
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.” (Clarice Lispector)
Existe um tipo de pessoa que é muito rápida e habilidosa para falar negativamente sobre as outras. Sobre aquelas que pensam e vivem um pouco diferente da forma habitual do grupo. É um tipo de pessoa que se presta a fazer um papel e não são muito honestas consigo mesmas. São os famosos sorridentes de uma festa, os convidados tão esperados, os socialmente bem recebidos. Mas o que me faz não ter um pingo de apreciação por esse tipo de pessoa é que no fundo posso ver claramente as reais intenções, o que transparece atrás da máscara aparentemente bem colocada. As ruínas habilidosamente escondidas por trás de um castelo de cartas não são capazes de iludir e só me deixam com a pergunta se para a pessoa isso vale a pena. Já estive muito tempo comigo mesmo para me aceitar como sou e ter a certeza de que é uma tarefa impossível estar bem com todo mundo. Sempre haverá aqueles que gostam de criticar maldosamente o que você faz... Tenho pena de gente assim. São pobres de espírito.
Observando a vida e o comportamento das pessoas aprendi que todos temos jeitos diferentes de agir, de falar, de se exercer. E cada personalidade tem o seu lado positivo e negativo – o que depende muito de quem vê. Todos temos falhas, essas coisas que não gostamos muito em nós mesmos e que são o alvo de críticas. Agora, em qualquer lugar por onde passei e qualquer que seja a pessoa que conheci, uma coisa pra mim se tornou fato: nós precisamos nos aceitar antes dos outros. Porque se a gente não se gostar, ninguém vai.
Alguns dizem que sou anti-social, calado, sério demais. Embora eu compreenda a razão disso, e que isso consiga me chatear algumas vezes, fico feliz por pelo menos não ser chamado de falso, mentiroso, desonesto por exemplo, já que para mim isso sim me incomodaria demais. Eu sei que não sou o senhor da razão – e posso garantir também que nunca me candidatei a esse papel –, mas não faço o que não quero para ficar bem com quem no fundo nem gosto.
Aprendi desde muito jovem a não me acostumar com as coisas, é da minha personalidade agir. Falar. Me defender. Levanto se preciso o troféu do chato-crítico, mas jamais a bandeira do mascarado do ano.
E no fundo eu sei que apesar dos pontos negativos da minha personalidade (como todos têm os seus), as pessoas sabem que podem confiar em mim para uma conversa, para encarar uma jornada com um amigo leal, para enfrentar um problema difícil. As pessoas sentem que podem contar comigo nessas horas, pois eu sou aquele tipo de cara que, quando meio mundo já desistiu e virou as costas, eu estarei ali segurando firmemente as pontas, já que disse que o faria. Eu não sei ser o que as pessoas esperam, mas sei exatamente ser o que elas merecem!
Quando temos coragem de nos conhecer a fundo e olhamos com clareza para nós veremos que temos diversas características, que uns chamam de positivas e outros de negativas. O fato é que é impossível viver uma vida toda moldando esses dois pólos para ir se encaixando. E seja isso em casa, na escola, no trabalho ou na sociedade. Porque quando a gente passa tempo demais agradando aos outros e rindo para todo mundo, quando no fundo o movimento interno é contrário, é algo sério demais. Diria até perigoso, pois enquanto estamos anulando essa cobrança interna, a vida está nos cobrando caro por isso. Passar a vida fazendo apenas o que os outros permitem é superficial. Entendi, já nas aulas de História na escola, que a Humanidade só avançou aos trancos. Graças aos rebeldes, as mulheres que queimaram sutiãs em praça pública, a homens que foram a forca por assumir a verdade e por multidões que lutaram ativamente pelos seus direitos. Ser honesto, franco e firme são características difíceis e complicadas para uma sociedade cheia de hipocrisia, mas devo afirmar que se não lutamos pelos nossos direitos ninguém o fará por nós. Se nos acostumarmos facilmente a viver mentiras, talvez nunca saibamos qual é o caminho para a verdade.
Para mim fica claro que existem inúmeras personalidades e características relativas, mas o que vai determinar as coisas é a coragem de cada um de assumir isso. O que falta em muitas pessoas é assumir as coisas.
“O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem.” (Confúcio)