concretizar na vida real: a desconexão. Não há
desconexão na vida real.
Há
alguns dias notei que um amigo desativou sua conta do facebook,
eu não o encontrava online em lugar nenhum mais. Até
recentemente... Aí, conversando com ele – numa das raras vezes em
que deu às caras -, ele comentou estar cansado das suas relações e
por conta disso excluiu sua conta e decidiu afastar-se dos
amigos, dos familiares e dos colegas de trabalho. Passou a anular e ignorar
todo mundo. Essa história até parece brincadeira, mas me chamou a
atenção o fato de ele decidir isso por se decepcionar com as
pessoas que se relaciona e acreditar que simplesmente anulando todo
mundo, as decepções se encerram. Tal atitude é tola. Falei isso para ele. Aquele que
acredita ser superior, que não precisa de ninguém, que faz o que
quer, como quer e vai onde quer, não tem valor nenhum para a vida.
Isso me lembra aquelas pessoas moralistas demais, religiosas demais,
que precisam crucificar qualquer coisa que vá contra seus
princípios, ou aquelas pessoas donas da razão, que não abrem espaço para um argumento.
A
vida é um jogo de forças conflitantes e contraditórias, e estamos
nesse jogo quer queremos, gostemos, optemos, ou não. Nós somos esse
jogo. As relações humanas são difíceis; relação entre pai e
filho, relação entre chefe e funcionário, relação entre irmãos,
relação entre vizinhos, todas as relações entre os seres humanos
são conflitantes, passam por ajustes constantes, são verdadeiros desafios, porque via de regra
somos diferentes. E somos humanos! Isso exige paciência com o outro,
tolerância com as diferenças, respeito com os direitos e limitações;
compreensão com as opiniões e as ideologias opostas as nossas.
Eu
entendo em partes esse meu amigo, eu evito até
hoje algumas pessoas difíceis. Acredito que todos nós temos algumas pessoas que queremos bem longe da nossa rota. Até acho saudável um
afastamento de tudo aquilo que nos adoece, que nos causa mal. E algumas
pessoas nos fazem mal realmente. Alguns hábitos, alguns lugares,
algumas circunstâncias não nos trazem nada de bom e, em
casos assim, acho o distanciamento necessário mesmo. Agora, achar que eu
estou sempre certo e o restante do mundo está errado, que eu quem
manda e os demais são obrigados a acatar tudo é estar sendo
ditador, arrogante, preconceituoso e julgador. Quem pensa e age dessa forma
não vive a vida, porque está morto por dentro. Se fazemos parte de tudo e não
há a capacidade de desconexão, isso significa que vida é sinônimo
de coletivo, de união, de equipe, de conexão e o que desconecta
disso está morto.